Abrupto escrita por Ana C Pory


Capítulo 7
Capítulo 7 - Ricardo - P. I


Notas iniciais do capítulo

OOOOI, tudo bem com você? Se for sim, não vai estar no final.... MUAHAHAHA.
To zoando, gente, cês acham que eu sou louca? Tá, talvez um pouco (muito), mas mesmo assim...
Esse capítulo vai para...
*tambores rufam*
Betahz! Pela sua capa diva do LoL no perfil (sério, quem não ama LOL?) e por ter comentado todos os capítulos e ter feito minha vida muito feliz, depois de várias semanas sem entrar no Nyah *o* Você diva, viu? (>*-*)>
14/08



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Marcavam dez horas da noite na antepenúltima vez que Alicia conferiu o relógio. Marcavam três horas da madrugada na penúltima vez que Alicia conferiu o relógio. Marcavam duas horas da tarde na última vez que Alicia conferiu o relógio.

Apesar de ter passado a noite remexendo no seu celular, nos seus livros e pensando na vida — o que exigia mais habilidade de concentração que o resto —, ela tentou parecer o mais disposta possível às sete horas da manhã. Não conhecia muito bem de maquiagem, mas passou o que considerou básico, e um corretivo de olheiras. Domou o cabelo loiro, deixando-o à seu ombro esquerdo, e alisou o uniforme escolar. Parecia tudo certo, por fora.

Por dentro, ela se sentia um lixo. As aulas arrastaram-se, os professores cada vez mais patéticos. A hora do lanche não terminava nunca, o som irritante de mastigação e de conversas desnecessárias atrapalhando-a. É claro, ela poderia ter suportado isso como suportou todos os nove anos que estudava no ensino fundamental, mas nesse caso era diferente. Poderíamos somar a tudo isso olhares, frases de “incentivo” e alguns cochichos.

Não, não era bullying. Era o oposto. Era pena, e não a de escrever, mas a pena de sussurrar “coitadinha” no ouvido da amiga apontando a garota. Alicia já não saltitava mais, e comia em silêncio ao lado de Júlia. Até que uma pessoa da mesa a cutucou.

— Ei... manda meu oi Ricardo? Diz que estamos torcendo por ele — pediu, meio envergonhado, um garoto, sem nenhuma segunda intenção. Todavia, isso a estressou. Ela levantou da mesa com raiva, olhando para ele.

— Por que não manda você mesmo? Só o que vocês sabem é pedir isso! Alicia, fala pro Ricardo isso, Júlia, diz pro Ricardo aquilo, que saco! Ir lá ver ele ninguém quer, não é mesmo? Estão ocupados demais nas vidas de merda aí pra levantar dois segundos e ver um colega! Pois ele era meu melhor amigo, e quando conseguir falar conversarei com ele sobre o que quisermos, e não sendo um pombo-correio! — Alicia disse, em um tom muito alto, quase um grito. Todos da mesa pararam para vê-la e ouvi-la, trocando olhares. O silêncio dominou o refeitório.

— Pobrezinha, está estressada por causa do acidente — sussurrou Caroline para Natália, que devolveu a ela um olhar de raiva. Negou com a cabeça, balançando os cachos cor de rosa. Ela lembrava do chilique das garotas ao poderem ir para a praia com agora debilitado Ricardo. Mandou Carol ficar quieta e voltou o olhar para Alicia, que saía correndo.

Alicia jogou suas embalagens de lanche no lixo e abriu a porta do refeitório com brutalidade. Percorreu corredores, desejando estar perdida como aquele dia, mas na realidade sabia muito bem onde estava. Suas passadas rápidas a fizeram tropeçar, o que ajudou Júlia, que vinha logo atrás silenciosamente.

Ela praguejou e virou de barriga para cima, massageando as têmporas. Olhou para seu lado. Havia uma porta de uma sala. Levantou-se e espiou. Todas as cadeiras tinham mochilas, exceto uma, no meio da sala, vazia. Ainda meio tonta estranhou aquilo e foi para trás ler o nome da sala.

Era exatamente a mesma sala que havia esbarrado com Ricardo não fazia muito tempo. Mesmo assim, pareciam décadas desde o ocorrido; o Rick debilitado e o Rick saudável pareciam completamente opostos, principalmente quando o debilitado mal consegue falar.

