The Cruel Beauty escrita por Tsu Keehl


Capítulo 41
Capítulo 41


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores!
Peço mil desculpas pela demora me atualizar a fic...não sei a quantas anda a quantidade de leitores aqui mas saibam que não os esqueci, tampouco esqueci da fic. Penso nela todo dia mas confesso que está me sendo bem dificil escrevê-la em vista de tanta coisa na qual estou precisando fazer. Esse capítulo eu pensei durante semanas sobre como o desenrolaria e desenvolveria mas quando comecei a escrever, decidi mudar quase quer totalmente em vista da ideia que me veio subitamente á mente e quase pensei em deixar para o capítulo seguinte. Mas então pensei: ora, eu nunca enchi linguiça nessa fic, não é agora que farei isso!
E assim nasceu esse capítulo.
Espero que gostem e continuem acompanhando embora eu sempre demore um pouco para atualizar.
Chega de papo e boa leitura!



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~*~

 
    Já era tarde da noite quando os três amigos saíram do pub e decidiram ir para casa. Com o intuito de não chamar atenção porque Cruello resolvera vir dirigindo um automóvel de luxo, precisaram estacionar há algumas quadras dali e andarem a pé até o pub que frequentavam em tempos vindouros.
   Como Cruello estava levemente alcoolizado, Alfred decidiu assumir o volante, pegando as chaves do carro.

— Toma cuidado com meu carro! Se der uma amassadinha sequer...ou um risquinho...vai ter que pagar!
— Ah cala a boca e entra no carro, Cruello! Você está bêbado.
— Não estou bêbado! – ele resmungou para Scarlet. – Estou apenas...levemente...embriagado! Posso muito bem...dirigir!
— Não pode.
— Posso sim!
— Então prova! – Scarlet abriu a bolsa e tirou de lá um giz branco, se abaixando na calçada para riscar o chão. – Quero ver andar certinho nessa risca!
— ...essa risca...que risca?!
— Essa!
— Essa risca tá torta!
— Tá nada, é sua visão que está turva de tanta bebida!
— Vou mostrar que estou enxergando muito bem!

  Cruello começa a andar na direção da risca mas por ter que ficar com a cabeça abaixada, ele sente o mundo girar e tropeça em uma elevação da calçada, obrigando-o a se apoiar em Alfred.

— Viu só?! Eu falei que você esta bêbado! E bêbado com corote! COROTE!
— Eu to bem! Só precisei beber um pouco...para suportar...a pressão de hoje...!
— Caiu ao ponto de encher a cara com bebida de mendigo!
— Ai, fala mais baixo, sua voz parece uma gralha grasnando no meu ouvido....
— Alfred, bota o Cruello no banco de trás e vamos embora.
— Para onde?
— Como “para onde”? Lógico que para a casa do Cruello! Eu que não vou levar ele pro meu apartamento!
— ...falando em apartamento... – começou Alfred colocando Cruello no banco de trás. – Acho que está mais do que na hora de me darem um lugar melhor do que aquele apartamento minúsculo...
— Por quê?! Você passa mais tempo pernoitando no apartamento do Cruello e atacando a minha geladeira, mal fica na tua casa!

    Alfred decidiu não falar mais nada. Sentou no banco do motorista com Scarlet ao seu lado. Cruello se respaldou no banco de trás, apertando a testa com a ponta dos dedos. Por quê nunca conseguia um bom tempo em paz?
  O carro saiu da rua dos pubs e seguiu em direção á avenida. Uma fina garoa começou a cair mas Alfred, sempre prudente ao volante, já acionou os limpadores e ajustou as lanternas. Scarlet aprovou a própria ideia de deixá-lo dirigir. Se Cruello pegasse no volante, conseguiria fazer mais barbeiragens do que quando estava sóbrio.
   O carro parou em um semáforo e um homem maltrapilho começou a atravessar na faixa. Ele andava molengamente, com uma grande mochila nas costas, do tipo usada para longas viagens em matas ou montanhas. Apesar da pouca visibilidade por ser noite e estar começando a chover, era possível notar a estatura semelhante á de um lenhador e tal imagem era reforçada por ele ter cabelos longos e uma espessa barba ruiva.

