Hermione seguiu caminhando pelo campus carregando Bichento e suas coisas sem prestar atenção em nada a seu redor. Enquanto o gato ronronava tranquilamente em seu transporte, ela pensava no beijo que havia trocado com Rony e no pedido que o ruivo lhe fizera. Um pequeno sentimento de pânico começava a dominar o coração, já não tão tranquilo, dela.

Chegou no quarto, ajeitou as coisas de Bichento e se jogou no sofá sem ao menos perceber que Astoria se encontrava no local. Ainda tentava digerir o fato de que Rony havia pedido para que ela fosse a primeira mulher em sua vida.

— Mione? – Chamou Astoria incerta — Está tudo bem com você?

— Hum? – Indagou Hermione saindo de seu transe e percebendo a amiga — Falou comigo?

— Estou te chamando há pelo menos cinco minutos...

— Desculpe, não estava prestando atenção...

— Você pode me explicar por que tem um gato deitado na sua cadeira? – Perguntou a morena apontando para Bichento, que agora dormia tranquilamente na cadeira de estudos de Hermione.

— Ah... Lembra quando conversamos sobre adotar um animal de estimação? Então...

— Você simplesmente resolveu adotar um gato, é isso? – Indagou Astoria desconfiada.

— Sim! – Exclamou Hermione com um sorriso nada convincente.

— Entendi... - Tory comentou ao analisar a amiga — Você vai me contar o que está acontecendo? Ou vai ficar me enrolando?

— Não aconteceu nada... – Ela respondeu sentindo o coração dar um solavanco. O estômago seguia congelado — O que te faz pensar que aconteceu alguma coisa? – Questionou sem parar para respirar.

— Hum... Deixa eu pensar...  Talvez seja o fato de você ter trazido um gato pra casa sem ter me avisado antes, – Tory parou por um instante correndo os olhos pelo rosto de Hermione — ou então o fato de estar avoada ou, quem sabe, por estar visivelmente mentindo pra mim.

— Eu? – Perguntou com a voz esganiçada — Por que eu estaria mentindo pra você?

— Hermione Jean Granger, não me faça de idiota! – Exclamou Tory com as mãos na cintura e batendo um dos pés no chão. – Eu até engulo a história do gato, mas tem algo que você não está me contando.

— Eu... É que eu... – Tentou pensar em como sair da situação, mas não sabia como. Tinha total noção de que não conseguiria mentir para Astoria, mas também não podia contar o que havia acontecido, não era justo com Rony. — Eu não posso te contar - Falou de uma vez sentindo-se estranhamente cansada.

— Como assim não pode me contar? – Tory perguntou ainda mais desconfiada — Agora você me deixou preocupada.

— Não sou a única envolvida na situação. – Confessou finalmente.

— Entendo... Bom, se você mudar de ideia, estou aqui, ok? – Astoria disse sinceramente.

— Vou ficar bem, obrigada, Tory. – Hermione respondeu em meio a um sorriso fraco.

Ao se ver novamente sozinha na sala do dormitório, Hermione sentiu o desespero tomar conta novamente. Sem saber o que fazer, pegou o celular e ligou pra única pessoa que podia conversar no momento.

— Oi, sou eu...

— Eu sei que é você, Mione... Esqueceu que tenho seu número? – Indagou Rony com a voz metálica.

— Ah... É claro, que idiota que eu sou...

— Você está bem? – Perguntou com um tom de preocupação na voz.

— É... Eu estou sim. – Mentiu descaradamente — Só liguei pra avisar que cheguei no meu quarto.

— Hermione... Você sabe que não precisa mentir pra mim, não é?

— Como? – Questionou sem entender.

— Olha, me desculpa se minha proposta foi um pouco inesperada eu só precisava ser sincero com que estava sentindo no momento.

— Não, você não tem com o que se desculpar... Eu só... Só fui pega de surpresa com...

— Com tudo que aconteceu hoje?

— Sim... – Respondeu sem jeito — Pra ser sincera, nunca passei por uma situação parecida antes.

— Você ficaria mais tranquila se pudesse conversar com alguém?

— Não é o que estou fazendo agora? – Perguntou dando uma risada sem graça.

— Acho que não posso te ajudar, não é? Afinal, eu não seria muito imparcial, não acha?

— É... – Foi só o que conseguiu responder.

— Mione, se você quiser conversar com outra pessoa...

— De jeito nenhum! – Exclamou decidida — Isso é um assunto pessoal seu, não tenho direito de fazer isso!

— Mione, eu não me importo. – Afirmou o ruivo sinceramente — Não seria justo com você te proibir de algo assim.

— Mas, Rony...

— Eu só peço pra que essa pessoa não seja a minha irmã! – Pediu em meio a uma risada.

Hermione não conseguiu segurar a risada diante do pedido do ruivo. Lá estava ele, mais uma vez, mostrando o quanto era incrível. Será que ela realmente merecia marcar a vida dele daquela forma?

