Tequila Branca escrita por Van Vet


Capítulo 18
O Aniversário de Dorah


Notas iniciais do capítulo

ÓTIMA LEITURA!



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Dorah Vyrlant deixou a humildade para trás há muitos anos. A poderosa escritora, dona da conta bancária mais volumosa entre os seus, não iria economizar na sua moradia em Nova York, e não economizou. Da cobertura do seu prédio, holofotes lilases se agitavam para sinalizar o evento.

De braços dados, Rony e Hermione desceram do carro em frente ao edifício luxuoso da escritora e, seguidos por Padma e Harry, tomaram o caminho para o saguão. A mão de Hermione ficava gelada a cada instante que a aproximação dela com Dorah parecia inevitável. Logo, viu sua mente formulando mil e uma desculpas para Rony se a verdade viesse à tona.

O editor tomou o caminho do elevador, esperando na companhia da fila de convidados ansiosos para subir. Uma olhadela atenta para sua garota fez com que percebesse que aquilo deveria ser demais a vida pacata de professora. Certamente nunca frequentara a festa de alguém daquela envergadura social.

— Você vai gostar — ele veio em seu socorro, beijando a mão dela enquanto apertavam-se no elevador chegada sua vez.

Hermione jogou um sorriso mecânico para ele, assentindo.

Ao se abrirem as portas para cobertura o mundo mudou. Harry assobiou extasiado a direita dela, ainda guiada cegamente por Rony. Na sala, que parecia um salão de festas pelo tamanho monstruoso, fora montado chafarizes de cristal. Muitas mesinhas foram espalhadas tanto a direita quanto a esquerda dos monumentos, todas decoradas com toalhas cintilantes de babados brancos. Ainda no extremo esquerdo do espaço, um palco piscando de luzes brancas comportava a banda. As colunas responsáveis por sustentar o teto foram cobertas por trepadeiras floridas. Do outro lado, uma gloriosa porta-balcão, todo vidro, separava a parte externa da cobertura, onde havia mais mesinhas espaçadas em volta da piscina. A iluminação no conjunto era suave, se tornando estroboscópica à medida que se aproximava do palco.

“Feliz Aniversário Dorah! ” desejava a faixa dourada transpassada de uma ponta a outra do salão, entre duas colunatas.

Rony encarou Hermione, ansioso pela reação dela.

— Legal, não é?

— Demais! — ela exclamou sincera.

— Vamos procurar uma mesa.

— Nem se eu trabalhar por duzentos anos terei dinheiro para pagar uma festa dessa — ele ouviu a amiga de Hermione dizer a Harry.

Os quatro contornaram as mesas ocupadas e os garçons, atarefados na busca por um lugar vago. Rony ergueu o braço para a bandeja mais próxima e raptou dois copos de champagne; Deu um a Hermione. Ela agradeceu a distração do ruivo, porque neste momento um conhecido de outra editora acenou para a morena em reconhecimento. Seria um verdadeiro milagre se o namorado não descobrisse a real condição dela.

De repente, numa das mesas alguém os cumprimentou. Ela gelou, tendo pesadelos com Mary, mas era os amigos de Rony, aqueles que estrategicamente a ex-editora xingou em detrimento de uma missão falida.

— Venham se sentar aqui — Neville convidou-os.

— É, já tá tudo lotado lá pra trás. — Simas reforçou, puxando cadeiras vagas na roda — Muita gente famosa. Acho que vi Sarah Jessica Parker quando fui ao banheiro, mas Neville diz que é Meg Ryan.

— Não tem mais vaga, sério? — Rony hesitou, ponderando se seria bom colocar a namorada junto dos amigos.

— Nadinha. Venham, venham. — Simas parecia muito camarada.

— O jeito é ficar aqui. — o ruivo murmurou para a morena, que concordou.

— Parece ótimo — ela o confortou, sentando-se e apertando a mão dos rapazes. Eles a saudaram como se nunca houvesse acontecido aquela cena no pub, semanas antes.

— Esses são amigos da Hermione, Padma e Harry.

— Olá!

— E aí? Tomem, mais duas cadeiras.

Logo, todos os seis estavam espremidos à mesinha. Um garçom chegou, eficiente, e distribuiu bebida para os que ostentavam mãos vazias.  

