Por Você escrita por Andye


Capítulo 4
É Tão Óbvio Assim?




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Havia uma semana que conviviam. Uma semana que Hermione tinha visto sua vida mudar e virar de ponta cabeça. Sete dias nos quais ela tinha rido mais do que se lembrava nos últimos anos. Sete dias que para ela pareciam sete anos.

Olhando para o teto do apartamento no qual morava, com os braços apoiados sob a cabeça, ela inspirava e expirava profundamente pensando em tudo o que havia acontecido naqueles longos sete dias. Estava de folga, mas a verdade é que queria realmente estar de plantão. Não compreendia o que ele fazia com ela, mas a vontade de estar por perto era cada vez mais forte. Ele era um doce. Sorriu.

– A sensação que tenho é que a cada dia você fica mais bonita... Como isso pode ser possível? - Rony falava divertido enquanto ela reposicionava o cateter.

– Eu não fico a cada dia mais bonita, Rony – ela sorria sem tirar os olhos do que fazia – Apenas você que se torna mais galanteador a cada dia.

– Hum... - ele sorria ainda mais abertamente – Eu não posso fazer nada se tenho um charme completamente ruivo natural e que todas as médicas, enfermeiras e – ele enfatizou o “e” – enfermeiros tenham se derretido ao conhecerem meus profundos e brilhantes olhos azuis.

– Sinceramente, acho que estou errando na dosagem de seus remédios – ela sorria e se afastou finalizando o tubo – Eles devem estar afetando o seu ego. - os dois riram.

E ela estava rindo ainda mais agora. Como ele era diferente de todos os outros pacientes que já acompanhara, dos que tratava ao mesmo tempo que ele. Era indiscutível que ele tinha uma persistência em melhorar que incendiava a todos.

– Ronald – a Dra. Falls sorria pra ele – Você é, de longe, o rapaz mais bem-humorado que eu já conheci em toda a minha vida.

– Não sou nada – ele falou verdadeiramente envergonhado. Hermione riu da falta de jeito – A senhora só diz isso para me deixar de bem com a vida.

– Mas eu não preciso dizer nada para que fique de bem com a vida – ela retrucou – Você já faz isto por si só, e é um exemplo para cada um de nós.

– Hum... - ele olhou para Hermione ainda avermelhado – Obrigado, então.

Dra. Falls se aproximou dele e fez alguns exames de praxe e Hermione não conseguiu controlar os risinhos discretos que passava para ele enquanto o ruivo gesticulava as costas da doutora que ela também se apaixonara por seu charme ruivesco.

[...]

– Rony, você não deveria fazer isso – Hermione falava enquanto apoiava o rapaz o ajudando a levantar pela primeira vez. Ele era muito mais alto que ela, percebeu, uns trinta centímetros, talvez, e era bem mais pesado do que ela imaginou.

– Mas eu preciso fazer isso, Hermione.

– Não, você não precisa. Não é sua obrigação.

Rony não se intimidou e depois de dizer que a respeitava muito, mas não mudaria de opinião ela indo com ele ou não, ela acabou cedendo e o acompanhou.

Chegou no terceiro quarto na direita do corredor e bateu a porta antes de entrar. Ele andava com um pouco de dificuldade, um pouco tonto, mas parecia determinado em seu objetivo. O menino que montava um quebra-cabeça sentado sobre a cama o olhou com curiosidade enquanto ele se aproximava e sentava ao pé da cama, sobre o colchão. A mãe do garoto observou em silêncio ao ver que o rapaz estava em companhia da doutora.

– Olá – Rony estendeu a mão grande ao garotinho – Sou Rony. Tudo bem?
– Sim – o menino apertou a mão depois de olhar confuso para a mãe – Sou Rudy.

– Que nome bonito, Rudy – ele continuou – E o que está fazendo?

– Montando um quebra-cabeça – o garoto deu de ombro sem muita excitação – Não posso fazer mais nada, nem sair da cama.

– Oh... - Rony pareceu mortalmente impressionado com a situação – Mas porque esta carinha tão entristecida? É por não poder sair?

– Não. Quer dizer, sim. - o menino olhava as peças espalhadas sobre o colchão – É por isso, sabe? - ele apontou o lenço na cabeça.

– Hum... - Rony contemplou – Seus cabelos caíram?

– Sim. Você vai rir?

– E por que eu riria?

– Você tem cabelos.

– Sim... Por enquanto – Rony riu e o menino o observou.

Rudy tinha enormes olhos esverdeados. A pele era morena, mas estava amarelada do pouco sol e da anemia que havia sofrido na semana passada. Seu caso era muito bom. Havia feito a transfusão medular e estava reagindo muito bem, mas depois do tratamento quimioterápico, seus cabelos começaram a cair, e ele esmoreceu.

– Como assim por enquanto? - o pequeno quis saber.

– Eu já estive careca assim como você duas vezes.

– Sério?

– Humrum – Rony afirmou com a cabeça – E vou ficar de novo muito em breve.

– E não fica triste com isso? - Rudy pareceu interessado.

– Não – Rony foi firme – Claro que não. Eu sei que é bem chato ficar meio que sem cabelos – ele riu e Hermione se espantou ao ver que o menino o acompanhava – Mas você deve pensar no lado bom.

