Abrupto escrita por Ana C Pory


Capítulo 3
Capítulo 3 - Casacos e Praias


Notas iniciais do capítulo

Esse é um capítulo programado e... Isabella, me mate o/
Ah, uma curiosidade: ironicamente, fiz esse capítulo antes do segundo. HAUSHUAH. Eu sou estranha.



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Alicia olhou para o horizonte. A praia já estava se esvaziando, e ela não estava com nenhuma vontade de sair dali. Para que ir embora se a recém eram quatro e meia da tarde? Bufou. Olhou para o seu outro lado, percebendo que um pai olhava para o céu e mandava suas crianças arrumarem seus brinquedos. Ela olhou na direção dele e viu nuvens escuras no céu.

— Ahn, Júlia, Ricardo... — Alicia apontou para o alto, o dedo indicador direcionando uma grande nuvem cinzenta e triste ao longe. — Acho que vai chover.

Júlia mordeu o lábio inferior. A experiência de Alicia com Júlia percebeu que a amiga tinha começado a ficar nervosa. As mãos de Júlia automaticamente guardaram o livro dentro da bolsa dela.

Alicia olhou para o outro lado e viu Ricardo deitado na toalha de praia com o óculos de sol cobrindo o seu rosto. Estalou os dedos no rosto dele. O garoto tirou os óculos e olhou para ela.

— Sério, Alicia? — disse. — Você tem que sempre me acordar? Já não bastava me tirar do chão e não pagar o meu casaco, tem que me acordar aqui, no meu magnífico sonho na praia? Você matou muitas formigas fazendo isso.

— Primeiramente, Ricardo, eu te paguei o lanche naquele dia, sim. E depois, como assim, formigas?

O garoto se sentou, colocou os óculos escuros no lado e esfregou os olhos. Estava cheio de areia, e enquanto falava Alicia percebeu que ele realmente estava dormindo.

— Tive um sonho bizarro com insetos. Eles percorriam meu corpo todo e eu estava no meio de uma ponte do tamanho de dois pés, com muita água e um pequeno barco do outro lado. Então dei um jeito like a ninja* de conseguir ir até o barco sem precisar matá-los, porque servem de alimento para as abelhas** e eu vi uma pesquisa que abelhas fazem a humanidade sobreviver***, e quando eu estava pisando no barco a nossa heroica Alicia aqui me acordou — disse, e fez um gesto exagerado em direção a Alicia.

Ela bufou.

— Você queria mais era chegar até o barco, já que não sabe nadar. Provavelmente o IBAMA estava ali perto e você estava morrendo de medo, além de que abelhas... — Alicia começou, mas Júlia interrompeu os dois:

— O casalzinho vai parar de brigar ou vou ter que mostrar a grande ameaça de chuva em cima da gente?

Alicia olhou para ela e revirou os olhos. Já Ricardo deu um sorriso maroto e olhou para cima.

— Pensando bem, Alicia, eu não me importaria nem um pouco de nós sermos um casal e...

— Ricardo! — Alicia repreendeu-o. — Não fale besteiras.

— Está bem, está bem. Ju, você pode ligar para os seus pais para nos derem a carona de volta?

Júlia olhou para o seu celular e negou com a cabeça.

— Não tem sinal aqui. Nos distanciamos muito deles, e só vai dar certo mais para o centro da cidade — falou ela, apontamos para a direção oposta ao mar. — Vou ter que ir até lá. Vamos, venham.

— Nada disso aconteceria se você tivesse comprado um celular decente, e não esse — Ricardo disse, arrumando suas coisas.

Alicia hesitou.

— Ju, você sabe que estou com o pé machucado... — ela lançou um olhar desaprovador para Ricardo, obviamente provocador do acidente. Resumindo: praia, Ricardo, pé, bola de futebol, gritos.

— Ricardo?

— Como é que a Alicia vai ficar sozinha com o pé dolorido?

Júlia bufou. Os cabelos castanhos voavam em seu rosto, e Alicia percebeu que a chuva não demoraria muito tempo a dar as caras.

— Tudo bem, eu vou até lá o centro da cidade. Peço para os meus pais virem para cá. Caso chova antes, o que acho pouco provável, vocês vão para o teto do quiosque mais próximo. — Ela parecia dar ordem para crianças de dois anos. — Não demoro muito — disse.
Ela juntou seu livro e seus pertences e saiu em direção à cidade.

— Que ótimo — resmungou Ricardo. — Ela não dá nem tempo para a gente protestar. Agora vou ter que ficar de babá para essa garotinha aí, só para garantir que nenhum tarado venha até ela para sequestrá-la e vendê-la em leilões de gado.

— Deixa de ser irritante, Ricardo — Alicia respondeu. — Você que teve a gentileza de me deixar com o pé doendo, agora vai ter que pagar as consequências.

Ricardo sorriu.

— Ah, que castigo. Vamos, junte suas coisas, Alicia. Não confio muito nos instintos de previsão de tempo da Júlia, por maiores que sejam os sonhos dela de se tornar uma grande meteorologista.

— Desgraça — Alicia disse, quando as primeiras gotas de chuva começaram a tocar seus cabelos loiros. Logo, cobriu a boca com as mãos. — Ai, droga, eu não devia ter dito isso. Eu nunca falei palavrão antes.

