Tequila Branca escrita por Van Vet


Capítulo 9
Abrindo Concessões


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos leitores!
Mais um capítulo para animar o fim de semana...

Beijão à todos!



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— Senhorita Vyrlant?

— Bom dia, Weasley.

— Desculpe por ligar tão cedo, sei que ainda não são nem dez horas...

— Exato. Eu não acordo antes disso, portanto estou de mal humor. Desembuche!

Rony molhou os lábios de apreensão e espichou a cabeça para o corredor a fim de conferir se ninguém da redação apareceria para interromper seu telefonema importantíssimo.

— Tudo bem. Perdão por isso. É que eu ganhei a aposta. A tal moça, ela está caidinha por mim. Estamos namorando.

— É mesmo? — um tom de deboche vazou pela linha.

Ele encarou o celular irritado e prosseguiu tentando ignorar aquilo.

— Sim. Gostaria de apresentá-la para você...

— Pelo amor, Sr. Weasley! Eu fui bem clara, ainda faltam duas semanas para minha festa. Se ela está tão apaixonada como diz, segure esse amor por mais alguns dias e me mostre somente quando o evento chegar. — e bateu o telefone na cara dele.

Depois daquela grosseria antológica, algo bem típico das celebridades aliás, Rony ligou para o celular de Hermione. Com vinte dias ligando toda hora para aquele número já sabia de cor. Ela atendeu ao quinto toque um pouco letárgica. Ele sentia pena dela, a vida lecionando para um bando de pirralhos sem educação devia ser dura.

— Oi amorzinho. — ouviu-a chamá-lo desse novo apelido excêntrico que surgiu há dois dias.

— Olá. — ele sorriu para o nada e viu sua cara refletida na vidraça da janela.

Cara de paspalho. Até parece apaixonado, o artista!

— Tá fazendo o que de bom hoje?

— Nada demais. Corrigindo provas.

— Da criançada?

— Sim... Essa é minha vida, né?! — disse enfática.

— Que tal se formos para algum lugar bom curtir um pouco e esquecer o trabalho?

— Tô dentro. Quando? Hoje?

— Humm... Hoje não vai dar. Combinei de assistir o jogo. Transmissão ao vivo da semi final! Estamos comprando cervejas e petiscos então vou estar realmente ocupado. Uma pena.

— Vai ter mulheres é? — ela perguntou de um jeito que não o agradou.

— Claro que não. Porque essa insegurança? É uma reunião de homens. Você é única para mim.

— Eu sei, mas é que... — uma fungadela no outro lado da linha.

— Mas o que?

— É que... — um soluço agora.

— Mi, você tá chorando?

— Não! Claro que não! — ela estava se esvaindo.

O pânico tomou conta dele. Não poderia deixar ela se aborrecer assim e escapar dele pela diferença de poucos dias. Seus amigos entenderiam, óbvio, era para um bem maior.

— Fique calma e me conte. Tinha outros planos? — usou uma voz meiga.

— Tinha sim... Eu tenho ingressos para um espetáculo e queria a sua companhia.

Que tédio!

— Um espetáculo? Tudo bem, fiquei interessado.

— Sério? — a namorada deu um gritinho do outro lado da linha. Hermione também não era do tipo vocálica e expansiva como andava mostrando nos últimos dias.

— Sim, amor. Sim. — ele suspirou.

— Passe por volta das sete e meia então, tudo bem?

— Ok. Beijos. — e desligou irritado.

***

Hermione produziu-se lindamente em frente ao espelho enquanto maquinava o plano para conseguir o contrato de Dorah. Tirar um homem de seu ritual mais espartano, assistir esportes com seus semelhantes acéfalos, era um exercício muito arriscado para uma recém namorada praticar e sair ilesa. Penteando os cabelos ela pensou triunfante na manhã seguinte em que ligaria abusivamente para o celular de Ronald e daria de cara com dezenas de caixas postais. Suas expectativas eram as melhores.

O interfone tocou e a morena continuou executando seus atos cruéis ao dizer que já descia, mas sentando-se confortavelmente no sofá para assistir a um episódio inteiro de Friends, e o deixando esperando lá embaixo como uma sequoia mijada exaustivamente por dezenas de vira-latas.

Quando desceu viu no rostinho dele que estava prestes a explodir de impaciência, quem sabe até de raiva, mas se controlou e a beijou longamente na boca. Hermione achou surpreendente que ele tenha se contido, talvez estivesse apaixonado, o tolinho.

Difícil, mas não impossível! Seja positiva e... intragável!

— Estava experimentando o guarda-roupa todo? — o ruivo finalmente deu sua cutucada quando entraram no carro.

— Desculpe. — ela disse meio ofendida — É pecado ficar bonita para quem se ama?

