Locked escrita por Miss Hana


Capítulo 7
O7 - Midgard


Notas iniciais do capítulo

Pessoas, perdoem-me pela demora... Vida lotada não é para mim TT.TT Onde é o botão de restart?
Antes que vocês leiam, gostaria de agradecer a todos pela compreensão de sempre... em relação a tudo! Obrigada!
Anna finalmente chega em Midgard! Lokilindo finalmente tem sua primeira aparição em Locked!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/492095/chapter/7

LOCKED

Miss Hana

Midgard: Reino dos humanos na mitologia nórdica.

S-T-E-V-E

A, penso eu, grande maioria das pessoas estaria desesperada ao acordar e descobrir que dormiu por quase setenta anos e, muito provavelmente, entrariam em desespero. Eu não as culparia. Descobrir que tudo e todos que você costumava conhecer tornaram-se uma memória no passado e nada mais do que isso não seria algo saudável. Mas não para mim.

Não estou dizendo que não sofri com todas as mudanças que aconteceram tão repentinamente em minha vida. Apesar de tudo, eu ainda era um ser humano. Dormir e acordar, descobrindo que meus amigos e entes queridos já haviam morrido a muito tempo e ter que me adaptar a um mundo completamente diferente foram coisas que marcaram diretamente a minha vida, de um jeito que não teria mais volta. Porém aquilo não chegava a ser tão desesperador quanto parecia.

O propósito pelo qual tantos amigos morreram foi para que eu conseguisse ajudar meu país e as pessoas. Não podia deixar aquelas responsabilidades de lado apenas por sofrimento. Seria egoísmo demais, tanto para Steve Rogers, quanto para o Capitão América.

Mas de que adiantaria ficar pensando naquilo? Não me faria voltar no tempo. Desde que o homem negro, alto, com um tapa-olho apareceu me dando a notícia, eu tentava colocar aquilo na cabeça. Minha única opção era seguir em frente. E foi o que eu fiz. Tentei ao máximo não me envolver com assuntos pesados, mas de nada adiantou, quando apareceu um homem com sotaque inglês, a prova de balas e metido a deus.

Fui recrutado para a “Iniciativa Vingadores”, para trabalhar junto com um cientista que havia sofrido um acidente e tinha dupla personalidade, uma mulher misteriosa de cabelos ruivos e um bilionário egocêntrico, trajado em uma armadura voadora, que achava que podia ter tudo. Em minha cabeça, aquela ideia realmente não daria certo, mas eu não tinha outra escolha, a não ser aceitar.

— Eu realmente não gosto dessa ideia — comentei para o homem ao meu lado.

Estava em um avião moderno, junto a Natasha Romanoff e Anthony Stark, decolado da Alemanha, onde capturamos Loki.

— Do quê? De ter sido tão fácil? — perguntou-me em um tom estranho e o encarei, alternando o olhar para o homem preso ao cinto, que nos encarava inexpressivo.

— Não lembro de ter sido tão fácil — interrompi-o — Esse cara é bom de briga.

— Você ainda é bem ágil — continuou — Para um velho.

Eu tinha a impressão de que Stark não perderia a oportunidade de me alfinetar. Estreitei os olhos.

— Qual é o seu segredo? Pilates?

Incomodou-me não fazer ideia sobre o que ele estava falando. Ainda tinha muita coisa a aprender sobre esse mundo moderno.

— O quê?

— É um tipo de ginástica... — começou, mas se interrompeu — Sabe, você deve ter perdido algumas coisas. Durante seu tempo como “capicolé”.

— Fury não me falou que você estava envolvido — soltei o ar pelo nariz, pregando os dentes para não soltar nenhuma palavra indevida.

— É — desviou o olhar — Têm um monte de coisas que o Fury não conta para você.

Sua frase me deixou intrigado, mas preferi ignorar. Quantas palavras saíam da boca daquele homem que eram realmente de alguma valia?

Abri a boca para falar, mas barulhos ensurdecedores vieram de fora do avião, seguidos por clarões e turbulências. Segurei-me no apoio, para não cair. Olhei rapidamente para o encrenqueiro, que olhava intrigado para cima.

— Qual é o problema? — perguntei, irônico — Tem medo de um raio?

— Não gosto muito do que vem em seguida — respondeu no mesmo tom. Algo em sua voz me dizia que ele sabia do que se tratava aquilo.

Uma pancada forte no topo do avião confirmou minhas suspeitas. Olhei para Romanoff, esperando que ela me desse alguma explicação, mas seu olhar refletiu o meu. Virei-me para Stark, que colocou o capacete de sua armadura e caminhou até a saída, mexendo em um painel e, segundos depois, a porta traseira abriu, fazendo tudo no interior se agitar.

— O que está fazendo? — gritei, para que me escutasse, mas ele simplesmente me ignorou.

No segundo seguinte, um homem forte, de longos cabelos loiros e uma capa vermelha, carregando um martelo entrou no avião, com uma expressão mais do que séria. Vi Stark mirar nele, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, foi pateticamente derrubado.

O estranho mirou em Loki, puxando-o pela gola da roupa e saindo dali no mesmo instante. Não tive tempo de reagir.