— Palavrão? — Ricardo quase riu da expressão de arrependimento dela. — Você considera isso palavrão? Palavrão mesmo é...

— Não ouse.

— É...

— Ricardo! Vou falar para a sua mãe!

— Inconstitucionalissimamente. Isso é que é um baita de um palavrão.
Alicia lançou um olhar de desaprovação a ele, mas se sentiu melhor. Ricardo, com suas besteiras, a deixava se sentindo melhor e mais leve. Ela, sem perceber, levantou sua mão e tocou a boca.

Ou talvez ele apenas me deixe parecendo mais agradável comparando à petulância dele.

— Ricardo, me ajude a levantar. A chuva está me molhando toda.

— Talvez porque esse seja o trabalho dela — murmurou ele, se levantando da areia (a toalha de praia fora guardada, sob protestos de Ricardo). Ele segurou o braço dela e a ajudou, colocando um braço dela sob seu ombro. — Você me paga por ter que fazer isso por você, Alicia.

— Deixe de reclamar e pegue a bolsa — disse ela, apontando para bolsa de praia. Eles foram até o teto do quiosque, Ricardo amparando-a.

Alicia não ligava muito para toques de mão nem nada a partir do sexto ano, quando ela parou de sentir tremores a toques inesperados à sua mão, e seus colegas pararam de zombar tanto por causa de amizades entre sexos opostos. Porém, naquele dia, ela não conseguia deixar de notar a mão de Ricardo ajudando-a, talvez porque a chuva estava cobrindo-os e ela estava sentindo muito frio.

Andaram até o quiosque e Alicia ouviu a conversa fiada de Ricardo com o dono do lugar, que os deixaram ficar sob a proteção do teto, dada as circunstâncias do pé dela. Mas desde que ficassem no canto para não atrapalhar o movimento das pessoas que compravam ali. Ela não achava que viesse mais alguém para ali com aquela chuva, porém, eles caminharam até lá e Alicia finalmente livrou-se do braço de Ricardo, desvencilhando-se dele e se encostando ao balcão, com a bolsa na mão.

— Calma, Alicia, eu não tenho nenhuma doença contagiosa para você não querer ficar perto de mim — Ricardo disse, e Alicia olhou para ele em pânico. Ele riu do desconforto dela. — Lado perfeitinha apitando outra vez. Sinceramente, depois de todos os seus “Ricardo, não!” de hoje, achei que...

— Pare com isso, Ricardo — ela resmungou, tremendo. — Que frio. Vamos ficar doentes pela mudança brusca de temperatura, e não poderemos ir à praia amanhã e...

— Cale a boca, Alicia.

— O que disse? — ela se virou para ele, que estava tirando um casaco da bolsa dela.

— Eu disse cale a boca. Coloque esse casaco e deixe de frescura — Ricardo alcançou casaco a ela.

Alicia examinou o casaco: preto, um pouco sujo e com uma mancha na manga esquerda.

— Esse não é o meu — declarou ela, obviamente.

— Claro que não — resmungou Ricardo. — É o Tiago. Você, como sempre, sofrendo de amnésia ou talvez uma possível crise de Alzheimer, esqueceu o seu querido casaco. Vista-o. Tiago não guarda rancor de ninguém, apesar de eu ainda estar considerando te processar.

— Mas você não está com frio?

Ricardo deu um sorriso maroto, enquanto o vento da praia jogava seus cabelos para o lado.

— Os garotos têm maior resistência ao frio e ao calor, segundo o que li na internet. Aliás, vou ser tachado de insensível pela Júlia, e você vai ficar doente e fazer com que a Ju não queira ir a praia para cuidar de você, e também você...

— Ricardo, para de inventar desculpas. Ajude-me a vestir.

Ele cobriu-a com o casaco e resmungou alguma coisa incompreensível. Alicia sorriu.

— Obrigada, Rick.

Ricardo a olhou com dúvida. Alicia entendeu o porquê. Ela não o chamava de Rick desde a 3ª série.

— Você tem problemas — ele disse, quando ela ficou mais perto dele para manter o calor corporal.

— Não é eu que estava rindo há cinco minutos e impaciente há três — disse Alicia.


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Notas finais do capítulo

* Expressão utilizada para dizer algo feito de forma difícil, “apenas feito por ninjas”, caso você tenha dormido durante todos esses anos e não conheça essa expressão.
** Insetos não são alimentos para abelhas, apenas o néctar. Ricardo falou errado, e Alicia estava prestes a corrigi-lo.
*** Pesquisas (acho que foi Einstein, ou Newton, ou Júlio César, não sei) afirmam que a humanidade seria extinguida em quatro anos caso as abelhas fossem banidas. Acho que é porque as plantas são melhores ou mais férteis (não lembro) com as abelhas, e, elas não trabalhando tão bem, morreriam todas. Sobreviveriam os animais, mas os animais dependem de alimentos das plantas, então resumindo, aqueles bichos que você mata te mantém vivo. Irônico.
Hey pessoal, tô tendo um probleminha com reviews aqui e por isso não vou conseguir respondê-los, vamos ver depois de um tempo o/
Muito obrigada por ler, e deixem suas críticas! ooo