Tequila Branca escrita por Van Vet


Capítulo 2
Quem somos


Notas iniciais do capítulo

Finalmente o primeiro capítulo! o/
Beijos no coração de Tati, Lana, Andye e Arya Everdeen por comentarem no prólogo.
Aguardo comentários com a opinião de vocês sobre esse início e quais as impressões que tiveram acerca do Ron e da Mione.

Bye bye!



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Depois da madrugada na farra, começar uma nova semana faz parte do martírio rotineiro de cada ser humano assalariado desse mundo capitalista. Eu estou indeciso entre esticar para academia na hora do almoço ou passar no departamento de ilustração para esfregar o resultado do jogo na cara do Dino.

Talvez faça os dois.

Mas não são nem nove da manhã e eu penso em sacanear meu amigo, suar numa esteira, porém estou completamente entediado, letárgico para semimorto, nessa reunião.

A diretora sênior, Luna Lovegood, continua com seu discurso pra lá de psicodélico que provavelmente foi ensaiado de algum modo tântrico na frente do espelho, durante seu tedioso Domingo.

Luna é uma mulher chamativa, mas não pela sua beleza. No primeiro dia que a vi numa reunião achei se tratar daquelas escritoras excêntricas, esperando ser introduzida em algum momento pelo diretor geral, e que teríamos de reverenciá-la por estar deixando a editora podre de rica com a mais nova saga febril adolescente. Do nada a maluca levantou da cadeira, tomou o lugar do diretor e ficou sorrindo sinistramente para nós durante traumatizantes cinco minutos. Nada disse. Apenas aqueles olhos azuis gigantes e melosos nos avaliando como numa espécie de experimento telepático. Então ela falou. Pausadamente, como se fossemos crianças recém-letradas, discursou sobre seu novo cargo, sobre suas credenciais muito bem qualificadas, e que assumiria o bastão de liderança do departamento de análise e aprovação.

Eu e os outros rapazes apostamos que ela detonaria a empresa na primeira semana, ou que alguém pudesse vetá-la a ponto de fazê-la perder o cargo. Mas essa criatura incomum mostrou-se competente. Claro, havia todo aquele jeito excêntrico em se vestir e em divagar para o nada, contudo, no tocante geral tratava-se de uma boa administradora. Fechando com dois ótimos títulos ano passado devido àquela estranha intuição dela.

E ela me favoreceu em algumas escolhas. Dino e os demais falam que é porque está doida para que eu a leva para cama, mas não (nossa, isola!) já a vi de beijos uma vez no centro de conveniência perto do edifício, na hora do almoço, com um tipo meio maluco e atrapalhado. Deve ser seu namorado... Não estou interessado em investigar.

Luna continuou falando sobre oportunidades crescentes no gênero da fantasia, entretanto suas intersecções divagantes acerca dos cosmos e do universo conspirando a favor da Bússola de Ouro estavam me dando muito sono.

Pisquei com força e acho que cochilei em cima da minha mão por um segundo.

— Ronald? — meu cotovelo escorregou da mesa e acordei.

Ela e o restante dos participantes me olhavam atentamente. Meus companheiros com um risinho zombeteiro, Luna daquele jeito pouco afetado.

— Sim, Luna? Eu estava pesando... hã... Pois não?

— Estava apenas finalizando a reunião e pedindo para falar com você em particular no meu escritório.

— Com certeza!

— Perfeito! Ótimo dia de trabalho a todos e que Shiva esteja com vocês.

Levantei sentindo meus olhos inchados de cansaço e fui até a máquina de café. Sorvi a bebida revigorante enquanto olhava para a repartição. Simas, colega e analista de originais como eu, pegou uma xícara de cappuccino comentando:

— Hoje ela tava inspirada. O que será que quer falar com você em particular, hein?

— Acho que tem haver com aquele manuscrito “machista” que deixei passar. A mulherada do andar finge que anda magoada comigo por causa disso.

— Mas foi a própria Luna que aprovou, no fim das contas.

— É, mas você a conhece. Ela quer trazer harmonia para o setor, equilibrar o xacra ou sei lá o que. Estava a sentindo dando pra trás já.

Então, enquanto aproveitava o café, reparei numa coisinha linda de tailleur bege saltitando para sala de impressões.

— Quem é aquela? — perguntei a Simas.

— Hum... A estagiária do mês.

— Gostosinha. — me animei.

— Já investiguei, é noiva. — ele sorriu satisfeito por tê-la visto antes de mim — E meio atrapalhada também.

— Adoro as atrapalhadas.

***

Como eu queria que Padma coubesse naquele vestido para me dar um pouco de sossego. Sabe aquele papel da amiga que tem de apoiar incondicionalmente as escolhas tolas e fiscalizar as dietas forçadas da outra? Prazer, sou eu. Não por livre escolha, claro!

