I Miss You escrita por mandyoca


Capítulo 8
Capítulo 8




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  - E eu avisei para você antes! – explodiu Dave quando não tinha ninguém por perto, ainda na aula de educação física. – Você precisa cancelar. Ele é um adulto, ele pode fazer coisas com você que seriam crime!


  - Espera, Dave. – tentei acalmá-lo. – Você não é o melhor cara para dizer isso. Você até admitiu que cometeu um crime.


  - Eu cometi. – aceitou. – Mas eu não sou um pedófilo, Kris.


  - Você não sabe se ele é. – rebati. – Você não sabe de nada disso. E é só um almoço, poxa! Nada de mais.


  - Eu não dependo de boatos. Eu vi. – disse entre dentes. – Não importa que você não acredite, mas eu vi o que era para ser um “inofensivo almoço” entre ele e Yolanda. Não seja idiota, você está sendo avisada!


  - Ok, você já cumpriu o que deveria. Avisou. – Fiz ar de inocente, claro. – Agora eu vejo o que vai acontecer.


  - Você vai ser tão dada quanto Yolanda, Kristal? – ele perguntou de forma cara de pau. Isso me ofendeu, mas não pareceu prejudicá-lo nem um pouco.


  - O quê? – arfei. – Isso é ridículo! Eu não sou dada, você é que está se equivocando. É só um almoço, que droga.


  - Tudo bem, Kristal. – Ele deu dois passos para trás. – Você vai ver o simples almoço. Aguarde e depois não venha dizer que eu tinha razão.


  O sinal tocou.


  A aula foi de álgebra. Conheci a professora Daiane, uma moça alta e que usava um coque na cabeça. Ela era fofa. Como Dave havia afastado sua carteira da minha, provavelmente bravo comigo, ela não nos encarou. Ela me cumprimentou como fez Martim, Connie, e os outros.


  Então a última foi de química. O professor era alto e usava óculos. Os seus olhos eram claros. Era bonito sim, mas tinha uns quarenta anos de idade. Aí ele veio dizer oi para mim e blábláblá.


  Suspirei e arrumei o meu material. Assim que o sinal tocou, Dave levantou-se revoltado da carteira e saiu da sala sem nem se despedir. Luan, com um pedaço de papel higiênico no nariz (desnecessário, porque já devia ter parado de sangrar, né), se aproximou com um sorriso.


  - Eu não esperava fazer isso com essa coisa no nariz. – Ele riu. – Mas você quer ir ao baile de arrecadação de dinheiro para o nono ano comigo? É daqui duas semanas, mas eu gostaria de ter certeza de que você não tinha um par ainda.


  - Eu nem sei o que é esse baile. – murmurei.


  - Traje social, vestido, sapato alto, cabelo arrumado, essas coisas. E eu pago a entrada, pode deixar. – Seus olhos eram brilhantes, radiantes, pedintes.


  - Eu não pretendia ir nessa coisa. Nem tenho quem me leve e quem me entregue em casa. Marie não aceitaria fazer isso. Esses bailes acabam tarde. Marie é minha avó. – Eu estava pensativa, na verdade.


  - Eu te dou carona. Fiz dezoito anos no começo desse ano, eu tenho carteira, carro e tudo mais. Eu levo e entrego. Por favor, diga sim. – Retorceu os lábios.


  - Tá. – sussurrei, revirando os olhos, cedendo.


  - Vejo você depois. – Me deu um beijo na bochecha de despedida.


  Então eu andei até o estacionamento. Dave estava encostado em uma das paredes, apenas me analisando. Eu fingi que não o vi, e então Victor apareceu, segurando no meu braço e me guiando até um Citroën C3 preto. Ele abriu a porta do carona para mim, e eu entrei, agradecendo. Depois ele deu a volta e sentou no banco do motorista.


  - Vamos lá. – Ele saiu da vaga, indo para a rua cinzenta. Quando eu olhei para a direção onde estava Dave, ele havia sumido. Pelo menos ele não vai tentar me seguir, ou fazer uma dessas coisas idiotas.


  A casa era linda. Grande, aberta, iluminada. Maravilhosa. Victor pediu para que eu visse a prateleira com filmes. Se eu gostasse de um, eu podia assistir. Mas ao invés disso, pedi para que eu usasse seu telefone. Avisei Marie que não iria estar em casa para almoçar. Ela disse que tudo bem, que não tinha pressa de voltar porque ela gosta da ideia que eu me sinta livre aqui.


