Locked escrita por Miss Hana


Capítulo 2
O1 - Voz


Notas iniciais do capítulo

Gente... primeiramente, gostaria de agradecer a todos que comentaram no prólogo e me acompanharam de Linked até aqui! HAHA...
Cá está o capítulo 1!
Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/492095/chapter/2

LOCKED

Por: Miss Hana

Voz: Complexo de sons produzidos pelos seres humanos;
Capacidade ou faculdade de falar;
Ordem, decisão;
Boato, notícia;

L-I-S-A-N-N-A

Sentei cansada no chão, apoiando os braços no joelho, ofegando levemente.

– Já cansou? – escutei a voz risonha do meu namorado e levantei a cabeça, forçando um sorriso.

Corei. Ainda era tão estranho chama-lo de “meu namorado”. A pessoa que eu conhecia desde que era criança agora estava me namorando.

– O que foi? – sentou-se ao meu lado, colocando a espada no chão. Ele me olhava com os olhos preocupados.

Fazia dois meses que estávamos namorando, mas toda vez que Thor olhava para mim, parecia que ele me olhava em expectativa. Como se esperasse preocupado por qualquer coisa que eu pudesse fazer, ou do jeito que eu pudesse reagir a qualquer fala sua. Preferia não dizer, mas ficava um pouco incomodada com aquilo.

– Nada – sorri, apertando o rabo-de-cavalo – Estou bem.

Nosso namoro fora algo tão repentino que às vezes eu questionava. Logo após a morte de Loki, tudo em minha memória ficou nublado. Tudo o que eu sabia era que eu tinha ficado realmente mal e desenvolvi um quadro de anemia. Eu estava horrível, fraca demais, meus cabelos estavam fracos, olhos fundos e olheiras. Mal comia e não tinha quem me fizesse sair de casa. Pelo menos foi isso o que me disseram.

Era por isso que eu tinha exercícios semanais obrigatórios. Na primeira oportunidade, Thor se ofereceu para me treinar com espadas. Não o contradisse.

– Vamos continuar? –sorriu novamente, levantando-se e estendendo-me a mão.

– Eu estou cansada – fiz um biquinho e ele riu.

Peguei sua mão e ele me puxou para cima, emendando com um selinho rápido. Corei novamente, afastando-o depois de um tempo.

Eu não entendia muito bem por que, mas ainda não me sentia confortável em ter essas demonstrações públicas com Thor. Era como se tivesse algo me bloqueando, me prendendo. Algo que eu não fazia ideia do que era.

Tinha alguma hesitação da minha parte. Como se faltasse uma peça no quebra-cabeça da minha mente. Muitas peças, para falar a verdade.

Eu lembrava de tudo o que havia acontecido, lembrava perfeitamente de minha vida, mas era depois do dia da coroação de Thor que tudo começava a ficar nublado, confuso. Tudo o que eu tinha certeza de que aconteceu foi só pelo que me contaram, por que o resto... o resto eu não fazia ideia. Um dia eu acordei de manhã e simplesmente me sentia não lembrar de nada. Nem sabia exatamente por que Thor não fora coroado.

– Estou pegando leve com você – riu novamente – Está ficando mal acostumada.

– Se isso é pegar leve, vou fugir quando começar a pegar pesado – ri e complementei – Você nunca mais irá me ver.

Ele riu e pôs-se a andar para fora do campo, mas uma criada chegou no mesmo instante, curvando-se levemente e pondo-se a falar:

– Príncipe Thor – ela falou apaticamente – O Senhor Odin requer sua presença imediata na sala do trono.

Thor assentiu e segurou em minha mão. O tamanho da minha se perdeu no tamanho da mão dele e ele me guiou até a entrada do castelo.

– Eu tenho que ir falar com meu pai – ele sorriu e eu devolvi – Podes ir até a sala ao lado do meu quarto. Pedi que alguém levasse um lanche para lá.

Sorri e fui caminhando com ele até nos separarmos. Segui em direção à sala que Thor me falou, mas quando cheguei lá, não tinha nada. Quer dizer, nada mesmo. Nenhuma mobília nem nada. Estava vazia. Franzi o cenho.

Quando ia dar meia volta para sair dali, uma voz me parou.

– Lisanna... – ela me dava arrepios.

Tinha certeza de que a conhecia de algum lugar, mas não sabia de onde. Ela me era extremamente familiar. Poderia dizer que a ouvia há muitos e muitos anos, mas não tinha o que me fizesse lembrar. Não tinha ideia de a quem pertencia aquela voz.

– Pois não? – fiz menção de me virar, mas a pessoa me parou.

Ela estava muito perto de mim. Se eu me virasse, trombaria com ela. Por isso limitei-me a olhar de lado. Eu ainda não conseguia ver seu rosto.

– Você não lembra... – constatou, mais como se confirmasse uma suspeita do que se tivesse acabado de descobrir. Sua voz era baixa, parecendo que ele falava consigo mesmo.

