Tequila Branca escrita por Van Vet


Capítulo 10
Dia da Profissão


Notas iniciais do capítulo

Acreditem ou não, fiz esse capítulo há uns dois meses e fiquei empacada no finalzinho. Então, nos surtos de inspiração que me dá de vez em quando, terminei o resto em uma hora.

Boa leitura, pessoal. Comentem se puderem, tudo bem?

Beijos!



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Era um daquelas manhãs que todos os problemas e todas as tarefas vinham de uma vez. Numa segunda-feira ainda, para dar corpo e fama ao dia mais extenuante da semana. A cabeça de Hermione estava zonza com tanta coisa. Os olhos ardiam de tanto que já havia lido. Para piorar, seus planos do fim de semana foram completamente frustrados, porque o romeu sardento ligou no dia seguinte parecendo tão apaixonado quanto sempre.

Não bastou torturar Rony com a sessão de ballet. Ele gostou. Ele voltou. Ele disse palavrinhas doces através do telefone como se não tivesse sido castrado no dia anterior.

De repente seu celular. Rabugenta a morena atendeu:

— Granger.

— Nossa! Quanta formalidade para minha linda professora...

— Oi... Ron... Amorzinho.

— Tá tudo bem? — ele perguntou docemente.

— Tudo indo, coração.

— Sei porque você está assim e estou prestes a te ajudar.

— Como? — quis saber cautelosa.

— Hoje é o dia da profissão. O Simas aqui do trabalho foi na escola do sobrinho contar um pouco sobre sua profissão. Eu sei que é difícil para as professoras acharem alguém interessante o suficiente para entreter as crianças nesse dia, por isso liguei para me candidatar. Sou bom. Eles adorarão!

Hermione engoliu em seco.

— Eu... é...

— Não precisa ficar tímida, sua orgulhosa. Eu vou indo. Me passa o endereço.

— Rony, não precisa...

— Olha, eu lembro que você me disse que a escola ficava perto do Caffé Latté da nona com a quinta avenida.

Sua idiota! Você deu o endereço da escola em que o Harry trabalha? Quando?!

— Acho melhor você ficar ai! — Hermione foi enérgica.

Ele fingiu que não sabia que ela estava muito brava.

— Tô indo, amor. Até logo!

A linha ficou muda. Ele desligou.

— MERDA! — ela berrou levantando-se da sua mesa com brusquidão.

— Tá louca? — Parvati gritou como resposta ao susto que tomou na mesa ao lado.

— Tô ferrada. — sentenciou pegando sua bolsa.

— O que houve?

— Diga para a chefe que tô indo correr atrás para que o contrato com a Dorah não se desfaça. Ah, e ligue para o Harry, por favor.

— O Harry? Ele deve estar dando aula nessa hora.

— Exato! Diga que uma professora nova está chegando em poucos minutos. — e saiu disparada para os elevadores.

***

Quase seu seguro do carro se fez útil em diversos momentos da trajetória do escritório para a escola de Harry, mas Hermione conseguiu chegar viva. A tempo também, ela esperava. Antes de estacionar e entrar, deu uma volta pela quadra para ver se via o carro de Ronald estacionado. Vendo a barra limpa parou de qualquer jeito e saiu correndo para a entrada da escola.

Graças aos bons deuses que iluminam a lerdeza de Parvati de tempos em tempos, ela havia avisado a Harry que estava vindo. O amigo aguardava intrigado sua chegada na recepção.

— Tive que interromper a aula para estar aqui. É bom que seja muito importante. — disse rispidamente.

— É sim. Muito! — ela parou buscando fôlego.

Harry despediu-se da funcionária que ficava junto ao balcão de atendimento, fez um sinal afobado para a amiga pedindo para segui-lo pelo corredor e foi andando.

— O que houve? — perguntou no caminho para a sala de aula.

— Rony está vindo para cá.

— Porque ele viria para cá?

— Porque eu disse para ele que trabalho aqui.

— E ele acreditou? Disse que trabalhava onde? No refeitório? — provocou acidamente.

— Pare de ruindade, Harry. Eu convenço como professora. Você mesmo disse várias vezes que sou mandona demais.

— Porque ele está vindo?

— É o dia da profissão, não é? Ele quer vir falar algumas palavras para as crianças em consideração a mim. — ela deu um sorriso demente que fez a ficha de Harry cair no ato.

— Não, não, não. — ele balbuciou chocado — Você não vai armar seu circo aqui!

Hermione puxou-o para os armários, grudou-se nele e implorou como uma mulher de meia idade que implora ao tempo que pare de trazer cabelos brancos para sua cabeça.

— Por favor, por favor, por favor. Prometo que será rápido.

— Vai traumatizar meus alunos.

— Diga para eles para brincarem de faz de conta.

—Que coisas são essas que você anda fazendo por esse contrato?!

A morena resolveu mudar a abordagem, irritando-se.

— Eu me lembro perfeitamente quando eu disse pra um determinado amigo meu que quando eu conseguisse botar a mão naquela bolada conseguiria um visita no camarim para ele no show de Michael Buble. Mentalmente até separei a grana para subornar a segurança já.