  Isso porque eu não me sentia da mesma forma quando morava com a minha mãe. Vovó gosta de fazer coisas que eu goste.


  - Não é um banquete. – Victor avisou depois de uns cinco minutos, entrando com miojo e salada, colocando tudo na mesa. – Mas acho que dá para o gasto.


  - Quer ajuda? – perguntei. – Eu posso carregar alguma coisa... É só dizer onde fica e eu pego com o maior prazer.


  - Imagina, Kristal. – ele disse enquanto abria um armário e pegava de lá dois copos. – Você é a minha convidada, eu não faria uma coisa dessas com você. Sente-se, eu já trago o resto.


  - Obrigada, mas eu prefiro mesmo ajudar...


  - Não, não, não. – interrompeu. – Sente-se aí, ou eu vou pensar que você não está se sentindo a vontade. Assim ficarei magoado.


  - Certo. – Sentei na cadeira grandinha e marrom. Era confortável.


  Doía ver Victor pegando tudo. Talheres, guardanapos, pratos, a comida em si, e todo o resto. Eu queria ajudar, mas ele não deixava.


  - Gosta de coca-cola? – quis saber, pegando o meu copo.


  - Gosto. – falei, já me sentindo tímida.


  Ele foi à cozinha e voltou com o meu copo cheio do refrigerante que eu gostava bastante. Mas eu tomava pouco, porque minha mãe disse que fazia muito mal, e que o melhor a fazer era tomar água.


  Então ele se sentou e serviu-se do miojo. Colocou duas colheres no meu prato, perguntando se eu queria mais. Eu disse que estava ótimo, porque essas duas colheres eram muita coisa. Eu mesma peguei a salada. Tomate, alface, pepino... Era tudo gostoso. Eu gostava mais de alface, particularmente.


  - Kristal é um nome bonito. – Victor quebrou o silêncio. – Quem escolheu? Essa pessoa deve ter sido muito sábia.


  - Ér... Meus pais escolheram. – murmurei. – Kristal vem do latim. O meu nome começa com K, então é só substituí-lo por C, e o significado já está presente. Na pronuncia é algo óbvio. Quando as pessoas me perguntam qual é meu nome para escreverem em algum lugar, eu preciso dizer: Kristal com K. Senão elas escrevem com C e isso me deixa louca.


  - Desde o começo eu soube que era com K. – Ele deu uma piscadela. Isso foi estranho. Eu fiquei meio: “O que eu estou fazendo aqui?”


  - Que bom. – sussurrei, tomando um gole da coca-cola.


  - Você sempre foi tão rápida nessa história da corrida? – quebrou o silêncio de uns oito minutos que ficou entre nós, sobrevoando o almoço.


  - Não. – sorri. – Eu nunca gostei de educação física, e não a fazia. Até que eu comecei a treinar mais, porque um garoto que eu gostava muito era um dos mais rápidos. Só que o treino deu efeito apenas uns quatro anos depois. E eu pensando que ia ser de um dia para o outro.


  - É, coisas assim não acontecem de repente. – Deu uma garfada no miojo.


  - Mas eu não sabia disso. – Acabei toda a comida, então tomei mais goles da coca, pouquinho por pouquinho até chegar ao fim.


  Mais silêncio. Uns quinze minutos dessa vez. Victor finalmente terminou. Eu ia levar o meu prato até a pia, mas ele fez um gesto que me interrompia. Então deixei o prato na mesa. Ele pegou umas pastilhas e me ofereceu. Eu aceitei, além do mais, adoro menta. Eu já havia o chiclete fora, de qualquer forma. E faz tempo.


  Depois, ele pegou um filme qualquer na prateleira e o tacou no aparelho. Ele se sentou ao meu lado, talvez perto demais. Isso fez com que eu fosse um pouquinho para o lado oposto. Comecei a pensar que o que Dave disse era verdade. Isso me preocupou, eu deveria ter cancelado quando pude.


  Uns vinte minutos se passaram. Eu não me interessava na TV, eu me interessava na porta da saída.


  Só que então Victor se aproximou um pouco e me olhou com aqueles olhos penetrantes e jovens. Eu senti minhas pernas ficarem bambas, situação que fez com que eu não conseguisse me mover para longe dele.


  - Eu não gosto dessa parte do filme. – ele falou num tom charmoso, atraente, encantador, e mais do que tudo: proibido. Eu não tinha o que dizer, eu estava preocupada demais para responder qualquer coisa para ele, até mesmo um “Fica longe!” – Você está gostando?


