Era quinta-feira. Um dia para a apresentação. Mais um dia naquele quarto.

– Bom dia, pequena.

– Bom dia, Draco.- a namorada respondeu, virando para o criado mudo e pegando sua varinha. O garoto sorriu, a observando. – Por que você está me encarando?

– Porque eu tenho olhos.- ele respondeu e ela riu. – E porque você é linda. – caminhou até a morena e a beijou. – Agora sim, bom dia.

Ainda de olhos fechados, Hermione sorriu, mas se endireitou e voltou a procurar seus livros.

– Draco! E a nossa apresentação, amanhã? Mio dio, é amanhã!! – ela exclamou e o namorado sorriu de lado. Adorava quando ela soltava uma ou outra frase em italiano.

– Já disse para você relaxar, Hermione! Vai dar tudo certo, eu juro para você, ok? – ela suspirou e assentiu, sentando na cama.

– Eu só queria saber o que é....

– Surpresa!

– Draco, a apresentação é amanhã... Isso quer dizer que nós....

– É, concordou, derrotado.- Voltamos aos dormitórios na segunda-feira, senão Sábado. – ele sentou ao seu lado e ela pôs a cabeça em seu colo.

– Não quero voltar.

– Nem eu, mas nós precisamos. Afinal, isso nem será um problema, já que toda Hogwarts já sabe que você tem dono...

– Ah, eu tenho?

– Tem. Ele é lindo, maravilhoso...

– Não me diga que eu estou namorando com o Harry! – ela exclamou e o sonserino fechou a cara, mal humorado. – É brincadeira, seu bobo! Prefiro loiros...

– Acha o Harry lindo e maravilhoso, é? – ele já sorria, mas mantinha seu bico.

– Seu ciumento!- acusou a morena, levantando a cabeça e dando um pequeno beijo em seus lábios. – Ele pode até ser lindo e maravilhoso, mas o garoto que eu amo não é ele.

– Quem é? – o sorriso dele aumentara com o beijo.

– Sabe, ele atende pelo nome de Draco Malfoy.... Mas continua não sendo meu dono!

– Ok, ok, nervosinha... Vamos tentar de novo. Hogwarts inteira já sabe que está comprometida.

– Bem melhor.- ela concordou, voltando a deitar. Ainda tinham 15 minutos até sairem para o café da manhã.

Hermione virou a cabeça para o lado e ficou pensando na reação que a escola tivera. Harry já tinha voltado a falar com ela, embora ainda se sentisse extremamente incomodado com o novo casal. Ronald, por sua vez, continuava distante. As meninas a apoiaram de primeira, mas Lorena ainda a alertava. O que a teria feito daquele jeito? O que Draco teria feito?

– Draco? – ela chamou, baixo.

– Oi, pequena.

– O que aconteceu entre você e a Lena? – ela soltou e ouviu o suspiro pesado de Draco, que se levantou.

– Quer mesmo saber? – ela assentiu e ele concordou, continuando a falar. – Quando eu era criança, sempre encontrava com Astória e com Lorena. Reuniões de família, jantares... Minha mãe considerava a mãe delas como uma irmã, por isso as conheço como primas. E eu era solitário, me recusava a brincar, me recusava a sair do quarto. Por causa de meu pai, eu nem sei. E a família começou a se distanciar, me dar o espaço que eu pedia. Todos fizeram isso, menos Lorena.

‘Ela sempre ia ao meu quarto, entrava sem permissão, mexia em todas as minhas coisas. No início, eu a expulsava, odiava aquilo. Mas ela persistia. Entrava sempre e passou a parar de mexer nas minhas coisas. Ela sentava no tapete, com o cabelo preso em duas trancinhas que ela não tirava nunca. E falava. Tentava puxar assunto, perguntava sobre absolutamente tudo. E eu passei a gostar também.

‘Conversava com ela, desabafava, ria. Passamos a nos tornar confidentes, unha e carne. Ela vinha toda semana, sempre com mil novidades. – o garoto sorriu, lembrando.- Até completarmos 10 anos. Fomos crescendo como irmãos, ela me tirava do quarto. Minha mãe a chamava lá em casa sempre, amava o efeito que minha prima tinha sobre mim. Mas a família ia se complicando mais e mais com o passar do tempo. O Lorde atormentava meu pai, minha mãe, minha tia. Lúcio, como o idiota que é, caiu em sua conversa, se tornou um comensal. Mas a minha tia não queria aquilo para ela nem para suas filhas. As visitas começaram a ser menos frequentes, até o dia em que a mãe delas a proibiu de vir.

