Tequila Branca escrita por Van Vet


Capítulo 11
Inconveniente


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, muito obrigada pelos comentários no outro capítulo. Espero que gostem desse também.
Beijos!



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— Eu não tive culpa nenhuma, oras. — reclamou Draco, fazendo cafuné na cabeça do namorado, Harry. — Tenho que ter uma bola de cristal agora?

Hermione, que estava espaçosamente sentada na poltrona da casa dos amigos, devorando uma barra de chocolate, algo que ela normalmente evitava durante a semana, resmungava:

— Mesmo assim, eu quase fui desmascarada e depois de todo o esforço.

— Você precisava ver que papelão na frente dos meus alunos, ainda bem que eles são crianças e no dia da profissão pessoas atípicas costumam ir visitá-los. — disse Harry para Draco, ele continuava irritado que Hermione o tivesse engambelado.

— E você, hein Draco, o que estava fazendo lá vestido de bombeiro? - sondou a editora, sabendo que a profissão do rapaz nada tinha a ver com a que o vira.

— Eu... foi ideia do Harry. — rebateu impaciente, escondendo o rosto na taça de vinho, na mão que não fazia carinho no namorado.

— Era só pra entreter um pouco as crianças. E não é dá sua conta. — Harry balançou a mão no rosto espantando um inseto muito inoportuno que se chamava 'isso não é da sua conta'. — Mas então aquilo convenceu o tal Ronald?

— Somente a petulância dele não o fez ver como tudo estava combinado. Deu tudo certo! — ela fez um sinal de aleluia.

— Bonitão o ruivo, hã? — observou Draco.

Seu namorado recusou o cafuné, sentou-se no sofá e encarou-o atravessado:

— Ultimamente anda achando muita gente bonita, hein Draco?!

— Ei! Parem os dois. Rony não é pro bico de ninguém, o que ele tem de bonito tem de arrogante, e eu vim aqui para receber apoio não ficar no meio dessas eternas briguinhas de vocês.

Draco e Harry se esquadrinharam indiferentes. O primeiro anunciou:

— Vou ver se meu Tournedos Rossini já está no ponto. — e deixou a sala de cabeça erguida.

Hermione esperou o rapaz desaparecer para a cozinha e então voltou-se para o amigo:

— O que há com Draco?

— Ah, ele anda todo cheio de si, extravagante, só porque entrou naquele curso de culinária gourmet que lhe falei. Paga quinhentas libras em cada aula, faz um prato mais intragável que o outro e ainda tenho de ouvi-lo contando do fulaninho e do ciclaninho que cuidam da forma e blábláblá, tudo porque eu estou com uma barriguinha de nada. — Harry apontou para o abdome e Hermione não conseguiu encontrar a tal barriguinha por cima da blusa — Como eu vou evitar os doces e os bolos se todo dia um aluno meu faz aniversário e as mães me amam, estão sempre me trazendo guloseimas.

A morena sorriu.

— Ele está te provocando, Harry.

— E porquê? Eu sou um bom companheiro...

— Você deixou algo passar. Um elogio, uma data especial, um presente errado. Pense.

— Então porque ele simplesmente não me diz?

— Não assim que as coisas funcionam.

***

Não é assim que as coisas funcionam. Por mais que Rony quisesse todas as vantagens que a relação com Hermione lhe ofereceria, tinha de ter um momento naquela aposta dedicado ao seu descanso. Ele não podia dizer sim o tempo todo e para tudo.

A coisa aconteceu de tarde quando ela quis vê-lo e ele comentou que essa noite não teria como afinal, era a noite dos rapazes. Na noite dos rapazes ele saía com Simas, Dino e Neville para beber muitas cervejas, falar frivolidades masculinas e olhar as moças que cursavam a universidade ao lado do bar encostarem no balcão com seus decotes generosos e sorrisos lascivos.

Era a noite dele!

E Hermione tratou de encher seus ouvidos com suplicas e depois com chantagem de que estava com saudades e se ele não poderia adiar seu compromisso. Ronald foi um tanto enérgico e falou coisas idiotas de casaizinhos eméticos como "dar espaço" e o conceito de confiança. Ela por fim pareceu entender, muito chorosa na linha telefônica, dizendo que pensaria nele a noitinha todinha. "A noitinha todinha", quando falava no diminuitivo ele sentia ondas de desesperos perpetrarem seu corpo e o desejo visceral de mandá-la pastar. Entretanto, faltavam poucos dias agora. Em breve Dorah veria seu esforço e a comissão mais almejada do setor editorial americano, talvez mundial, seria seu.