— E agora esse outro cara — Anthony se levantou.

— Outro asgardiano? — Romanoff gritou.

— Ele não é aliado? — perguntei, pegando o escudo.

— Não importa — respondeu — Se ele soltar, ou matar Loki, o Tesseract está perdido.

— Stark! Nós precisamos de um plano de ataque! — gritei.

— Eu tenho um plano — falou — Ataque!

Palavras não eram suficientes para descrever o meu desgosto por aquele homem e seus atos. Rolei os olhos, colocando rapidamente o paraquedas nas costas.

— Se eu fosse você, ficava fora disso, Cap. — Romanoff me alertou, em um tom sugestivo — Esses caras são praticamente deuses.

— Só existe apenas um deus, madame — sorri, aproximando-me da beirada — E eu tenho certeza de que ele não se veste assim.

Olhei para baixo, encarando os pinheiros da floresta abaixo de nós passando por meus olhos como um borrão verde e preto. Preparei-me para pular, mas algo estranho aconteceu: Um vulto preto se jogou agilmente para dentro, vindo do teto, a toda velocidade, em minha direção. Tentei desviar, mas era tarde demais.

Senti o impacto do corpo contra o meu, não forte a ponto de me derrubar, mas suficiente para empurra-lo para trás. Porém onde ele cairia não havia chão. Apenas um abismo. Eu estava muito na beirada.

Em um impulso inconsciente, segurei-o, no mesmo instante em que ele fez o mesmo, jogando os braços por cima de meus ombros e apertando-me com força. Mas os braços eram finos demais. O corpo delicado demais. Curvilíneo demais. Engoli com seco, mirando no que deveria ser sua cabeça.

Seu rosto estava baixo, mas logo pude ver seus olhos amendoados, encarando-me confusos. Dei um passo para trás, puxando-a comigo, para tirá-la do risco da queda.

Analisei rapidamente seu rosto. Olhos em um misto de mel com verde, contornados por grossas camadas ciliares, grandes e expressivos. Nariz fino e lábios rosados. As suas bochechas estavam levemente coradas e seus contornos eram perfeitamente desenhados. Quase como se não fossem humanos. Perfeitos demais para serem humanos.

Senti-a tirar rapidamente os braços de meu pescoço e demorei para raciocinar que ainda a segurava com força, puxando-a inconscientemente cada vez mais em minha direção. Quando a afastei, pude analisa-la com mais cuidado: Baixa estatura, corpo delicado, perfeitamente distribuído. Trajava um vestido preto, com botas e uma grossa capa da mesma cor. Levantei os olhos, vendo seus cabelos castanho-claro, com uma ou duas mechas mais claras, caindo sobre os ombros como uma cascata de delicados cachos nas pontas.

— Vocês, por acaso, não teriam visto um loiro alto, forte e com uma provável expressão de raiva passar por aqui, não é? — ela gesticulava nervosa, enquanto falava rápido demais. Sua voz condizia perfeitamente com a primeira impressão que eu tive dela.

— Sim — me perdi no caminho para a própria voz. Lutei para encontra-la novamente — Ele passou por aqui. E levou o nosso pacote.

De um instante para o outro, seus olhos arregalaram e ela se virou rapidamente para a outra direção.

— Eles foram por aqui? — apontou para a saída, correndo para a beirada novamente.

Eu tinha a impressão de que se ela ficasse por muito tempo ali, o vento iria leva-la. Meu primeiro impulso foi segurar seu braço, para afastá-la novamente, mas ela permaneceu imóvel.

— Senhorita, tome cuidado... você pode cair — alertei-a, vendo-a soltar-se gentilmente do meu aperto.

— Obrigada pela preocupação — sorriu para mim, tomando distância e correndo para pular no abismo — Mas consigo me virar sozinha.

— Quem é você?! — gritei, antes que se jogasse.

— Uma amiga — respondeu, enquanto seu corpo caía.

Tentei ver para onde tinha ido, mas não consegui encontrá-la. A única coisa que tive a impressão de ver foi uma luz acobreada se formar e se perder no horizonte. De algum modo, eu sabia que ela não tinha morrido. Olhei para Romanoff.

— Foco, Capitão — falou risonha — Não pode perder o foco.

Preferi não filtrar as possibilidades do porquê de ela ter dito aquilo. Tomei a mesma distância da garota e pulei, sentindo o vento chicotear meu corpo.

T-H-O-R

As vezes mentiras tem que emergir em prol de um bem maior. Pelo menos era isso o que eu tentava me convencer, toda vez que o monstrinho da consciência batia na porta de minha mente, apontando o dedo para mim e dizendo que eu era estúpido por ter mentido tanto assim. Para Lisanna. Para mim mesmo...

No fundo, eu sabia que o que fazia era errado e que se ela descobrisse, provavelmente nunca iria mais olhar na minha cara, mas era um risco que eu tinha que correr. Mesmo tendo que mentir para ela, tudo o que eu buscava era seu próprio bem. Era, de certa forma, por uma boa razão.