— O que esse maluco tá segurando...é um cajado?! Em plena Londres?!
— Vai ver é algum imigrante... – resmungou Cruello se debruçando no banco. – Ei, olha lá! O cara tá doidão! Deve tá drogado!

    Eles observaram o homem parar no meio da faixa de pedestres, parecer tentar acender um cigarro, mas evidentemente que não conseguiria embaixo da chuva. Ele tentou algumas vezes e Alfred piscou a lanterna para ver se o homem se tocava. A luz o assustou como a um animal na estrada e ele olhou na direção do veículo.
    O calor no corpo de Scarlet pareceu se evaporar enquanto ela observava o homem, que não conseguia enxergar muito bem devido á luz do farol.  Mas quando seus olhos se encontraram, ela sabia que precisava agir.

— Acelera.
— ..quê?
— Acelera, Alfred! O farol abriu!
— Mas o cara ainda tá parado...
— Foda-se, passa por cima!
— Mas não pos...
— Ah, seu frouxo!

     Scarlet se jogou pra cima, colocando o pé entre os pés de Alfred e pisando com tudo no acelerador, uma das mãos mudando a marcha no mesmo momento. O carro deu uma arrancada, cantou os pneus no asfalto e avançou com velocidade. O homem ruivo espalmou as mãos na frente, em uma tentativa inútil de deter o carro ou pelo menos pedir clemência mas o avanço do veículo o fez se afastar aos tropeços para que o carro não passasse por cima.

— EITA! Ficou louca, Scarlet?! – ralhou Cruello se apoiando no banco.
— ...você quase matou o cara! – Alfred retomara o controle do veículo, que seguia pela avenida.
— Se amassasse a lataria ou quebrasse a lanterna do meu carro, tem noção do quanto de gasto que eu iria ter? O homem era enorme, ia fazer um baita estrago! Pior, se ele se machucasse, eu ia ser obrigado a arcar com despesas médicas!
— Calem a boca vocês dois! Eu só fiz o que era necessário!
— ...necessário pelo quê?!
— Não interessa! Ai que ódio, vocês são machos muito chatos!

   Um silêncio se instaurou durante alguns segundos. Alfred notou que o humor de Scarlet, que já não costumava ser dos melhores, se tornara péssimo e isso sem razão aparente. Mas achou mais prudente não perguntar e se concentrar na estrada. Com ele focado na estrada e Scarlet aturdida olhando pela janela mas com certamente o pensamento bem longe dali, não perceberam que Cruello puxara uma necessarie colocada atrás do banco do motorista e começava a mexer no que havia ali.
  Não demorou para que Cruello se debruçasse entre os dois.

— Vira a esquerda, a noite só está começando.
— Mas que...cê tá usando maquiagem, viado?!
— Qual o problema? – resmungou Cruello diante da exclamação de Alfred. – Só passei um pouco de sombra.
— De onde você tirou isso?!
— Sempre tenho um kit dentro do carro, nunca se sabe quando será preciso usar. Vamos curtir uma balada de qualidade!
— Balada?! Por quê?
— Eu ainda estou em estado de choque por ter conhecido aqueles hippies bizarros que geraram a Igraine! Preciso espairecer...e nada melhor do que curtir uma balada!
— ...e a gente tem que ir junto?
— Obviamente!  E amanhã é domingo, poderemos dormir o dia todo! Ora vamos lá, seu chato! Dançar um pouco, passar o rodo em geral, provar todos os drinques, fritar na pista de dança...
— Só uma informação, caso tenha sei lá, subitamente esquecido um pequeno ínfimo detalhe...o senhor é comprometido e isso é de conhecimento público.
— Sou comprometido mas não sou morto!

