Charlie olhou incrédulo para sua avó sem se preocupar com Seth, para ver se ela realmente estava pensando em permitir que fazendeiros snobs entrassem em suas terras. E era exatamente isso:

– Eu não vejo problema algum em ajudá-los. Seu pai sempre fora um bom homem assim como você, que é praticamente como um irmão para Charlie. – Ela sorriu, enquanto Charlie não queria acreditar em seus ouvidos. Ele sabia que a reação de sua avó era pelo fato de não ver Seth a um bom tempo, Charlie sabia que ela o tinha como mais um de seus netos. – Quando voltar, diga a seu pai que ele pode usar a nossa fazenda para a festa. Agora, gostaria de se juntar a nós? Acabei de preparar um ensopado!

Seth olhou para Sara com um sorriso que mostrava os seus dentes perfeitamente brancos:

– Eu gostaria de ficar, mas eu não posso. Está escuro e eu tenho que voltar para casa.

– Que pena. – Disse Charlie de braços cruzados. Ele estava encostado na pilastra de madeira que sustentava uma parte do telhado da casa. Ele estava um tanto irritado com Seth pela forma que olhava para Sara.

– Bom, William poderá te levar pra casa. – Disse sua avó.

– Foi um prazer revê-la Sra.Bartoli – Seth a abraçou e em seguida afastou-se virando para Charlie. – Também foi um prazer revê-lo Charlie.

– A recíproca é verdadeira.

Charlie sorriu e os dois deram um aperto de mãos como o de amigos que se encontram na porta de um bar. William saiu da cozinha, como se estivesse de barriga farta– e realmente estava– e foi até o celeiro que não era tão longe dali. William não gostava de dirigir, preferia a carroça, mas desta vez preferiu aos cavalos, que só havia dois.

Seth voltou-se para Sara aproximando-se um pouco atrevidamente o que fez Charlie ficar atento. Seth a envolveu nos braços como se a conhecesse há anos, como se fossem amigos íntimos ou talvez até mais que apenas amigos. Charlie desviou o olhar e cerrou os dentes ficando de braços cruzados fingindo esperar William aparecer com os cavalos.

– Nós precisamos nos conhecer mais, você não acha? – Perguntou Seth a ela.

– Claro – Disse Sara no abraço que abafava sua voz. Ela não tinha muita certeza do que acabara de responder.

Ele se afastou deixando-a respirar.

– Amanhã volto mais cedo aqui, para trazer o cavalo de volta. Até mais.

– Até mais.

William apareceu com os cavalos e Seth foi em direção ao cavalo negro e subiu nele sem fazer cerimônia alguma. Charlie voltou o olhar para Sara e ela retribuiu com o mesmo.

– Estou morrendo de fome, você não esta?

****

Depois do jantar e de terem escovado os dentes, cada um foi em direção aos seus quartos. Sara e Charlie subiram as escadas da sala e seguiram pelo corredor com várias portas. Sara rodou a maçaneta da porta de seu quarto quando Charlie segurou o seu braço. Ela se virou pra ele e ele a questionou:

– O que achou do seu novo amigo?

– Seth? Novo amigo? – Ela deu uma breve risada irônica– Por que esta me perguntando isso?

– Quero saber o que você achou, só isso. Mas o que me importa não é?

Charlie foi para o outro lado do corredor, para uma porta mais adiante que seria a do seu quarto.

– Eu o achei muito atraente.

Charlie apenas lhe lançou um olhar e entrou no quarto logo em seguida deixando suas ultimas palavras daquela noite:

– Boa noite.

– Boa noite. – Respondeu ela um tanto confusa.

Sara entrou em seu quarto e se jogou na cama com lençóis cor de rosa. Ela não via a hora de pegar no sono. Aquele dia havia sido muito pesado para ela até mesmo a aparição de Seth, mas não era nele que ela estava pensando quando fechou os olhos e, enfim, caiu em um sono profundo.

****

Ao amanhecer Sara sentou-se na cama. Seu estomago roncava de fome. Ela levantou-se devagar e olhou-se no espelho da penteadeira pegando a escova para escovar os seus longos cabelos lisos. Ao sair do quarto, ela espiou pela fechadura da porta do quarto de Charlie e viu que ele já não estava mais lá. Ela desceu pelas escadas, passando pela sala até chegar à pequena cozinha. Sara encontrou apenas sua avó na beira do fogão preparando café.

– Que bom que você finalmente acordou querida, deve estar procurando por Charlie.

– Não, não estou procurando por ele. – Mentiu ela tentando ver se o encontrava na varanda olhando disfarçadamente pela janela acima do fogão.

– Tem alguém esperando por você lá fora, mas é bom que você tome o seu café antes.

Sara sentiu-se ansiosa para saber quem a esperava e sentiu-se ansiosa para saber onde Charlie estava. Ela sentou-se na mesa e tomou o seu café da manhã rapidamente, assim que levantou, correu pro banheiro e escovou os seus dentes. Ela correu para a varanda imaginando que tal pessoa seria Charlie a esperar, mas ela estava enganada.

Quando chegou à varanda Seth a esperava sorrindo com as mãos nos bolsos, encostado na guia.

– Seth, você por aqui tão cedo– Ela retribuía o sorriso, mas não deixava de olhar para os lados a procura de Charlie.

– Procurando Charlie?

– Sim. – Ela foi direta – Sabe onde ele está?

– Claro, eu o vi assim que cheguei. Vem comigo, eu te mostro o caminho por onde ele foi.

Sara o acompanhou. Ele estendeu o braço para que ela o segurasse enquanto caminhavam. Eles pegaram um caminho com trilha de folhas secas entrando na floresta.

– Está tudo muito silencioso. Não vejo sinal algum de Charlie – Disse ela olhando em volta.

Seth estava em suas costas. Ela se virou para ele e ele estava bem próximo dela.

– Eu sei. Espero que você não se assuste comigo, mas eu te trouxe aqui para podermos conversar mais a vontade, longe dos outros. E não, eu não faço a mínima ideia de onde Charlie esteja.

Ele pareceu sincero. Sara, por dentro, estava uma arara com ele, mas tentou esconder seu desconforto. Ela nunca imaginou que Seth a enganaria.

– Você não precisava ter me enganado.

– Você tem razão, mas você também não toparia se afastar um pouco da fazenda para conversar comigo.

– Então... Diga logo de uma vez o que quer Seth.

Algo se moveu nas folhas. Sara aproximou-se de Seth, por mais desconfortável que se sentia, e observou as folhagens enquanto ele fazia o mesmo.