The Cruel Beauty escrita por Tsu Keehl


Capítulo 3
Capítulo 03


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, tudo bom?
Estou de volta com o terceiro capítulo da fanfic do Cruello! Quero agradecer á todos que estão acompanhando, palpitando, comentando e me incentivando a manter esse projeto. Vocês não sabem o quanto isso é importante e motivador para mim. Por isso que tento fazer sempre o melhor em cada capítulo, para entregar á vocês uma história divertida e capaz de entreter.
Eu ainda não sei os rumos que a história vai tomar. Tenho ideias e cenas mas de resto ainda é tudo um mistério. Vamos ver o que vai saindo á medida que as coisas forem acontecendo.
Ademais, não sei se comentei, eu irei fazer cosplay do divo Cruello *_* Já tenho tudo pronto, falta apenas a minha peruca chegar made in China.
Tenho que prestigiar meu trabalho e o trabalho da Sakimi NE? Até porque o Cruello é uma delicia *_*. E para quem não sabe muito bem como seria a aparência da Igraine bom, pensem na Anna de Frozen. Eu me baseei na Anna para criar ela...o que acham,?
Enfim, chega de papo e vamos ao que interessa!



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Capítulo 3

~*~


Quando Igraine abriu os olhos, tudo o que ela viu era branco. Um branco tão intenso que ela realmente acreditou que havia morrido. Porém, por mais desesperador que aquilo pudesse ser, ela sentia-se tão calma...talvez por ter a certeza de que se realmente estivesse morta, não haveria nada que pudesse fazer. Deveria apenas seguir a tal luz que tantas pessoas com experiência pós-morte diziam existir. Essa tal luz em breve surgiria naquele branco. Porque ela não era uma pessoa ruim, sempre tentava fazer o melhor que podia. Pela lógica, iria para o paraíso, céu, nirvana ou o que fosse.

Mas...porque teria de ir justo agora? Era jovem, tinha tanta coisa que gostaria de fazer, tantos animais que queria ajudar e salvar...queria viajar e queria poder viver uma vida legal, se divertir...queria....queria vê-lo de novo apesar de tudo que...

– Até que enfim acordou!

Igraine piscou aturdida e foi como se, de repente, tivesse acordado. Porque aquele branco intenso não era tão branco assim e nem era grande. Era um teto. E, virando os olhos para o lado, pôde notar uma janela com persianas abaixadas e uma mesinha de cabeceira. Havia também um ferro com um soro preso e notou que esse soro estava ligado á seu braço. Virando os olhos para o outro lado, notou uma porta e uma mesinha com produtos hospitalares. E percebeu finalmente que estava deitada em uma cama.

– ..onde...estou?
– No hospital, é lógico. Você desmaia no meio da avenida e quer que seja levada para onde?

Foi então que o viu. Cruello estava sentado em uma poltrona encostada á parede. Mantinha as pernas cruzadas daquele jeito de macho (com o pé sobre o joelho), um tablet nas mãos e um olhar fuzilante.
Realmente, tinha de admitir que era um belo homem.

– Eu ...desmaiei? Não me lembro de nada.

Cruello suspirou. Desligou o tablet e o colocou na mesa.
– Você estava discutindo comigo e do nada desmaiou. Se eu não tivesse segurado você, teria batido a cabeça no asfalto. Está com alguma doença séria?
– N-não...não que eu me lembre.

Ele se levantou e aproximou-se de Igraine para acionar um botão acima de sua cabeça, fazendo-a, por um momento, sentir-se desconfortável.

– Que hospital é esse? Não parece ser público.
– Você acha que eu iria pisar em um daqueles hospitais? Faça-me o favor. Esse aqui é o melhor hospital de Londres.
– O quê?! Mas..mas...porque me trouxe aqui?
– Porque era o único hospital que eu conhecia. E porque seria antiético eu te deixar caída no chão.
– ....obrigada por se preo...
– Até porque se alguém da mídia flagrasse isso, eu teria que dar satisfações.

Igraine revirou os olhos. Era ilusão demais achar que havia algum altruísmo nele.
A porta foi aberta e surgiu o médico acompanhado por uma enfermeira sorridente.

