The Cruel Beauty escrita por Tsu Keehl


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Como sempre, peço desculpas para atualizar a fanfic! Quando vi o tempo passou mega rápido mas devo merecer um desconto porque nesses últimos meses tive um problema de saúde na família e acabou ficando muita coisa acumulada. Fora que tive uns ensaios de cosplay, estudos por conta, trabalho, projetos de photoshoots...e esse mês fiquei cheia de aniversários e minha conta já tá no vermelho por conta dos presentes que tive que comprar @_@
Olha eu posso ter demorado pra atualizar a fanfic mas para compensar esse capitulo da fazenda está muito maior do que os outros! Sim! Tá acontecendo coisa pra carai nele, é o famigerado capítulo da ida do Cruello á fazenda!!! Então espero que ele compense um pouco a tremenda falha que tive para atualizar.
Enfim, não vou me estender muito aqui porque sei que vocês querem ler a fanfic então...boa leitura!



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~*~


— Já estamos chegando?
   Igraine bufou um “não” e tornou a olhar através da janela do carro. Desde que haviam saído de Londres e pego a rodovia em direção acidade provinciana de Bibury, Cruello fazia questão de aporrinhá-la com a pergunta praticamente de 5 em 5 minutos.

— Está irritada? Eu que deveria estar irritado por estar tendo que ir para o meio do mato.
— Lá não é meio do mato..é uma fazenda!
— É a mesma coisa. Um local onde não existe poluição é totalmente antiquado e... – Cruello freou bruscamente e apertou a buzina. – Ô, seu imbecil! Seta não é cú! Dá sem medo!

  Igraine arregalou os olhos diante da atitude de Cruello para com o motorista do carro á frente. Como se não bastasse o fato de ele dirigir como um louco o tempo todo, ainda era grosseiro com qualquer motorista que não respeitasse as leis de trânsito (muito embora ele sempre violasse boa parte dessas tais leis).

— Vai com calma, Cruello! Eu pretendo chegar com o pescoço no lugar na casa dos meus avós!!   Cuidado! - Igraine bufou enquanto alisava o peito, onde o cinto apertara.
— Ah, parede reclamar. Já estou fazendo muito tendo que ir na fazenda com você. Onde já se viu...eu, em uma fazenda!

   Ele virou o carro para a direita por indicação do GPS se deparando com uma longa estrada de terra. Freou bruscamente.

— Terra?!
— Eu pensei que um Devil era comprometido com suas promessas... Temos um acordo Cruello. Você prometeu! - Igraine lançou um olhar fulminante para Cruello.
— Mas isso é uma estrada de terra! Cadê o asfalto?! Você não me disse que para chegar a fazenda tinha que passar por uma estrada de terra! Vai estragar as rodas do meu carro!
— É só uma estrada de terra Cruello, você não vai morrer se passar por uma! - Igraine revirou os olhos impaciente. - Ou prefere que eu conte a todos quem é o verdadeiro herdeiro da Devil's?

    Cruello bufou, engatando a marcha.
— Vou atravessar isso bem devagar!

    O caminho através da estrada de terra foi demorado naquele comecinho da manhã. Igraine abriu o vidro do carro, podendo sentir o vento nos cabelos e aspirar o ar puro do campo. Em ambos lados da estrada de terra podia observar os campos, plantações, gados no pasto e uma ou outra pequena casinha.

   Que saudades que estava !
— Consegue sentir o aroma maravilhoso no ar? Fazia tanto tempo que não vinha. - Igraine lançou um sorriso maravilhoso para Cruello
— ...tem cheiro de merda de vaca.
— Você é um idiota Cruello, não sabe aproveitar as coisas boas da vida. - Igraine comentou - Você não vai mudar o meu humor hoje. - Ela continuou sorrindo.
    Igraine abriu um sorriso ainda maior, apontando para a frente, na direção de um grande campo onde havia um grande celeiro pintado de amarelo.
— ALI! Ah, a fazenda! Que saudades!!!!