A pessoa ficou em silêncio por longos minutos. Estava estranhando aquilo, mas a presença daquele guarda me era tão familiar... e aconchegante. Ele esticou o braço, mas quando sua mão ia tocar em meu ombro, parou. Senti seu suspiro pesado na minha nuca e eu fechei os olhos.

– Nós nos conhecemos? – franzi o cenho, olhando para sua mão, que pairava sobre minha pele.

– Eu... – senti muita hesitação em sua voz. Depois de alguns segundos, respirou fundo e continuou, com voz firme – Não, Lady Lisanna.

Fiquei em silêncio. Talvez esperando que ele dissesse o motivo de estar ali. Talvez esperando que eu lembrasse de quem pertencia aquela voz.

– O Pai de Todos requer sua presença na sala do trono imediatamente – falou em uma voz inexpressiva.

– Só isso? – franzi o cenho, vendo-o recolher a mão.

– Sim.

Assentiu e se virou, caminhando até a porta. Virei-me rapidamente, a tempo de ver suas costas no vão da porta. Eu tinha que ver o rosto daquela pessoa. Eu tinha que saber quem era e por que ela me causava sensações tão estranhas.

– Espera! – estiquei a mão em sua direção e ele estancou, ainda sem se virar – Quem é você?

O guarda não respondeu. Ficou longos segundos em silêncio. Eu conseguia ver o movimento de seu peitoral subindo e descendo, indicando uma respiração pesada e pausada. Acho que ele devia estar com tanta dificuldade em respirar quanto eu.

– “Se não te lembras das menores tolices que o amor levou-te a fazer – ele recitou e eu arregalei os olhos, deixando o braço tombar ao lado do corpo – é por que jamais amaste”.

Depois atravessou a porta, sumindo de minha vista. De repente, uma tontura me abateu e eu tombei para trás, pondo as mãos nas têmporas. Um sorriso nublado apareceu em minha mente. Um sorriso que eu adorava, mas que há muito não via. E de que sentia muita falta. Não foi preciso aparecer os olhos ou até mesmo o nariz. Eu sabia a quem aquele sorriso pertencia.

Loki... – sussurrei, tapando a boca com as mãos e correndo até fora do quarto.

Flashes de uma mão pálida e com dedos longos, estendendo-me um livro de capa grossa. Consegui ler “Como Gostais, por William Sheakspeare” escrito em dourado.

Olhei de um lado para o outro, mas o guarda tinha sumido. Mesmo que ele andasse rápido, o corredor era sem desvios e muito extenso. Procurei-o por mais alguns segundos, mas ele não estava mais às minhas vistas.

Não poderia ser ele... Fazia meses que Loki havia morrido. Mas e se fosse... eu tinha que tentar acha-lo. “Não seja ridícula” a minha eu interior esbravejou e eu balancei a cabeça de um lado para o outro, tentando jogar aqueles pensamentos para fora da minha mente. Seria melhor assim...

L-I-S-A-N-N-A

Depois de uma leve corrida pelos corredores do palácio, finalmente chegara às portas da sala do trono. Ela estava entreaberta e, quando eu ia empurrá-las, uma voz me parou.

– Meu pai – era Thor. Ele parecia indignado – Se tiver alguma chance de isso ser verdade, eu tenho que ir para Midgard!

– Thor... – Odin soou sério – Com a Bifrost quebrada, não tem chances de você chegar lá.

– Se você usar um pouco de energia negra talvez eu...

– Fale baixo! – Odin sibilou severamente – Está esperando que alguém escute?!

– Mas meu pai... – ele abaixou tom de voz e eu tive que me esgueirar mais para frente para conseguir escutá-lo – Se tem alguma chance de ele estar vivo, nós temos que tentar!

Arregalei os olhos... será que eles estavam falando de...

– Você acha que eu não sei? – seu tom diminuiu e ele estava quase – Eu também desejo muito que Loki esteja vivo, mas ambos sabemos que isso é praticamente impossível.

Loki... Pus a mão na boca. Eles estavam cogitando a possibilidade dele estar vivo? E em Midgard? Segurei a vontade de entrar na sala e perguntar mais sobre aquilo. Mas era vergonhoso estar bisbilhotando. Vergonhoso demais.

– Por favor, meu pai... – a voz sofrida do loiro ecoou novamente e eu pus a mão no coração – Eu devo fazer qualquer coisa para ver se meu irmão está vivo.

– E o que você acha que vai acontecer com Lisanna, caso esses boatos sejam verdade? – agucei os ouvidos ao ouvir meu nome

– Deixemos o mais tarde para depois – falou rápido – Vamos nos concentrar no agora. Por favor.

Minha boca se transformou em uma linha fina. Não sabia do que eles estavam falando, mas queria descobrir.

– Thor... – ele pareceu parar para pensar. Depois de um segundo, continuou – Daqui a uma semana você vai para Midgard. É o tempo de eu juntar o que é necessário para te mandar para lá.

– Muito obrigado, meu pai... – Thor soou aliviado

– Eu estou contando com você, tanto para trazer seu irmão quando o Tesseract, Thor.

Tesseract. Fiz uma nota mental para pesquisar sobre aquilo mais tarde. Escutei os passos de Thor vindo em minha direção.