Nas revistas, na mídia, mas principalmente na internet o alvoroço sobre o lançamento da escritora preconizava o sucesso. Os fãs já haviam criado grupos de discussão nas redes sociais, tecido teorias sobre as tramas com base nos imperceptíveis sinais que Dorah dava em suas publicações oficiais, e uma enxurrada de sites de escrita ficcional abarrotavam fanfics das mais diversas vertentes que a história tomaria. Há duas manhãs, Overlli (a dona do talk show mais famoso da América) entrevistara uma garota com uma doença terminal que disse que só se entregaria para morte depois de ler o primeiro livro da nova saga da autora. Overlli e a plateia choraram muito e a apresentadora disse, olhando para câmera: Dorah, por favor não demore, seus fãs estão ficando desesperados.

Rony deu uma última conferida no espelho e saiu para encontrar os amigos. O barzinho estava abarrotado como toda sexta-feira. As universitárias eufóricas para viver as coisas boas da vida, as mocinhas de meia-idade querendo sair da rotina e as mulheres mais maduras querendo provar que ainda eram capazes. Em meio àquela maré de gente, o editor foi se exprimindo entre mesas e corpos, acenando aqui, jogando um charme ali e uma sobrancelha acolá, e enfim chegou a mesa onde seu grupo sempre se encontrava. Todos já marcavam presença. Dino meio bêbado, contando uma história bem alto, Simas rindo incontrolavelmente e Neville corado, entornando uma xícara avantajada de cerveja.

— Como vão, beberrões?

— Hei, Rony! Conseguiu afrouxar a coleira? — Dino saudou, puxando uma cadeira para o amigo.

— Aquela coleira está cravada de diamantes, Dino, meu caro. E sim, consegui despistá-la.

— Está tão ruim assim? — Simas se espantou.

— Ela é uma gata, a Hermione. — Neville observou.

— Sim, sim. Ela é uma gata, carinhosa, amorosa, meiguinha e... eeerrr, eu não tô aguentando mais tanta melação.

— Sério?

— Não sirvo para namorar! Hermione começou a chegar naquele ponto grudenta e cheias de apelidinhos do inferno. Maldita seja Dorah e Luna por me fazerem passar por essa provação. Quase não consegui vir aqui. Ela não queria deixar me chamando para assistir Orgulho e Preconceito na tv a cabo. O que você tá tomando? Cerveja de trigo? Vou pedir uma. — e ergueu a mão para a garçonete pedindo a mesma bebida de Neville.

— Eu tinha um amigo dos tempos em que trabalhava na revista Atic, o Greg. Coitado daquele cara — começou Simas em tom de fofoca — Ele conheceu uma menina quando viajou para o Japão à trabalho. Yoko alguma coisa era o nome dela. Pensem numa japonesinha linda, cara de boneca, corpo de fada?! Pois bem, o Greg ficou de quatro pela tal. Namoraram durante os dois meses que ele permaneceu no país e se viam todos os dias. Quando chegou o dia dele ir embora ela arrumou a maior cena. O cara saiu às pressas para o aeroporto e ao chegar lá encontrou o pai e o irmão da moça o esperando. Aparentemente se ele fosse embora seria uma grande desonra para ela. Yoko ainda tinha mentido e dito que eles transaram, uma tarefa que por mais que Greg tenha se empenhado, não aconteceu nos dois meses de namoro. Enfim, o cara acabou sendo preso na alfândega porque a família da Yoko era bem influente na cidade e passou duas semanas no xadrez até que o consulado conseguisse ajudar e tirá-lo do país. E o pior, durante essas duas semanas a japonesa maluca ficou visitando ele diariamente e narrando como maravilhoso seria quando os dois se casassem.

Ao fim do relato todos se arrepiaram. Nesse momento a cerveja de Rony chegou. Ele deu uma longa golada para espantar o calafrio.

— É por isso que eu só fico com elas por uma noite. Duas, no máximo. — Dino disse.

— Eu tenho umas duas amizades coloridos, mas escolho bem quem vou colocar no meu círculo. — informou Simas, que andava com cara que não pegava nem resfriado ultimamente.

— Porque as coisas não podem ser preto no branco para elas também? Que mania de nos querer até o último respiro de nossas vidas... — Rony analisou, coçando a cabeça.

De repente notou seus amigos mudarem as expressões, os três simultaneamente, que estavam virados para a saída do bar. Uma mão cobriu os olhos de Rony acompanhada da voz de falsete mais intragável desde quando Fran Drescher fazia The Nanny.

— Advinha quem é?

— É...

— Vou dar uma dica: é o bonbonzinho do seu coração, o franguinho da sua empadinha, a abelhinha do seu melzinho. É a sua princesinha!

— Hermione? — ele confirmou quase chorando.

— Isso! — ela exclamou, deu um pulinho, e arremeteu um beijo estralado na bochecha dele.

Os rapazes continuavam mudos e chocados assistindo o casal.

Hermione olhou para mesa e vendo que não havia uma cadeira sobrando, gritou para o bar:

— Providenciem uma cadeira para eu sentar aqui com meu bombom ruivo, por favor!

