Setores de Sangue escrita por Carlos Junior


Capítulo 14
Capítulo 14: Não Confie No Aliado




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– Você tem certeza disso? - o coração de Eva batia forte em seu peito.

Mero encarava os dois homens, com satisfação.

– Temos que avaliá-los ainda. Por isso acho que é melhor os deixarmos entrar, mas que estejamos preparados - disse ele. Seu interesse principal naquela situação era o de ficar ao lado de Eva quando ela determinasse se estava disposta a confiar ou não naqueles rapazes, anunciando-se aliados de Zack. Talvez aquilo mudasse o rumo das coisas. Mero sabia que Eva desejava uma forma de contatar seu marido, de quem estava afastada há muito tempo, assim como sabia que seus desejos a deixava vulnerável.

Ele não era muito bom em articular planos, mas aquela série de idéias em sua cabeça fazia tanto sentido que não parecia fraca o suficiente a ponto de estar condenada ao fracasso.

– Eu... - começou ela, a fragilidade explícita em sua voz. - Só um momento.

E desligou o telefone. Não gostaria de qualquer sinal de Mero durante aquele momento de desconforto.

– Eva está no elevador. Acabei de encontrá-la em uma das câmeras - anunciou o porteiro, da pequena caixa eletrônica no portão do edifício. - Vou contatá-la.

– Por favor - pediu Mero, sorrindo. Estava se divertindo. Sentia-se em um jogo onde sua vitória estava previamente definida.

》》》

Eva precisou apoiar-se na parede do elevador para respirar fundo. Não sabia ao certo por que estava daquela forma. Talvez a falta de contato com Zack durante todo aquele tempo a tivesse sensibilizado e ela agora sentisse sua falta. Ou talvez fosse pelo costume de relacionar Zack a Thomas.

Ela se recompôs, decidindo, então, abandonar a parede, e bem a tempo, pois o pequeno alto falante no interior do elevador emitiu um pequeno ruído, e então informou:

– Senhora, há alguns homens aqui na porta que desejam falar com você - o porteiro estabelecia uma forma de comunicação com ela através do aparelho no interior do aparelho eletrônico aparentemente velho.

Eva balançou a cabeça, em concordância.

– Eu sei - disse, tentando parecer indiferente, algo que não garantia muito sucesso para alguém que encontrava-se com a voz levemente esganiçada. - Pode... - ela mordeu o dedo indicador esquerdo. Estava pensando em algo, uma estratégia para garantir sua segurança. - Pode deixá-los entrar dez segundos depois de eu sair daqui? - pediu.

– Claro, senhora - consentiu o porteiro, após um breve intervalo de tempo.

– Obrigada - agradeceu ela, com os olhos focados no vazio.

O elevador abriu quase que imediatamente. Já encontrava-se no terceiro andar. Então, a partir daquele momento, teria apenas 10 segundos antes que eles entrassem.

》》》

Robert permanecia com os olhos fixos nos olhos de Mero. Definitivamente não confiava nele, parecia que toda aquela explicação que houve minutos atrás não significara nada além de perda de tempo. Mero não havia oferecido nada concreto e Wilbur já havia entregado parte da informação que carregavam.

– Ela nos mandou esperar um pouco - informou Mero, com os olhos inertes. Parecia ter adivinhado a impaciência dos rapazes que o observavam.

Então, em questão de milésimos, identificou um tênue volume sob o colete verde de Wilbur. Sabia exatamente o que aquilo significava. Assim como sabia como usar aquele elemento no jogo doentio que estava prestes a iniciar.

– Eu não confio em você - retrucou Robert, que seguiu o caminho das pupilas de Mero cuidadosamente.

Wilbur exibiu, nitidamente, um olhar de reprovação para Robert, enquanto Mero apenas sorriu, sadicamente.

– Que coincidência - disse Mero.

Um silêncio desnorteador pairou sobre aquele ambiente. O que estaria prestes a acontecer não parecia possível de ser previsto.

– Podem entrar - permitiu o porteiro, repentinamente, destrancando a trava da porta de entrada que dava acesso para o saguão do edifício.

– Vão na frente - Mero indicou para a porta de metal com a cabeça.

– Não - respondeu Robert.

Mero, portanto, abriu ainda mais o sorriso.

– Tudo bem então - Mero prosseguiu, lentamente, porém confiante, até o interior da construção, tornando o corpo somente ao encontrar a primeira parede de mármore.

– Satisfeito? - Mero permanecia com o sorriso sádico no rosto.

Robert respirou fundo, e acompanhou Wilbur enquanto ele atravessava a divisória que divergia o edifício da rua.

– Robert, o que pensa que está fazendo? - cochichou Wilbur, mantendo o passo.