  Cruello notou que Scarlet continuava quieta.
— O que acha?
— ...o quê?
— Ir...na balada...agora...
— Por mim tudo bem. Estou precisando encher a cara e rebolar até o chão na pista de dança.
  Alfred parecia um pouco consternado até Cruello sussurrar em seu ouvido.
— ...é Open Bar...
  Os olhos de Alfred arregalaram e ele virou á esquerda abruptamente sem sequer dar seta.
— É ISSO AI!

~*~

 Igraine fechou a porta e desceu o lance de escadas com rapidez, abrindo a porta do carro e sentando-se no banco do carona.

—  Olha, devo dizer que estou realmente surpresa com sua decisão imediata ao convite. Não é muito do seu feitio.
— Eu só precisava sair de casa ou ficaria louca!
—Para te tirar do sério tem que ser muito grave hein Igraine?!
— ...são meus pais. Eles vieram pra cá.
— Sério?1 Assim do nada?! Faz quanto tempo desde a última vez?!
— ...eles sequer vieram na minha formatura, lembra?
— Caramba...
— O pior é que eles NÃO CALAM A BOCA! Só ficam falando sobre eles próprios, suas experiências de vivências, o que estão fazendo e o quanto são bons samaritanos e incríveis por conta disso e...
— Calma, amiga. Respira. – pediu Yumie. - Liga não Javier, a história dos pais da Igraine dariam um autêntico documentário da Discovery Channel!
— Ja-Javier?! - Igraine se assustou ao ver o belo rapaz no banco de trás. - Você por aqui?!
— Sim! Yumie me convidou para sair e disse que você iria. Hoje é sábado, eu não tenho nada para fazer e pensei...por quê não?

     Igraine encarou o jovem com um sorriso constrangido, como nunca reparara em como ele ficava bonito envergonhado. Ele tinha um sorriso radiante que contrastava com a pele bronzeada e a camisa branca era um pouco justa demais, permitindo a silhueta de seus músculos bem definidos. Ele teria se tornado um modelo famoso mundialmente sem problemas.

— Muito bem, já que estamos reunidos...- Yumie quebrou o que parecia ter sido o início de um clima. - Para onde quer ir, Igraine?
— E-eu...eu não sei. Só queria espairecer um pouco.
—... O que acha de irmos em uma balada?
  A pergunta súbita de Javier provocou duas respostas imediatas.
— Opa, gostei da ideia!
— C-como assim?! Balada?!
— Sim! Você nunca foi em uma? – perguntou Javier, incrédulo.
—  Cla-claro que já fui eu só não...
— Igraine foi comigo algumas vezes , ainda nos tempos de faculdade. Como fazíamos cursos diferentes, era no final de semana que mais tínhamos tempo de sair...isso quando ela não resolvia ficar o fim de semana todo focada em fazer os trabalhos.
— Do jeito que fala parece que eu era uma nerd que só queria saber de estudar!
— Amiga, você era uma nerd. – Yumie foi taxativa. – Se não fosse por mim te arrastando para alguns rolezinhos de vez em quando, você teria passado seus anos de faculdade inteiros sem ter ficado pelo menos com um cara aleatório na balada!

    Igraine bateu com sua bolsinha no ombro da amiga.
— Também não precisa falar esse tipo de coisa ou o Javier vai pensar que eu era uma tremenda deslocada na universidade!
— Não acho absurdo alguém não gastar noites em baladas na juventude. Eu confesso que não tenho nenhuma formação acadêmica porque passei minha vida focando em militância de proteção á natureza pelo mundo mas cheguei a ir em algumas baladas de Amsterdã...então eu até que gosto. Dependendo da noite, pode render noites memoráveis e inesquecíveis!
— Bom, eu não sei...amanhã temos que levar a raposinha para a reserva ambiental...
— Isso será só á tarde, Igraine! Dá pra curtirmos a balada, voltarmos de manhã, dormir e aí irmos para a ONG pegar a raposa e levarmos ela até a reserva ambiental. Raposas são animais noturnos, o ideal mesmo é soltarmos ela no final da tarde.
— Eu sei disso! Só que...eu...eu nem estou arrumada para esse tipo de coisa!
— Para mim você parece ótima. Fica linda com qualquer roupa.