— Cadê a Dorah? — Rony perguntou aos companheiros, esticando o pescoço ao redor. O estômago de Hermione revolveu, ela olhou nervosa para os próprios amigos. Harry querendo dar alguma moral para ela no fitar. Padma escondendo o rosto na taça suando de gelada.

— Deve estar esperando todos os convidados aparecerem, pelo menos os mais importantes, por que tem gente pra caramba aqui já — Simas disse — Tem uma escada atrás do palco, acho que é por lá que a mulher aparecerá.

A banda tocava intercalando pop contemporâneo e instrumental clássico. Hermione tentou se aderir ao som, batendo os dedos no tampo de madeira e cruzando as pernas. E se algum dos conhecidos de trabalho viesse lhe cumprimentar?

A mão quente do namorado veio cobrir a sua.

— Relaxa.

— Estou relaxada — ela mentiu. Rony, contudo, conhecia-a bem demais, embora prematuros na relação.

— Eu também estou me segurando. Hoje vai ser um dia muito importante para minha carreira.

Ela sabia ao que ele se referia, e seria inteiramente o contrário se tivesse ido até o fim na sua missão: a dele odiá-la mortalmente.   

Os minutos se estenderam. Não demorou e Harry papeava calmamente com Neville, acharam um assunto qualquer em comum, enquanto Simas contava piadas fracas, que faziam Padma se acabar de rir. O garçom retornou, depositando uma garrafa de bebida na frente deles e meia dúzia de copinhos de dose. Ainda colocou fatias de limão no pires e cumbucas de porcelanas contendo sal.

— Vocês pediram isso? — Rony perguntou a Neville e Simas, assim que o garçom se retirou sem dizer palavra.

— Não. É Tequila.

— Tequila?

— Ah, eu sei o que é isso — Padma adiantou-se — Li isso numa revista de fofocas, é uma tradição nas festas da Vyrlant.

Hermione mirou a amiga, horrorizada pelo que poderia estar saindo da sua boca. Padma sequer enxergou na direção dela, tagarelando:

— A Dorah teve muitos maridos, dizem as más línguas que o número é algo entre dez e quinze. Todos seus casamentos acabaram em divórcio, a maioria do motivo girando em torno de interesse e traição. Só que parece que o único casamento dela realmente saudável foi com um mexicano. Os mais chegados dizem que ele veio a ser o único amor da vida dela. Aí todo ano, em que o aniversário dela coincide com dele, Dorah comemora servindo Tequila Branca para os convidados. A bebida preferida dele.

— Achei que a Vyrlant estivesse solteira — Neville admirou-se.

— E está.

— Então o amor acabou? — Harry perguntou.

— Acho que não né, senão ela não ficaria velando a memória do falecido todo ano.

— Ah, ele morreu — Rony entendeu, assim como os demais — Se ela quer que comemoremos a memória do Falecido, comemoraremos.

O ruivo serviu-se da aguardente no copo. Depois salpicou o sal na curvatura entre o polegar e o indicador e lambeu. A seguir virou a tequila na boca e terminou chupando a fatia de limão, fazendo careta no fim.

— Eita! — Simas exclamou achando graça e imitando o processo.

— A forma de tomar essa coisa acaba com todo o glamour da festa, não? — riu Padma copiando os dois. 

Harry e Neville também se arriscaram, todos achando a maior graça. Hermione observou nas mesas ao redor os convidados se aventurando no experimento. Dentro dela, absolutamente nada conseguia a deixar tranquila.

— Quer experimentar? — o ruivo lhe perguntou erguendo o copinho de dose.

— Não. Fico no champagne mesmo.

— Você tá esquisita pra valer — ele observou — Te trouxe aqui para aproveitar, vamos lá.

Entretanto, ela não aproveitou. E achou mais difícil ainda disso acontecer quando houve uma grande comoção entre as mesas, todos fitando animados e aplaudindo Dorah Vyrlant surgindo em toda sua pompa, próxima ao palco.

— Finalmente! — Neville opinou.

Dorah subiu pelas escadas laterais e as luzes do teto incidiram nela. Parecia uma bola natalina, metida num vestido vermelho cintilante. Não estava feia, contudo. Aquela mulher tinha uma presença fenomenal.

