The Cruel Beauty escrita por Tsu Keehl


Capítulo 40
Capítulo 40


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores!
Demorei, pra variar, mas eis aqui o novo capítulo da fanfic! Peço desculpas pelo atraso mas quem me conhece sabe que esse ano eu comecei em uma correria danada, tanto é que estou com várias coisas pendentes e todo dia tento fazer um pouco de uma ou de outra. Mas confesso, está difícil dar conta (rs). Então, se ocorre uma certa demora em atualizar, é porque coloco demais prioridades na frente (ok, eu procrastino um pouco também mas ultimamente tenho procrastinado bem menos).
Cada novo cappie desta fanfic está me sendo bem trabalhoso de se escrever porque a trama se tornou exaustiva para eu mantê-la. Então tento produzir somente quando tenho condições de escrever algo relativamente bom.
A ideia desse capítulo surgiu no momento que finalizei o capítulo anterior e me vi diante de um momento importante para a trama: há tempos se fazia necessário explicar um pouco mais da vida da Igraine e quando percebi que o momento chegou, fiquei enrascada (rs). Mas procurei fazer o meu melhor.
Então, chega de papo e vamos ao capítulo!



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~*~


— SURPRESA!


Ah não.
  Qualquer pessoa, no lugar de Igraine, ao ver quem estava na porta lhe recepcionando com um sorriso caloroso, ficaria feliz e retribuiria o gesto.
  Mas não ela.
— Oh, minha querida! Não está contente em nos ver?!

  Como se saísse de um transe, Igraine forçou um sorriso e abriu os braços, recebendo em troca, um abraço caloroso das duas pessoas que entraram na casa.
  O tumulto chamou a atenção dos presentes na sala e, erguendo-se um pouco de onde estava sentada, Nanny percebeu quem eram as visitas e levou a mão aos lábios, surpresa. Ali estava um homem e uma mulher, ambos vestindo roupas surradas e com uma evidente aparência maltrapilha.
   A mulher usava uma saia surrada que parecia ser feita com remendos de vários tecidos, uma blusa larga e inúmeros adereços rústicos pelo corpo: pedras amarradas em cordinhas no pulso e envolta do pescoço no maior estilo hippie. Os cabelos estavam desgrenhados e esturricados, com fios e mechas saindo pelo pano que Eça colocara para mantê-los presos. O rosto dela, fustigado de sol, parecia até um pouco sujo e ela não usava sapatos. O homem possuía uma barba longa meio arruivada e desgrenhada, as roupas velhas e sujas pelo longo tempo de uso e os cabelos longos pareciam uma juba, um pouco ocultados pelo exótico chapéu remendado e com algumas penas na ponta, que ele usava. As botas estavam extremamente gastas, com a sola deslocando e com barro seco grudado.

— ...não acredito!
— ...eita... – murmurou Valder. – São quem eu to pensando mesmo?
— Caramba, parece que vocês viram assombração! – Cruello ergue um pouco o corpo para ver as duas pessoas á porta da casa. – Mas que diabos...!

  Ele se levantou, se aproximando.
— Igraine, pode parando com isso aí! Tudo bem se você gosta de ficar ajudando os pobres, dando uma de boa samaritana e coisa e tal. Pode ajudar com um pouco de dinheiro e um prato de comida mas não precisa chegar ao ponto de ficar abraçada á pedintes de rua! Pode acabar pegando alguma doença e...
— ...são meus pais.
  Um silêncio tenebroso se instaurou no local. Cruello olhou para Igraine e então olhou para o casal á frente, que se afastara alguns centímetros de sua namorada.
— Ah, nem!

~*~

Surreal.
   Aquilo era fora dos limites, até mesmo sendo algo vindo de Igraine.
Ou melhor, de Igraine ter vindo daquilo.
   Após a súbita chegada dos pais, Igraine parecera murchar como uma flor no deserto e se relegava a fazer algumas perguntas e responder de forma meio monossilábica quando seus pais lhe dirigiam a palavra. O que, logo ficou evidente, não acontecia muito. Os pais de Igraine pareciam ansiosos e empolgados demais em narrarem sobre o que estiveram fazendo durante os três anos em que estiveram longe do que classificavam como “sociedade-urbana-consumista”.

   Após uma recepção surpresa e uma apresentação básica, todos sentaram-se na sala enquanto Nanny servia um lanche em uma bandeja, a qual rapidamente os pais de Igraine devoraram ferozmente, como se não estivessem em contato com comida abundante há algum tempo.

— Nossa Nanny, você continua fazendo sanduíches deliciosos, mesmo com todos esses ingredientes industrializados!
— ..obrigada, senhor Braum. Eu faço o que posso e Igraine também adora esses lanches.
— Me chama só de Braum, não gosto desses pronomes de tratamento . Ainda mais porque eu sou apenas um homem comum como todos os outros homens.
— Não quer se sentar no sofá, Amber?
— Ah estou bem aqui! – falou a mulher.

  Ela estava sentada no chão,  do lado da caminha de DoisTons, observando a cadela e o  filhote enquanto o gato Mimo dormia em seu colo.
— Adoro o contato com os animais! Uma vez eu criei um filhote de macaco e ele até tentou mamar em meu peito mas eu não tinha leite, obviamente. Tão bonitinho ele!
  Cruello olhou de soslaio para Igraine que evitou o contato visual.