– Que bom que acordou! Como está se sentindo?
– Bom..acho que...bem...

Igraine não estava prestando muita atenção ás perguntas do médico enquanto a examinava, e sim no olhar embasbacado da enfermeira na direção de Cruello, que parecia indiferente á isso, entretido em seu celular.

– Certo, está tudo bem com você. Vamos esperar esse soro acabar e irei te liberar. Poderá voltar hoje mesmo, mas terá de ficar em repouso por dois dias e fazer uma alimentação balanceada á partir de agora.

– O que me aconteceu?
– Bom, você acabou desmaiando e o senhor DeVil lhe trouxe até aqui.

“Porque eu estou imaginando que o Cruello teria me trago em seus braços, desesperado, gritando por ajuda? Que viajem. Isso nunca aconteceria.”

– Mas o motivo é que a senhorita não está se alimentando corretamente. Você não comeu nada hoje, estou certo?
– É...hum...bem, eu não tenho o hábito de comer pela manhã. Não sinto apetite e quando como fico enjoada.
– Então terá que começar a forçar esse hábito de comer. O que você teve foi um desmaio consequente da falta de alimentação. Isso é perigoso em todos os sentidos. E se não se alimentar corretamente, essas vertigens e desmaios podem ser constantes e culminar em uma anemia. Eu colhi amostras de seu sangue para alguns exames, eles estarão prontos dentro de cinco dias. E quanto á sua luxação na perna, não é nada grave. Irei prescrever uma pomada e um analgésico. A marca poderá ficar arroxeada e demorar um pouco para sair. Você ainda sentirá um pouco de dor e dificuldade de andar. Evite esforços, subir escadas e coisas do tipo. Qualquer problema, poderá ligar para nossa central e agendar uma consulta de retorno.

Tão rápido como surgiu e examinou, o médico saiu do local, pedindo para que Cruello o aproximasse. A enfermeira os seguiu, não sem antes dar uma olhada devoradora para o corpo dele.

“ Será que eu também fico olhando para ele desse jeito horroroso?”

~*~

Como o médico havia dito, Igraine foi liberada assim que a papelada foi feita e o soro havia acabado. Com a ajuda de uma enfermeira, ela se levantou e chegou até o saguão principal do hospital. Aquele hospital era mesmo luxuoso, igual aos que via nas séries de TV.

Chegando ali, ela avistou Cruello terminando de assinar alguns papéis e respirando fundo, se aproximou com passos lentos, pois já começava a sentir a dor na coxa atingida.

– Oi.
– Finalmente lhe tiraram do quarto hein! – Cruello estendeu a folha para a recepcionista. – Os remédios que precisa já serão entregues.
– Obrigada. E...que horas são?
– Quatro horas.
– O QUÊ?! - gritou Igraine. – Eu fiquei o dia inteiro no hospital?! Ah, não acredito! Eu preciso avisar o pessoal da ONG! Deixei eles sobrecarregados e hoje iriam fazer a cirurgia da Lilica! Cadê meu celular?!

Igraine começou a remexer na bolsa furiosamente, procurando o celular. Como não o encontrava, ela despejou tudo sobre a bancada da recepção.

– Meu celular, cadê meu celular?!
– ...não tinha celular nenhum em sua bolsa.
– Como não?! Eu nunca deixo o meu...você ficou xeretando na minha bolsa?!
– Eu precisei. – Cruello colocou ambas mãos na cintura. – Quando você desmaiou e precisei te levar ao hospital senão aquelas pessoas iriam me linchar!Procurei o celular para avisar algum parente seu sobre o que tinha acontecido.
– ...então, ninguém saber que fui parar no médico?
– Lógico. Você não é uma celebridade para que alguém dê importância!

Igraine pensou em responder de forma não educada mas se conteve. Afinal, ele a havia acudido de alguma forma e a trago em segurança para o hospital.

– Bom, eu preciso ir embora. Vu ter que ligar para o trabalho e avisar, acho que vão me entender. – virou-se para a recepcionista. – Pode pedir ao médico para me fazer um atestado? Obrigada! E...- ele engoliu em seco. – Quanto...ficou a conta da minha estadia?