  - Claro, claro... – sussurrei. – Claro. Quero dizer, claro, o filme é ótimo, eu acho que até vou me viciar nele. Claro.


  Depois, apoiei os meus cotovelos nos joelhos e olhei fixamente para a tela, com as mãos no queixo e cabelos na cara.


  - Você vai estragar a sua postura se ficar nessa posição, Kristal... – Victor apoiou sua mão em minha cintura, planejando me ajeitar. Só que eu lutei contra elas, apenas podendo sibilar fraquinho:


  - Eu sempre fico assim. – menti.


  - Então você já provocou demais. – Ele me puxou para a postura correta, e segurou o meu rosto, sorrindo. – É tão ruim assim? – Victor se aproximou um pouco. – Você está com medo de alguma coisa? Parece assustada.


  Também, que você acha? Eu não quero te beijar!


  - Não... Eu estou bem. – DEUS, alguém me tira daqui! Se eu saísse correndo, provavelmente o professor não me alcançaria. Mas que droga, minhas pernas ainda estão trêmulas. Se eu levantar, só vou cambalear e precisarei explicar o motivo de ter saído de cena.


  Sem hesitar, ele chegou mais perto, muito mais perto, e esses lábios (lindos, ai ai ai!) quase encostaram nos meus. Só que aí alguém bateu na porta.


  Victor se afastou, olhando para a direção de onde vinha o barulho. Depois, irritado, se levantou e foi até lá para ver quem era. Abriu com um ar de “tudo bem” e olhou a pessoinha que lá estava, parada. A pessoa entrou sem dizer nada, e como sempre - desde hoje (cof, cof) – afundou os seus lábios em meu cabelo.


  - Kristal Steven, eu disse para você que era para você não vir ou algo nada legal iria acontecer. Agora trate de arranjar uma desculpa. – sussurrou, nervoso.


  - Professor, desculpe, mas ele disse que a minha avó ficou preocupada porque eu estava demorando. Ela pediu para que eu fosse imediatamente para casa ou ela iria chamar a polícia. – menti, com as palavras vindas num jato como se já fosse para eu ter dito isso há muito tempo.


  - Você pode ligar para ela outra vez. – Victor estendeu o telefone. – Sei que sua avó entenderá se você explicar que só estamos assistindo um filme. E que você disse que estava gostando.


  - Marie é uma pessoa da qual eu não gosto de contrariar. – Levantei-me do sofá, meio que indo até a porta. Dave me acompanhava com a expressão totalmente séria. Eu aposto que ele ia me dar um discurso.


  - Marie fala com Dave também? – Victor segurou o meu braço.


  - Pergunte para ele. Ele só veio me passar o recado, não sei como chegou a essa conclusão, professor. – Empurrei a mão dele.


  - Dave? – hesitou Victor. – Essa resposta fará você aumentar um ponto da sua participação nas aulas. Aí você vai, fala com Marie, e Kristal continua aqui, assistindo o filme comigo. Simples assim.


  Olhei para Dave, preocupada. Mas ele só levantou a mão esquerda e mostrou o dedo do meio. Apoiou a mão direita nas minhas costas e me guiou de forma protetora até um carro Vectra Elite prateado. Entregou-me no banco do carona e sentou no banco do motorista. Não falou uma única palavra.


- Eu sei que eu fui idiota. – Apoiei o cotovelo na porta, e a minha mão segurava o cabelo, entrelaçado entre os meus dedos frios. – Mas você acha mesmo que poderia ficar me espionando? Isso é invasão de propriedade, é crime.


  - Eu já sou um criminoso. O meu crime é um vício. Eu gostaria de deixar de lado tudo o que eu fiz, mas agora eu simplesmente não consigo parar. Eu tenho medo de parar. Eu preciso escrever cada detalhe naquele site, coisa que me torna um criminoso ainda maior. Você não pode mudar o que eu já sou. – Manteve os olhos na estrada com tamanha precisão e responsabilidade.


  - Você pode parar, seja lá o que for. – dei de ombros. – É só um site. Um endereço e nada mais. Você pode sair dele, assim os outros administradores tomam conta de tudo. Você se livra, e fim.


  - O que eu escrevo atrai mais gente. – sussurrou. – O que eu escrevo dá dó nelas, e elas doam mais dinheiro. Se eu não escrever, o site morrerá.