— E esse tapete é confortável! Sentar em terra batida sobre gravetos secos que é desconfortável.
— Melhor isso do que sentar na areia quente do deserto. – comentou Braum tomando um gole de suco.
— Ah com certeza! Depois do que fizemos em Saara, não quero ter a experiência de novo! Acho que até hoje tem areia no meu útero!

  Os dois riram enquanto Nanny e Valder forçavam um sorriso amarelo e Igraine se mexeu no sofá ao lado de Cruello. Cruello, por sua vez, estava intrigado.
  Os que se revelavam pais de Igraine eram pessoas que não pareciam estar em seus juízo perfeito, pelo menos não em sua concepção. O casal mais parecia um tipo de hippie muito estranho, com um toque de naturalista amante de ervas e da vida selvagem.
   E o odor. Pairava no ar, desde o momento que eles chegaram, um odor que mais parecia uma mistura de incenso, roupa molhada e ervas, como se eles tivessem acabado de sair do meio do mato (o que, a julgar pelas botas do pai e algumas pequenas folhas enroscadas nos cabelos da mãe, poderiam bem ser verdade).

— A casa parece igual de como vimos a última vez. – o homem olhou ao redor. – E como está a faculdade, Igraine?
— ...eu já me formei. Faz quase dois anos.
  Houve um período de silêncio sutilmente constrangedor.

— Ora minha querida...e por que não nos avisou?
  O tom de voz da mãe era gentil e um sorriso calmo.
— Eu avisei. – falou Igraine. – Mandei e-mails mas todos voltaram. Liguei para a instituição em que vocês estavam e haviam me dito que vocês haviam partido em outra viagem. Deram um endereço e eu enviei cartas, mas nenhuma foi respondida.
— Oh querida, nos perdoe! Há dois anos atrás ainda estávamos em Malaui vivendo entre uma tribo!  Pessoas humildes e maravilhosas, mas é uma tribo extremamente isolada e sem acesso ás modernidades...
— Tenho saudades deles. E da comida da mamãe Uta.
— Mas por volta daquela época... – continuou a mãe indiferente ao comentário do pai. – Não me lembro bem as datas, mas isso não tem importância...migramos com uma equipe de voluntários até o Quênia e que lugar maravilhoso!
— Passamos por algumas provações e até mesmo perigos por causa do homem branco europeu.

  Cruello franziu as sobrancelhas. Braum se referia á “homem branco europeu” mas era isso que ele era...

— Mas no fim, a justiça prevaleceu, graças á nossa coragem e nosso sangue! Lutamos lado á lado com a tribo, contra o homem branco que queria dominar aquela terra que não lhes pertencia. Nos unimos á tribo cuja terra lhes pertence por direito. Lutamos e vencemos!
— Além disso... – continuou Amber. - Tivemos ainda de enfrentar, junto com nossos irmãos de alma, contra os caçadores cruéis de animais. Lembro do medo que senti quando Braum se jogou á frente de um rinoceronte abatido, pondo-se em risco de ele próprio levar um tiro dos caçadores!
— Eu não poderia permitir que eles fizessem mal aquele belo espécime! O lugar dele é na natureza e não empalhado em uma parede de mansão!

  Cruello desviou o olhar. Se eles soubessem que a mansão Devil era lotada de animais empalhados na parede...
— Vimos animais tão bonitos! – Amber, tocou o joelho de Igraine. – Lembrei de você quando pequena, o quanto gostava de animais. Ah, você teria adorado crescer na savana! Um casal de amigos nossos criaram o filho dele em meio aos animais da ONG que eles mantém no Quênia. Precisava ver! O garoto corria nu pela campina, junto com os cães selvagens, se comunicando com eles como se fossem parte da mesma matilha!
  Igraine balançou a cabeça, incrédula e desiludida.

— Vocês poderiam ter pelo menos mandado alguma mensagem durante esse tempo em que sumiram. Eu, vovô e vovó não recebíamos notícia porque as ONGS que vocês se afiliam também não sabiam do paradeiro de vocês. Diziam só que tinham ido para tal lugar mas não tinham acesso!
— Compreendo... – a voz de Amber era irritantemente calma. – Mas compreenda, querida, que eu e seu pai realmente nos integrávamos ao modo de vida e tradições das tribos nas quais convivíamos. E por viverem em locais isolados, procurávamos evitar de levarmos á globalização para que isso não pudesse causar o início da extinção de culturas tão belas e milenares.
— E nos integramos tanto ao modo de vida deles que perdíamos a noção do tempo! Era tanto para se aprender e viver! Eu fui registrando tudo sempre que tinha oportunidade!

   Braum foi até a mochila surrada e tirou o que parecia um velho caderno de anotações.
— Muito do meu material eu cedo para historiadores e ativistas para que as pesquisas de conhecimento e preservação continuem. Mas publicar um livro ou disponibilizar na internet sem fins lucrativos para que o mundo saiba...
— Braum meu bem, depois você mostra seus registros. Vamos contar uma coisa por vez senão eles ficarão confusos.
  Ele concordou e tornou a guardar seu caderno de anotações. Amber continuou.
— Vamos ver... – ela olhou ao redor. - De Valder eu me lembro...como está?
— B-bem...
— Você e Igraine estão namorando?
— Não! – Nanny se interpôs. – Eles continuam amigos apenas...
— Ora, mas eu sempre pensei que...
— Ele está namorando comigo!
  Silêncio.