    Atravessaram a porteira que estava aberta e Cruello estacionou o carro em frente á casa, que era revestida de madeira e muito bem cuidada, com um jardim á frente e plantas espalhadas pela varanda.
    Mal o carro foi desligado, Igraine saiu do mesmo, empolgada feito uma criança.

— Vovô! Vovó!! Eu cheguei!
    Uma mulher da altura de Igraine saiu correndo de dentro da casa agarrando Igraine no meio do caminho, enquanto um homem vinha logo atrás recepcioná-los.

   Cruello respirou fundo, colocou os óculos escuros e saiu do carro. No momento que o fez, sentiu que suas botas pisavam na terra.
— Hãn... - ele resmungou. – Eu odeio esse tipo de lugar!

    Irritado, bateu a porta do carro com força enquanto acendia um cigarro e se aproximava, da forma mais elegante e metida que conseguia.

— Christian!! - Anita esbravejou, indo em direção ao rapaz, arrancando o cigarro de suas mãos e desferindo um forte abraço no rapaz. - Como você ficou bonito! 
— Mas hein?!

  Igraine virou-se aturdida para Cruello. Como assim a sua avó sabia o nome dele?!  Ao olhar para Cruello percebeu que ele estava tão surpreso quanto ela.

— Eu já havia visto fotos suas em capas de revista mas pessoalmente você é muito mais bonito!  E como está alto! A última vez que o vi você mal passava do meu joelho!
— Vovó, a senhora o conhece? - Igraine encarou a avó, enquanto Cruello fitava as duas em choque.
— Eu e Cruella éramos amigas de infância... Estudamos juntas até o colegial.
— Aí a Cruella se envolveu com um magnata enquanto sua avó preferiu a mim. O que foi bom porque assim ela se afastou da influência negativa da família Devil!

  Um senhor de idade magro e de cara fechada se aproximou. Ele mediu Cruello de cima á baixo com uma expressão de asco. Antes que Igraine pudesse falar qualquer coisa, ele falou.

— Era essa coisa que você está namorando, Igraine?
— Coisa...?! Como ousa, seu velho caquético?!
— Fica quieto, playboyzinho... Não é porque está namorando minha neta que vou te aceitar! Anita e Igraine podem ser bobas, mas eu não...estou de olho em você, Devil!
— Continua me olhando mesmo, sei que sou irresistível.

   Roger encarou a neta.
— Igraine! Com tanto homem do mundo você escolhe pra namorar justo um  Devil?!
— Oi vovô! Que saudades!  - ela abraçou o avô, que desfez a carranca e abraçou a neta.
— Vamos entrem, entrem! - Anita agarrou o braço de Cruello . - Preparei umas coisinhas para vocês lancharem, devem estar exaustos da viagem. Roger, chame algum dos empregados para ajudar a levar as malas deles até o quarto de hóspedes!

Anita sorriu, enquanto via o homem resmungar.
— ...esse pirralho... Minha neta... Unf... Má escolha! Muito ruim!

    Cruello colocou os óculos de sol em cima da cabeça assim que entraram na casa, observando o local. Tudo ali tinha uma aparência aconchegante, com o típico design do interior, com suas toalhas de crochê e enfeites rústicos. Aquilo era excessivamente...tradicional.

— Isso parece uma casa de campo. - ele sussurrou para Igraine.
— É uma casa que fica no campo, logo é uma casa que parece casa de campo! – ironizou Igraine. - Vovô e vovó sempre gostaram de muito conforto e tradição. E você gostando ou não, vamos passar o fim de semana aqui!

   Cruello resmungou baixinho. Desde que haviam transado, Igraine estava mais “bocuda” com ele do que antes.
  Anita guiou o casal até a cozinha, onde já havia sido posta uma mesa de toalha xadrez,um farto café da manhã.

— Nossa, estou com fome!
  Igraine se sentou e já começou a se servir. Cruello sentou-se de frnete para ela e,  em cada ponta da mesa, sentaram-se Anita e Roger.