– Deixando as coisas bem claras - Robert permanecia com o rosto voltado para a sua dianteira. Era extremamente importante para ele que não desviasse o olhar da figura sarcástica que parecia ser Mero. - Ah. E Wilbur, esconda melhor o que você tem no colete, ou ao menos se livre disso - avisou, rapidamente, baixando o tom de voz. Era crucial que Wilbur entendesse o recado, pois Mero já havia notado a presença do revólver, e provavelmente o usaria para transformá-lo em inimigos.

– Então... Wilbur e Robert, não? - certificou-se Mero, enquanto entravam no elevador.

– Isso mesmo - Wilbur tentava ser o mais amigável possível, era evidente. E aquilo irritava Robert.

》》》

Eva afastou o sofá branco do centro da sala, e garantiu a munição de um dos inúmeros revólveres que possuía em um de seus dois quartos reservas para utensílios. Seu pai já encontrava-se no quarto, com a porta trancada, agindo de acordo com suas instruções. Estava tudo indo de acordo com o plano.

Naquele momento, era provável que as coisas saíssem do controle, e não queria mais ninguém envolvido se não fosse estreitamente necessário. Mero apenas estava lá para cumprir o papel de intermediário, e, acima de tudo, de protetor, já que era claro que ele faria qualquer coisa para defendê-la.

Passado cerca de meio minuto, leves batidas na porta foram escutadas, anunciando a chegada do momento certo. Ela a abriu em um processo veloz e esperou que os homens entrassem com a arma em posição de disparo.

– Estão aqui, Eva - Mero caminhou lentamente até a lateral do aposento, permitindo que apenas Wilbur e Robert ficassem na mira do revólver de Eva.

Robert levantou as duas mãos.

– Não queremos confusão - anunciou.

– Vocês estão armados? - indagou Eva, rispidamente.

A consequência da resposta àquela pergunta seria a retirada da posse de suas armas, seus únicos mecanismos de defesa, e a única forma de garantir suas seguranças naquela perigosa situação. Esta linha de pensamento resultou em uma rápida decisão de Robert.

– Não - respondeu ele.

De repente, Mero cruzou os braços e olhou para Wilbur. Robert entendera exatamente o que ele estava prestes a fazer, e o fato de ter esquecido que Wilbur não o havia obedecido e escondido o revólver que guardava sob o colete o colocara em uma posição ainda mais arriscada. A posição de alguém difícil de confiar.

– E o que é esse volume debaixo do seu colete? - perguntou Mero, sarcasticamente.

Wilbur direcionou, rapidamente, sua atenção para Robert, que permanecia rígido e sério, como se nada estivesse errado, e depois para o colete.

– Aqui - ele colocou a mão sob a peça de roupa, e puxou a arma.

– Mero, vá pegar a arma - mandou Eva, inclinando o ombro para frente em busca de uma sinalização para o que acabara de exigir.

Aqueles momentos em que Mero e Eva agiam como se fossem amigos ou parceiros durante alguma missão, ou atividade, eram extremamente raros, além de prazerosos. Porém, eles não poderiam durar muito, ou Mero encontraria uma oportunidade de investir em Eva, algo que ela detestava. E o principal motivo de sua falta de intimidade.

– Pronto - avisou Mero, tomando o objeto das mãos de Wilbur.

– Então, você quis mentir para mim - exprimiu Eva, encarando Robert, enquanto aguardava alguma reação do rapaz.

Não havia saída. Wilbur havia estragado tudo. E agora, se quisesse salvar sua filha, Robert teria que representar pelo menos o papel de alguém relativamente confiável.

E a melhor forma de começar a fazer isso era cooperando.

Ele puxou o revólver que carregava na parte lateral da calça, e entregou a Mero, que o tomou em questão de centésimos.

– Eu não confio em você - evidenciou Mero, fazendo o mesmo que Robert havia feito pouco tempo atrás.

》》》

Zack estava cansado de esperar. Se Cordon realmente viesse, teria vindo há muito tempo atrás. Haviam combinado exatamente como realizariam suas ações durante aquele dia, e as chances de darem errado não eram tão baixas assim.

Pode ser que ele esteja sob extrema vigilância agora e não queira arriscar perder tudo nesse momento, pensou Zack. E aquela parecia ser a possibilidade perfeita.

Porém, se Cordon não fosse visitá-lo aquela noite devido aos riscos que estava correndo, talvez não fosse no dia seguinte também, pois riscos em relação a cargos não se dissipam de uma hora para outra. E, se a data de sua visita era incerta, o período que passaria naquele quarto escuro e abafado também era.

Ele respirou fundo. É claro que havia outra série de possibilidades, e ele não deveria se afligir pensando em apenas uma. Mas também não desejava ficar parado esperando por alguma resposta.

Aquele era um momento para agir.

Um momento para ser radical.


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