  - E será um favor, você deixará de cometer um crime. – O olhei.


  - Eu tenho medo de parar, Kristal. Eu tenho medo de não saber diferenciar os meus sonhos da realidade. Eu preciso anotar tudo naquele site onde tenham testemunhas, ou eu vou confundir toda a minha vida. – falou entre dentes. – Eu sou capaz de me matar se eu largar a metade do meu eu.


  - Esse site não pode ser metade de você. – contrariei. – Você que está exagerando porque não quer parar de ser um criminoso.


  - Eu não posso parar! – gritou.


  Aí eu fiquei em silêncio. Não era culpa minha que ele queria continuar tendo essa vida tão malvada girando em volta dele. Nada disso era da minha conta, pois o site é dele, o crime é dele. Ok, eu não faço ideia do que eu estou falando, mas não sou eu quem vai impedi-lo de fazer algo que ele é viciado.


  Ele me deixou em casa. Nem desceu do carro nem disse nada, apenas parou o carro (que eu não sei de onde veio) e deu no pé.


  Cumprimentei Marie e liguei o computador. Eu esperava um monte de xingamentos e palavrões, mas felizmente não ocorreu. Milhões de pedidos para adicionar estavam chamando a atenção. Tinha no mínimo trinta pedidos. Eu não comecei a contar. Impaciente, apertei o “aceitar” em todos eles.


  Augusto: A Hayley só fala de você. Ela quer muito voltar a ser sua amiga, Kristal, mas acho pouco provável que ela peça desculpas. Talvez se você fizesse, ela aceitaria e vocês estariam conversando dos caras gostosos.


  Kristal: Acho que você só quer que eu volte a falar com ela para que ela pare de te falar desses assuntos de garota.


  Augusto: Mais ou menos, mas ela quer mesmo voltar a ser a sua amiga. Se eu fosse você eu aceitava. Ela está triste.


  Kristal: Aceitar o quê? Ela não pediu perdão. Mas se ela pedisse, pode ter certeza de que eu aceitaria.


  A notícia de “Hayley foi adicionada na conversa” apareceu e eu olhei feio para a tela do computador. Augusto passou a conversa para ela? Que maldade.


  Augusto: Está aí.


  Hayley: Desculpe Kris. Se quiser eu peço de joelhos, mas você nem verá! Por favor, por favor, por favor, desculpa! Eu não queria ter dito que suas roupas são de lésbicas, eu as adoro, mesmo parecendo coisa de combate.


  Kristal: Ér... Tudo bem, Hayley.


  Hayley: Obrigada.


  A janelinha embaixo alternava as mesmas cores de ontem. Laranja e azul, laranja e azul, laranja e azul. Cliquei.


  Dave: Você está nervosa?


  Kristal: Eu que lhe pergunto.


  Dave: Eu não estou.


  Kristal: Nem eu.


  Outra janela começou a piscar. Não era Dave, nem Augusto, nem Hayley. Cliquei, franzindo o cenho. Que outra pessoa nesse mundo viria falar comigo no Messenger? Ninguém pelo que eu saiba.


  Luan: E aí, Kris?


  Kristal: Oi, Luan.


  Luan: Como você está? Eu só queria agradecer por você ter aceitado ir ao baile comigo, caso contrário eu teria de levar a chata da Yolanda.


  Kristal: Ahn, eu estou bem. Foi bom você ter me convidado, eu nem queria ir. E Yolanda não é tão chata assim.


  Luan: Ela ficou com ciúmes porque eu te convidei. Em todos os anos, eu tinha a levado, mas esse foi diferente e ela está pê da vida.


  Kristal: Ei, como está o nariz?


  Luan: Está melhor. Não sangra mais.


  Kristal: Que bom.


  Então, outra janela piscou. Continuava não sendo Dave, nem Augusto, nem Hayley, e nem Luan. Cliquei.


  Yolanda: Cristal! Fiquei sabendo que você vai ao baile com o Luan. Sabe, eu queria tanto te pedir algo... Eu estou afim dele, por favor, não aceite!


  Kristal: É com K.


  Yolanda: O quê?


  Kristal: Kristal é com K, e não do modo como você escreveu. Não é com C, Cristal. Entendeu, Yolanda? É a mesma coisa que escrever Iolanda.


  Yolanda: Tanto faz. Você vai mesmo com ele?


  Kristal: Vou. Seria mancada não ir, eu já aceitei.


  Yolanda: Mancada nada! Se você cancelar, ele vai aceitar na boa!