Antes que a recepcionista começasse a falar, Cruello cortou.
– Já está tudo pago. Pode chamar uma ambulância para levá-la até sua casa.
– M-mas como assim?! Eu não...você pagou?
– Isso é bem óbvio. – Cruello deu um sorrisinho cínico. – Até porque nunca que você teria condições de pagar á vista uma internação nesse hospital, ainda que fosse no quarto mais básico!
– Ostentação é algo bem idiota, sabia?
– É idiota porque você não tem nada para ostentar.

Igraine já havia fechado os punhos para desferir um soco naquele queixo bem feito quando a recepcionista lhe entregou um saquinho contendo os remédios que teria de tomar e também a receita a ser seguida.

– Recepcionista, trate de chamar uma ambulância para levar essa garota, preciso voltar ao meu trabalho.
– Não posso fazer isso, senhor.
– O quê? Por que não? É o seu trabalho, mulher! Está sendo paga para atender os pacientes!
– Não é isso senhor é que...estamos sem ambulâncias disponíveis.
– Desde quando um hospital não tem ambulâncias?! – indagou Igraine.
– Nós temos ambulâncias. – emendou a recepcionista, constrangida. – Mas é que a maior parte delas precisou ir para a revisão com urgência e as que temos aqui é apenas para casos de emergência como acidentes graves, transplantes ou remoção de pacientes da UTI. Então não podemos disponibilizar uma ambulância para um caso que não seja urgente ou grave.
– Mas que absurdo! – Cruello puxou o isqueiro e o maço de cigarros do bolso. – Onde já se viu um hospital sem ambulância! Que má administração é essa? Quero falar com o diretor responsável! Não terei mais plano de saúde nesse lugar.
– Senhor, não pode fumar aqui. Por favor dirija-se ao setor de fumantes.
– Eu fumo aonde eu quiser! Até porque a má administração de vocês é péssima e eu posso muito bem levar isso á conhecimento público para desmorali...
– Tudo bem! – cortou Igraine já percebendo que as pessoas na recepção assistiam á cena, curiosas. – Eu vou chamar um táxi!
– Não há táxis.
– Como?!

A recepcionista, nervosa, ajeitou os óculos. – Vocês não viram no noticiário? Os taxistas estão em greve.

– Greve?! – Cruello riu. – Como eles podem estar em greve se são trabalhadores autônomos?!
– Não sei, mas acontece que eles estão em greve e exigindo melhorias no sindicato dos taxistas.

A recepcionista aumentou o volume da TV presa á parede, que exibia um noticiário acerca dos protestos de taxistas em uma rua movimentada de Londres. Naquele momento havia começado uma discussão entre os protestantes e a polícia.

– Droga! – praguejou Igraine. – Como vou pra casa agora? Não consigo subir em um busão com a perna neste estado.
– O que é um “busão”? – indagou Cruello levando um cigarro aos lábios mas parando ao notar o olhar da recepcionista apontando para a ala de fumantes.
– É um gíria para ônibus.
– Hãn...nossa, mas que gíria de pobre! Tinha que ser, totalmente ultrapassada e ralé! Como você pode aglomerar tanta coisa ociosa, eu realmente não entendo. Não entendo nem como você pode usar esses brincos hippies horrorosos!
– Quer calar a sua boca, por favor?
– O que você disse, sua aspirante á militante de partido político de esquerda?
– Você é surdo ou quer que eu desenhe?
– Eu te trago para o hospital, pago sua consulta e internação e você ainda vem querendo me provocar? Abaixa essa crista garota, que ninguém canta de galo pra cima de mim não!
– Nossa, para quem critica a gíria alheia, as suas também estão em um nível baixo!
– Sua mal-agradecida do...
– Senhores, por favor. Estamos em um hospital, aqui não é lugar para discussões! – pediu a recepcionista se levantando e mostrando que, apesar da cara rechonchuda, era uma mulher alta e musculosa. – Aconselho que parem com isso. E o senhor deveria levar sua namorada embora, ela acabou de sair de uma internação!
– Ela não é minha namorada.

