–Até que pra uma garota da cidade você sabe usar um arco e flecha muito bem.

– Não é difícil usar um, até porque eu tenho uma mira muito boa. – Sara sorriu – Eu costumava atirar meus brinquedos no Charlie pra me defender dele.

Ela olhou para ele, mas Charlie apenas sorriu e rapidamente seguiu em frente.

– Não esquenta com isso – William cochichou a uma distância nada discreta permitindo que até mesmo Charlie o escutasse – Ele supera.

Sara revirou os olhos e balançou a cabeça pros lados enquanto puxava a flecha da árvore, ela continuou a seguir pela trilha da floresta junto a ele e seu tio. Sara usava uma calça marrom escuro com botas pretas abaixo dos joelhos, os cabelos ruivos presos em um longo rabo de cavalo e uma blusa soltinha básica e branca.

– Você tem certeza que não quer um casaco, Sah? – Perguntou Charlie.

– Não, obrigada.

Charlie estava com uma camiseta regata preto por dentro da sua típica camisa xadrez azul que estava aberta e sua calça era preta. Seus cabelos claros estavam bagunçados propositalmente e como sempre, ele estava lindo. Sara o observava caminhar logo ao seu lado. Assim que William saiu na frente, Charlie finalmente a interrogou:

– Algum problema em mim, senhorita?

– Ah – Ela acordou do transe no exato momento da pergunta– Em você? Talvez sim. – Sorrindo sarcasticamente ela passou na frente dele assim como William. Charlie deu um sorriso de canto e foi logo atrás caminhando mais rápido.

Algumas horas depois, William parou de caminhar e respirou fundo. Ele olhou em volta fazendo seus olhos pararem sobre os de Charlie.

– É, parece que está seguro aqui, por enquanto. – Disse seu tio.

Charlie murmurou

– Às vezes eu me sinto um instrumento.

– Qual é Charlie... Você nunca se perguntou o porquê desse seu dom? Eu acho super legal e diferente. – Disse Sara.

– Estranho, você quer dizer.

– Não, diferente, único. – Concluiu.

Charlie deu um belo sorriso dessa vez puxando Sara pros seus braços. Ela retribuiu o abraço com bastante prazer.

– Vamos parar com essa cena toda de carência e vamos continuar a caminhada? Ou melhor, continuar a caçar?

–Estou cansada de tanto andar tio Will! – Exclamou A garota exausta.

– Ora, não foi você que se ofereceu pra vir?

– Tio, realmente essa caminhada toda foi cansativa, andamos por horas! Veja o senhor mesmo! – Disse Charlie mostrando a ele as horas no relógio preto, que havia ganhado do pai de Sara, em seu pulso. Eles haviam caminhado por quatro horas sem contar com as pequenas pausas dadas no percorrer do trajeto, e não encontraram nada além do sinal de alguns youkais insignificantes. Ao ver as horas, William pareceu um pouco surpreso – Tio, melhor encontrarmos um lugar para dormir antes que escureça.

As nuvens já haviam começado a surgir no céu, mas não havia previsão para chuva. William concordou dessa vez e eles caminharam mais um pouco até encontrar um espaço na floresta, perfeito para descansarem e passarem a noite quando ela chegasse.

Mais tarde, os sacos de dormir já estavam arrumados no chão, um ao lado do outro, mas William preferiu se distanciar mais por motivos de “privacidade” para o jovem casal. Sara abriu sua mochila e retirou dela vários salgadinhos e biscoitos inclusive um grande saco de marshmallows.

– Oh, sim! Quase me esqueço dos marshmallows! – Exclamou William, vou buscar alguns gravetos pra fazer uma pequena fogueira e volto logo.

– Tome cuidado tio Will! Quer que eu vá com o senhor? – Perguntou Charlie um tanto preocupado.

– Não, agradecido, mas eu me viro sozinho. – Disse William pegando sua espingarda e dando uma piscadela ao rapaz.

William saiu em busca de madeira. Sara e Charlie finalmente pôde ficar sozinho pelo menos por um tempo. Assim que William sumiu entre as folhas, Sara correu para Charlie e o encostou a uma das arvores e começou a beijá-lo. Charlie retribuía o beijo acariciando os cabelos dela sobre a nuca.

– Você não perde tempo – Disse Charlie ao afastar sua boca da dela.

– É porque eu não quero perder mais tempo algum ao seu lado.

Eles voltaram a se beijar. Charlie a segurou virando-se e agora era ela quem estava encostada na arvore. Charlie a mantinha prensada na arvore segurando-a com força enquanto ainda se beijavam.

Charlie a soltou rapidamente e virou-se.

– Passos.

Pode-se ouvir o som de um espirro e em seguida William surgiu por entre as folhas.

– Não sei o que é mais engraçado– Ele segurava vários gravetos em suas mãos – Vocês se agarrarem assim que dou as costas, ou o fato de parecer que esses gravetos esperavam por mim, todos separadinhos em um canto fácil de ver.

Sara respirou fundo e colocou a mão na testa, Charlie bufou revirando os olhos.