– E tem lado bom? - perguntou curioso.

– Claro que sim, Rudy. - ele falava com empolgação - Você está fazendo tratamento, está bem e já está na quimio. Isso quer dizer que seu tratamento já vai acabar e que em breve você vai voltar para casa e tomará um grande e suculento prato de sopa de ervilhas...

– Não gosto de sopa de ervilhas – Rudy interrompeu, mas sorria.

– E do que gosta? - ele perguntou brincalhão.

– Pizza! - Rudy estava claramente animado.

– Então... Você comerá enormes fatias de pizza com a sua mãe e sabe o melhor, Rudy?

– O que? - os olhos do pequeno brilhavam.

– Seus cabelos vão voltar a crescer, assim como os meus.

– Mas não tenho cabelo vermelho – Rony riu da observação.

– Mesmo assim, seu cabelo crescerá e nunca mais vai cair. Não é demais?

– É sim, tio Rony – o garoto se precipitou sobre o ruivo e o abraçou enquanto os joelhos desmontavam o quebra-cabeça sobre a cama. Hermione se adiantou, sabia que Rony não estava forte o suficiente para aquilo, mas ele também sorria e ela relaxou.

– Seria realmente formidável se você atendesse o telefone, Hermione.
Ela reconheceu a voz de Leonel na porta do quarto e virou o rosto na direção do amigo. Ele sorria com o celular da garota em uma das mãos. A outra mão estava apoiada na cintura.

– Desculpe – ela falou enquanto sentava na cama e estendia a mão. Leonel se aproximou e sentou ao seu lado.

– Acho que era a sua mãe – ele disse.

– Ah, droga. - ela exclamou e olhou o visor – É... cinco chamadas não atendidas.

– Estava dormindo? - Leonel continuou – Eu ouvi seu celular tocar de dentro do banheiro.

– Não... Digo – ela se embaralhou – Não estava dormindo, mas não ouvi.
– Hum... - Leonel sorriu conspiratoriamente

– O que foi, Leo? - ela o olhava aflita.

– Nada de mais... - ele sorriu.

– Leo... - ela choramingou curiosa.

– O que, Hermione? - ele sorria de sua frustração.

– O que está pensando? Estou curiosa.

– É...

– Diga de uma vez, Leo – ela quase estava sobre ele de tanta curiosidade.

– É que você está assim...

– Assim como?

– Distraída, e eu nunca a vi assim. Nem as meninas.

– Estavam falando de mim nas minhas costas? Sob o meu teto? - ela estava com os olhos assustadoramente arregalados.

– Não estávamos falando de você. Falávamos sobre você, é diferente. E esse teto também é nosso - ele se divertia.

– Não vejo diferença.

– O caso é que está estranha como nunca esteve antes, e nós percebemos. E...

– E...?

– Quem é o rapaz?

– Rapaz? - Hermione pareceu momentaneamente nocauteada.

– Humrum – ele continuou com um sorriso insinuante – Só pode ter sido um rapaz o causador de toda essa distração. Hermione Granger sonhando acordada? Isto é novidade para os moradores deste apartamento.

– Você está vendo chifres em cabeça de cavalo, Leo.

– Hum – ele estava muito animado – E quem você acha que engana?

– Ninguém – falou tentando encerrar o assunto – Estou dizendo que não há rapaz algum e que estava apenas distraída.

– Tudo bem – ele se levantou e caminhou até a porta – Mas saiba que você não me engana. Esse seu coraçãozinho está apaixonado e você nem se deu conta. - ele sorriu e saiu.

Hermione rolou os olhos para ele enquanto voltava para a cama e se jogava sobre os travesseiros espalhados e enrolados nos lençóis. Pegou o telefone e ficou olhando o visor sem saber ao certo o que fazia com aquele aparelho nas mãos.

Respirou fundo recobrando a consciência e se dando conta que estava novamente pensando no ruivo. Negou com a cabeça. Isto não estava certo. Não podia ser. Ligou para a mãe e ouviu após o segundo toque aquela voz tão familiar e reconfortante adornada por um timbre metalizado.

– Oi, minha filha. Estava ocupada?

– Na verdade não, mamãe. Acho que o celular estava no silencioso, mas o Leo passou por ele bem quando tocou e me trouxe aqui no quarto. - mentiu.

– Tudo bem. Me conte as novidades. Estou curiosa para saber como tem ido na residência.

– Está tudo bem, até.

– E por que esse desânimo, minha filha?

– Hum... Não é nada – sorriu.

– Me conte sobre o paciente.

– Ah... Não tem muito que contar. O de sempre.

– Hermione, minha filha, o que está acontecendo? – a voz da mulher parecia preocupada – Você nunca foi tão desanimada, nem quando suas residências eram só para fazer relatórios.

– É que... Bem. Não é nada importante.

– Claro que é sim. Sua professora te convidou para ajudar em um caso em especial e você me ligou empolgada dizendo que era a oportunidade de sua vida. O que está acontecendo que não pode me contar?

– Não é que eu não possa contar. - Hermione parecia constrangida.

– E o que é, minha filha? Sou sua mãe. Sabe que pode confiar em mim.

– Eu sei...

– E então? – Hermione suspirou forte e falou de uma vez.

– Mãe, acho que estou apaixonada por meu paciente.


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