“ Por que o fato de ele responder isso tão rápido me incomoda?”

– Está bem. – continuou a mulher. – Entretanto, decidam logo e saiam do meio do caminho, pois tenho pessoas para atender! E essa garota, seja ela sua namorada, ficante, amiga ou o que for, não pode ficar andando sozinha por aí depois de desmaiar na rua e ter uma luxação na perna!
– Eu já disse que ela não é minha namo...hey! Aonde você vai?
– ...para casa! – respondeu Igraine, seca. – Toda essa conversa está me deixando com dor de cabeça e já estou sentindo dor na perna, na bunda e no estômago! Não preciso de mais uma dor para fechar o dia!
– Você não acabou de ouvir que não há táxis?
– Vou tentar pegar um “busão” ou caminhar até a estação de metrô mais perto. Com sorte, alguma boa alma samaritana me ajuda a subir e ceder um lugar para sentar.
– Não pode pegar transporte público nesse estado! – falou Cruello satisfeito por saírem do hospital e ele acender um cigarro.
– E eu tenho outra escolha? Esqueci meu celular em casa e não tenho como avisar alguém porque não sei o número do celular de ninguém! E mesmo que soubesse, não iria adiantar porque nenhum dos meus amigos tem carro.
– Você não sabe nem ao menos o número de telefone dos seus pais?
– Impossível. Meus pais estão no meio de algum safári africano nesse momento. De repente até se integrando á alguma tribo queniana.

Cruello a encarou, incrédulo. Que tipo de família essa garota tinha? Percebeu que ela já mancava em direção ao ponto e com um suspiro enraivecido, a puxou pelo braço.

– Venha logo, eu te levo até aquela choupana que você chama de casa!
– Hein?! Mas por-por quê vai me levar? – rapidamente ela afastou o braço dele. – E minha casa não é choupana! Eu posso muito bem ir pra minha casa sozinha!
– Ah e vai desse jeito capenga?! Depois te acontece alguma coisa e vai cair processo pra cima de mim por ter sido negligente e abandonado a pessoa que eu acidentalmente atropelei!
– Ora, então você finalmente admitiu que me atropelou?
– Eu... – Cruello parou antes de voltar o cigarro aos lábios e por um momento, Igraine se pegou olhando para ele. – Ora, bem...não interessa! Vai querer que eu a leve ou não? Se recusar, então nem ouse querer me processar depois se algo te acontecer!

~*~

A BMW seguia pelas estreitas ruas da cidade com grande velocidade e foi cantando os pneus, fazendo manobras bruscas e assustando os passantes e demais motoristas que ela, por fim, estacionou em frente ao pequeno bangalô da pacata rua de construções antigas.

Quando o veículo foi finalmente desligado, Igraine relaxou no banco do passageiro, levando uma mão ao peito.
Em um percurso de menos de uma hora, ela havia visto a morte, no mínimo, umas quinze vezes. Fosse em alta velocidade, em ultrapassar o sinal vermelho, em entrar na contramão, em fazer ultrapassagens arriscadas.

“ Ele deve ter comprado sua carteira de habilitação, só pode ser isso. Como alguém normal é capaz de dirigir dessa forma?! Nunca, nunca mais entro em um veículo dirigido por esse maníaco!”

– Pronto, já está entregue. Pode descer.
Ele não teve resposta ou uma reação da parte de Igraine.

– Está me ouvindo?
– Hãn? S-sim...deixa só..eu me recuperar um pouco.

Cruello a observou e conteve um sorriso de escárnio. Havia dirigido imprudentemente apenas para ver a reação dela. Pensou que Igraine gritaria e coisa do tipo, mas ela permaneceu imóvel, segurando-se fortemente no banco e pálida feito cera.