A garçonete, uma linda espécime de vinte, sempre disposta a lançar lindos sorrisos para Rony, observou confusa ao chamado e veio trazendo mais uma cadeira.

— Obrigada, florzinha. — Hermione agradeceu, ajeitou a saia do vestido rosa bebê que trazia no corpo, e sentou-se bem do ladinho do ruivo. O queixo cuidadosamente apoiado no seu ombro e braço entrelaçado no braço dele. — Os garotos ficaram mudos?

— O..oi. — Neville saiu do transe conforme a educação o chamava.

— O que você está fazendo aqui? — Rony quis saber, a voz um abafo de inconformidade.

— Ora. Eu disse pra você, paixão, não sou capaz de ficar mais uma sexta feira longe do seu cheirinho ou da sua presença. Você tá decepcionado? — a morena fez beicinho.

— É que...

— Pare de bobeira! Me apresente aos seus amigos. O que anda tentando pegar seu cargo, mas não tem capacidade para tal é esse aqui, o moreno... Dino né? Prazer.

O semblante de Dino ficou sério e ele olhou para o amigo com frieza.

— Hermione...

— Não, espera. Eu vou adivinhar: o que se acha sedutor, mas que as garotas fogem como demônio do sal grosso é mais baixo, Simas? Oi Simas.

Simas ficou ainda mais boquiaberto.

— Gente é brincadeira. — Rony corou loucamente, suas orelhas em chamas — Hermione, você tá exagerando...

— E Neville, aquele que você não sabe como conseguiu perder a virgindade, de tanta timidez, eu acho que é esse moço aqui. O alto que gaguejou pra mim. Prazer Nevil...

— CARAMBA, HERMIONE! CHEGA!

— Ron, bombom, fica calmo. Eles todos sabem que é uma brincadeirinha. — Ela riu pelo nariz.

— Então é isso que você acha de mim, Ronald? — Dino cerrou os punhos em cima da mesa.

— Não, claro que não.

— Sabe, Hermione, não sei se é do seu conhecimento, mas seu bombom ruivo é o campeão entre nós. Ele não gosta de se gabar, porém costuma sair com muitas mulheres ao mesmo tempo. Uma vez ele namorou quatro garotas em um fim de semana e elas nem sabiam umas sobre as outras. E isso nem faz muito tempo, foi tipo, quando mesmo Simas?

— Ah, menos de três semanas, que foi quando ele resolveu entrar numa aposta.

Rony bateu a mão na mesa:

— Tá rapazes, chega! Eu não fui muito legal, só que para tudo há uma boa explicação.

— Eu não ligo para os antigos casos do Rony não. — Hermione abanou a mão, irreverente — Hoje eu sei que o Roniquinho dele é só meu. — e apontou para as calças do editor.

— O QUE? — Neville, Dino e Simas perguntaram em uníssono.

— Ah, o Roniquinho. Vocês já devem tê-lo conhecido de perfil quando foram fazer xixi juntos nesses mictórios estranhos de homem. O Roniquinho!

O trio explodiu na gargalhada. As pessoas ao redor olharam para a algazarra, e alguns, que haviam escutado a conversa, que Hermione fazia questão em manter num tom alto, também riram.

Rony ficou violáceo. O ódio apoderou-se dele de um modo incontrolável e ele levantou bruscamente arrastando Hermione pelo braço, estabelecimento fora. Na rua, longe dos olhares curiosos da clientela do bar, ele estourou:

— Você ficou louca?

— Ron, você machucou quando me puxou.

— Ei, VOCÊ TÁ ME OUVINDO? O QUE DEU NA CABEÇA PARA APARECER AQUI? PARA FALAR ASSIM COM MEUS AMIGOS? COMO CONSEGUIU DESCOBRIR QUE ESTAVA AQUI? QUE MERDA É ESSA DE DAR UM APELIDO PRO MEU... pênis? — diminuiu vários decibéis para pronunciar a última palavra.

— Me desculpe. — os olhos dela encheram de lágrimas — Eu imaginei que você estivesse nesse bar, porque já disse sobre ele pra mim. E era apenas uma surpresa que eu queria que ficasse feliz.

— Você é muito, muito maluca mesmo!!! Porque colocou meus amigos contra mim? Aquelas coisas que disse sobre eles eram pra ficam entre nós.

— Eu não gosto dos seus amigos. — Hermione bateu o pé — Eles afastam você de mim. Chega de andar com aquele bando!

— Pra mim chega!

— Quê?

— É isso mesmo. Não aguento mais ficar perto de você. Pra mim já deu. — e acenou para o primeiro táxi contornando a esquina.

Hermione ainda gritava, chorava e lançava-se sobre ele quando Rony conseguiu entrar no veículo e bater a porta. Entretanto, assim que o carro sumiu de vista ela já era outra pessoa esboçando um sorriso triunfante no rosto e andando aos pulos pela calçada.


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