— Mas que maravilhoso, Nanny! – exclamou Braum. – Você finalmente encontrou alguém depois de tantos anos procurando sua alma gêmea naqueles sites de relacionamen...
— Isso não vem ao caso!  
— E você, Igraine? Continua solteira como sempre, não é querida? – a mãe engatinhou até perto da filha, pegando as mãos delas entre as suas. – Mas não se preocupe. Sei que seu coração ainda está naquela paixão juvenil passageira de quando você tinha 15 anos...mas entenda...aquele rapaz seguiu o caminho dele que era muito diferente do seu. E você está aqui e sei que os grandes espíritos ancestrais possuem um grande destino para você.

   Igraine abriu a boca para responder, mas a voz de seu pai atraiu a atenção dos presentes, pois ele falava com empolgação e gesticulando hiperativamente.
— Então vivemos durante um ano nas savanas africanas, conhecendo inúmeras tribos e nos integrando com ávida selvagem. Mas fixamos raízes entre a tribo Massai e absorvemos o conhecimento milenar deles, nos integramos á cultura, costumes e tradições e fizemos uma ligação espiritual única que jamais será quebrada...

  Cruello olhou de soslaio para Igraine, mas esta continuava sentada com os braços cruzados, batendo o pé em ritmo acelerado, clássica postura de irritação.
— Oh, e esse belo rapaz? Quem é?
— Sou Cruello Devil. – ele se empertigou.

  Braum continuou olhando para o rapaz, como um animal curioso observando algo. Cruello pensou se aqueles dois realmente haviam entendido que ele era um Devil, logo, uma celebridade de alta estirpe.
  Teve um sobressalto quando percebeu que Amber se engatinhara até ele, pegara uma de suas mãos e a analisava. Cruello notou que a mão dela era um pouco áspera, com as unhas parcamente cuidadas.
— Nossa, que mão bonita e macia, unhas bem feitas...parece as mãos de uma princesa!
   Cruello tentou puxar a mão, mas Amber o segurava firme.

— Você tem grande beleza...e essa pele bem cuidada que parece pêssego...o que o traz aqui?
— ...Ahn...eu vim...trazer Igraine até em casa.
— Uma carona! – Braum sorriu. – Eu e Amber fazemos muito isso! Na verdade boa parte de nossos deslocamentos de uma grande distância há outra são feitas por carona. Seja elas consentidas pelo responsável pelo veículo ou não.
— ...como assim?
— Ah, a gente viaja de clandestino nos navios! Ou andamos por longas e longas milhas....uma vez viajamos em um container...pensei que aquela vez iria morrer. Mas foi importante para determos um navio baleeiro japonês. Tinha que ver, que lindo! Todo aquele grupo de ativistas  abrindo o container e saindo com coragem para deter tal crime! Nossa, só de lembrar meu braço fica arrepiado!
— Pelo que estou vendo aqui... – Amber continuava analisando a mão de Cruello.– Sua vida é bem conturbada e você tem tido altos conflitos ultimamente... – ela sorriu, acariciando a mão dele. – Não se preocupe, não vejo morte prematura. Só... – ela olhou ao redor. – Parece que há uma energia pesada á sua volta, algo que você atraiu...hum...pode ser sua entidade espiritual..ou algum encosto mesmo.
—  Olha, não me leve á mal mas... – Cruello tirou a mão. – Não sou muito á fim de saber o meu futuro predestinado. E sou da filosofia que eu mesmo faço o meu futuro.
— ...é impossível lutar contra os desígnios do destino...
— E você também é amigo de Igraine? É bem diferente dos amigos que ela tem.
— ...desde quando vocês sabem como são meus amigos?
— Ora filha, é só olhar para você e se deduz rapidamente com que tipo de pessoas você interage. E este rapaz aqui parece destoar totalmente do que é habitual para você.

  Igraine sentiu uma raiva lhe dominar diante das palavras da mãe.
— Só para constar, eu e Cruello Devil estamos namorando há meses!
  Um momento de silêncio.
— ...que maravilhoso, minha querida! – exclamou a mãe batendo palmas.  Como conseguiu?
— Consegui o quê?
— Namorar um rapaz pomposo como esse! Evidentemente não deve ser fácil, a disputa foi acirrada e foi preciso fazer uso das mais diversas táticas ritualísticas de sedução para...
— Ele é uma pessoa e não um pássaro para se fazer ritual de acasalamento.
— Ah os humanos também fazem rituais de acasalamento! Em muitas tribos que conhecemos sempre havia...
— Espera aí! – a exclamação de Braum fez todos voltarem-se para ele. – Agora eu estou me lembrando...Devil não era o sobrenome daquela mulher que roubou os cachorros do papai quando eu ainda não tinha nascido? Você é parente dela?
— Só percebeu agora? – resmungou Igraine. – Era só olhar para o cabelo e os trejeitos dele, até o nome! Cruello é sobrinho de Cruella Devil.

Houve um momento de silêncio constrangedor.