– ...obrigada.
– O quê?
– Obrigada por me trazer até aqui. – ela suspirou. – E obrigada por ter me levado ao hospital, ter pago a internação e tudo o mais. Sinto ter te causado problemas e o feito perder um dia de trabalho.
– Eu sou o diretor e praticamente dono da Devil’s. Contrato pessoas para trabalharem e lucrarem para mim. Não perco “dia de trabalho”.
– Que bom para você.
– ...serchefenãoétãobomassim.
– O quê?
– Nada.

Igraine olhou para o céu através do vidro. O céu era coberto por densas nuvens escuras, na certa choveria logo. Tinha que entrar em casa logo e acalmar Dois Tons, que tinha pavor de trovões.

– Olha, eu irei pagar todo o custo que você teve com minha internação do hospital.
– Não precisa.
– Claro que precisa! Eu fiquei internada, você pagou e...
– Você nunca conseguiria pagar o valor á vista.
– Posso não conseguir pagar á vista mas posso pagar parcelado!
– Eu não vou aceitar que me pague parcelado uma merreca dessas!
– Quer parar de ficar lembrando toda hora que você é rico?! Eu vou te pagar isso, é uma questão de honra! Já começo te pagando com o que tenho na minha carteira!

Irritada, Igraine tirou da bolsa algumas notas e a colocou no aparador do carro.

– Eu recebo todo quinto dia útil, posso te depositar ou te entregar em mãos até quitar a dívida!
– Mas que dinheiro amassado e moedas miúdas! Parece dinheiro de bêbado! Você não usa carteira como qualquer pessoa normal?
– Eu uso carteira, sim! E dinheiro é dinheiro, não importa o estado em que ele esteja!
– AH, tá bom, tá bom! Vai, desce logo do carro, Ivene, que não quero pegar temporal para ir embora!
– Meu nome é Igraine.

Enfezada, ela abriu a porta e tratou de sair, não sem ter uma notável dificuldade de se colocar de pé. Pelo visto, ficar sentada durante todo o caminho acabou deixando seu corpo mais travado e a coxa ainda mais inchada do que antes. E, para piorar, o efeito do soro estava acabando e a dor começava a voltar.

Com as mãos no volante, Cruello observou a cena. Era óbvio que Igraine estava tendo uma enorme dificuldade para sair do carro, mas ela conseguiu e foi em direção ao pequeno lance de escadas que levava á sua porta. Segurou-se firmemente na barra de ferro da escada e tentou subir no instante em que os pingos de chuva começavam.

“ Droga..calma, calma..eu vou me molhar um pouco mas vai ficar tudo bem. Eu só preciso chegar até a porta e me livrar desse idi...”

Igraine estremeceu quando sentiu um braço circundar sua cintura e algo cobrir seu corpo dos pingos de chuva. Notou o guarda-chuva sobre sua cabeça e Cruello atrás de si. Suas pernas bambearam mas ela tinha certeza que era por causa da fraqueza de não ter comido nada ao longo do dia. Não faria sentido ser outra coisa.

– Que foi? – ele perguntou, ríspido. – Vou te ajudar a subir, se fizer isso sozinha vai chegar na porta só á noite!

Envergonhada, ela aceitou a ajuda e, quando chegaram na porta, a chuva já estava começando a ficar forte.

– Obrigada...é hum...sem querer abusar da sua gentileza, mas já abusando... – murmurou pegando as chaves. – Poderia é..hum...ficar atrás de mim e me segurar?
– O quê?
– É que...o impacto vai ser meio forte e eu não vou conseguir me equilibrar.
– Impacto do que?

A resposta dele foi respondida assim que Igraine girou a chave na fechadura e abriu a porta. Dois Tons, Furacão, Golias e até o gato Mimo avançaram sobre a dona, fazendo a festa e disputando entre si a atenção e os primeiros afagos dela. Eles pularam sobre Igraine, que realmente se desequilibrou e rolaria a escada se Cruello não estivesse atrás.

– Mas que bichos loucos!
– Calma, filhos! Calma. Parem de pular, a mamãe tá machucada!
– Como você pode tratar os bichos como seus filhos?!
– Porque eles são meus filhos! Os animais também tem sentimentos como as pessoas!
– Auauauauauauauauaaucaim!Auauauauau!
– Faça eles para...ah!! MALDITO CACHORRO LARGA MINHA PERNA!!! De novo, olha isso! Esse seu animal é um tarado! !!! Tira essa coisa da minha perna AGORA, que nojo!!!!
– Golias, pare!