Eu queria estar na minha paz agora, por exemplo, lendo um livro no período do almoço e comendo um doce bem gorduroso. Mas por todas as sinas do universo tenho de aguentar Padma chorando dentro do provador.

Há muito tempo atrás, quando éramos duas estagiárias patéticas, ela virou para mim e disse que eu a policiaria para que parasse de engordar. Foi desse jeito todo errado que nossa amizade começou. Padma me abordou exatamente com essas palavras: você tem um jeito de mandona, quero que me ajude a não furar minha dieta no trabalho. A Hermione Granger de outrora, pessoa muito bacana, pensou que fosse um elogio aquele pedido e chegou até a ficar honrada (muito ingênua eu era mesmo) com a abordagem da colega de trabalho.

Os anos passaram, Padma não emagreceu porque eu não posso esmurrá-la toda vez que ela corre para confeitaria e mata cinco cupcakes numa sentada só. Tudo bem, eu até podia bater nela, mas em público é meio vergonhoso. E eu posso ir presa.

— Padma, se você parasse de pedir pizza toda semana, quem sabe o resultado fosse outro hoje.

— Isso é pra me consolar? Você é uma bruxa, Hermione! — ela fechou o provador na minha cara.

Continuei falando entre os dentes, enquanto outras clientes fitavam a culpada (eu) com curiosidade.

— Desculpe... Olha, vamos sair daqui e será definitivo. Que tal? Vamos para uma saladaria e vou te obrigar a se entupir de alface.

Ouvi um grunhido vindo de dentro.

— Ok... Se não quer alface pode ser cenoura então. Ou rúcula... Qualquer coisa que te faça voltar ao foco.

— Faltam duas semanas para o casamento! Duas! E eu vou ser a madrinha mais gorda da história! — ela gritou histericamente do outro lado da divisória.

Revirei os olhos, haja paciência.

— Não exagera, Padma.

— É fácil pra você que é magra de ruim. Porque nunca engorda, Hermione? Sempre essa bunda dura e empinada! Sempre essa barriga rançosa de tábua!

Quando meu corpo começava a ser insultado por estar em forma era porque realmente não havia argumento com minha amiga fatalista. Aproveitei e me olhei no espelho do corredor, enquanto ela ficava soltando impropérios sobre meu peso.

Jamais abriria a boca para dizer à complexada Padma o quanto eu andava chateada com minhas formas. Antigamente me empenhava nos exercícios de torneamento e apreciava a silhueta num vestido colado. De um tempo para cá, com o excesso de trabalho, só me sobrava tempo para a corrida matinal, logo meus músculos murcharam para dentro do corpo. Estava ficando reta como uma maldita passadeira! Acho que perdi quatro quilos no período de dois meses, sem dieta nem nada, apenas movida pelo estresse.

Eu amava meu emprego, entretanto era cada vez mais verdade aquilo que papai dizia sobre o ritmo que andava impondo a mim mesma para mantê-lo: Qualquer dia você cai dura, Mione!

Nessas últimas semanas a busca do ouro pelo contrato com Dorah Vyrlant consumia todo meu ser, roubava noites de sono comigo pensando na frase, na proposta genial, que traria aquela autora milionária para nossa editora. E almejada aquele alavanque... as dívidas se acumulavam sobre meus pés. Estava prevendo a hora que teria de desistir do meu padrão atual de vida e voltar com o rabinho entre as pernas para casa. Isso sim seria meu fim.

Padma estava me chamando do provador.

— Meu Deus, agora nem prestar atenção aos desabafos você presta mais, Hermione.

Eu ia realmente falar algo que iria magoar minha velha amiga, contudo, graças, o celular me impediu.

— Um momento, Pad. É da editora. Oi Mary!

Era a chefona ao telefone. Asiática, sofisticada, inteligente e uma boa líder.

Hermione, tudo bem?

Uma das vantagens de trabalhar com Mary estava em receber um cumprimento antes da advertência.

— Tudo sim. Já estamos voltando, quer algo da rua?

Você num táxi rápido até aqui! Dorah está na cidade e vindo para uma reunião.

Meu coração palpitou. Esperava aquele encontro pra dali dois dias, não tão cedo, não AGORA!

— Estou chegando. — respondi num timbre de eficiência. Desliguei numa pilha de nervos.

— Mary? — Padma me perguntou notando o espanto das expressões que meu rosto devia estar exibindo.

— Droga, vai descer pra mim mais cedo com toda essa tensão, já estou sentindo as cólicas.

— Aí, Mione, o que foi?!

Corri para pegar minha bolsa na cadeira.

— Tenta ficar longe dos carboidratos no almoço. Preciso voltar!


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