— Por isso arrumou uma forma disso não sair de graça, não é?

— Você quer ou não quer abraçar aquele bofe ao menos uma vez?

— QUERO! — Harry gritou irritado.

— Então me ajude. AGORA!

— VOU AJUDAR! — ele gritou de novo e saiu arrastando os pés e bufando para a sala de aula.

***

Rony chegou a recepção da escolinha em que Hermione trabalhava. Uma garota recém saída da adolescência comandava o balcão sorrindo-lhe simpática quando se aproximou:

— Boa tarde. — o ruivo tirou os óculos de sol — Estou procurando pela professora Hermione... Vim para o dia da profissão.

Ela encarou-o confusa. Algo em sua frase não fez sentido para a moça e estava prestes a falar, mas foi abruptamente interrompido por um homem que chegou praticamente correndo até eles.

— Pode deixar comigo, Cindi.

— Ele quer saber...

— Eu sei o que ele quer saber. Já estamos avisados. — cortou-a bruscamente, contornou o balcão e estendeu a mão para Rony.

— Me chamo Harry Potter. Sou o substituto. A professora Hermione está na sala aguardando... Vamos! — praticamente empurrou o ruivo para segui-lo.

A recepcionista Cindi ficou parada com a boca entreaberta vendo-os partir para dentro da escola.

— Eu disse algo errado ali atrás. — Rony perguntou quando já estavam longe o suficiente da moça.

— Hã? Não, que isso! — Harry exclamou exageradamente — Ela é nova por aqui. Precisa que deem corda ainda.

— E a Hermione? Está em aula?

— Oh... sim, mas te aguardando também.

— E você é o professor substituto?

— Isso... — ele pareceu ter alguma dificuldade em afirmar o cargo. Provável que ser professor substituto deveria ser um nível para se envergonhar na hierarquia de uma escola. Mais tarde confirmaria com Hermione.

— As crianças para quem ela leciona tem que idade?

— Ela espera que idade suficiente para brincarem de faz-de-conta.

— Como?

— Não é nada não. Já chegamos! — e apontou a porta logo ao lado. Harry deu duas batidas secas e introduziu-se na sala. — Boa tarde, turma.

Rony veio logo atrás e enxergou sua namorada junto ao quadro negro escrevendo o alfabeto com giz colorido. Ela fitou-o por sobre a cabeça do Substituto Harry e acenou. Seu nariz estava vermelho e inchado e depois do cumprimento a morena espirrou três vezes.

— Alergia ao giz, professora? — o Substituto sibilou.

— Não... resfriado. Espere só um momento. — Hermione pegou um papel na sua bolsa, assoou o nariz sonoramente e disse — Espere só eu concluir a lição com eles. — pediu a Harry e Rony — Vamos lá crianças, do início novamente! As letras do alfabeto: A, B...

Rony observou a turma de alunos soletrar junto à professora o alfabeto. Pareciam todos entediados, aborrecidos ou espantados.

— Que idade eles têm? — sussurrou para o Substituto Harry.

— Entre oito e nove.

— Não estão um pouco grandinhos para estarem aprendendo as letras ainda?

— Pra você ver...

— Caramba! — ficou estarrecido. Na sua época as crianças eram mais espertas. Essa geração Z afundaria o mundo, com certeza.

Hermione terminou sua lição e deu prosseguimento as apresentações.

— Crianças, como hoje é dia da profissão resolvi trazer um tipo diferente de profissional para falar com vocês.

— Que coisa de criancinha isso... — reclamou um aluninho no fundo.

— Quieto... você aí! — a morena apontou raivosa para o menino — O nosso profissional de hoje chama-se Ronald. Ele mesmo vai contar sobre o que faz. Perguntas somente quando ele deixar e gracinhas nem pensar, ou eu vou falar para Harry pegar pesado com vocês na próxima.

Depois de sua pequena e ameaçadora introdução, Hermione afastou-se do centro da sala e deu vez para Rony dominar a aula. Os alunos continuavam o olhando como se ele fosse um evento inédito que caiu do espaço.

Rony molhou os lábios e encarou cada um daqueles rostinhos infantis. Não tinha muito jeito com criança, essa era a verdade, porém a ideia de surpreender Hermione com um tema para sua aula do dia da profissão pareceu mais do que adequada no quesito ganhar mais pontos naquele coração maleável.

— Bom dia, molecada. — tacou ser informal — Eu sou Ronald e vim conversar um pouco com vocês sobre o dia da profissão... Er... — ele ameaçou pegar um giz e escrever “editor” no quadro negro, porém desistiu — Eu sou um editor de livros. Alguém sabe o que é isso?

Todos o encararam apáticos. Um menino disse:

— Detesto ler.

Harry, o Substituto, pigarreou e o moleque atrevido o olhou com respeito calando-se. “Estranho, Hermione devia ser a professora boazinha e adorável enquanto seu amigo tinha de chegar de tempos em tempos para ser o carrasco’. Por um momento ele teve a sensação que a namora faria melhor o segundo papel mesmo com toda a meiguice inabalável.

