Reach escrita por Nyuu D


Capítulo 1
único




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Vermelho como o sangue

Branco como o osso

Vermelho como a solidão

Branco como o silêncio

 

Renji sempre foi absolutamente ciente do fato de ter duas pessoas em sua vida às quais ele talvez nunca alcançasse.

Duas pessoas que habitavam o mesmo céu. Como a estrela e a lua.

O brilho da estrela era tímido, mas belo. Já o da lua, era imponente e poderia cegar olhos descuidados.

A estrela postava-se silenciosa ao lado da lua, que olhava a todos de cima. A estrela orgulhava-se da lua, pois esta era admirada por todos, enquanto o seu próprio brilho poderia ser ofuscado pelo de estrelas maiores.

A estrela podia ser barulhenta e mandona. Droga de estrela que sempre o deixava com um galo na cabeça quando se irritava. Ou que o arrancava um grande sorriso após dar uma boa gargalhada.

Estrela que o guiou desde sua infância. Sempre à sua frente, ditando o melhor caminho para que seguisse, mesmo sem perceber. Renji sempre quis fazê-la orgulhosa, para que um dos motivos da beleza daquela luz fosse sua própria existência.

E para Renji, aquela estrela em particular sempre seria a mais fascinante dos céus. Cujo brilho intenso e delicadeza estariam lá para iluminá-lo, quando as nuvens não tomassem conta do infinito azul-marinho do céu.

E a lua.

Uma existência tão magnífica que fazia Renji sentir-se a menor e mais insignificante das criaturas. Uma beleza tão arrebatadora. Hipnotizante. Poderia olhar a lua por horas a fio, que jamais seria tempo perdido.

Achava que um dia poderia tornar-se tão digno de respeito como a lua. Digno de que os olhos que recaíssem sobre sua pessoa estivessem tão encantados quanto como quando olhavam para a beleza aristocrática e nobre da lua.

Uma lua solitária, que ao contrário da estrela e de suas outras companheiras, brilhava sozinha, orgulhosa, crendo veementemente que o brilho de qualquer outro ser ou coisa jamais se equipararia com o seu.

E aquela lua, tão grande e assustadora, também o iluminaria por toda sua vida.

Renji sempre preferiu a noite, portanto.

Gostava de ficar observando o brilho incansável da lua e das estrelas. De vez em quando procurava, antes de dormir, dar uma espiada no céu, para ver se aquelas duas existências tão importantes em sua vida ainda estavam ali para zelar por ele.

Mesmo que a lua fosse orgulhosa demais para admitir seu apreço. A estrela e sua impulsividade sempre deixaram claro essa vontade de proteger. Mas a lua jamais admitiria.

 

Vermelho como o instinto selvagem

Branco como o coração de Deus

 

Renji e seu instinto protetor.

Mesmo que por vezes não tivesse a mesma proteção em troca, ninguém, jamais, poderia tentar ferir sua estrela. Qualquer um que tentasse apagar seu brilho ou impedi-la de continuar a brilhar teria que ser destruído. Por mais que sequer houvesse sentido em tentar acabar com uma criatura tão bonita, sempre havia quem quisesse.

E a lua, que sempre recusou ajuda porque se cria autossuficiente? Bem, para ela, Renji tinha uma forma especial de zelo. Cuidava sem que percebesse. Qualquer um que desrespeitasse a lua na presença do ruivo acabava ouvindo muita coisa que não gostaria de ter escutado. Que colocasse em questionamento o verdadeiro caráter da lua e suas intenções. Não, a lua era boa.

O problema era sua frieza infinita. Como poderia aquecê-la se sempre recusava qualquer tipo de contato, e evitava apegar-se aos que a cercavam?

Mas Renji tinha esperanças na lua porque sabia que havia alguém a quem ele protegeria sem pensar duas vezes: a estrela entre eles.

Assim ele tinha certeza que a lua não havia perdido seus sentimentos e tornado-se uma rocha gelada como mármore, porque tinha aquela pequena e frágil existência da qual ele cuidava com tanto carinho. Mesmo que não deixasse claro ou que procurasse fingir que era apenas sua obrigação.

