Rony já estava ficando preocupado com a demora de Neville. Estava quase ligando para o amigo quando o ouviu abrir a porta do quarto. Quando viu a expressão do amigo, percebeu que algo realmente sério tinha acontecido.

Neville estava com os olhos avermelhados e arregalados e parecia totalmente perdido em seus pensamentos quando se jogou na cama.

— Neville? - Chamou o ruivo se aproximando — Tá tudo bem? - Ouviu o amigo balbuciando algumas palavras incompreensíveis e resolveu tentar outra vez — Cara, eu não to entendendo o que você ta falando. O que houve?

— A Hanna… - Falou simplesmente, em uma espécie de transe.

— Aconteceu alguma coisa com ela? - Rony incentivou depois da pausa do amigo.

— Com nós dois, cara… Com nós dois.

O ruivo encarou o amigo e começou a juntar os pontos. Haviam apenas duas opções ali, e ele torcia para que fosse algo em que pudesse ajudar o amigo.

— Vocês estão com algum tipo de doença? - Rony perguntou sem evasivas.

— Não… - Neville respondeu enfático — Tá doido? Eu me previno, cara. Pensa que sou tapado?

Ele começou e em seguida parou. Olhou para o amigo e pensou que havia sido, sim, tapado dessa vez. Respirou fundo e colocou os braços atrás da cabeça, relaxando sobre a cama, mesmo que estivesse tenso.

— Tá bom - Continuou — Fui tapado. Não me preveni uma vez…

— Cara… - Rony ficou surpreso, os olhos arregalados — Como isso aconteceu? - Continuou preocupado.

— Eu podia fazer uma gracinha sobre isso, mas vou simplesmente responder que foi um descuido nosso. - Neville respondeu sem esboçar muita reação.

— E o que vão fazer? - Rony sentou na cama do amigo, esperando sua resposta.

— Só sabemos que vamos seguir em frente, mas ainda não sabemos como contar pros nossos pais. - Falou decidido.

— A Hanna não é a garota que tem o pai militar? - Rony perguntou preocupado, torcendo para que a resposta fosse negativa.

— Eu queria responder que não, mas é ela mesma.

— Tá ferrado. Foi bom te conhecer. - Rony tentou brincar, mas não deu muito certo e recebeu um olhar feroz do amigo — Foi mal.

— Tudo bem, eu também tentaria brincar pra te deixar mais animado. - Disse o moreno — Obrigado por tentar.

— Como ela está? - Rony continuou sem saber ao certo o que dizer.

— Tão desesperada quanto eu, eu acho.

— Você não parece desesperado… - Rony observou.

— Aprendi a disfarçar bem as dificuldades da vida. - Ele respondeu simplesmente fazendo Rony reconhecer uma sombra do velho Neville.

— O que posso te dizer agora, cara, é que estou aqui pro que precisar. - Disse o ruivo, solícito.

— Obrigado, cara. - Agradeceu Neville — Acho que vou precisar de apoio mesmo.

— Acha que seus pais vão pegar pesado com você?

— Não me preocupo com os meus pais, e sim com a minha avó. - Respondeu em meio a um suspiro — O problema mesmo vai ser contar aos pais dela.

— E como isso vai ser? - Rony continuou.

— Eu vou com ela, claro. - O moreno disse com simplicidade.

— Sou teu fã, juro. - Rony falou e o moreno deu um sorriso leve.

— Valeu, Rony. Você é o melhor amigo que eu poderia ter. - Neville disse realmente agradecido.

— Que isso cara, não precisa disso não. - Disse o ruivo encabulado.

— Uma coisa é certa… Vou precisar conversar com a Luna.

— É verdade, cara - Rony concordou — Mas a Luna é super de boa, ela vai entender, não se preocupa.

— Não me preocupo com o fato de ela entender ou não, mas de talvez perder algo que estava crescendo e estava me fazendo bem…- O moreno falou pensativo e foi interrompido pelo barulho do celular.

— O que foi agora? - Rony perguntou alarmado.

— Nada demais - Disse Neville simplesmente, colocando o aparelho sobre o colchão — A Luna me chamando pra conversar.

— Ah… Beleza. - Rony ficou meio sem graça — Eu vou dar uma volta por ai…

— Vai lá - Neville falou enquanto ligava o notebook — Chama a Mione pra tomar um sorvete e pergunta pra ela se tem como ressuscitar um morto.

— Que conversa é essa agora, seu idiota? - Rony falou irritado com o amigo.

— É o que vai acontecer quando for falar com o capitão, coronel ou sei lá o quê. - Neville falou com simplicidade — Pergunta pra ela o que eu faço.

— Quer que eu fale pra Mione? - Rony perguntou confuso.