— AAAH AGORA EU ENTENDI! - exclamou Amber. -Agora eu saquei! Agora todas as peças se encaixaram!

"Pronto...lá vou eu ter que ouvir um monte de baboseira indignada de ativistas."

 O pensamento de Cruello pareceu ecoar na mente de Igraine e ela apenas olhou de esguelha para o rapaz, que enviava um olhar inquisidor para ela.


— Olha Braum, eles foram predestinados!  Cruella fez mal a sua família e agora seu próprio sangue irá se juntar ao nosso para que o mal que ela nos fez seja purificado...não é maravilhoso? A união da Igraine com o jovem Devil irá  purificar o mal que  Cruella fez! Sabíamos que seu destino era grande, minha querida. – ela tocou o braço da filha. – Não grande como o nosso cuja missão é conhecer o mundo, mostrar e proteger as culturas milenares mas  é um destino só seu! Será responsável por uma redenção...
— Mas minha tia não fez nada de.....

 Igraine apertou a mão de Cruello com força em sinal para que ele se mantivesse quieto.


— E é um rapaz tão bonito! Olhe bem, Braum!
   O homem se aproximou de Cruello, agachando-se ao lado dele e o observando como se fosse um animal exótico.
— Ele tem os traços de um típico homo sapiens europeu deste século. A pele, o cabelo, as unhas e os dentes está tudo muito bem cuidado... - ele cheirou o ar. - E mantém um bom aroma mas que inibe totalmente seu cheiro natural. Parece conter bons genes, pelo menos físico. Mas é um tipo de homem metrossexual, provavelmente com tendências bissexuais. Um tipo comum de cidadão inglês.
—  Comum?! Está chamando a mim, Cruello Devil, de "comum"?!
— É que meus pais viajam tanto pelo mundo, conhecem tantas tribos onde as pessoas são extremamente exóticas e diferentes que qualquer pessoa da cidade é considerado comum pra eles!
— E vocês não vão acreditar! – um sorriso se abriu em Amber. – O Braum, o meu Braum...ele participou de diversos rituais de maioridade Massai!
— ...o que seria isso?

  Cruello percebeu logo em seguida que não deveria ter perguntado.
— O ritual de maioridade da tribo Massai é uma grande tradição desse povo incrível! – Braum explicou. – Eles são uma tribo guerreira muito poderosa que possui inúmeros rituais. O principal deles... – e Braum começou a pular sem sair do lugar, os braços juntos ao corpo. – É esse...no qual...é preciso...pular..o mais ...alto...que conseguir....ai!

  Ele parou no momento que bateu a cabeça no teto mas continuou falando enquanto esfregava a área atingida.
— Não se preocupe Nanny, estou bem! – ele falou quando a mulher tencionou se levantar. – Essa batidinha não é nada para quem já rolou uma montanha rochosa!
— Temos tanta coisa para contar! – Amber parecia radiante. – Adquirimos tanto conhecimento que temos certeza de que irão adorar saber!

~*~

Já havia passado cerca de duas horas e meia que os pais de Igraine estavam falando interruptamente sobre suas viagens e convivência em lugares inóspitos e junto de tribos indígenas. Cruello se via assistindo, ao vivo, um documentário do Discovery Channel em uma série sobre cultura e sociedades tribais. Nos últimos sete anos, aquele casal convivera com tribos do Nepal, Tailândia, Marrocos, Etiopia e Quênia.
   Pelo que entendera, Braum entrava com o registro escrito e Amber com o registro fotográfico (ela dizia ter inúmeras fotos que haviam sido enviada para a Fundação em que eles se afiliavam para, futuramente, colocarem no livro que Braum desejava escrever e também em exposições a fim de “conscientizar e informar ás pessoas do mundo capitalista, como é a vida e cultura de povos milenares”.

  Nessas horas que estava ouvindo os relatos do casal, Cruello tivera conhecimento sobre a vida que eles haviam levado e concluiu que havia rituais para tudo que é tipo de coisa nessas tribos: iniciação, limpeza espiritual, guerra, casamento, nascimento, maioridade, refeição...e que os pais de Igraine carregavam uma quantidade absurdas de balangandãs no corpo além de tatuagens e marcas que diziam ter sido feitas pelos povos com quem haviam vivido.
   Enquanto os observava contarem sobre suas experiências no isolamento da civilização moderna e integração com culturas milenares no meio de florestas, savanas, montanhas e até desertos, a forma como eles gesticulavam ao tentarem explicar determinadas coisas  e a forma surreal com que enxergavam a forma de se levar a vida, abrindo mão de bens materiais, vínculos sociais pré-estabelecidos pela sociedade moderna e o consumismo desenfreado do mundo globalizado, Cruello concluiu que aquele casal certamente havia perdido um pouco da sanidade (talvez pelo isolamento do mundo moderno, a absorção de tantas culturas de hábitos estranhos ou pelo excesso de ervas ritualísticas suspeitas que haviam consumido em busca do “clarão espiritual” como Amber mesmo dizia) e que fazia sentido o fato de Igraine nunca querer falar sobre eles.

