Tequila Branca escrita por Van Vet


Capítulo 3
Pressa e Confabulações


Notas iniciais do capítulo

Demorou um bocado, mas chegou o segundo capítulo.
Espero que curtam ^^
Comentário super bem vindos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/492045/chapter/3

Depois do cafezinho e mais meia dúzia de papo furado com Simas, Rony dirigiu-se para o escritório de sua superior. Bateu suavemente na porta envernizada e ouviu a voz aquosa de Luna pedir para que entrasse.

Luna digitava passivamente no computador. A cabeleira loira de lado numa trança robusta e óculos de grau com armação negra, ornados por pedrinhas brilhantes. O intenso cheiro de lavanda presente emanava do incenso sobre a escrivaninha.

— Sente-se Ronald. — ela ofereceu-lhe uma poltrona.

Ele aceitou, mas procurou ficar um pouco inclinado para trás, longe do foco da fumaça aromática.

— Só um momentinho... — A diretora pediu.

Rony a viu digitar freneticamente e não mudar a expressão tranquila do semblante nem por um segundo. Quando terminou inclinou o corpo mais confortavelmente no assento e fitou-o longamente — como de costume — antes de dizer o que desejava.

— Conhece Dorah Vyrlant?

— Autora de Arthur Scott e os Feiticeiros do Oeste. Milionária, depois da saga de cinco livros.

— Ela mesma. Terminou a primeira parte de sua nova saga fantástica no mês passado. O mundo inteiro parece desnorteado e compulsivo por esse lançamento.

— A editora que detém os direitos de Arthur Scott vai levar uma bolada violenta dessa vez.

— Dorah teve um sério desentendimento com o editor chefe da Pandora Sagas, a editora de seu antigo sucesso. Ela está à procura de uma mais competente para esse novo trabalho.

Rony ficou atônito, depois cauteloso e por último eufórico. Será que Luna insinuava que a pacata Bússola de Ouro possuía uma chance daquele contrato milionário?

— Seu assessor me ligou ontem à noite. Está interessado na nossa proposta editorial. Quer marcar uma reunião o mais breve possível. Vou mandar meu melhor editor.

O ruivo abriu um largo sorriso convencido.

— Agradeço a confiança, Luna.

Ela o observou no seu jeito sonhadora.

— Está em suas mãos convencê-la de porque a Bússola de Ouro tem estrutura para elevar o título atual dela. Lhe mandarei o protocolo sobre tiragem, arte, revisão e tudo mais que preparei especialmente para trazer a obra dela. Estude, esteja pronto para ser chamado a qualquer momento e o resto o Universo se encarregará.

— Com certeza! — ele sorriu, radiante.

Imagina essa comissão, garotão!

— Obrigado pela oportunidade.

— Acredito no seu potencial persuasivo. Por enquanto é isso. — e voltou apática para frente do computador

Ronald estava de saída, mas girou os calcanhares somente para sanar essa questão que passou por sua cabeça.

— Luna, com licença...

Ela olhou-o atentamente.

— Sei do meu potencial e tudo mais, porém gostaria de saber por que acredita nessa minha tal força de persuasão.

— Porque é atraente e Dorah acabou de separar-se. Mulheres separadas são sensíveis a tipos como você. — respondeu no ato, sem nenhum constrangimento.

— Ô... — foi o único ruído que ele produziu em troca.

— Se ela insinuar fazer amor para selar o contrato vai haver alguma objeção?

Rony começou a gaguejar.

— Não seria nada sério. Só ouvi de um amigo pessoal dela, que por acaso é meu amigo também, sobre sua carência sexual. Nada para levar a sério... apenas... Estou te constrangendo?

Talvez Luna tenha o questionado porque ele deveria estar fazendo aquela sua expressão de não estou ouvindo isso, ou estou?

— Claro que não.

— Se você tiver alguém, se não tiver disposto a tentar por esse meio, posso ir eu mesma e ficar só com a parte burocrática da missão. Se for da vontade dos astros vamos angariar de qualquer modo.