Por vezes Renji se perguntava se um dia mereceria o mesmo ou talvez mais zelo de sua adorada lua. Aquela a qual ele tanto admirava. Poder-se-ia sentir o calor que ela certamente possuía.

Claro, porque era impossível que seu corpo fosse frio como o que sua aparência exprimia. Devia ser quentinha de abraçar.

 

Vermelho como o ódio derretido

Branco como um gélido lamento de dor

 

A única coisa que sempre seria triste nessa história é como Renji sempre estava atrás da lua. Sempre querendo tocá-la, alcançá-la e dá-la o devido valor, como a própria acreditava que tinha. Passaria por cima da arrogância dela porque não importava, afinal, era uma de suas características mais óbvias.

Então se lembrava do que a própria lua lhe havia dito.

“Vou te falar... Qual o abismo que nos separa. É como a história... Do macaco que queria tocar a lua. Por mais que ele pensasse estar perto da lua, aquilo não passava de um reflexo dela na água. Não importa o quanto uma pessoa se esforce para alcançar a lua... O máximo que ela vai conseguir é se afogar na água.”

Ele às vezes sentia a água lhe sufocar. Puxava o máximo de ar que conseguia, então, e continuava nadando, e nadando... Incansável, em busca de sua lua. Sempre foi do tipo insistente, e que conseguia o que queria vencendo pelo cansaço. Nunca desistia do que queria, e quando estava exausto, sabia em quem se apoiar para continuar seu caminho.

Para alcançar sua lua, Renji estava disposto a fazer qualquer coisa. Como podia ter uma estrela próxima, mas a lua assim, tão longe? O pior de tudo é que ela mesma sabia que estava longe do alcance das presas de Renji. Podia ser, por algum acaso, que a lua estava apenas esperando que ele a tocasse?

Lá, pacientemente aguardando que ele se aproximasse de verdade? Sem cansar de brilhar e iluminá-lo?

 

Vermelho como as sombras que devoram a noite

 

Sabia que se sentia um idiota por estar indo atrás daquilo com tanto fervor, mas não se sentiria bem caso não o fizesse. Então decidiu que não se limitaria apenas a nadar atrás de sua lua. Tinha que perceber que ela não estaria num nível tão simples de se alcançar como a água.

A sua lua devia estar alta e imponente no céu. Brilhando, intensa e bela, como sempre.

Mas quando Renji saiu de casa, percebeu que a noite estrelada estava no arco da lua nova, portanto, ele não a conseguia enxergar. E lembrou que sempre, nesta fase, sentia um aperto no peito quase impossível de aturar. Mas, sempre se mantinha firme porque não queria sucumbir aos seus ímpetos de procurar a lua pela noite e abraçá-la, para ter certeza de que estava apenas escondida, e não desaparecida para sempre.

Entretanto, naquela noite, ele decidiu se deixar levar pela sua vontade e ir procurar sua lua, que ele sabia muito bem onde encontrar. Junto da estrela.

E foi guiando-se pela Seireitei até chegar à mansão Kuchiki. Claro que não poderia entrar assim, facilmente, portanto, fez com que os responsáveis pelo portão fossem chamar o líder do clã.

Mas não seria necessário. Byakuya estava caminhando no jardim e, certamente atraído pelo barulho, acabou aparecendo por ali.

Renji sorriu diante do brilho encantador que tinha sua lua. Mesmo debaixo da escuridão, ela continuava sendo fascinante.

Pacientemente, o capitão acalmou os outros e, de forma muda, ordenou que seu tenente entrasse nos terrenos da mansão. Assim o fez. O seguiu através da penumbra, caminhando silenciosamente atrás dele, na grama fofa do jardim. A um dado momento, Byakuya parou de caminhar, perto do lago, e virou-se para olhar o ruivo.

– Que faz aqui a essa hora da noite, Renji? Algo grave?

– Francamente, taichou... – Ele engoliu a saliva reunida na boca. Aquela segunda pergunta expressava a total anormalidade no comportamento do tenente; aparecer na mansão àquela hora? Mas, agora já estava ali. E não queria desistir do que havia decidido fazer, ou se sentiria extremamente vazio. – Eu gostaria de fazer uma coisa...