— E então em algumas tribos africanas, um dos hábitos mais praticados é o consumo de sangue fresco retirado do gado ainda vivo. – falou Amber dramatizando como supostamente era feito enquanto Braum se posicionava como, também supostamente, o gado ficava.
— Eles fazem um corte assim... – dramatizou Amber segurando um copo em seguida embaixo da garganta do marido. – Pegam o líquido e o ingerem ainda quente! Assim...
  Ela dramatizou o ruído do que seria estar bebendo o tal sangue e Braum continuou.
— No primeiro momento ficamos em choque mas estávamos na presença do chefe e de toda a tribo, não poderíamos fazer desfeita diante deles porque todos sabem que recusar qualquer coisa é uma afronta e sinal de má educação!
— Então provamos...e não foi ruim. Pelo contrário. Sentimos o poder ancestral em nós! – exclamou Amber de forma teatral.
— O alimento que nos fortalece o corpo, a energia que alimenta nosso espírito. – filosofou Braum.

  Então eles continuaram a relatar demais rituais excêntricos, dramatizando como funcionavam. E Cruello Devil concluiu que sua vida sofrera um grave aumento de contatos com pessoas e situações bizarras desde que conhecera Igraine.

“ Com quem eu fui me meter, santa Coco Channel e divino Christian Dior...”

~*~

Igraine inventou uma desculpa que iria pegar um pouco de água para poder afastar da aura intensa que seus pais causavam na sala. Ela  correu até a cozinha a fim de respirar um pouco e conseguir pensar em um pouco de silêncio.
    Seus pais haviam entrado em um longo monólogo sobre o tempo em que viveram no meio das florestas africanas, com uma tribo isolada que vivia oculta em complexos arranjos de folhagem: seu pai chegara mesmo a mostrar uma foto em que sua mãe estava vestida inteiramente por folhas e pintada com símbolos circulares, trepada em um tronco de árvore para colher frutas.

  Eles não davam chance de que ninguém conseguisse falar. Faziam uma pergunta a alguém e quando a pessoa começava a falar, eles pareciam se lembrar de um assunto de extrema (insira ironia aqui) importância sobre os hábitos alimentares de alguma tribo em que haviam convivido.
  O foco era unicamente eles em ninguém mais.
  Sempre foram assim.
  Ela suspirou, se encostando na pia da cozinha. E pensar que hoje só queria voltar para casa, ver Fofucho, arrumar as coisas para amanhã e descansar da noite agitada.

    Será que seus avós sabiam que eles viriam? Não. Se soubessem teriam lhe avisado e também seus pais nunca avisavam ninguém sobre o que faziam ou deixavam de fazer. Agora por quanto tempo seus pais ficariam na sua casa? Provavelmente não muito. Comeriam tudo o que tinha na casa depois ela acordaria em um dia e “puff” eles já teriam ido embora sabe-se lá para onde. E ficaria sabendo deles por alguma noticia aleatória na internet ou eles subitamente aparecendo na porta da sua casa depois de anos como se estivessem ficado fora só por uma semana.
    A lembrança de uma manhã de Natal voltou á sua mente e ela rapidamente afastou para longe.
  Pegou o jarro de água na geladeira e alguns copos e os colocou em uma bandeja, voltando de mau-humor para a sala. E então se deparou com a situação bizarra que se seguia ali.

     Seu pai pegara um dos seus vasos de plástico e fazia um batuque como se este fosse algum tipo de tambor enquanto recitava alto, um cântico em uma língua desconhecida e sua mãe dançava e movimentava corpo e braços de maneira estranha (provavelmente era a reprodução de alguma dança típica tribal mas parecia que estava com um espírito dentro do corpo), girando em torno do tapete da sala.
   Nanny assistia aquilo sem piscar, as mãos sobre o colo; Valder olhava surpreso a demonstração, tendo parado de levar o biscoito á boca;  até mesmo seus cães e seu gato pareciam assistir aquela encenação. Já Cruello estava sentado no sofá, as pernas cruzadas com força, uma das mãos contornando a própria cintura como se tentasse se proteger e uma mão á boca, os olhos fixos no casal. Igraine tinha medo de sequer imaginar o que ele poderia estar pensando.

    Ela colocou a bandeja com o jarro de água e os copos sobre o aparador . Afinal, se sentissem sede, eles que se levantassem e bebessem. Se bebiam até mesmo do mesmo rio que os animais da savana bebiam ( “Para conseguirmos nos comunicar e compreender os hábitos dos animais selvagens devidamente” ) não teriam problema em colocar água nos copos.
  Voltou a se sentar perto de Cruello e pôde sentir que ele estava tenso. Ou ele explodiria de raiva ou teria um ataque de riso, ela não sabia definir. Mas na certa ele estava chocado. E quem não ficaria? Ainda mais que agora seus pais estavam dramatizando o que seria “receber o espírito do demônio ancestral das montanhas”.

— Nossa, rodei demais. Preciso sentar! – Braum jogou-se no chão, suando. – Essa sua casa é muito apertada, Igraine.
— Ora meu bem, aqui é bem maior e mais arejado do que na gruta de mamãe Uta ou na casa feita de barro e estrume do chefe Palula.
— Ah sim! E não tem escorpiões... mas por mais quente e claustrofóbica que fosse, tive muito orgulho da humilde cabana que fizemos. Nos dedicamos embaixo do sol escaldante e erigimos nosso lar com muita força, palha, sangue, barro, suor e fezes.