— Sim… Qual o problema? - Neville olhou pra o amigo sem entender — Não vamos abortar, nem pensar. Até porque seria arriscado pra ela e, de qualquer forma, daqui a um tempo todo mundo vai saber. Confio na Hermione, e você precisa de apoio nesse momento.

— Cara… Não sou eu que preciso de apoio. - Rony falou incrédulo.

— Vá por mim - Ele continuou — Converse com a Mione. Você precisa dela.

Neville ouviu o barulho da porta se fechando pra poder, finalmente, relaxar os ombros. Não sabia muito bem o que pensar de toda aquela situação, mas, no momento, a única coisa que ele queria era conversar com Luna.

Ouviu o barulho característico do skype antes do rosto da loira aparecer sorridente na tela. Sentiu certo alívio com a expressão tranquila que ela apresentava, mas durou pouco. Luna já o conhecia bem melhor do que ele imaginava.

— Está tudo bem com você? – Luna perguntou assim que o rosto dele apareceu para ela.

— Como você pode me conhecer tão bem? - Indagou ele tentando forçar o sorriso.

— Não sei…– Ela sorriu ainda preocupada — Talvez você seja mais transparente do que imagina.

— Pode ser, mas me fala primeiro como você está. - Pediu tentando fugir do assunto.

— Você sabe que não vai conseguir me enrolar, não é?– Questionou docemente.

— Eu só preciso de um tempo pra pensar em como vou te contar o que preciso.

— Que tal você tentar começando do início.– Ela sugeriu com doçura — Sei que foi algo sério. Seus olhos estão vermelhos… Não deve ser fácil colocar algo que te aflige tanto pra fora… Eu compreendo, mas quero te ajudar.

— Você é realmente incrível, Luna. - Disse sinceramente.

— Você é bem mais incrível do que tenta mostrar ser– Falou simplesmente, fazendo o moreno refletir.

— Queria pedir uma coisa antes de começar a contar, posso?

— Claro que sim. Acho que já passamos dessa fase de pedir permissão antes de falar algo – Ela sorriu.

— Preciso que me prometa que vai tentar entender e que não ficará chateada comigo. - As palavras de Luna o fizeram sorrir levemente.

— É meio complicado dar certeza de algo sem saber o teor do assunto, mas prometo que entenderei e farei o que achar correto diante da situação.– Ela respondeu com clareza, convicta de suas palavras.

Neville respirou fundo antes de retomar as palavras. Agora estava ainda mais nervoso, queria muito que Luna entendesse e que os dois pudessem continuar a cultivar a relação que estavam criando.

— Pode falar, Neville. Você não corre o risco de eu te bater, pense pelo lado positivo– Ela sorriu, tentando fazer uma gracinha.

— Só você mesmo pra me fazer sorrir. - Ele disse enquanto ria pela primeira vez desde que havia recebido a notícia de Hanna.

— É muito bom saber que consigo trazer positividade à sua vida. Farei o possível pra que seja sempre assim. Palavra de Lovegood.– Ela falou fazendo um sinal de juramento com os dedos, diante dos lábios.

— Espero que sim. - Ele pausou rapidamente pra tomar coragem — Eu vou parar de enrolar agora.

— Seria bem interessante que isso acontecesse… - Ela sorriu, ansiosa.

— Você se lembra daquela minha amiga, a Hanna? - Neville indagou com cautela.

— A sua amiga do curso de Biologia?– Ela perguntou e respondeu em seguida — Se é essa, lembro sim.

— É ela mesmo. Eu encontrei com ela hoje e ela me deu uma notícia meio… Como posso dizer…? - Perguntou mais para si do que para Luna enquanto coçava a cabeça nervoso.

— Uma notícia desestruturante?– Perguntou arqueando as sobrancelhas.

— Exatamente… E a notícia me deixou meio sem rumo, sabe?

— E qual foi a notícia?– ela incentivou o moreno.

— E-ela… - O moreno tentava buscar a melhor maneira de contar a loira — E-ela e-está…

— Grávida?– A loira completou a frase fazendo Neville arregalar os olhos para ela.

— S-sim…

— Não sabia que era gago, Neville– Luna observou sorrindo de forma terna.

— É-é… D-de v-vez em qu-quando.

— Quando fica nervoso, okay?– Ela o ajudou, ainda sorrindo — Não precisa ficar nervoso, Neville. Não vou te acusar, muito menos te recriminar.

— E-eu… E-eu… S-sou o p-p-pai… - Concluiu em voz baixa, não conseguiu encarar a loira nos olhos.

Fez-se um breve instante de silêncio enquanto Neville ficava de cabeça baixa e Luna o observava pelo monitor. Ele esperava que ela interrompesse a conexão ou simplesmente desligasse o computador sem maiores explicações. Qualquer coisa do tipo seria compreensível.