— Ama? — ele arregalou os olhos.

Sim, o amor. Esse sentimento que vocês fogem como vampiros da prata.

— Não posso te amar? — Hermione buscou ser a mais atriz possível ficando atordoada com a interrogação dele.

— C-claro. É bonitinho, só isso.

Risinho satisfatório junto com risinho sinistro adicionado a risinho medroso. O que tá passando pela cabeça dele?!

— Bonitinho? Você tinha que dizer outra coisa, não?

— Que eu te amo? Eu te amo.

Hermione quase abriu a boca devido ao seu estado de choque. Não era mesmo esse caminho que ela esperava. Eles nunca dizem isso assim na lata, nem tão cedo, e muito menos pegam as referências no ar! Será que tinha encontrado um maníaco?

— Que fofinho. Agora vamos! — mudou de conversa rapidamente porque estava começando a ficar assustada.

O segundo ato prometia ser melhor porque quando a cortina do espetáculo caísse seu amado ia levar um susto ao perceber com o que trocou a noitada dos machões.

***

— A bela adormecida? — Rony estava sorrindo e aplaudindo embora quisesse chorar e esganar algumas gargantinhas para aliviar seu ódio.

— Vai ser o balé mais lindo que você vai ver! — Hermione estava grudada ao ombro dele sorridente e parecendo feliz.

Rony nunca tinha visto ballet, se não contasse Cisne Negro, aquele filme em que Natalie Portman se comportava como uma psicótica de dupla personalidade, semelhante à sua atual namorada, aliás.

Era algo bem feminino e entediante e não melhorou muito quando os dançarinos começaram de fato a fazer piruetas pelo ar. Admirável sim a elasticidade dos artistas, mas o que seria admirável era ele não dormir ao fim do segundo ato.

Ele não dormiu. Conseguiu prestar atenção, focado na sua total motivação em Dorah Vyrlant, criatura maldosa. A Bruxa Má não era nada perto dos atos daquela mulher. Mas o que ele não percebia era que no fundo, olhando de relance para Hermione durante o espetáculo, vendo como os olhos dela brilhavam de satisfação, Rony sentia um crescente apreço por estar agradando-a.

A cortina desceu no exato momento em que o jogo do seu time terminou. Ao longe, debaixo da chuva de aplausos dentro do anfiteatro, ele escutava torcedores festejando com fogos de artificio o resultado. Que torcida? Quem foi para a final? Pensou com angústia. Tentou ligar o celular, porém o sinal não pegava lá dentro. Se seu time perdesse nunca mais perderia um jogo por mulher nenhum, não importasse o motivo. Se tivesse ganho o mesmo valia... Em dobro!

***

Hermione percebeu a aflição de Rony ao escutar os fogos de artifício. Notou então estar sentindo compaixão pelo desespero dele. Talvez tenha exagerado na dose. Certas coisas são sagradas para as pessoas. Porém, abandonou o pensamento lembrando que sentir pena dele significava não sentir pena dela. Mais uma chamada da hipoteca havia batido a sua porta naquela semana e o pesadelo de sair de lá era tão grande que ela teve um sonho horrível em que voltava de mala e tudo para a casa dos pais e ia ocupar o seu quarto de adolescente que nunca fora desfeito.

— Vamos indo? — ele chamou ansioso.

— Sim. — a morena concordou andando sem nenhuma pressa para a saída.

Assim que chegaram na rua ele baixou a cabeça e começou a conferir o celular loucamente. De repente deu um grito de triunfo chamando os olhares das pessoas que deixavam o local.

— Para que isso? — Hermione levou a mão na cintura.

— Mi, eles ganharam! — sorriu como um menino — Eles ganharam! — exclamou pegando-a pelos braços e rodopiando seu corpo.

— Calma, Ron...

— Eu tô feliz.

— Mesmo não tendo visto o jogo?

— Sair com você me deu sorte, meu amor. Sorte!

— Ok animadinho. Acho melhor irmos para casa pra você colocar sua cuequinha de time e comemorar pulando em cima da cama. — ela riu indo para o carro. Ele puxou-a de volta.

— Que nada. Quero comer algo. Vamos! Eu tô feliz e quero aproveitar com você.

Hermione quase viu as sardas dele rindo junto o belo sorriso que ele exibia. Tocou-o docemente no rosto então, beijou-o na bochecha e resolveu dar uma trégua por hora. Ainda contava que ele estivesse sendo sarcástico e que a evitaria depois daquela noite sem livre-arbítrio. Não custava nada aproveitar o finzinho de relacionamento com ele sendo ela mesmo.

— Vou querer um chesee burguer!

— Ótimo. Procuraremos o mais repulsivo e engordurado na cidade.

— Esses são perfeitos.


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