    Igraine sentiu-se corar, agradecendo ao elogio, constrangida. Em vista da roupa ousada e brilhante de Yumie (ela já estava com intenção de ir pra balada e só perguntou para se fazer de sonsa? Não seria a primeira vez) a sua, naquele vestidinho branco curto e regato básico, era deveras simples.
— Joga uma sombra purpurinada que fica ótimo. Tem uma no meu porta-luvas. Pode pegar!
  Igraine assim o fez, notando uma necessárie com alguns itens de maquiagem.

— Onde você comprou isso?
— Veio no kit de maquiagem que o Cruello me deu aquela vez que fomos na Devil’s para ele te ensinar a ter estilo. E olha que tudo que veio nesse kit é maravilhoso, só coisa de qualidade!
— Posso dar uma olhada? – Igraine entregou a necessárie para Javier.
— Olha só, nada mal mesmo...
— Eu estou pensando... – Igraine  mexeu na ponta do vestido. – Eu ir em uma balada, sendo uma mulher comprometida...
— Você é comprometida mas não é morta! – ralhou Yumie já engatando a marcha e seguindo pela rua. -  E não tem cabimento do Cruello achar ruim sendo que ele é praticamente o rei do camarote das baladas londrinas!
— Mas...mas...podem me reconhecer...
— Ah, pára com isso, Igraine! Você é a namorada do Cruello e não ele! E ninguém vai notar, vamos nos divertir! – Yumie estreitou os olhos. – Se não quiser, pode sair do carro e passar a noite de sábado ouvindo as histórias dos seus pais de ritos de tribos isoladas.
— ...só você mesmo para me convencer! – ralhou Igraine cruzando os braços.
— Amigas são para isso. Muito bem, agora só falta escolher o lugar pra ir!
— Fiquei sabendo que hoje tem especial anos 90 e techno! – revelou Javier.
— Então é pra lá que nós vamos! – exclamou Yumie acelerando o carro e fazendo os pneus cantarem.

~*~

 A Fabric era uma das mais famosas baladas londrinas, localizada na Charerhouse. Frequentado por pessoas dos mais variados estilos, era sediada no que outrora fora uma fábrica abandonada. Inteiramente reformada, ela era imensa, com três grandes pistas de danças e três andares. Possuía um imenso bar e um dos ambientes mais inebriantes para quem quer curtir uma balada de qualidade: ela não figura entre as 100 melhores baladas do mundo á toa.
  Alfred deixou o carro no estacionamento (em uma vaga encontrada por milagre) e os  três seguiram para o local. Uma grande fila se estendia ali.

— Ah, não! – resmungou Scarlet. – Se ficarmos nessa fila, só vamos entrar de madrugada! Cruello, usa sua influência e nos faça entrar agora!
— Eu?! Acha que é fácil?! Eu não sei nem quem está...
— Você é Cruello Devil, seu besta! – Scarlet lhe estapeou a nuca. – Eu quero entrar nessa balada, encher a cara e rebolar até o chão esta noite!
— ...por que você quer fazer isso?
— PORQUE EU QUERO E VOU FAZER! – gritou ela para Alfred. – Vai lá, Cruello! Mostra quem é você!

    Cruello se aproximou praguejando e meio cambaleante, parando a poucos metros da entrada. Esfregou os olhos e focou a visão de uma figura alta vestida de preto e rosa-choque que saía da balada e ia falar algo com o segurança responsável por verificar a identidade de cada pessoa que entrava.
— Georgie! Hey!!!
  A travesti olhou para frente e ao ver o rapaz, seu rosto se iluminou em um sorriso.