‘Foi uma época difíci para todos, eu vim para Hogwarts no ano seguinte. Mas em todas as férias eu fugia de casa e ia para a casa delas. Mamãe sabia de meu segredo, é claro. Passava as férias com Lorena, sempre. Mas o problema é que Astória era apaixonada por mim. E, por Merlin, eu a odiava. Era um cão mandado de Lúcio, dizia que se tornaria uma seguidora do Lorde. Enquanto ela o idolatrava, eu e Lorena o odiávamos. Juramos que nunca nos juntaríamos a ele. E talvez esse tenha sido meu erro.

‘Astória não teve uma infância feliz, assim como eu não tive uma. Mas eu tinha Lorena. Ela acreditava ter tinha sido trocada por mim, achava que Lorena a tinha excluído. E decidiu tirar dela o que mais importava, roubar dela a amizade que ela mais prezava, que era a minha. – ele contava sem parar e Hermione o olhava absmada, curiosa. – No verão de nosso terceiro ano, quando eu fui para a casa delas, foi Astória que me recebeu. Estranhei. Ela sorria demais, me convidou para entrar. Eu entrei, com sempre, e fui até o quarto de Lorena. Espiei pela fechadura da porta e vi que ela praticava alguns feitiços que aprendera em casa. Virei a maçaneta e a cumprimentei com meu melhor sorriso. Mas ela não queria me ver. Me expulsou dali, gritou palavras que eu não seria capaz de repetir. E eu fui embora, Hermione. Eu fui embora sem saber porque ela estava brava ou o que eu tinha feito. Eu fui embora porque parecia o certo. E depois tudo piorou. A guerra explodiu, o Lorde voltou de vez. E Lorena se mudou para França. Fiquei anos sem vê-la, mas feliz por saber que ela estava bem. Dois anos e meio sem receber uma carta de explicação, nem nada. Até que eu decidi que tiraria isso a limpo.

‘Escrevi para ela, perguntando o por quê. E, para minha surpresa, fui respondido. A carta dizia somente: “Astória já me contou tudo”. E aí eu entendi. Corri atrás de minha prima e ela deu de ombros, alegando ter dito a verdade à irmã e a ter poupado do sofrimento que seria à ela me ver do lado das trevas. Ela disse que eu tinha me juntado aos Comensais, disse que eu tinha dito que nada mais importava. E Astória pode ser muito manipuladora quando quer. Naquela noite, eu escrevi duas cartas. Na primeira, para Astória, eu a ofendi de todas as maneiras possíveis. E na segunda eu me desculpei com Lorena. Desmenti o que sua irmã tinha dito, falei a verdade. O problema é que, naquele mesmo ano, eu tinha me juntado à eles. Não tinha mais como mentir, entende? No final, eu havia me tornado o que jurei não me tornar. Ela nunca me perdoou por isso.’

– Mas a Astória mentiu!- a namorada exclamou, absmada demais para fazer um comentário bem elaborado.

– Ela mentiu sim, Hermione. E Lorena sabe disso. Astória já pagou por sua mentira. Ela não me odeia por causa do terceiro ano. Ela me odeia por causa dessa maldita marca que eu em um maldito dia concordei em fazer!- ele apoiou a cabeça entre as mãos e balançou-a, nervoso. – Eu fui um idiota, pequena. Ela nunca vai me perdoar.

– Vai sim, Draco. – a namorada levantou o rosto dele e deu um beijo em sua bochecha. – Ela só tem que perceber que você mudou. Não será tão difícil, talvez ela precise de um tempo, só isso. – Draco concordou, mas permaneceu com o semblante trsite. - E, se é que é possível, eu odeio ainda mais aquela vaca oxigenada da Astória! – ela gritou, arrancando dele uma sonora risada, que a fez sorrir também.

Era para isso que um tinha o outro. Para contar tudo, para desabafar. E para dar algumas risadas necessárias na vida de ambos.