— Mas você não deveria. Ler é muito bom. Ler é mergulhar em mundos novos sem sair do sofá, da cadeira, da cama... de onde vocês estiverem.

— O que faz um editor? — uma garotinha pareceu interessada.

Ronald sorriu confiante:

— Se um dia você escrever um livro ele terá de ser lido por uma pessoa como eu antes de ir para as bibliotecas ou livrarias...

— O que você tem de especial? — perguntou outra menina. — Porque você tem que ler antes?

O ruivo olhou de esguelha para a namorada, perplexo com o nível das perguntas. Com o nível do desdém. Ela veio em socorro a ele soltando uma exclamação intimidante:

— Alguém vai ficar uma semana sem ir para o recreio! — deu uma risadinha estrangulada no final. — Continue, Rony.

— Tudo bem. Como eu estava dizendo, e eu não tenho nada de especial, quer dizer, sou bom no que faço sim, se um dia suas cabecinhas forem criativas o suficiente para criarem uma história, nós, os editores vamos lê-las antes de todo mundo, ajudar a coloca para venda e transformar vocês em pessoas de sucesso.

— Ricas? — questionou outro aluno.

— É, ricas.

— Meu pai disse que tem pessoas que são tão ricas que possuem seus próprios aviões. Isso é verdade?

— Claro, muito verdade. Tem escritores tão ricos que tem seus próprios aviões, mas eles só conseguem comprar um porque o editor — apontou para si — faz que os livros deles sejam legais e vendam bastantes.

— Mas os editores não são ricos?

Rony pensou na resposta. Esse era o objetivo, vinha sendo a razão dele estar ali por acaso. Não se tornar milionário, mas ter conforto financeiro suficiente para fazer muita coisa que lhe desse na cabeça.

— Os esperto sim. — foi sua resposta.

Então uma menininha que estava quieta e muito meditativa ergueu o braço. Satisfeito com a enxurrada de apontamentos — que deveriam significar uma boa palestra — ele a ouviu dizer:

— E quem é formado em Faz-de-Conta ganha bem? — era uma criança tão miúda e de ares tão ingênuos, que ele desconfiou que fosse um pouco mais nova que o resto da classe.

— Como assim, querida?

— Ela tá se confundindo. — intrometeu-se o moleque sem educação que falava pela segunda vez — O que ela faz é igual a ser atriz. — e apontou para Hermione.

Rony, confuso, mirou a namorada. Hermione estava pálida como o giz de cera que ele segurava na mão. Não foi ela também que se intrometeu na conversa, mas Harry, o Substituto.

— Tudo bem, crianças, chega de perguntas tolas! — exclamou indo para centro da lousa. — Vamos nos despedir de Ronald, o editor, e bater palmas, muitas palmas.

Achando aquele mero substituto petulante demais por se intrometer na classe de Hermione, Rony fitou-o insatisfeito, mas logo a instabilidade se armou quando as palmas incentivadas por ele ficaram altas, incontroláveis e teimosamente não paravam. O tal ficou então ralhando para a classe parar de algazarra e com acenos rápidos a morena chamou Rony para o corredor.

Longe da porta da classe, caminhando para saída, ela disse:

— Que surpresa incrível, obrigada.

— Você gostou mesmo? — o ruivo desconfiava por todas as expressões estranhas que a viu esboçando durante sua curtíssima palestra.

— Oh sim! E não ligue para aquelas pestinhas, eles são inoportunos com todos, mas depois que as outras profissões tediosas e comuns vierem falar vão achar o Editor a melhor carreira de todas.

— Quem eu achei bem inoportuno foi esse professor substituto. Ele quer seu lugar, escute o que eu estou dizendo.

— Que nada. Ele não é tão competente quanto parece. — ela soltou novamente um risinho tenebroso.

— E quais profissões vem hoje?

— Ah, o de sempre. Policial, bombeiro, astronauta...

— Eles conseguiram um astronauta pra vir falar aqui? — assobiou.

— É. — respondeu a morena dando de ombros. Nesse instante um homem vinha vindo da entrada. Usava o casacão e o chapéu dos bombeiros de Nova York e tinha uma mangueira a tira colo. Assim que passou por eles, exclamou surpreso:

— Hermione! Você por aqui?!

— HARRY ESTÁ TE ESPERANDO! AGORA! — a morena berrou agressiva assustando a Rony e ao suposto bombeiro. Ele recuou bem impressionado partindo para a classe.

Sozinhos outra vez, o ruivo foi muito cuidadoso ao disser:

— Você conhece esse bombeiro?

— Claro né! Ele tá sempre aqui para ensinar sobre segurança às crianças.

— E porque ele ficou surpreso em te ver aqui?

— Acho que foi só uma expressão. Vamos lá fora tomar um ar?

— Vamos. — concordou pensando que sua visita à escola fora tudo, menos agradável para a namorada.


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