— CRUELLO! Meu divo maravilhoso! Você por aqui!
— Ah sim, estava...com saudades de curtir uma balada de qualidade! Hoje quero abrir minhas asas e soltar minhas feras!
— Veio ao lugar certo! Confesso que eu e muita gente sentimos falta de você agitando as baladas junto com aquele seu amigo ruivo...mas você veio sozinho?
— Scarlet e Alfred estão comigo.
— Oh, sim! Dou um jeito de botar vocês pra dentro rapidinho! Mas...e sua namorada?
— Hãn...Igraine...teve um compromisso de família e não pôde vir...
  Alfred observou, metros á frente, Cruello conversando com Georgie e então percebeu que Scarlet parecia extremamente nervosa, andando para lá e para cá como um tigre enjaulado enquanto falava baixinho consigo mesma, parecendo maluca.
— Ei, você tá legal?
— Lógico que não estou bem! Como poderia estar bem?!
— ...aconteceu alguma coisa?
— Não aconteceu nada! Seria melhor se tivesse acontecido, se o tivesse matado!
— Do que você está falando?
— NÃO INTERESSA! Olha lá, o Cruello está nos chamando.

    Eles se aproximaram.
— Georgie vai nos liberar com entrada Vip. Mas entrem logo porque senão o pessoal da fila percebe e vão querer fazer alarde. Tá cheio de turista aqui!
  Assim que eles entraram, já foram acometidos pelo ritmo eletrônico ensurdecedor e as luzes psicodélicas. Ainda era começo da noite, mas a pista já começava a ferver, repleta de pessoas dos mais variados jeitos e estilos.
— Caramba, que barulheira! – reclamou Alfred. – Onde fica o bar dessa bagaça?!
— Acho que é pra lá, se não me engano... – apontou Cruello. – HEY! HEY SEU RUIVO ARROMBADO!
— Cruello?! O que faz aqui, desgraça?!
  Hans se aproximou segurando dois grandes copos de bebidas brilhantes.

— Eu vim curtir um pouco! E pelo visto você também! E a Grimmhilde?
— E a sua Igraine?
  Silêncio. Os dois trocaram olhares explicativos e exclamaram juntos.
— Tô comprometido mas não tô morto!

  Riram em camaradagem.
— ...homens...como os odeio! São todos...
— Calma lá, Scarlet! Nos não vamos trair as mulheres das nossas vidas! Vamos só...dançar, beber, se divertir de boas, sem chamar atenção! – Cruello então olhou para os copos. – Ei, o que é isso que você tá bebendo?
— Olha não sei... – Hans explicou. – É uma mistura muito louca, sei que tem vodca, whisky, caipirinha, energético e mais alguma coisa que não entendi...e ela ainda pisca!
— Ooooh! Me dá um desses! – ele tomou um golpe. – Carralho o negócio é bom, hein?!
Você pegou no bar?
— Na área Vip, vem comigo!

    Antes que Scarlet dissesse qualquer coisa, Cruello e Hans já haviam se misturado á multidão.
— ...será que é uma boa ideia deixar esses dois sozinhos?
— Não quero nem saber! Tenho muito mais com o que me preocupar e me focar aqui! Preciso dançar até me acabar, ser a rodada da noite! Só assim pra esquecer o fato da volta daquela entidade dos infernos!
— Do que você tá falando?

   Alfred ficou sem resposta, pois Scarlet abaixara o zíper de seu vestido até quase o umbigo e se metera no meio da pista de dança, desaparecendo no mar de pessoas envoltas por luzes psicodélicas.
   Sozinho ali, Alfred olhou ao redor. Não gostava de baladas, ainda mais baladas daquele tipo. Só queria estar em casa relaxando, comendo pipoca e tomando uma cerveja. Mas agora por causa dos pitis de Scarlet e a falta de noção de Cruello, tinha de se manter sóbrio para levá-los para casa.
    Ou não.

   Aprovando a própria ousada decisão, Alfred se dirigiu para o bar. Que se dane. Se os dois estavam curtindo (independente de estarem em suas plenas faculdades mentais ou não) ele também poderia curtir.

