Tequila Branca escrita por Van Vet


Capítulo 20
Desorientados


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, vou pedir para vocês perdoarem os erros gramaticais, mas estou sem tempo de revisar.

A última atualização provavelmente acontece no domingo, se tudo der certo. Conto com a participação de todos.

Mil beijos!



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O despertador sob o criado-mudo arrancou Rony das profundezas do sono. Ele abriu os olhos, zonzo, a cabeça latejando, a mente sem compreender o que estava acontecendo. Logo a memória da noite passada alastrou pela sua consciência e, frustrado, ele agarrou o despertador e jogou-o no chão.

Se respirasse fundo e se concentrasse em não pensar em mais nada poderia continuar dormindo pelo dia inteiro, pela semana inteira... Minutos depois o celular começou a tocar. Pegou o aparelho identificando a foto de Simas no visor. Não tinha nada para falar com ele nesse horário. Tocou na tela e ignorou a chamada, depois ainda colocou o telefone no modo silencioso.

Agora sim ia dormir! Até virou para o outro lado para ficar mais aconchegado. Passou as mãos por debaixo do travesseiro e o abraçou como se ele fosse um presente benquisto. Então o celular vibrou, vibrou incessante contra a madeira, e não ia parar enquanto ele não lhe dirigisse a atenção. Rony virou bruscamente, pegou-o e arremessou com toda força contra a parede, dezenas de peças se espatifando pelo chão do quarto.

Sua cabeça também continuava cada vez mais barulhenta. Não era possível negar. Hermione, Hermione, Hermione. Sua namorada? Sua aposta? Sua rival? Sua farsa?

Ele jogou as cobertas para longe e sentou-se no colchão. Pelas frestas da janela o sol tentava se infiltrar, esperançoso. Ele nem isso poderia ficar. Não havia nenhuma esperança para Rony e Hermione. E ele não conseguia nem ser capaz de ficar bravo com ela. A noite passada poderia não existir que seria bem feliz na ignorância. Aquela maldita aposta ficou ínfima perto da decepção no rosto de Hermione. No seu peito, o sentimento de culpa era maior do que o de vítima.

Após uma ducha, Rony se conformou de que deveria encarar o trabalho. Pegou o carro, dirigiu distraído pelo centro e estacionou na garagem da editora. Quando o elevador abriu no andar da Bússola de Ouro era como se todo o escritório estivesse ansioso para vê-lo adentrar. Ignorando os curiosos, e decidido a só tirar os óculos escuros longe dos olhares, ele passou rápido pelo corredor e se acomodou na vazia sala de reuniões. Nem bem havia sentado e Simas abriu a porta, se esgueirando para dentro. Tinha uma expressão alucinada de quem assiste de longe a desgraçada alheia e não sabe se bate palmas ou pede para prosseguir.

— Te liguei logo cedo...

— Eu quero ficar sozinho — Rony foi logo dizendo.

— A Luna quer falar com você. Por essa notícia...

A porta abriu novamente e a Luna em pessoa entrou. Rony revirou os olhos através das lentes escuras.

— Ah, oi chefe! — Simas cumprimentou-a desconcertado.

— Preciso falar com Weasley em particular, Finningham — ela pediu.

— Claro! — ele exclamou, se esgueirando para fora outra vez.

Luna puxou uma cadeira na longa mesa de reuniões, e sentou-se ao lado do ruivo. Ele tirou os óculos e ajeitou a gravata, se acomodando no encosto da própria cadeira.

— Parabéns — ela disse naquela sua típica falta de emoção — Dorah Vyrlant entrou em contato comigo logo cedo, ganhamos o contrato.

Ele sabia. A própria já havia lhe adiantado na noite anterior, mas ele achou que depois do modo como se dirigiu a ela, a proposta havia sido desconsiderada.

— Eu sabia que você ia conseguir! — exclamou Luna com mais entonação — Assim que o manuscrito dela estiver em nossas mãos eu vou entregar sua porcentagem. E se anime, ela não será pouca.

Rony tentou agradecer, mas sua língua ficou travada. No lugar disso, perguntou:

— E Hermione?

Luna olhou-o como se não compreendesse seu idioma.

— A garota da outra editora, da aposta... Dorah também havia combinado o contrato para ela, mas com outros termos.

— Ah, é verdade — Luna balançou a cabeça se lembrando — Vyrlant é uma criatura ardilosa. Pelo jeito ela não ganhou. — deu de ombros — Enfim, meus parabéns, de novo.

— Ok... — Rony resmungou, sem se sentir vencedor.

***

Uma semana depois...

— E aquelas caixas no quarto? — questionou Draco, ofegante.

— Elas vão ficar por lá. — Hermione informou — São trabalhos inacabados da editora. Vou pedir para alguém vir buscar e entregar para Mary.

— Essa caixa tá bem pesada, hein! — reclamou Harry, vindo da cozinha.

— Você que precisa de voltar para academia, seu fracote. — Draco provocou o namorado.

— Falou o fortão — retorquiu Harry.

— Venha, vou te ajudar no elevador...

Hermione esperou os amigos saírem para o corredor para fitar pela última vez seu apartamento, seu antigo apartamento. Agora que curtia o desemprego já não era mais possível manter aquela moradia. Os cômodos vazios pareciam tão abandonados quanto ela, e por mais que os amigos estivessem em cima, mimando-a de todas as formas, a sensação de desamparo continuava crescendo nela.