Com um misto de raiva e vergonha, Igraine se abaixou para arrancar Golias da canela de Cruello, não sem antes levar uma lambida no rosto desferida por Furacão. Mas ao se erguer, sentiu a dor excruciante na perna, tendo que se escorar no sofá, enquanto seus mascotes a rodeavam com caudas abando e focinhos atentos em cheirar suas roupas.

– Calma, pessoal deixem eu....
– AUAUAUAUAUAUAUAUAMEEEEEOWAUAUAUAUAUAUA!
– Não..espera Furacão, não pula...calma, todos vocês, eu vou falar com todo mundo..só espe..ai...espera eu...
– SAIAM LOGO DAQUI! VAMOS!

O grito de Cruello e o fato de ele bater o pé com tudo no chão, fez todos os bichos se afastarem, acuados.
Igraine queria xingar Cruello por tratar seus bichos daquela forma, mas por mais que odiasse ter de admitir, na verdade isso havia sido bom. Conhecia bem Furacão e os outros, adoravam rodeá-la quando chegava em casa. Isso era ótimo mas não naquele momento, com a dor e o cansaço que sentia.

O som de um trovão preencheu toda a casa, fazendo os animais ganirem assustados e logo o som da chuva intensa dominou tudo.

“ Pelo menos cheguei em casa...oh, não.”

Ela olhou desiludida em direção ás escadas que levavam ao seu quarto. Aqueles degraus eram mais estreitos de subir do que os da fachada da casa. Mas precisava ir até lá. Só no segundo andar havia roupas para se trocar e o chuveiro.

– Já que está entregue, eu vou embora.
– Hãn...tá...

Igraine amuou. Não sabia o que fazer. Queria e ao mesmo tempo não queria que Cruello ficasse. Ele literalmente tocava o terror em seus animais de estimação e só a humilhava. O que ele tinha de beleza, tinha de falta de educação com as pessoas.

– Não vai abrir a porta para mim, como uma boa anfitriã?
– O quê?! Como tem a...ei, não fume aqui dentro! O cheiro de cigarro vai empestear a casa!
– O cheiro do meu cigarro vai é afastar o cheiro de cachorro molhado da sua casa!
– Quer saber?! – rosnou ela entredentes. – Abra você mesmo a porta, já que tem braços! Pode ir embora, daqui eu me viro sozinha!

Emburrada e com mais raiva de si mesma pelo fato de sentir aquele embrulho no estômago toda vez que olhava para ele, Igraine começou a tentar subir as escadas. A dor e a dormência na perna haviam aumentado, de modo que para subir o primeiro degrau, ela precisou se apoiar com uma mão na parede e com a outra levantara perna machucada pela batida.

Enquanto ela tentava subir com notável dificuldade e evitar gemer de dor, Cruello a observou com ambas mãos na cintura e o cigarro nos lábios.

“ Porque diabos eu ainda estou aqui, me incomodando com essa chata? Já fiz mais do que o necessário por tê-la atropelado! Sou uma pessoa ocupada, preciso ir na empresa. Essa casa é um incômodo, tem pêlo pra tudo que é lado!Como alguém consegue viver no meio desses bichos, deixando eles dormirem na mesma cama?! Se eu pegar pulgas por ter ficado aqui, juro que vou processar! Afe...essa tonta não percebe que não vai conseguir subir sozinha?”

– Se continuar nesse ritmo, chegará no quarto só amanhã.
Sem resposta. Igraine tentava avançar agora para o segundo degrau.
– Vai acabar piorando o ferimento e vai ter mais trabalho e mais gasto para se recuperar.
Igraine, controlando o suspiro de dor, segurou a perna para colocá-la no degrau seguinte.
– Isso se não rolar da escada quando chegar ao topo e ter fraturas graves.