~*~


— Ai gente, essa fila está demorando muito! Melhor desistirmos!
— Que isso, Igraine! Logo a gente entra! São apenas onze e meia, temos a noite toda e a madrugada!
— Você por acaso está se esquecendo que amanhã temos de devolver a raposinha para a liberdade?
— Claro que não esqueci, mas isso é só domingo á tarde e ainda estamos no sábado á noite!
— Meninas parem de discutir, viemos aqui para curtir um pouco a noite e esquecer as preocupações, certo? – Javier lhes sorriu, um braço circundando a cintura de cada uma. - E olha só, a fila está andando!

  Demoraram mais alguns minutos para entrar e Javier aproveitou para fazer um stories e postar no Instagram. No momento em que pisaram dentro do local, o som ensurdecedor de música eletrônica lhes dominou os sentidos e as luzes piscantes.
— Caramba, esse local está...
— Um caos.
— NÃO! – ralhou Yumie diante do choramingo de Igraine. – Está excitante! É hoje que eu saio da seca! Literal e figurativamente!
— Tem muito barulho por aqui! – Igraine falou alto para tentar se fazer ouvir. – Para onde vamos?
— Eu vou começar indo no bar! Fiquem aqui que eu vou buscar algo pra gente!
   Antes que Igraine dissesse qualquer coisa, Yumie já havia se metido no meio das pessoas e desaparecido. Igraine praguejou, A música eletrônica soava no último e ela começou a sentir que talvez não tivesse sido uma boa ideia ter vindo.

  Seu corpo chocou-se contra alguém grande vestida em roupas brilhantes.
— Me desculpa! – ela gritou mesmo sabendo que sua voz era abafada pelo som da música.
— Não tem proble...Igraine?! É você mesma?
— Hum...Ge-Georgie?!
— Menina, que saudades!
  Igraine foi envolvida por um abraço da bela travesti, que a cobriu com seu echarpe de plumas rosa-choque.
— No-nossa, Georgie...você está linda! Que maquiagem incrível!
— Obrigada! – a outra riu, abrindo um leque e se abanando. – Como uma maquiadora mundialmente conhecida preciso me inovar sempre e me auto desafio dizendo “Georgie, hoje você tem que ser a diva com a maquiagem mais bafônica da festa!” – ela se abaixou, confidenciando – Até porque estou saindo com o organizador dessa festa! Hohohoh!  Mas eu não sabia que você viria aqui hoje!
— Nem eu! – Igraine riu. – Foi decidido de ultima hora com meus amigos. No fim, estou até me sentindo meio deslocada... – ela olhou ao redor. – Todo mundo aqui arrasando no visual e eu de branquinho básico...
— Ah mas você  não precisa de muitos adornos, é linda! Mas se quer dar um “up” nesse visual... – Georgie tirou sua echarpe de plumas e passou envolta de Igraine. – Use isso! Pronto! Te deixou a cara da riqueza!
— Mas...mas...Georgie, eu não posso usar isso, é seu!
— Não se preocupa, boba! Eu tenho um monte desses em casa e depois você me devolve! E além do mais está calor aqui e eu estava á fim de mostrar esse corset maravilhoso da Devil’s que o Cruello fez pra mim! Super combina com minha bota bafônica!

    Ela esticou uma das longas pernas mostrando grande flexibilidade. A bota ia até suas grandes coxas, tendo um brilho de verniz com predarias e  salto agulha .
— Caramba, olha o tamanho desse salto! Eu cairia antes de conseguir ficar ereta! Só você mesmo pra conseguir usar algo assim.
— Sacrifícios para um bom visual...depois é passar horas com os pés em uma bacia repleta de sais relaxantes!
— Desculpe mas...você é Georgie Smith?! – Javier se aproximou, pegando a mão dela e depositando um beijo. – Sou muito fã do seu trabalho!
— Oh, obrigada...e quem é você? Personificação de Apollo?
— Sou apenas um ativista que vive pelo mundo protegendo a natureza e lutando por um mundo mais consciente.