Era só ficar calada um pouco e todos os detalhes daquela fatídica noite vinham a cabeça. O vexame ao vivo para todos os convidados, a descoberta de que havia sido usada como prêmio, a imediata incerteza se tudo que Rony fez ou disse para ela tinha sido inteiramente verdadeiro ou meramente encenado. E que tipo de idiota era ela, que mesmo agora não conseguia sentir raiva nenhuma dele... Decepção, esse era o sentimento dentro dela quando se lembrava do ruivo. E depois, logo depois, saudades.

Foi no chão daquela sala, ali, onde ainda ontem o tapete estava, que eles fizeram amor. Naquela noite era como se inconscientemente já soubessem que algo estranho acontecia. Ele não sabia o que pensar da personalidade meiga e maluca dela ao mesmo tempo, e ela não conseguia entender como Rony aguentava os ataques dela e não entregava logo a aposta.

Era fingimento... mas não parecia, não mesmo.

— Mione...

Hermione não viu Harry voltando, e se assustou ao ser chamada. Olhou para trás e encontrou o amigo parado à porta.

— Está tudo pronto na caminhonete. Tem mais alguma coisa aqui?   

— Não, não têm — ela foi para as janelas e trancou-as, sentindo pela última vez a brisa gostosa da cobertura.

— Tá tudo bem?

— Está sim. E você e o Draco? Nem tive a chance de perguntar antes, como andam?

— Você estava certa aquele dia: eu não imaginava que estava fazendo algo para aborrecê-lo. Como ia saber se ele não falava, não? — Harry gesticulou, enquanto a morena trancava a porta principal — Ele vinha chateado porque eu não dou valor ao curso de gastronomia dele e a sua vocação.

— E o que você fez?

— Pedi desculpas e vou fingindo gostar daquelas gororobas. Com sorte, daqui a pouco compramos um cachorro e eu tenho como passar tudo por debaixo da mesa e ainda fingir que adorei.

Hermione riu.

— Que maldade!

O elevador logo a frente abriu-se para o corredor e eles esperaram ver Draco subindo. Realmente, um pálido Draco estava nele, mas ao seu lado vinha ninguém menos do que Dorah Vyrlant.

— Seu amigo disse que ainda era possível te achar aqui — ela saiu para o corredor, a voz imperiosa como de costume.

— DRACO! — Harry exclamou, irado, para o namorado.

— Tá tudo bem, Harry — Hermione sinalizou para ele — Podem esperar lá embaixo, eu já vou.  

— Tem certeza?

— Total — disse a morena, tranquila. Ela não temia mais aquela mulher, não sentia mais nada.

Os amigos desceram desconfiados e Hermione se viu a sós com a escritora mais poderosa dos últimos tempos, no corredor vazio.

— Eu vim porque me senti responsabilizada pela sua demissão. Fiz uma visão de você, achei que poderia ser mais segura de si, mas não imaginava que, no fim das contas, seu desejo de se apaixonar falava mais alto. É a juventude, eu muitas vezes esqueço da insensatez dela. Enfim — Dorah abriu a bolsa — não acho justo Ronald ganhar tudo e você não levar nada. Me diga um preço e eu faço seu cheque. Considere isso uma indenização e não precisaremos nos encontrar num tribunal para chamar mais atenção da mídia.

Hermione respirou fundo.

— Você não compreende, não é? A única que sempre saiu perdendo aqui foi você, Dorah. Eu tenho pena, de verdade, da sua pessoa. Tanto dinheiro, tanta fama e precisa todos os dias provar para si que o amor entre duas pessoas é uma farsa, que as relações convergem todas para o mesmo córrego. Eu achei que o seu marido, aquele que você homenageia todos os anos com uma garrafa de tequila para seus convidados, tivesse te ensinado o bastante.

“Eu não me arrependo de ter conhecido o Ronald nem me envergonho de ter me apaixonado. Eu faria de novo, e de novo. Se pra ele não passou de um jogo, azar o dele. Não perdi o desejo de continuar amando, muito menos perdi a fé nas possibilidades. A diferença entre mim e você é que no fim das contas isso não é um fator motivador, não é determinante, apenas agregador. Estou triste sim, mas a ferida vai sarar e eu vou continuar aberta à novos amores. Não importe a idade que eu tenha, sozinha ou acompanhada, tudo terá valido a pena. Essa foi a sabedoria que essa história toda me trouxe. E não quero seu dinheiro”.

Dorah ficou imobilizada, a mão ainda a caminho da bolsa, e Hermione viu uma lágrima solitária escorrendo pelo rosto da escritora. Sufocada naquele clima, a morena contornou a mulher e apertou o botão para chamar o elevador. O veículo começou a subir velozmente os andares.

— Minha empresária achou melhor eu inventar uma história romântica para a tequila branca. Seria negativo para minha imagem se todos descobrissem que todo ano comemoro meu ato mórbido de vingança.

“Eu comprei várias garrafas de tequila e deixei-o trancado em casa. Havia acabado de descobrir que ele me traíra. Stu era alcoólatra em recuperação e bebeu até entrar em coma. Hoje ele não bebe mais, mas também não faz muito mais numa cama de hospital...”

As portas do elevador se abriram e Hermione entrou respirando aliviada.


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