  Cruello estava começando a ficar em choque.
— Olha, o papo está bom mas o meu namorado precisa ir embora. – anunciou Igraine.
— Mas já vai? Justo agora que iríamos começar a falar sobre a vez em que seu pai caçou com um leão junto com os guerreiros da tribo Massai e eu participei de um ritual alimentar sagrado da tribo Korowai?
— ...como seriam...
— Não queira saber! – cortou Igraine pegando Cruello pela mão. – Desculpe pai e mãe mas o  Cruello é uma pessoa muito ocupada e precisa mesmo ir, não é?
— Claro! – ele se virou para o  casal. – Como herdeiro da empresa da minha tia, estou constantemente com muito trabalho a ser feito. Sabem como é, criar novos modelos, participar de reuniões, verificar os investimentos, fazer contatos, ir á confraternizações badaladas, coordenar e treinar modelos, esse tipo de coisa...

— Que vida triste... – lamentou-se Amber. – Talvez você devesse abrir mãos destas correntes sociais e capitalistas. Quem sabe alguns meses convivendo com os nômades da montanha no Nepal possam libertar seu espírito e fazê-lo encontrar sua verdadeira vocação.
— Eu estou bem satisfeito com a minha vocação de ser um estilista e empresário renomado !
— Isso porque você ainda não se libertou das amarras que a sociedade globalizada...
— O Cruello precisa realmente ir! – ambos já estavam de pé, com Igraine segurando o rapaz pela mão e se encaminhando pela porta. – Vou acompanhar ele até lá fora.
— Volte logo, meu jovem! – acenou Braum. – Ainda quero te mostrar meus avanços sobre a tradução do calendário estelar que alguns povos utilizam para se orientarem a fim de realizar plantio e colheitas!
— Igraine, não demore! – era a voz da mãe. – Quero conversar com você e lhe contar sobre como eu e seu pai realizamos uma cerimônia matrimonial da tribo Piriri!

~*~

  Só quando fechou a porta e ambos desceram os degraus da entrada é que Igraine soltou um suspiro, que parecia que tivera sido guardado por todo o tempo desde que as ilustres visitas haviam aparecido na porta.

— Desculpa por eu ter praticamente te puxado para fora da minha casa.
— ...se você não fizesse isso, eu mesma faria.
É que os meus pais... – ela deu outro suspiro. – Deixa pra lá. Bom, agora você sabe de quem eu vim. Acho que todas suas dúvidas por eu ser do jeito que eu sou, foram respondidas. A caipira sonsa sem graça que tem pais excêntricos que vivem perdidos pelo mundo se integrando com tudo que é tipo de cultura tribal e pregando a união entre as pessoas, mas não fazem questão de praticar essa união com o próprio sangue!

  Cruello retirou um cigarro do bolso e o acendeu, levando aos lábios e dando uma tragada. Igraine continuou.
— E pensar que as coisas estavam começando a se acertar... o que vem agora?
— Eu  sei lá! A família doida é tua! Você por algum momento em sua vida, pretende ou sequer cogitou a hipótese de querer ter a experiência de vivenciar o  estilo de vida deles?
— É claro que não! Graças a deusa eu fui criada pelos meus avós que tinham o mínimo de noção das coisas! Sabe o que é ter pais que nunca estiveram presente em nada do que eu fazia! Nem da minha faculdade eles se lembraram, nem sequer querem realmente saber da minha vida, apenas contar a vida “esplendorosa e integrada’ deles ao redor do mundo! É como se eu fosse apenas uma coisinha que apareceu e eles deixaram para os meus avós tomarem conta porque daria trabalho demais  levar junto!
— Ainda bem. Pelo menos nisso, você tem discernimento. Sempre tive muitas suspeitas com relação á esse seu lado protetor de animais, ativista da natureza e coisa e tal. Ainda bem que conhece limites, algo que seus pais não conhecem!  E se acalme, estamos na rua de sua casa.
— E qual o problema de estarmos na rua da minha casa?!
— Patrick Star pode ouvir...

 Igraine o fitou, incrédula. Ela estourando com um problema imenso que eram seus pais e Cruello preocupado com...Patrick Star!

— Até você, Cruello? Sempre os outros e nunca eu... ninguém nunca se importa comigo nessa carralha de vida?!
— Acalme-se, raposinha! Não foi isso que eu disse! Mas já pensou o caos que seria se Patrick Star soubesse dos seus pais e os entrevistasse? Do jeito que seus pais são avoados, iriam começar a dar o maior show! Não acredito que você gostaria de que isso fosse parar nos sites de noticias anexado ao seu nome e ao meu também, obviamente.

Igraine respirou fundo, claramente irritada.


— Cruello... vá para a casa agora.
— Não gostaria de ir junto comigo? – ele se aproximou devagar, como um felino. - Talvez isso tenha sido uma lição de que você deveria ter ficado em meu apartamento hoje. Para se desestressar, minha banheira tem hidromassagem. E o apartamento é silencioso e livre de presenças estranhas.