    Georgie mediu o rapaz de cima á baixo, aprovando todo o conteúdo. Virou-se novamente para Igraine.
— Mas estou muito feliz por te ver! Cruello me disse que você não tinha vindo!
  Igraine piscou, pensando ter entendido errado.
— ...o Cruello?! Ele está aqui?!
— Sim! O encontrei logo na entrada faz mais ou menos umas duas horas porque precisei dar um recado para a recepcionista e ele estava entrando junto com a Scarlet e aquele motorista dele! Até perguntei de você mas ele disse que você não tinha vindo! Vocês brigaram?!
— N-não..é que...eu decidi vir...de última hora!
— Ah entendi, que bom! Agora querida, eu preciso ir! Como convidada especial do organizador, preciso me fazer presente e cumprimentar os contatinhos! Aproveitem a festa!

    Georgie se afastou e não demorou para que ela sumisse no meio da multidão. Igraine encostou-se em uma pilastra, aturdida, procurando assimilar as recentes informações, ainda que a música alta dificultasse isso.
— ...ei, você está bem? – Javier se aproximou, lhe tocando o ombro.
— S-sim...eu..eu não consigo acreditar que o Cruello está AQUI! Ele vem para uma balada e sequer me avisa?! Mesmo sabendo que eu estava lidando com meus pais em casa! Cafajeste!
— ...você está ficando nervosa...quer uma bebida?
— Não! De-desculpa...é que..eu ainda...
— Tudo bem.  Eu entendo como é a sensação, parece quase que é um tipo de traição...
— Eu vou encontrar esse canalha! Me ajuda?
— Hãn....sim.

~*~

Ela sabia que era praticamente impossível encontrar uma pessoa especifica naquele lugar. A Fabric estava lotada e mais gente continuava entrando. E andar em meio a qualquer parte dali estava se mostrando um verdadeiro calvário com direito á visões mais chocantes e perturbadoras possíveis. As pessoas se esbarravam nela, se chocavam, respingavam bebida (rezava para que fosse bebida) e toda aquela mistura de cheiros, fumacinha, luzes e sons eletrônicos psicodélicos estavam começando a embaralhar o seu cérebro. Definitivamente, aquele não era o tipo de ambiente que gostava.
   Segurando a mão de Javier, Igraine embrenhou-se na balada, circundando uma parte da pista de dança, mas quando uma música mais animada começou e a movimentação de pessoas dançando ficou mais intensa, os dois precisaram sair um pouco do meio aos tropeções.

— Minha nossa, isso parece o inferno psicodélico de êxtase!
— Acho que vai ser um pouco difícil encontrar...
— AEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOW!

  A exclamação de mais de metade dos presentes alucinados na pista de dança fez Igraine e Javier se assustarem. As luzes continuavam a se mover mas uma parte delas de se concentrou no que parecia um palco mais alto, com três ferros fincados no meio. E ali três homens de físico pleno dançavam de forma sensual vestindo apenas botas e um shorts curto, os corpos parecendo brilhar como se houvessem sido besuntados em óleo. Um era negro, o outro ruivo e o último...
  Ah, não.

    Igraine sentiu seu corpo tremer em um misto de nervoso, vergonha e descrença. Tomou fôlego e se embrenhou novamente no meio das pessoas que agora pareciam ainda mais empolgadas acompanhando o espetáculo, seguida por Javier. Demorou um pouco mas ela finalmente conseguiu se aproximar do tal palco, no exato momento em que os rapazes começavam uma performance que, embora não tivesse sido previamente ensaiada, até que estava relativamente coreografada.
   Cruello dançava e rebolava de uma forma que ela jamais imaginou que ele poderia se sujeitar, ainda mais quase sem roupa daquele jeito para centenas de pessoas. Era lindo, sim, mas...tinha que ficar dançando em cima de um palco como se fosse um prostituto gogo boy?!