Droga. Ele iria me ver. O que eu diria quando ele perguntasse por que eu estava bisbilhotando? Trinquei os dentes, correndo silenciosamente para a metade do corredor, para fingir que eu estava chegando ali naquela hora. Esperei que ele abrisse a porta e andei normalmente.

– Ei Flor – ele sorriu para mim, quando me viu – Já comeu?

– Na verdade não – sorri amarelo, me aproximando – Quando cheguei lá, um guarda falou que Odin estava requerendo minha presença urgentemente. Faz alguma ideia do que seja?

– Eu acho que foi um engano – ele franziu o cenho – Acho que ele não te chamou. Quem foi o guarda que te disse?

– Eu... – hesitei

Será que era certo eu comentar a estranha familiaridade que senti com o guarda, mesmo sem ter visto seu rosto. E que, por dois segundos, minha mente me deu um “olé” e eu pensei debilmente que pudesse ter alguma relação com Loki. Ou então era melhor eu simplesmente dizer que não conhecia o guarda.

– Eu não sei – sorri, encarando suas orbes azuis – Quer dizer, nunca o vi antes.

– Tudo bem – franziu o cenho, aparentando desconfiança. Sorri um pouco mais, para passar confiança – Vamos?

– Para onde?

– Comer – riu e me puxou.

L-I-S-A-N-N-A

– Thor – chamei-o, fazendo-o se virar para mim – Eu tenho que ir.

– Já? – franziu o cenho – Ainda está cedo.

– Eu vou dar uma passada na casa de uma amiga – sorri.

Eu, tecnicamente, iria visitar um “amigo”. Heimdall, para ser mais exata. Se tinha alguém que podia me dizer o que estava acontecendo, esse alguém era ele.

– Eu posso ir com você – sugeriu.

Depois do que aconteceu comigo, começaram a me vigiar. Todos ficaram muito preocupados. Eu não podia sair sozinha, não podia andar sozinha. Tinha sempre alguém comigo. A princípio eu fiquei extremamente incomodada com aquilo, mas depois de todos colocando moral sobre mim e dizendo que eu não tinha o que reclamar, decidi que seria melhor ficar calada.

– Não, você não pode – minha boca se transformou em uma linha fina e eu inclinei a cabeça, encarando-o – Tenho absoluta certeza de que sua vida não se resume a mim.

– Mas pode – ele sorriu, tentando me convencer – Você sabe que eu não posso te deixar sozinha, Anna... Não me faça ter que dizer aquilo tudo de novo.

– Por quê? – levantei o tom de voz – Por que vocês acham que eu vou ali no penhasco me jogar? Façam-me o favor! Eu tenho mais controle sobre mim mesma do que isso!

– Você não sabe o que todos nós passamos por causa daquele tempo, Anna... – seu olhar pesou e ele virou a cabeça para o chão – A preocupação que sentimos...

– Eu sei sim, por que vocês nunca se cansam de me dizer o quanto sofreram! Sempre escuto todos vocês repetindo a mesma coisa e que eu estava realmente muito mal, mas nunca me explicaram direito o que aconteceu – olhei fixamente para ele, tentando fazê-lo sentir meus olhos sobre si – E nem por que eu fiquei daquele jeito.

– É doloroso lembrar... – falou sofregamente, e eu senti culpa por ter tocado naquele assunto de novo. Ele sempre fazia questão de me dizer o quanto aquilo doía nele.

– Não tanto quanto não saber a verdade – desviei o olhar. Eu estava ficando cansada de não ter respostas sobre mim mesma.

– Não diga isso – olhou-me repreensivo e eu encolhi os ombros – O que importa agora é que está tudo bem.

Ainda contrariada, assenti levemente. Levantando-me logo em seguida.

– Então você pode me deixar em casa – falei em meu melhor tom duro. Não estava muito afim da companhia do loiro naquele momento.

Ele me olhou com os olhos cansados e tristes. Afoguei o sentimento de culpa em meu peito. Detestava vê-lo daquele jeito, mas se todas as vezes que nós conversássemos eu cedesse ao seu olhar, nunca obteria respostas.

– Se não for incômodo – completei, limpando a saia do vestido.

– Não faz assim comigo, Anna... – ele se levantou e me olhou nos olhos – Eu queria tanto poder te dar o que você quer...

Não sabia muito bem a que ele estava se referindo. Se falava sobre respostas ou sobre ser meu namorado. O que era horrível, por que se fosse relacionado à última opção, nem mesmo eu sabia exatamente o que queria.

– Você só faz o que está ao seu alcance – rolei os olhos e trinquei o maxilar – Não posso esperar mais do que isso, afinal.

Ele não respondeu, simplesmente inclinou-se em minha direção e me deu um beijo rápido, segurando minha mão e caminhando comigo até minha casa. Sem dizer uma palavra sequer. Aquilo me incomodou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Gentes... nunca me canso de ressaltar o quão importante é a opinião de vocês para a continuidade da fanfic!
Obrigada, mais uma vez!

Atualização de GATOS!: http://fanfiction.com.br/historia/492093/Gatos/capitulo/2/