O Kuchiki permaneceu calado, observando Renji com seus olhos acinzentados e aguardando que o mais jovem fizesse alguma coisa.

Suspirou, erguendo os olhos escuros na direção de sua lua.

Estava bem ali, parada na frente dele... Era só esticar a mão e conseguiria alcançá-la. Tão perto... Só um passo adiante, um pequeno passo, e Renji poderia desfrutar de tocar sua tão amada lua.

Deu esse passo, então, imaginando ouvir o próprio coração bater, de tão forte que estava. Byakuya franziu o cenho na direção do rapaz, estranhando aquela aproximação repentina, e deu um passo atrás. O coração do tenente acelerou violentamente.

É... Ele sabia.

A lua jamais estaria ao seu alcance.

Baixou a cabeça e buscou pelo ar que lhe faltara. Respirou fundo. Sua lua continuava distante demais para ser tocada. Tinha que se conformar. Não desistir, apenas conformar-se com suas dificuldades e procurar ser mais racional... Talvez o calor do momento não funcionasse com a lua. Ela era racional. Gostava das coisas em ordem. Nunca foi muito passional. Mover-se pelas emoções, para ela, obviamente era algo completamente estúpido a se fazer.

Mas quando Renji pensou que estava completamente perdido, sentiu uma mão tocando-lhe o rosto.

Ergueu a cabeça e viu que sua lua lhe sorria. Os lábios curvados sutilmente, mas sorria. E inconscientemente, Renji abriu um largo sorriso diante daquilo que via.

Sabia que o orgulho da lua não a permitiria ser tocada primeiro. Teria que ser o inverso. Tudo bem.

As pontas dos dedos de Byakuya acariciaram a lateral do rosto do tenente, tão suave que mal se sentia. Um roçar calmo, parecia estar fazendo cócegas. E como a boa criatura intensa que era, Renji não se contentou somente com isso e acabou por pegar no pulso de seu capitão e tocar a mão dele inteira em seu rosto, fazendo-o sentir aquele calor.

É... Sua lua tinha mãos geladas.

– Ainda não me respondeu o que está fazendo aqui, Renji.

O ruivo permaneceu sem responder, porque não saberia pôr em palavras o que havia ido fazer lá. Muito provavelmente se sentiria estúpido por dizer. Não porque o sentimento em si era estúpido. Mas somente porque julgava ser bobo demais retornar àquela pequena história que lhe foi dita num momento tão conturbado.

Byakuya suspirou, e deu um passo adiante. Renji sorriu. Acreditava que o Kuchiki havia pelo menos entendido um pouco de suas razões para ir lá no meio da madrugada, sem qualquer explicação. Talvez ele estivesse procurando digerir a informação. Era óbvio demais para que não entendesse.

O tenente, então, arriscou-se a erguer as mãos e tocar na cintura de seu capitão. E sem perceber resistência, atravessou as barreiras imaginárias e o abraçou, apertando o corpo alheio contra o seu. E então pôde perceber que as mãos eram geladas, mas o resto era quentinho, assim como havia imaginado.

Tanto havia nadado e lutado para conseguir tocar sua lua e, agora, que a tinha em seus braços, idiotamente não sabia o que fazer.

Byakuya, entretanto, parecia conhecer muito bem o terreno onde pisava e, portanto, encostou a cabeça no peito do rapaz e respirou fundo. Mostrava-se estranhamente confortável; Renji jamais imaginou que ele reagiria daquela maneira a uma aproximação tão repentina.

Queria dizer alguma coisa, mas também não sabia o que falar. Talvez até soubesse. Entretanto, agora, talvez fosse melhor apenas manter-se em silêncio, apreciando da lua como sempre fazia.

Quem sabe um dia o macaco poderia contar à lua o porquê de sua estapafúrdia batalha para conseguir estar ao lado dela.

 

Como um suspiro que atravessa a lua

Brilha alvamente e dispersa-se em escarlate

 


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