— Gostaria de chocolate quente, café, café com leite, suco, chá? – perguntou Anita simpática para o rapaz. – Tem bolo de cenoura, bolo de milho, bolo de chocolate...ah e esses pães caseiros estão uma delícia! Ah e você gosta de frios? Pedi que comprassem esse salame que é muito saboroso principalmente acompanhado por queijo e...
— Não perca seu tempo desperdiçando comida, Anita! Pessoas do nível dele, não são do tipo que apreciam comer na casa de pessoas comuns.
— Pode colocar uma caneca cheia de achocolatado para mim e me veja um sanduiche de salame e uma fatia desse bolo de cenoura. – ele encarou Roger. – A genética Devil é única e sublime e temos facilidade para mantermos uma excelente silhueta independente de quanto comemos ou deixamos de comer.
— Ah, seu moleque...! A genética Devil só servia para causar desaforo onde quer que passavam! Olha só para você, todo fabricado, parece um metrossexual afetado! Igraine, o que você tinha na cabeça para ficar com alguém da família DAQUELA mulherzinha maligna?! - Roger alfinetou. – Esqueceu o que aquela maluca fazia, desfilando e se gabando de usar peles de animais como adornos?! – ele se virou para Cruello. – Quando ela era pequena e eu contei sobre o que aquela maluca tentou fazer com os meus dálmatas! Igraine ficou horrorizada  e a partir daquele dia teve horror de pessoas que usam casacos de pele!
— ...eu conheço essa historinha do “sequestro dos 99 dálmatas”. – respondeu Cruello irônico. – E convenhamos que é um politicamente correto militante exagerado. O que minha digníssima tia-avó fez não foi um crime hediondo.
— Como não foi?! Ela ROUBOU cachorros que não lhe pertenciam depois que eu me recusei a vendê-los! E ela comprou vários outros filhotes para matá-los, arrancar suas peles e transformá-los em um casaco para se exibir!
— ...e daí?
— E daí? Como “e daí”?! Isso é crime, é crueldade! É proibido!
— Não existe nada na lei que impeça alguém de fazer casacos de pele de animais não ameaçados de extinção. E outra, ela comprou os 84 cachorros então ela pode fazer o que bem entender com eles!
— Mas que absurdo! Igraine, veja bem... É ESSE TIPO de pessoa que você quer namorar?! Se não tomar cuidado ele vai pegar a sua dálmata e fazer um casaco!
— Um cachorro só não dá pra fazer um casaco. Teria que ser no mínimo sete.
— Olha só! Veja, veja! Ele é igual a Cruella! Já está no sangue dessa família!
  Cruello conteve um sorriso provocador, servindo-se de bolo.
— Vovô, eu acho que o Cruello só quis te pro...
— Igraine, as pessoas dessa família não são confiáveis! Além de serem capitalistas altamente insensíveis, eles são de seitas satânicas! Aposto que ele te enfeitiçou! Você precisa de uma benzedeira pra desfazer o trabalho!
  Igraine não sabia se ria ou se argumentava com o avô. Só esperava que Cruello não piorasse a situação
— Ela foi enfeitiçada sim. – falou o rapaz. – Mas é que eu tenho um magnetismo divino natural, herança da família Devil. Posso estar vestido inteiramente com peles de animais em extinção que ainda assim todo mundo vai me admirar.
— Só vão admirar os filhos da puta capitalistas e insensíveis como você! Ninguém de caráter irá...
— Que eu saiba o processo que tentaram mover contra minha tia-avó acerca do caso dos dálmatas não deu em nada exceto uma balbúrdia de ativistas chatos que em nada afetaram o nome da Devil’s e da família Devil.
— Ah, para mim chega! Igraine, isso é um absurdo! Não tinha ninguém melhor para você namorar, não? Esse aí só vai te decepcionar!
—ROGER!! - Anita exclamou, irritada. – Já chega! Estamos aqui para confraternizar e  não brigar! Christian é nosso convidado, e apesar dele ser parente da Cruella, não é ela!  E vamos olhar pelo lado positivo!  Dê graças a Deus que conhecemos ele e a familia....já pensou se Igraine estivesse com aquele punk revoltado por quem ela se apaixonou na adolescência quando foi á Londres?! Aquilo sim seria um perigo!