  Kristal: Eu não sei.


  Mais janelas começaram a piscar, e eu comecei a ficar doida. Eu não sabia qual responder e qual ignorar. Era horrível!


  Hayley: Dave me excluiu do MSN.


  Augusto: Ele me excluiu também.


  Kristal: Puxa, que pena!


  Abri outra.


  Dave: Você aceitou o convite do Luan para ir ao baile de arrecadação do nono ano? Você pirou? Você não pode ir com ele.


  Kristal: Por que eu não posso? E como você ficou sabendo?


  Dave: Eu diria que tem muita gente falando com você no MSN, não é?


  Kristal: Seu hacker de merda.


  Abri outra.


  Luan: Se Yolanda for falar com você, a ignore.


  Kristal: Ela já falou comigo. Eu não a ignorei... Desculpe.


  Abri outra.


  Yolanda: Você precisa cancelar, por favor!


  Kristal: Não vou fazer isso, Yolanda.


  Yolanda: Você tem Dave. Ele é gostoso, mas não fala com ninguém e é esquisitinho. Por que você não vai com ele?


  Kristal: Porque ele não me convidou.


  Abri outra.


 Gabriele: Oi, eu sou a garota do nono ano que te deu um chiclete hoje. A Gabriele. Lembra?


  Kristal: Ah, sim. Lembro. Obrigada, ele foi realmente muito útil!


  Abri outra.


  Hayley: Kris, você está bem?


  Kristal: Estou ótima.


  Estou cansada de dizer “abri outra”.


  Dave: Pega leve, Kris. Eu não entrei no seu computador. Eu só estou vendo que você está demorando a responder, ora.


  Kristal: Eu não vou cair nessa.


  Depois me irritei e desliguei o computador. Eu estava cheia de tantas janelas piscando e me fazendo ter dor de cabeça. Você pensa que só eram essas? Não. Tinham mais umas quinze me chamando a atenção. Aquilo me matou.


  Foi uma questão de minutos para a campainha tocar. Marie atendeu a porta e logo chamou: Kristal!


  Fui me arrastando até a porta.


  O que é que Dave quer agora? Sério, ele precisa aprender a viver sem mim. Ele deveria ficar com o site dele, isso sim. Deve ser um bom passatempo.


  Mas não era Dave.


  - Kris, você saiu do MSN tão de repente. – Luan arfou. – Eu vim o mais rápido que pude. Para aproveitar oportunidade, você quer ir ao shopping ou coisa assim? Agorinha mesmo... Sim?


  - Tudo bem. – Ergui as sobrancelhas. Como ele fala rápido. Você não tem noção. – Mas eu estou totalmente sem dinheiro, eu...


  - Não se preocupe, eu pago tudo. – ele me interrompeu. – Lanche, se você gostar de alguma coisa também, e sorvete... O que você quiser. Já está pronta? Se não estiver, eu espero o tempo necessário.


  - Eu... Posso ir, vovó? – perguntei.


  - Pode, vovó? – Luan também fez o mesmo.


  - Claro. – ela permitiu. – Você é livre, Kris.


  - Obrigada. – Dei uns passos para frente, e meu queixo caiu ao ver um Porsche Boxter vermelho na rua da minha casa. Eu não vejo esse tipo de carro todo dia e, além disso, ele é lindo. – Nós vamos a pé?


  - Está brincando? – Deu uma gargalhada. – Não. Nós vamos com o meu Porsche. Bonitinho, não é?


  - Mas... E-esse carro custa uns ter-trezentos mil reais! – gaguejei.


  - Trezentos mil e quatrocentos. – exibiu, abrindo a porta para mim. – Madame? Já andou num Porsche antes, Kris?


  - Claro que não. – Entrei. Nossa, que lindo!


  - Que honra a minha. – brincou enquanto entrava no banco de motorista. – E você já foi a algum shopping daqui?


  - Não. – Retorci os lábios.


 - Honra duas vezes. – zombou. – Te levar será ótimo. Eu vou te mostrar algumas das melhores lojas daqui.


  - Obrigada, Luan. – agradeci. – Seria ótimo se eu tivesse te conhecido ontem ao invés de hoje. Muitas coisas seriam diferentes.


  - Por exemplo, você não seria tão próxima do mudinho. Ele deve ter olhado para você e dito: “Que garota incrível!” – Virou numa entrada da rua gigantesca. – Mas ele precisa aprender que não foi o único. Dezenas de garotos estão esperando por você, Kristal. Por isso eu faço diferente. Eu não espero, e sim ataco. O mudinho infelizmente foi espero o bastante para fazer o mesmo.