— Por que está de cabeça baixa?– Ela perguntou em seu tom de voz normal, o surpreendendo.

— V-você não está ch-chateada? - Indagou sem acreditar.

— Por que eu estaria chateada?– Perguntou sem entender o moreno — Eventualidades acontecem com todas as pessoas do mundo, Neville. Por que eu deveria te julgar ou me chatear com isso?

— P-por causa d-do que ta aconte-c-cendo entre n-nós.

— O que está acontecendo entre nós, Neville?– Ela perguntou sorrindo.

— É q-que e-eu… - O moreno sentiu seu rosto corar depois de muito tempo.

— Neville, nada do que está acontecendo entre nós será afetado com o fato de você ser pai, a menos que você queira que isto afete nossa relação.– Ela falou certeira.

— Eu estou com medo, Luna. - Confessou o rapaz sem conseguir conter as lágrimas outra vez.

— Eu sei. E sei que não está sendo e nem será nada fácil pra vocês dois. É uma situação bem complicada e eu seria uma falsa se dissesse o contrário– Ela continuou — Será tudo muito difícil sim, mas você é forte o suficiente pra enfrentar.

— Eu não sei como lidar com isso! - Exclamou tenso — Não sei nem cuidar de mim, como vou cuidar de uma criança? - Perguntou esfregando os olhos.

— Sabe de uma coisa? Acho que você precisa ser o Neville que eu conheço mais vezes. Você é ótimo, responsável e muito atencioso. Ainda não entendi porque esconde suas qualidades embaixo dessa carapuça de pegador barato. Não é esse o Neville que me cativa. O Neville que eu conheço é o cara simples e decidido que sempre tem uma solução pra tudo. Aquele que me faz rir nos momentos em que estou na pior. Esse é o Neville que deve enfrentar essa situação. Não seja tão egoísta pensando apenas em você e em seus medos. Tenho certeza que a situação da Hanna é bem pior que a sua. Sentem-se com calma e conversem. Entrem em acordo e decidam o que vão fazer. Eu vou continuar aqui, apoiando você, do seu lado. Nada muda entre a gente, Neville, mas você deve mudar agora.

— Às vezes é mais fácil ser o palhaço pegador do que ser como eu era antes, Luna. - Começou Neville sério — As pessoas riam de mim, e agora não riem mais. Eu sei que tenho que ser responsável, só não sei se me lembro como.

— Eu sei que é mais fácil ser do jeito que as pessoas querem que a gente seja… E sei que você se acostumou a ser o palhaço pegador. Mas a situação mudou, o palhaço pegador será pai. Não precisa deixar de ser o palhaço, mas vai ter que ser um palhaço responsável – Ela sorriu de novo — Você vai conseguir. É como andar de bicicleta, a gente nunca esquece.

— Eu e Hanna conversamos sobre o que fazer quando ela me contou. - Ele continuou tenso.

— E o que decidiram?– Ela incentivou.

— Semana que vem nós vamos falar com os pais dela. Nós vamos manter o bebê.

— Uma ótima decisão, Neville. Não esperava menos de você - Ela falou com empatia — Como acha que os pais dela irão reagir?

— Digamos que você está falando com um homem morto. - Ele brincou.

— Então devo me declarar agora?–Sorriu novamente.

— Acho que é agora ou nunca! - Exclamou o moreno sorrindo de volta.

— Você é maravilhoso, moreno. Mas não é o momento de declarações. Isso será feito pessoalmente, um dia, depois que você sobreviver. - brincou.

— Então me promete mais uma coisa? - Perguntou decidido.

— São muitas promessas às cegas em uma única conversa, mas posso prometer pensar… - Falou enigmaticamente.

— Se eu sobreviver depois do encontro com os pais da Hanna… - Ele pausou rapidamente — V-você a-ceitaria s-sair c-c-comigo?

— Posso dizer que essa sua gagueira é um charme– Brincou com o moreno, lhe arrancando um sorriso — Mas você se lembra que moro um pouco longe de você?

— Não me importo em ir até ai. - Falou decidido.

— Se é assim… - Ela falou pensativa — Talvez eu possa preparar alguma coisa pra comermos aqui em casa e quem sabe a gente possa tomar um sorvete depois.

— Acho melhor você ter cuidado… Eu posso querer te visitar mais vezes. - Ele concluiu sorrindo bobamente.

— Acho que consigo sobreviver a isso.– Ela sorriu em resposta.

— Então só me resta sobreviver até a próxima semana. - Disse por fim.

— Te espero no sábado a noite– Luna falou confiante — Umas 20h.

— Está combinado, Lovegood.

— Então sobreviva, Longbottom.– Ela sorriu, piscando o olho para ele. — E não se esqueça: Você é muito melhor do que esse cara que quer que as pessoas amem.