    Cruello engasgou com o achocolatado e Igraine com o pedaço de pão que mastigava ao ouvirem as palavras de Anita.

— Vocês estão bem?
 ..cla-claro vovó... - Igraine olhou para Cruello, que a olhou de volta. - Está tudo bem...
— Ainda assim isso não me convence! – resmungou Roger comendo uma fatia de pão com manteiga. – Onde já se viu a minha única neta...
— Igraine, você precisa terminar logo de tomar esse café e levar Christian para conhecer a fazenda, tenho certeza que ele vai adorar conhecer o lago e os pomares, mostre nossos estábulos também! Talvez ele goste de andar á cavalo!

  Roger revirou os olhos. Era desperdício de tempo tentar ser simpático e gentil com um Devil, ele sabia muito bem. E  definitivamente aquela coisa Devil afetada ao seu lado não era o tipo de homem que gostaria de ver ao lado de sua neta.

— Como estão as coisas em Londres? – perguntou Anita sorridente. -  Faz muito tempo que não vou até a capital.
— Londres é uma cidade maravilhosa. – Cruello aceitou um biscoito que a senhora lhe servira.- Um lugar que respira globalização e...AIEEEE!!!!!!!
— Opa, me desculpe! - Roger após empurrar a xícara de chá sobre a camisa de Cruello. - Sinto muito pelo acidente....sabe como é...velhos e mão frágeis e trêmulas, não consegui segurar a xícara...ah a idade....

   Cruello estreitou os olhos e pôde notar o escárnio nos olhos do velho. Uma aura assassina pairou na cozinha e Igraine percebeu o olhar de raiva que os dois homens trocavam.

 - Pela deusa... Vovó, posso levá-lo para trocar a camisa?
—Oh, claro! Já pedi que nossos empregados levassem a bagagem até o quarto de hóspedes. Por favor Igraine, aproveite e mostre a casa para o Christian!

  Assim que o casal se afastou (com Cruello praguejando que sua camisa exclusiva iria ficar manchada), Anita olhou feio para o marido.
— Por que você  precisa agir desse jeito com o rapaz?!
— ...eu disse, foi um acidente.... – ironizou o velho, bebendo seu chá.

~*~

   Como Anita havia dito, as bagagens de Cruello haviam sido colocadas no quarto de hóspedes.

— Está de brincadeira que todas  essas malas são suas?!
  No quarto havia cerca de três malas de viagem de cor preta e branca.
— Eu só trouxe o essencial.
— Essencial é o que eu trouxe! – ela apontou para a mochila rosa que lhe pertencia. – Quem vê pensa que você está indo ficar três meses na Finlândia!
— Já me basta o seu avô insuportável me aporrinhando...não me venha aporrinhar também! – ralhou ele trocando de camisa. – Ah esse ar do campo está fazendo mal á minha pele!

  Ele foi até uma das malas, tirando dela uma grande valise de metal com estampa de onça. Igraine olhou  para aquilo intrigada, se surpreendendo como  tanto de cremes, maquiagem e pincéis que ele possuía. Era sério que Cruello Devil usava tudo aquilo e ainda por cima em uma valise? E ela com uma necessárie de mão pequena...

— Bom..eu vou até o meu quarto....vem comigo?
  Cruello suspirou mas a seguiu. O quarto de Igraine ficava um pouco mais á frente no mesmo corredor. Na porta havia  uma plaquinha de flores com o nome Igraine escrito.
— Está praticamente igual a quando eu o deixei!

     Igraine entrou em seu quarto encantada. O sol da manhã entrava pela janela, iluminando o delicado aposento e lhe dando uma aparência agradável e aconchegante. Atrás de si, Cruello ainda segurava a barriga, sentindo-se estufado. Ficar perto de senhorinhas de idade simpáticas que lhe ofereciam comida em abundância não era  bom sinal. Ao ver o quarto de Igraine, ele fez uma careta.