  - Olha, Luan, eu gostaria que você não o chamasse assim. Seria ótimo se você parasse de fazer qualquer piada com ele. Tá? Ele é uma pessoa muito boa. Você não fala com ele porque ele até não responde, eu sei, mas isso não é motivo para você fazer coisas desse tipo. É ruim, é preconceito. Luan, o Dave é um garoto que para mim já é especial. Eu adoro conversar com ele, e ele é meu melhor amigo. – tagarelei.


  - E o mudinho se dá bem. – sussurrou. – O Dave não é da sua laia, Kristal. Você já é popular, todo mundo sabe o seu nome, todo mundo te admira! Já o Dave... Dizem que ele é burro, esquisito, mudo, e fracote.


  - Tão fracote que quase quebrou o seu nariz. – murmurei. – Você não se dá conta do que diz, sabia? Dave não precisa ser popular para eu saber que ele é demais. Ele me trata bem, ele é um ótimo amigo.


  - Um amigo? Em dois dias? O que ele já fez por você? – perguntou, deixando os olhos da rua só para me encarar. – Eu acho que nada. Enquanto eu estou te levando em um dos meus melhores carros para conhecer as lojas mais famosas daqui. Amigos fazem isso, Kristal. Amigos não ficam mudos.


  - Cala a boca, e pare de falar que ele é mudo. – exigi. – Ele é o meu amigo, porque eu os escolho. E você não é um, está bem? Eu não te conheço, mas ele fala mais do que sei lá o que comigo, parecendo até que engoliu uma matraca. E quer saber? Eu não gosto que zoem os meus amigos.


  - Ele é um mudo. – provocou. – O que você vai fazer?


  - Encosta. – sussurrei. – Encosta agora mesmo ou você vai bater o seu precioso carrinho de trezentos e quarenta mil reais.


  Ele encostou, morrendo de medo.


  Rapidamente, dei um tapa em sua cara. Juro que não foi por querer! Eu sou uma pessoa sana, que não gosta nem um pouco de bater nos outros. Mas eu avisei. A marca vermelha da minha mão ficou ali, estampada no rosto branco dele.


  Saí do carro. Eu me lembrava do caminho, não tínhamos ido tão longe. Um Vectra Elite começou a chegar mais perto de mim enquanto eu andava na direção oposta do Porsche onde o cara de dentro gritava: Kris! Desculpe!


  - Ei, gatinha, você vem sempre aqui? – zombou o motorista do Vectra com um sorriso de orelha a orelha.


  - Dave, deixe que eu vá para casa sozinha e que eu sofra exclusivamente pelo erro que cometi aceitando entrar naquele Porsche vermelho tão caro e bonito. – murmurei. Agora ele dava ré.


 - Não, não, não, não e não. – negou. Tipo assim, verdade!? Ele negou após dizer não cinco vezes. Eu só podia ser um gênio. - Você vai subir agora mesmo nesse carro. Eu salvei você do pedófilo do Victor, e de uma caminhada brutal depois de você ainda ter batido no tapado do Luan.


  - Como você sabe que eu bati nele? – Me curvei na janela do carro que imediatamente parou de dar ré. – Eu não te contei isso, e você não estava por perto. O que você viu, e como você foi ver?


  - Vai querer a carona? – mudou de assunto.


  - Fala, Dave.


  - Esse carro é da minha mãe, peguei emprestado e tenho de devolver. – Me observou. – Se decidiu? Se você não vier, eu tenho que ir.


  Entrei no carro.


  - Agora, como você sabe que eu dei um tapa nele? – exigi uma resposta. O cara estava espionando a minha vida outra vez?


  - Por favor, Kris. Não quero falar disso. – murmurou.


  - Um dia você vai me contar, não vai? Eu não vou conseguir ter uma amizade sincera com você se você nunca me conta nada. – Me acalmei aos poucos. – Assim eu acho que eu devo continuar sendo mais amiga dos populares mesmo.


  - Dá um tempo. – Revirou os olhos.


  - Não me peça para dar um tempo. Eu estou te irritando? Ninguém mandou você me dar carona, Dave. – fiquei brava de novo. – Por que você gosta de fazer isso comigo? Eu não quero que você tente fingir ser meu amigo se não é para ser.


  Ele suspirou.


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