— Estou cem por cento disponível. Pode contar comigo.

— Fico feliz.

E ela voltou para o computador como se aquela conversa absurda não houvesse ocorrido.

***

Hermione entrou correndo no elevador do edifício. Estava alguns minutos atrasada e fazer a poderosa Dorah Vyrlant esperar poderia significar o resto de sua carreira. Empurrou as pessoas que ficavam no caminho da porta e se jogou no fundo do elevador, transpirando e buscando fôlego.

O homem de terno próximo a ela franziu o cenho quando foi empurrado para o lado para que a morena pudesse usar o espelho do fundo, onde ficou passando os dedos freneticamente nos cabelos desalinhados.

A porta se abriu com um estalo e Hermione saiu rapidamente para editora. Enquanto caminhava pelo corredor acarpetado e vermelho, pegou sua colônia na bolsa e espirrou atrás das orelhas, no pescoço e colo.

Passou em sua mesa e jogou a bolsa de qualquer jeito na cadeira. Ela caiu com estrondo e escorregou para o chão. Pelo barulho alguma coisa havia se quebrado lá dentro.

— Dorah já chegou? — questionou a colega da mesa ao lado, Evelyn, da diagramação de histórias infantis.

— Acabou de entrar na Cúpula. — Evelyn informou.

A “Cúpula” era uma sala especial em que Mary Shermann, a chefona, levava seus autores rentáveis para discutir propostas e assinar contratos. Um lugar elegante e delicado, impecavelmente decorado aos gostos de um arquiteto francês amigo dela. Ocasionalmente, quando Mary viajava para o exterior, Hermione, Padma e outros funcionários que costumavam ficar para as horas extras, disputavam um cochilo da poltrona divina daquele lugar.

— Como estou? — a morena perguntou a diagramadora.

— Só arruma a saia e tá apresentável.

Hermione ajeitou sua saia, agradeceu e se encaminhou até a Cúpula. Respirou fundo antes de bater educadamente na porta, escutando a risada estridente de Mary lá dentro. Era sua risada de nervosismo absoluto.

Logo no primeiro toque, a chefe convidou-a para entrar, reforçando seu desespero, e a ela avançou, fechando cuidadosamente a porta atrás de si.

A ansiedade normalmente cegava Hermione, deixava momentaneamente sua visão enegrecida, antes de clarear e seu coração acalmar. A mulher na deliciosa poltrona, no meio da sala, não permitiu que ela deixasse de enxergar. Já vira Dorah Vyrlant em fotos e na televisão, contudo, pessoalmente, sua aura vivaz emanava outra energia. Sentava-se como uma rainha, de postura ereta e queixo erguido, observando seus semelhantes numa refulgência genuína e misteriosa. Os cabelos vermelhos se chocavam num leque de cores exóticas com a pele alva do rosto feminino, levemente marcado pelos sinais da idade. Os lábios finos foram tingidos num batom vermelho-cereja escolhido para combinar com a roupa indiana em tons quentes. Pulsos, orelhas e pescoço estavam adornados com joias de pedras verdes e ouro. A autora de cinquenta e poucos anos parecia uma obra de arte caprichosamente trabalhada.

— Dorah, essa é a Hermione Granger. Minha melhor editora. — Mary levantou para realizar as apresentações.

Já havia tentado criar aquele vinculo típico americano, em que os tratamentos poderiam ser facilmente esquecidos. Hermione, por outro lado, ainda se lembrava de que Dorah era uma inglesa, portanto, criada nas tradições. Preferiu chamá-la com mais formalidade:

— Srta. Vyrlant, estou encantada. — sorriu e estendeu a mão, sentindo-se uma mendiga perto daquela mulher estonteante.

Dorah repousou a xícara de chá que bebericava e levantou para devolver o gesto. Tinha olhos penetrantes.

— O prazer é meu, Hermione Granger.

De repente ela percebeu uma força tão grande naquela criatura que se sentiu intimidada. Será que daria conta?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tequila Branca" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.