Setores de Sangue escrita por Carlos Junior


Capítulo 16
Capítulo 16: Caminhos Inopinados




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Clarice puxou o teclado para perto, respirou fundo, adquirindo coragem, e respondeu.

O que você quer?

O corpo da garota encontrava-se trêmulo, não sabia ao certo o que estava fazendo, ou o que faria a seguir. Mas o fato de uma possível negociação com o autor dos comentários pelo ocultamento do segredo a aliviava.

Após mais alguns segundos, surgiu outro comentário:

Você

Naquele momento, suas preocupações tornaram-se ainda maiores. Não importaria o que escolhesse, não sairia ilesa. Ela respirou ainda mais fundo, e fechou os olhos, com força.

De repente, mais um comentário:

Queremos que você nos ajude a conscientizar o seu pai

Aquela justificativa amenizara o horror da situação. Porém, aumentara o número de ameaças. Queremos, no plural, indicava que havia mais alguém por trás de todo aquele interesse.

Ela respondeu novamente:

Quantos são vocês?

Preferiu perguntar a quantidade, do que a identidade, pois a probabilidade de obter algum resultado seria maior.

Outro comentário:

Muitos

Clarice afastou um pouco o rosto do monitor, arfando, talvez estivesse com medo. Era agora que decidiria se cogitaria ou não uma negociação com desconhecidos.

Ela enviou:

Me digam exatamente como planejam fazer isso

A resposta era sim. Havia cogitado a negociação, e pelo visto, não sairia barato.

》》》

Robert empurrou a porta, em um movimento cuidadoso, e exibiu o conteúdo do quarto. Encontrava-se lotado de equipamentos, presos à parede por uma rede. Não havia armas ali, o que havia sido estrategicamente arquitetado, já que o quarto das armas era o à esquerda.

– Se querem que confiemos em vocês, sentem no chão, e fiquem longe das paredes - Eva seguia atrás deles com o revólver ainda em mãos. Ela aguardou até que eles se sentassem, desajeitadamente, então olhou para Mero. - Pegue as algemas da parede.

Haviam algumas alças de ferro localizadas no centro do quarto, em distâncias razoáveis umas das outras. Mero sabia exatamente o que aconteceria com as algemas, e as tomou em um movimento agressivo.

– Prendas os dois no chão - aquele comando soara confuso para Robert, mas Mero parecia ter compreendido.

Mero aproximou-se de Robert, com desdén.

– Se vocês relutarem, não terei pena em acertar a pena de qualquer um - disse Eva, friamente, dirigindo-se aos dois homens sentados no chão.

– Você primeiro - Mero sorriu para Robert, sadicamente.

Robert sentiu-s extremamente desconfortável apenas com aquele comentário, e por mais que quisesse, evitou combater o cedeu, permitiu que Mero o algemasse à uma das alças de ferro no chão, por mais humilhante que fosse. Parecia que estava perdendo uma luta que ele mesmo começara.

– Espero que esteja bem preso - Mero puxou a corrente entre as algemas algumas vezes, causando dor aos pulsos de Robert, que fez o possível para permanecer imparcial.

– Agora o outro - Eva inclinou a cabeça para a esquerda, se referindo a Wilbur, que encontrava-se com os olhos curiosos a alguns centímetros.

Robert encontrava-se com as duas mãos algemadas, a corrente entre elas passando pelo interior vago da alça de ferro presente atrás dele. Não fosse por sua filha, se recusaria a passar por todos aqueles procedimentos. *Mayla*, tinha que fixar seu pensamento nela.

Mero, então, foi chegando cada vez mais próximo de Wilbur, em passos pesados, disposto a realizar o mesmo processo torturante com o rapaz.

》》》

Zack atravessou mais um salão lotado de corpos, conscientes e inconscientes, que ignoraram parcialmente sua passagem, e dirigiu-se para fora. Não haviam muros ou coisa parecida para determinar o limite do território do edifício, apenas um grande espaço em aberto, como um buraco na estrutura, para representar sua entrada.

Ele foi seguiu até a rua, ignorando o cenário pobre e caótico, e tratou de encaminhar-se para um estabelecimento próximo. Não sabia ao certo quanto dinheiro possuía na carteira que ainda lhe restava no bolso, mas teria que gastá-lo comprando comida, em tamanhos pequenos e em quantidade.

Não desejava que os produtos que carregaria causassem euforia no local, todos ali precisavam de comida, mas Zack havia se comprometido apenas com a mulher que o interceptara. Além do mais, de uma coisa tinha certeza, não conseguiria satisfazer a fome de todas aquelas pessoas mesmo que usasse todas as suas economias.