Igraine parou, sentindo a dor na perna mesclar-se com o enjoo e a dor de cabeça que começava. Porque ele ainda não tinha ido embora? Só estava piorando sua situação. Respirou e tentou avançar.

– Ah mas que chatice!

Quando Igraine pensou em se virar e mandar ele ir para o quinto dos inferno com seus malditos cigarros, percebeu que Cruello estava atrás de si, contornando sua cintura com o braço e ficando ao seu lado exatamente como antes, nas escadas da entrada.

– O..o...o que v-você...está fazen...fazendo?!
– É insuportável ver você tentando subir essa escada.! Me dá agonia, garota! Vou te ajudar a subir e depois vou embora! Então, vamos lá!

Igraine sabia que estava corada feito um tomate maduro e suas pernas bambearam. Mas essa segunda reação obviamente seria pela dor na perna. Cruello tentou subir na escada ao mesmo tempo que ela e ao seu lado, mas os degraus eram estreitos demais.

– Mas que horror! Onde já se viu uma casa tão apertada assim?! Como consegue viver nessa choupana velha e pequena?!
– ...não chame minha casa de choupana! Essa casa era dos meus avós e eles cederam ela para mim para que eu pudesse morar em Londres e trabalhar aqui!
– Fica quieta e sobe, estou te fazendo apoiar todo seu peso em mim e isso não é fácil, sabia?
– PARE! PARE! Não tem como nós dois subirmos ao mesmo tempo pela escada! Deixa que eu me viro sozi...AAAH!

Todo o corpo de Igraine gelou quando aquilo aconteceu. Sem aviso, Cruello a pegara no colo, apoiando-a em seu peito para manter o próprio equilíbrio.

Igraine não sabia como reagir. Na verdade não conseguia reagir. Aquilo não poderia estar acontecendo, não fazia sentido. E não fazia sentido que o seu corpo estivesse literalmente travado, exceto por uma parte dele que ela agradecia por ninguém saber que estava reagindo de uma forma completamente errônea e constrangedora. Quando conseguiu finalmente olhar para ele e agradecer, notou que ele já a olhava. E seu coração disparou até que ouviu.

– Você é realmente pesada, hein? Não é á toa que sua bunda amassou a lataria do meu carro.

Todo o recente tesão de Igraine se dissipou e ela fechou a cara.

Cruello subiu as escadas com a garota em seus braços e, quando entrou no único quarto que havia, fez uma expressão de desagrado. Aquele quarto era na verdade o porão da casa, só que reformado. Um local apertado, repleto de tralhas, com móveis simples, uma cama de solteiro, um armário, uma escrivaninha com computador e algumas prateleiras atulhadas de livros, quadrinhos e enfeites. Havia também alguns pôsteres na parede e um aparelho de som no canto.

Mas o que deixou realmente Cruello intrigado, foi a variedade de objetos e traquitanas com o tema de Princesas Disney que ela possuía no quarto. Teria Igraine algum retardo mental ou realmente era uma colecionadora e admiradora de tais coisas que foram mantidos mesmo com o fim da infância? Isso talvez desse uma boa tese de mestrado em psicologia...

Cruello estava tão absorto em observar aquele quarto minúsculo em que tudo o enfadava, que não percebeu o surgimento do vira-latas Furacão, que entrou no quarto feito um buscapé, passando por entre suas pernas.

– Mas o quê... oooohaaaa!
– Auauauauauauauauauaaua...caim!
– Gyaaah!!!
– AH CACETE!

A intromissão de Furacão no meio de seus pés, fez Cruello perder o equilíbrio e tombar para frente, caindo por cima de Igraine sobre a cama. Ela soltou um gemido quando suas costas afundaram no colchão e o corpo de Cruello se comprimiu contra o seu.
Quando se deu por si, Igraine estava com as mãos no rosto dele, suprindo a mínima distância que os separava e tocando seus lábios aos dele em um beijo.

~*~


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Notas finais do capítulo

É hum...terminei este capítulo aqui.
Por favor, não tentem me matar por terminar o capítulo desse jeito pois se me matarem não terão a continuação @_@.
Elogios, críticas e sugestões, fiquem á vontade! Deixem comments ^^