  Reconheceu o ruivo como sendo Hans, o amigo de Cruello que esteve presente no desfile da Devil’s e que estava namorando aquela senhora que desvirginara Cruello na adolescência. As pessoas aplaudiam, assoviavam e gritavam aprovando a performance e logo duas garotas se aproximaram do terceiro dançarino, começando a realizarem uma dança profissional e extremamente sedutora, movendo seus corpos entre si como se fossem cobras no cio. Já Hans e Cruello dançavam por conta mas no momento em que ambos se aproximaram perigosamente próximo um do outro, uma explosão de agrado emergiu dos que assistiam, enquanto em Igraine uma explosão de choque e indignação se manifestou.

— ...minha nossa...!
  A exclamação de Javier com a mão no peito em completa surpresa era justificável; após se separarem (antes de acabarem dando um espetáculo que, se acontecesse, Igraine tinha certeza que teria uma síncope) cada um se apossou de um dos ferros de pole dance.

“ Meu bem, se eu quiser, posso fazer um pole dance melhor do que você sequer pode imaginar.”

     Aquelas palavras, ditas há um bom tempo atrás, voltavam com tudo em sua mente e ela sentia um tipo de raiva diferente das que já sentira de Cruello, emergir e dominar todo o seu corpo enquanto mantinha os olhos fixos em Cruello. O desgraçado trepara no ferro de pole dance e começara a fazer os movimentos típicos de alguém que tinha uma boa experiência naquele tipo de coisa. Ele girava e rodopiava, subia e descia, rebolava e sensualizava como se fosse um profissional. Os cabelos despenteados, o rosto corado embebido em loucura e luxúria e toda a animação do público só aumentava a empolgação dele.
  Ele parecia fora de si, mas ainda assim conseguia ser excelente no que fazia. Já o vira usar casacos de perua, desfilar com salto agulha, ter ataque de bixa surtada mas nunca, nunca realmente acreditou que o veria agir daquele modo.  E embebido pela música eletrônica e as luzes psicodélicas, quase faziam ela acreditar que aquilo não passava de um sonho absurdo.

— DEVIL! DEVIL! DEVIL!
   Não era.
   E a aprovação das pessoas diante daquele espetáculo de gosto duvidoso eram a prova disso. Javier sequer piscava diante da apresentação e Igraine, ao mesmo tempo em que  queria esganar aquele desgraçado e encher todas as roupas dele com os pêlos dos bichos que ele tanto detestava, queria também se esconder de tamanha vergonha que seu namorado famoso estava passando. Quando as imagens e vídeos (pois muitos ali estavam filmando com celular) repercutissem na internet e a mídia começasse com as fofocas sensacionalistas, sabia que sobraria até mesmo pra ela.
   E não queria sequer imaginar o que Scarlet faria quando soubesse onde Cruello estava colocando a reputação já delicada dele.

  Quando a apresentação finalmente terminou e uma salva de palmas, assovios e gritos de aprovação tomou o recinto, os dançarinos agradeceram, exaustos. Cruello tomou á frente, aceitando a garrafa de água que Hans acabara de pegar de alguém e jogando sobre seu corpo, arrancando gritos com adjetivos nem um pouco pudicos.
  Cruello sorriu, inebriado pelo esforço, pelo calor, pelo cansaço, pelo prazer do álcool e aprovação de geral.  Mas, como se fosse algum tipo de energia de ódio, ele sentiu-se atraído para uma das pessoas e quando percebeu que bem ali na frente estava Igraine com os braços cruzados e uma expressão de raiva que jamais imaginou que ela pudesse ter, um único e profundo pensamento dominou sua mente.

   “Fudeu.”


~*~


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Notas finais do capítulo

Vixe, que agora a situação de novo está prevendo um barraco! XD
Cruello é realmente um serzinho incontrolável né? Mas a gente ama ele assim!
O que posso dizer sobre este capítulo, é que ele não deu tanto trabalho como pensei, depois que a ideia veio até que fluiu bem mas só demorei para finalizar por conta da correria da vida e outras prioridades. Mas prometo tentar melhorar nisso e não demorar tanto assim pra atualizar mas para isso conto também com o incentivo de vocês, que é muito importante!
Enfim, até o próximo capítulo e acompanhem minha fanfic de Pokémon também que está muito boa!
Até o próximo capítulo!



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