  Igraine respirou fundo, quando sentou os lábios quentes de Cruello em seu pescoço. Mas acabou inalando um pouco da fumaça que saía do cigarro nas mãos dele, sendo acometida por um ataque de tosse.
— Caramba, apaga esse negócio!
— ...calma, não precisa se alterar.
— Cruello, fumar é horrível! É um gasto desnecessário e que ainda faz muito mal á sua saúde e a saúde daqueles que estão ao seu redor! – ela tossiu algumas vezes. – Fora que tem um cheiro horrível que impregna nas roupas e no cabelo. Por que você não se liberta desse vício?!
— Não vem reclamar do meu cigarro só porque está estressada com seus pais. Ainda que o meu e um cigarro comum, eles devem usar uns baratos de ervas muito loucos vindo daquelas tribos.

 Igraine suspirou, passando a mão sobre o rosto.
— Foi mal, tudo isso é muito...ai,não sei porque eles apareceram agora! E aparecem como se fosse “tudo bem” aparecer assim...
— Embora eles não tenham dado notícias por dois anos, você não pareceu nem um pouco com saudades dele.
— Ficou tão na cara assim?
— Qualquer um notaria, menos os seus pais. Pelo que pude ver, eles estão tão ocupados e empolgados em narrar todas as aventuras selvagens que não tem muito interesse no que você fez ao longo desses anos. Nem mesmo diante da minha estupenda presença, eles pararam de falar sobre os feitos deles! Fiquei perplexo! Por isso...- ele tornou a se aproximar. – Vamos para minha casa antes que você sofra uma overdose de tantas histórias do cotidiano selvagem.

— Sinceramente...eu até gostaria de ir e fingir que eles não estão aqui mas não posso. – ela afastou Cruello gentilmente. – Amanhã irei com o Javier e a ONG devolver a raposinha resgatada á liberdade.  Quero descansar...e eu sei que se ficar com você, isso não vai acontecer.
— Nossa, me chamou de máquina insaciável de sexo?
  Ela deu um sorriso fraco.
— Mas na real...você vai ficar bem aqui...com eles?
— Vou. Eles não tendem a ficar muito tempo parados em um mesmo lugar, exceto se for em alguma tribo isolada. E Nanny está comigo...e tem meus bichos. Eles adoram animais, vão se distrair bastante com eles e com minhas plantas. Capaz de eu acordar amanhã e eles já terem ido embora. Não seria a primeira vez.

  Cruello ergueu o rosto de Igraine, fazendo-a encará-lo. Era impressão ou ela estava chorosa?
— Isso logo vai passar. Pode ter certeza.
  Trocaram um beijo demorado.

— Bom, já que estou aqui fora melhor eu ir antes que seus pais me arrastem para dentro e continuem contando suas histórias mirabolantes de integração tribal. Acha que aguenta?
— Já estou acostumada. Eu abro a “caixinha do nada” da minha mente e fico bem. Nanny e Valder sempre tiveram uma disposição maior de prestar atenção ás histórias dos meus pais. Aguento o falatório deles e depois invento que estou cansada e preciso descansar.
— Finja que está com dor de cabeça e aí é capaz de eles calarem a boca.
— Melhor não. Se eu falar que estou com dor capaz de tentarem me fazer ingerir alguma infusão de ervas que trouxeram de suas tribos tão amadas.
— Ué, não era você que adora umas coisas naturebas e queria me fazer tomar chá de guaco quando fiquei gripado?
— ...são coisas diferentes!

  Cruello riu, indo na direção do carro.
— Qualquer coisa, pode me ligar ou mandar mensagem. E seu príncipe maravilhoso em todos os sentidos, virá lhe buscar não em um cavalo, mas em um Lamborghini. O que é mil vezes melhor.
— Muito modesta sua definição... e...Cruello?
— Sim?
— Desculpe por ter conhecido meus pais.Eu sei que deve estar achando que eles são pais bizarros.
— ...os pais costumam ser assim. Fique tranquila.

~*~


— ELES SÃO PAIS MALUCOS E COMPLETAMENTE FORA DA REALIDADE!!! Um casal bizarro e assustador! Na certa tanto tempo vivendo perdido no meio do mato com gente estranha que eles acabaram se integrando ao ponto de se tornarem neanderthais hippies!  Eu não aguento mais me deparar com gente anormal no sentido negativo da palavra!

     Cruello bebeu um longo gole da coca-cola gelada e então recostou-se no banco, acendendo um cigarro. Á sua frente, Scarlet e Alfred comiam um hambúrguer e uma grande porção de fritas com cheddar. Á princípio, Scarlet alegara que não comeria nada mas a história narrada estava tão interessante, que ela se rendeu. Eles estavam em uma popular lanchonete estilo underground conhecida como Lock Tavern.
     O local fora muito frequentado pelos três na época de seus roles, há mais de dez anos atrás. Muita coisa havia mudado desde aquela época: o que era um ponto alternativo, se tornara também um ponto turístico e muita coisa mudara. Mas ainda possuía uma aura que poderia remetê-los aos velhos tempos – tempos esses em que não havia o peso de suas atuais responsabilidades.