— Prometo que se eu conversar com alguém, não será com a Gina. – Respondeu se sentindo um pouco mais leve.

— Muito obrigado! – Exclamou animadamente — Mione?

— Sim, Rony?

— Está um pouco mais tranquila agora?

— Estou sim, obrigada.

— Quando precisar, você sabe que estou aqui. – Afirmou tranquilamente antes de se despedirem e Hermione desligar o telefone.

A morena respirou fundo e se levantou do sofá indo em direção a porta do quarto. Abriu a porta e viu que Astoria estava deitada em sua cama lendo um livro e comendo uma grande barra de chocolate.

— Preciso de ajuda. – Disse repentinamente.

— Mione... Você está bem? – Astoria perguntou realmente preocupada. Nunca havia visto a amiga daquele jeito. Estava pálida e sua expressão demonstrava grande desespero.

— Vou ficar depois que você me ouvir. – Ela disse enquanto se sentava ao lado da amiga.

— Tudo bem, estou ouvindo.

Hermione contou tudo que acontecera em sua conversa com Rony. Tory apenas ouvia sem dar uma palavra. Quando a morena terminou sua narrativa, encarou a amiga esperando pelo que viria.

— Eu sabia que tinha algo de estranho na história do gato. – Disse rapidamente — A sua sorte é que eu sou uma pessoa muito legal e que gosto muito de gatos.

— O Bichento pode ficar então?

— Claro que pode ficar! – Exclamou Tory rindo largamente.

— Agora será que podemos conversar sobre o real problema? – Pediu a morena visivelmente nervosa.

— Bom, finalmente o Rony tomou uma atitude, só Jesus! Quanta demora...

— Astoria! – Exclamou a morena com os olhos arregalados.

— O quê? Todos nós já havíamos percebido que ele gostava de você, só faltava a ficha cair pra ele.

Hermione olhou para a amiga totalmente surpresa. Se perguntou quantas vezes Rony e ela haviam sido pauta na conversa de Astoria e dos outros?

— Olha, Mione, vamos falar sério aqui... – Começou Tory — Nós já sabemos o que o Rony sente por você... mas o que você sente por ele?

— Eu? – Indagou surpresa — Ah... Eu gosto dele, ele é meu amigo.

— Hermione, pare de me enrolar - Astoria revirou os olhos significativamente — Você sabe muito bem sobre o que estamos falando aqui.

A morena encarou a amiga por um instante e respirou fundo. Era verdade, ela sabia que Rony a achava especial e que estava interessado nela, mas ela não sabia dizer o que sentia por ele.

— Ok, eu vou fazer uma pergunta e quero que você me responda sinceramente. – Prosseguiu Tory — Quando o Rony te disse que havia encontrado uma pessoa especial, como você se sentiu?

Hermione parou para se lembrar do momento mencionado. Por um instante ela ficou feliz pelo amigo, mas quando finalmente imaginou Rony com outra pessoa, ela sentiu seu coração pesar e sua garganta ficar seca. Era um misto de tristeza e ciúmes que ela nunca havia sentido antes.

— Eu... – Por mais que tentasse falar, as palavras não saíam, pareciam estar presas em sua garganta.

— Mione, eu sei que você não quer admitir, mas não acha que é pior dessa forma? – Astoria perguntou calmamente.

— Eu não quero me machucar outra vez… - Confessou ela ao sentir os olhos se encherem de lágrimas e se levantar, virando as costas para para a amiga, escondendo os olhos lacrimosos.

— Eu sei que não, mas você acha, sinceramente, que o Rony é igual ao Córmaco?

— Claro que não! - Hermione jamais poderia cogitar tal comparação — Eles são completamente diferentes.

— Então qual é o problema?

— Não seria justo com ele. – Ela respondeu sinceramente — O Rony merece alguém que tenha total certeza do que sente, e, por mais que eu esteja interessada nele, não sei se estou realmente apaixonada. - Admitiu enquanto segurava as lágrimas o máximo que que podia.

— Essas coisas vêm com o tempo, Mione. – Tory comentou tranquilamente. Não brincava como geralmente fazia, falava realmente sério —  E não precisa conter seu choro… Pelo menos, não comigo. Se se sente assim, é uma grande prova do quanto se importa com o Rony e o quanto quer ver ele bem.  

Hermione encarou Astoria e, sem conseguir segurar, se deixou chorar. A amiga a abraçou com carinho enquanto a ouvia soluçar em total descontrole.

— Eu não sei o que fazer! – Ela exclamou sem conseguir parar de chorar — Eu nunca passei por uma situação dessas antes! Eu nem sei por que estou chorando!

— Você está chorando porque você é louca! – Brincou a amiga — E também porque se importa com o Rony. – Completou assim que percebeu o olhar ferino da morena.