— Vou ficar ali perto para tentar falar com ela assim que sair do palco — Rony anunciou, pressuroso — Me deseja sorte, Mione.

— Ela está ao seu lado — a morena beijou-o de leve e o viu sumindo entre as mesas.

 Se tudo corresse bem, Rony nem chegaria a “apresentá-la” para aquela criatura.

Dorah iniciava o discurso longo sobre sua vida e seus caminhos que culminaram naquele momento, quando outra pessoa chegou a mesa deles. Hermione reconheceu o homem, o terceiro amigo de Rony, Dino Alguma Coisa.

— Eeei, achamos que não vinha! — Simas, já alterado pela Tequila, exclamou alegre — Senta aí.

— Vou sim. — Dino tomou o lugar de Rony, ao lado de Hermione.

Ele saiu cumprimentando todos na mesa e por último Hermione.

— A namorada do Rony. Como vai...

— Hermione Granger.

— Ah é, Hermione Granger — havia algo semelhante a cinismo no tom de voz dele — Cadê ele, aliás?

— Foi falar com Dorah — respondeu Neville, os dentes travados.

— Claro, claro — Dino concordou, e embora Hermione não conhecesse seus maneirismos, apostava que ele se esforçava para soar o mais teatral possível — Fico feliz por vocês — virou para ela.

— Obrigada — a morena anuiu, sem entender bem.

— Não, é sério. Não é todo mundo que tem o seu desprendimento para aceitação...

— Dino, fica quieto — Neville falou.

— Quê? É só uma conversa — de repente a ex-editora percebeu: Dino estava sob efeito do álcool — Eu fico feliz, de verdade. Ela aceitou Rony apesar de tudo.

— Tudo o quê? — quis saber.

— Tudo, oras.

— Cala a boca, cara. — Simas elevou a voz.

— Eu quero saber — Hermione se intrometeu virando para ficar cara a cara com Dino.

— Tá vendo, ela quer saber. Olha...

— DINO, CHEGA! 

— ...Uma prova de amor...

— VEM, VAMOS SAIR DAQUI! — Neville levantou e tentou alcançar o amigo por cima das cadeiras, que se aproximava da morena e espantava a mão de Neville aos tapas.

— ... te fez de aposta e ainda assim você aceitou.

— Quem me fez de aposta? — uma veia saltou no pescoço de Hermione.

Harry e Padma encaravam-na perplexos.

— Você não vai ganhar nada fazendo isso — Simas pediu, buscando se fazer ouvir para Dino.

— Hermione é você, não é? — Dino ignorou o restante da mesa e, de repente era como se houvesse somente eles dois conversando.

— Claro que sou eu.

— Então tá certo. Dorah apostou você com Rony. Vai, não pode ser ingênua a ponto de não conhecer a história toda: A mulher prometeu o contrato com nossa editora se hoje ele apresentasse você totalmente apaixonada por ele. É só mais umas das provas que Rony precisa mostrar ao mundo que ele pode ter quem ele quer, do jeito que ele quer. Eu, porém, sou da ideia de que vocês estão juntos nessa... Não é possível alguém ser tão burra para não perceber a jogada!

O sangue sumiu do rosto de Hermione. O cenário girou, ficou preto, cinzento e de novo colorido. A ponta dos dedos e a nuca latejavam enlouquecidos. Os sons ao redor tornaram-se reboares do além.  Ela pensou ser a pressão arterial caindo, achou que desmaiaria de cara na mesa.

A vista voltou a focalizar e Dino continuava abrindo e fechando a boca ao seu lado, ela não mais o escutava; Neville e Simas olhavam-na vacilantes; Padma e Harry praticamente boquiabertos. O amigo tentando alguma comunicação espasmódica.

Hermione demorou segundos para perceber que todas aquelas sensações significavam: raiva. Uma fúria genuína brotando do coração e eletrizando as mais distantes células do seu corpo.

Ela agiu instintivamente sobre a questão.

— Mione, tá fazendo o que com essa garrafa?

Harry perguntou, esganiçado, e emburrando pessoas para alcançá-la, vendo a morena surrupiar a tequila e rumar decidida em direção ao palco.


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Notas finais do capítulo

O que acham que vai acontecer?



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