As lágrimas encheram seus olhos, mas ela não as deixou escapar, batendo os pés enquanto chegava até a sala e pegava sua mochila, jogando todo seu material ali dentro. O lugar estava todo vazio, exceto por ela.

Quando virou-se, a mochila já pendurada no ombro, ficou sem saber o que falar durante alguns minutos, contemplando Júlia à sua frente, parada na porta. Ela estava séria como nunca estivera antes, o queixo erguido e os braços cruzadas, meio de lado apoiada na parede. Negou com a cabeça enquanto Alicia se dirigia à porta, impedindo sua passagem.

— Você não pode sair daqui assim, Alicia. É irresponsável.

— E quem é você para me falar de responsabilidade? — ela falou, entredentes, encarando a amiga, os olhos semicerrados de raiva.

— Sou sua melhor amiga e sua irmã durante todos os anos que passaram, e não vou deixar você estragar seu currículo escolar por um mero ataque de raiva. Eu sou leal. — A postura de Júlia ficou ereta, agora decidida e segura.

Ela seria uma ótima repórter.

— Você? Logo você, pra me falar de amizade e lealdade? Bem, não sou eu que vivo de segredo por aí, que solto algumas coisas e depois finjo que não falei nada, que não conta nada sobre o passado por algum medo. Medo do quê? De rejeição? Isso não é confiança, é traição! — Alicia gritou, mais falando para si mesma do que para a garota, agora espantada, na sua frente. A empurrou para o lado de maneira agressiva e passou pela porta, sem se importar em olhar para trás, fixando o olhar à sua frente até que Júlia ficasse à metros de distância dela.

Júlia não falara com ela fazia semanas, e agora vinha falar de lealdade? Quem era ela para dizer alguma coisa desse tipo? Alicia se mandaria dali mesmo. Confiante, atravessou a entrada do hospital, dirigindo um sorriso falso para a recepcionista, que se assustou — provavelmente porque seu rosto não estava mais tão acostumado a sorrir, e talvez ela tivesse se esquecido como se fazia isso.

Correu até achar o quarto de Ricardo, abrindo a porta de leve e deixando a leve brisa do corredor ficar um pouco na sala. Ele estava acordado, olhando para o teto, concentrado em alguma espécie de tarefa de separar tipos de cores de branco. Ao menos, parecia ser algo assim. Sua presença era séria, compenetrada.

Ao vê-la, fitou-a divertido, mas com uma certa tristeza no olhar. Logo estranhou quando percebeu que horas eram. Toda a coragem que Alicia tivera se esvaziara, sobrando apenas sua figura imaculada ali, olhando-o como se fosse algo digno de se observar.

— A cômoda... primeira gaveta... — ele falou, a voz toda cortada de quem tivera um tubo em sua garganta. Estava progredindo, era o que os médicos diziam. Mas não há previsão de alta.

Alicia abriu a primeira gaveta e achou dois envelopes brancos, um com seu nome e outro com o de Júlia. Presumiu que tivesse tido muito mais ali, e olhou-o com as sobrancelhas unidas.

— O que é isso? Cartas... para mim e para a Júlia?

Ricardo confirmou com um aceno de cabeça. Parecia calmo, mais calmo que o garoto sempre divertido jamais parecera. Tranquilo com qualquer que fosse seu destino, mas ainda com a tristeza escondida, louca para soltar-se.

— Que legal que você descobriu como se comunicar até sua garganta sarar — Alicia disse, agora mais relaxada, mas ainda insegura devido ao ambiente hospitalar que se encontrava. Estava tensa, e Ricardo percebeu isso nela, logo sussurrando para não forçar a voz.

— Pode ler na sala de espera, se te faz se sentir melhor.

Alicia confirmou e deu um beijo estatelado na sua testa, ao que ele respondeu com uma careta, e foi até a sala ler a carta enquanto alguns enfermeiros e enfermeiras entravam no quarto dele.

“Cara Alicia,

Provavelmente, quando terminar de ler isso, estarei morrendo.”


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Notas finais do capítulo

DAN DAN DAN DAN....