Ninguém sabe o quanto eu sofri ao vê-la sofrer tanto pelo que aconteceu com Loki. Ninguém sabe o que eu senti quando, no meio de seu pranto, descobri, vendo-a clamar pelo meu falecido irmão, que o que ela sentia por ele iria muito além dos limites de uma amizade. Fora eu quem chegou a tempo de impedir que ela acabasse com a própria vida, enquanto lágrimas escorriam pelo meu irmão. Então ninguém tinha o direito de me julgar, apenas pelo fato de que eu não conseguia mais vê-la daquele jeito. E tomei uma providência.

Eu sabia que, vendo o quanto ela o amava, seria difícil tê-la para mim e mantê-la sã. O que eu fiz podia driblar mente, corpo e qualquer outra coisa, mas não driblava o coração. E era essa, entre muitas outras coisas, o que me preocupava. Um risco a que nós estaríamos sempre expostos era a possibilidade de seus sentimentos ressurgirem. Caso isso acontecesse, eu iria perde-la. Era certeza.

E foi pensando nisso que eu viajei para Midgard. Claro que também queria trazer Loki de volta para casa. Mas com ele vinha todos os riscos.

Não foi difícil acha-lo naquela plataforma de metal flutuante, e menos ainda tirá-lo dali.

— Todos nós pensamos que você estava morto...

— Você ficou de luto? — perguntou indecifrável. Afrouxei o aperto de minhas mãos na gola de sua roupa.

— Todos nós ficamos — respondi, deixando meus ombros caírem e os olhos transparecerem mágoa. Encarei seus olhos esverdeados, enxergando neles uma chama que queimava toda e qualquer compaixão.

— Pois eu duvido — falou, em um tom desafiante – Não vi seu luto, quando roubou-a de mim.

Mal tive tempo de pensar nas possibilidades de como Loki sabia sobre Anna. A aflição por sua frase ocupou tudo.

— Você foi embora! – esbravejei, transformando as mãos em punho.

— E você não hesitou em não perder tempo — riu macabramente.

— Ela sofreu por você, Loki — gritei, forçando as palavras. Minha garganta estava falhando — Toda noite ela chorava e eu não estava impotente em relação àquilo.

— Desesperado e sem soluções! — falou alto, empurrando-me para trás — Qual foi a sua melhor saída? Apagar a minha existência.

— Nós pensamos que você havia morrido...

Olhei-o com os olhos carregados de culpa e aflição. Se nem o Deus da Trapaça me entendia, como Anna o faria?

— Por quê? — continuou com seu monólogo. Seus lábios exibiam um sorriso histérico, mas vi a mais pura amargura em seus olhos — Por que ninguém vai ser tão bom para Lisanna quanto o Poderoso Thor! Todos aqueles que se aproximam não são dignos de se meter em sua história!

— Não distorça os meus atos — rosnei — Nem minhas palavras! Não faça parecer que tudo o que eu fiz foi por razões erradas!

— Então qual foi a razão certa? — perguntou, sarcástico — A verdade, “irmão”, é que você não faz nada, além de se enganar! Diz que foi para o bem dela, mas tudo o que queria era o seu ego dizendo que, finalmente, a conseguiu. Ego esse, que mascarou a culpa e a consciência que, diferentemente, sabe que o que você fez foi errado.

Soltei o ar que estava preso. Como ele conseguia me ler tão bem, quando eu mal fazia ideia do que passava em sua cabeça? Trinquei os dentes, deixando aquela pergunta de lado.

— Então parece que funcionou — fiz a única coisa que não deveria: me exaltei verdadeiramente. A última coisa que eu precisava era sair falando tudo o que viesse na mente — Por que vamos nos casar.

Sua expressão era inflexível e ele ficou longos segundos em silêncio, para depois soltar uma sonora risada. Arqueei uma sobrancelha.

— Você não pode escolher por ela, nessa tentativa desesperada de prendê-la a si — sorriu — Você está, inconscientemente, se afundando cada vez mais em um poço fundo. Acredite em mim; vai chegar um ponto em que emergir não será mais possível. E não serei eu quem irá jogar a corda para você pegar.

Estreitei os olhos, entendendo o que ele quisera dizer com aquilo. Não queria admitir, mas não sabia o que fazer em relação a Anna. Se ela visse Loki, memórias corriam o risco de serem resgatadas e, além de afastá-la de mim, isso causaria danos graves a sua mente. A única luz no meio daquela escuridão era o fato de que ela estava em Asgard. E eu teria todo aquele tempo para pensar no que faria.

— E o que você vai fazer, caso consiga o que quer? Caso eu não consiga leva-lo de volta para casa? — perguntei — Quer você queira, quer não, ela está lá, esperando por mim!

— Sob todas as suas mentiras!

— E quem é você para falar de mentiras? — gritei.

Loki me irritara verdadeiramente. Já estava prestes a falar que não tinha mais volta, mas assim que abri a boca, senti uma pancada forte na lateral do meu corpo e eu sendo empurrado para o lado, deixando meu irmão para trás.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Por favor, deem-me suas opiniões! Vossas opiniões são de extrema importância para mim!
Obrigada