Ele caminhou através da estrada de concreto até chegar nos limites da zona Mustard. A partir do momento que saísse, estaria livre para ser reconhecido. O problema é que não haviam lojas onde estava, até porque a instalação de alguma no interior daquela área ocasionaria o maior tumulto, fosse uma loja de comidas, ou uma loja de cosméticos.

Zack atravessou o pé pelo limite de Mustard, e pôde sentir a inquietação que era o medo dominar seu corpo. Comprometera-se com aquilo, portanto, faria aquilo, apesar de estar colocando sua vida em risco. Uma promessa, é dívida.

Ele fez, de cabeça baixa, um percurso ao longo área de transição entre Mustard e os bairros mais movimentados, e adentrou no primeiro estabelecimento que avistou. Era um ambiente climatizado, com cinco ou seis colunas de ferro enfileiradas lado a lado com as laterais de largura menor apontadas para a porta, estavam lotadas de prateleiras, apresentando os mais variados produtos em sua superfície.

Antes de tudo, Zack resolveu idealizar em sua cabeça quais seriam os melhores alimentos para que aquela mulher do prédio saciasse a si mesma e a seus filhos sem gastar muito. *Queijo*, foi a primeira coisa que lhe surgiu.

Ele movimentou-se lentamente, ignorando a mulher carrancuda que o seguia com os olhos sentada em seu banquinho de plástico próxima ao balcão.

– Queijo, queijo, queijo... - repetia Zack para si mesmo, como se a quantidade de vezes que repetisse aquela palavra fosse ajudá-lo a encontrar seu objetivo mais facilmente.

Os produtos não encontravam-se organizados em classificações, estavam apenas concentrados conforme suas identidades. Portanto, talvez não encontrasse queijo junto a outros alimentos derivados.

Para sua surpresa, encontrou salame, embalados em formas cilíndricas. Não era o que procurava, mas iria servir. Pegou seis embalagens de salame, imaginando que cada indivíduo daquela pobre família que encontrou se apossaria de uma unidade inteira, e levou-os até o caixa.

Após o pagamento, Zack deixou o estabelecimento, satisfeito, reconhecendo também, naquele exato momento, sua fragilidade ao tratar-se de sentimentos. Parou ali, por um instante, e disse a si mesmo:

– É só para aqueles seis, não posso fazer nada pelo resto - como se fosse ser de alguma utilidade.

Ele se importava demais com os problemas das outras pessoas, às vezes até mais do que com os seus próprios problemas. Aquele era seu ponto vulnerável.

– Vamos embora - anunciou, antes de levantar a cabeça e fazer menção de voltar para o prédio, colocando os salames sob a roupa que trajava, mas algo interrompeu seus passos novamente.

Wilbur. Não havia percebido antes, mas o rosto do rapaz que conhecera aquela manhã estava sendo exibido no telão à sua frente.

– Merda.

》》》

– O senhor tem certeza? - perguntou Garbon, surpreso com as palavras de Marshall.

– Eu não posso concluir o projeto com um bando de traidores ao nosso redor - Marshall encontrava-se acomodado na superfície macia de sua cama gigantesca, era incrível como o móvel parecia mais confortável que a poltrona que utilizava em dias de trabalho.

– E por que acha que existem traidores entre nós? - o clima tenso que pairava aquela conversa tornava o ar difícil de respirar.

– Porque eu sei... - Marshall se inclinou para frente. - Sei que tem alguma coisa acontecendo. Meus planos já foram interrompidos mais de uma vez. Isso não é o acaso, Garbon.

– Talvez seja, senhor - Garbon tentava ser suave com as palavras, porém não em excesso, já que seu nível de intimidade com o presidente permitia contradições. Não anulando, infelizmente, ou felizmente, o respeito por seu cargo político.

– Eu não acho que seja. E é por isso que eu quero... - Marshall cruzou os dedos, e prosseguiu, estabelecendo seu foco na parede de seu quarto. - Que você seja o líder da operação Robert Dodgers.

Garbon franziu a testa.

– O senhor tem certeza?

– Absoluta - Marshall voltou sua atenção para ele. - Você sabe que essa é uma situação um tanto delicada. Então peço que aja com cuidado, não torne as coisas alarmantes e nem chame a atenção de mais ninguém. A última coisa que quero é atenção. E acima de tudo...

Garbon aguardou pacientemente a continuação.

– Não deixe Robert Dodgers com raiva durante o processo de locomoção - concluiu Marshall.

Aquele fora um comando inusitado, mas resolveu não questionar. O que quer que havia sido ordenado, deveria ser obedecido.


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