— Vocês tem noção de que os pais dela passam a vida vivendo no meio de selva, montanhas e savanas com tribos selvagens, participando dos rituais deles? Eles beberam sangue de boi ainda quente!
— Eita.
— E não foi só isso! – continuou Cruello diante do elucidativo comentário de Alfred. – Em duas horas que fiquei na presença daqueles doidos, eles falaram sobre como viviam entre as tribos, um se jogou na frente de caçadores para salvar bicho, a outra queria amamentar um macaco no próprio peito, ai fizeram não sei o quê nas montanhas, se vestiram não sei o quê na floresta, caçaram bicho selvagem na savana, queriam ter um filho que crescesse no meio de macacos e cachorro do mato, acham super tranquilo andar com insetos gigantes pelo corpo, fazem imersão com ervas e quando eu vi eles estavam recriando uma cantoria tribalística com direito á dramatização! Foi bizarro, BIZARRO!
— ...isso é consequência de ter se juntado com aquela caipira meia-boca.
— Igraine não é como eles. – Cruello passou a mão nos cabelos. – Eu sei que sou egocêntrico e adoro falar de mim mesmo mas eles são muito mais! Dede que chegaram não teve mais de dois minutos que eu, Igraine, a empregada ou o Valder conseguissem falar alguma coisa e não fossem cortado por um desses dois malucos! Eles só queriam falar deles próprios!  Das coisas que queriam fazer!

  Cruello virou-se para Scarlet.
— O pai dela fica falando sobre “as coisas erradas que o homem branco faz” mas ele próprio é um homem branco! E a mãe dela parece viver em uma outra realidade,acha lindo uma criança ser criada no meio de cães selvagens correndo nua pela savana! Eu tenho certeza que passou na cabeça dela querer ter criado a Igraine assim!
— Você deveria ter tirado uma foto, queria dar uma olhada nas figuraças.
— Eles chegaram na casa de Igraine parecendo mendigos, tanto nos trajes quanto no cheiro! Disseram que vieram andando pela rodovia até Londres durante uns dois dias! Na verdade a questão de higiene deles deve ser algo sério porque contaram que viveram no meio do mato, no meio da montanha, no meio da savana...
— ...mas será  que eles só queriam te assustar?
— Não . – respondeu Cruello diante da pergunta de Alfred. – Igraine contou meio que por cima que eles são assim mesmo. E eles não negam, se vissem eles iriam perceber. São tão pirados que não mentem! Eles levam como filosofia de vida uma besteira de integração com tribos ancestrais, anti-capitalismo, umas trocentas besteiras. Parece que vivem chapados!
— Se ferrou legal com os sogros hein...se bobear eles vão querer que o casório seja em uma tribo no meio da floresta á noite.
— Pare de tirar uma com a minha cara!

   Scarlet deu um soco na mesa.
— Você mesmo que arrumou isso pra si no momento que se deixou enrabichar pela caipira. – Scarlet cruzou os braços. – Em vez de ficar se lamentando aqui correndo o risco de engordar com fast-food, é bom começar a pensar racionalmente.
— O que está querendo dizer?
— Por sua causa, agora Igraine está no foco da mídia também. Se os pais dela são tão bizarros e gostam de chamar atenção mesmo fingindo que não, acabarem caindo na rede de informações dos fofoqueiros de plantão, imagine só  como a sua imagem viraria motivo de piada.
— Vira essa boca pra lá! – Cruello bateu na mesa três vezes, fez sinal da cruz, jogou um pouco de sal atrás de si e olhou nervoso ao redor. - Isso não pode acontecer!
— Então dá um jeito de ela não ser vista com eles!
— Mas são os pais dela!
— Foda-se! Você mesmo disse que ela não ficou lá muito feliz com a chegada deles. Pega ela e traz em sua casa. Já que eles são nômades, logo devem ir embora.
— Eu não posso simplesmente sequestrá-la!
— Então torça pra nenhum fofoqueiro de plantão ficar sabendo disso!

   Cruello suspirou, exausto. Optou então por afogar as preocupações no enorme lanche que a garçonete trouxera. Pensaria em alguma coisa. Com sorte, ninguém saberia, e os pais de Igraine logo embarcariam clandestinamente em algum navio para Papua Nova Guiné e ficaria tudo bem.
    Eles não perceberam mas na mesa de trás, Patrick Star parara de comer sua porção de cebola frita para prestar atenção na conversa.
    Interessante, muito interessante.

~*~


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Notas finais do capítulo

E o capítulo termina aqui. Agradeço á todos que continuam acompanhando a fanfic mesmo eu sempre demorando um pouco pra atualizar.
Esse capítulo me deu uma cansada de escrever, ele foi surgindo á medida que eu escrevia e procurei focar nele mesmo tendo ideia pra minha outra fanfic, porque queria muito poder atualizar (até porque já havia estourado o prazo de atualizar). Agradeço á Hime por ter me ajudado no que foi possível.
Algumas coisas ainda vão acontecer e confesso que não faço ideia de como irá se desenrolar mas continuem acompanhando porque virá coisa boa!
E o que acharam dos pais da Igraine? Desde o começo eu sempre tinha ideia de mostrá-los bem com esse toque de “fora da realidade” deles, de viverem a esmo pelo mundo e sendo aquele tipo de pessoa que realmente existe e que gosta de ficar se metendo láaa no fim do mundo entre tribos milenares. Não sei se consegui passar um pouco do que queria sobre eles, mas espero ter conseguido!

Nota Importante: as tribos mencionadas na fic, realmente existem e seus respectivos rituais também.



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