  O quarto era bem maior do que o da casa dela em Londres mas parecia pertencer a uma garota adolescente. Todo em tons pastéis, com colha e cortinas de babados, móveis  brancos me estilo clássico, com bonecas e bichos de pelúcia cuidadosamente arrumados. Havia uma escrivaninha com cadernos de capas fofas, diversos lápis de cor e prateleiras com miniaturas de bichinhos. Notou, em cima da penteadeira em estilo clássico com, um mural repleto de fotos presos com imãs de flores. Cruello se aproximou, olhando as fotos. Elas mostravam Igraine  como uma criança gordinha, depois na época da escola – inclusive uma festa na qual ela estava vestida de caipira –  algumas com os avós na fazenda, montada á cavalo, diante de um bolo em algum aniversário...todas elas, Igraine parecia muito feliz. Notou então uma foto em que ela aparecia entre um casal.

— São seus pais?
— Hum? Ah, sim...
— Eles estão sempre viajando pelo mundo e não foram muito presentes, aí... Calhou dos meus avós cuidarem de mim. - Igraine lançou um olhar triste para Cruello.
— ...dependendo dos pais, eles nem fazem falta em nossa vida. - Cruello falou, olhando para o quarto. - Então...esse é o seu quarto...parece quarto de boneca.
— Eu sou a única neta, o que você queria? Minha avó sempre quis uma menina, mas só tiveram meu pai... eu fui muito esperada até então. - ela sorriu alisando a roupa de cama. – Você também é filho único que eu sei...e aposto que foi mimado igual um príncipe.
— Hum...e vamos ficar aqui no quarto da princesinha? - ele ironizou. - Ou vai me mostrar essa fazenda onde você viveu?

~*~

“Péssima ideia, Cruello! Onde eu estava com a cabeça de induzir ela a me levar para passear nessa maldita fazenda?!”

   Cruello caminhava exausto através de uma trilha de terra que margeava os vastos campos da fazenda. O sol brilhava naquela manhã e ele já fora obrigado a abrir o guarda-chuva para se proteger dos raios ultravioleta.

  Igraine caminhava saltitante alguns passos á frente. Era ótimo estar de volta á fazenda, respirar o ar puro, admirar as paisagens verdejantes e se sentir em contato com a natureza. Já fazia quatro meses que não vinha e concluiu que deveria voltar mais vezes. Uma parte de si sempre pertenceria  aquele lugar. Olhou na direção de Cruello e teve de segurar o riso.

  Ele usava bermudas (o que acentuava a brancura de suas pernas), coturnos, camiseta, colete repleto de bolsos, boné, o guarda-chuva em uma mão e o inseticida na outra.

— Cruello, nós estamos passeando pela fazenda e não fazendo um safári.
— É quase a mesma coisa! É um lugar inóspito, selvagem e repleto de perigos! Ainda acho que deveria ter trazido um rifle! – ele passou inseticida á sua frente. – Malditos insetos que me perseguem! Não irão chupar o meu sangue, NÃO VÃO!!
  Ele gritou, espalhando inseticida em toda a sua volta.

  Igraine balançou a cabeça descrente e tornou a caminhar. Pelo menos por mais que Cruello reclamasse, em nenhum momento ele havia pedido para que voltassem ou algo do tipo. Passaram próximo aos estábulos e logo o cheiro de animais dominou.

— Mas que carniça toda é essa?! – ralhou o rapaz. – Que horror! Estamos em um lixão?!
— Ora pare...não está um cheiro tão forte assim. É só os estábulos e o chiqueiro...
— Você leva o seu namorado para passear em um chiqueiro?! Ficou louca, Igraine?! – ele espirrou inseticida em uma mosca até que a coitada morresse sufocada. – Eu vou ficar com cheiro de esterco impregnado em minhas roupas e...puta que te pariu! Vocês criam hipopótamos aqui?!
— Hein? Claro que não!
— Então que monstro é aquele?!

  Cruello apontou para um enorme animal rosa que chafurdava na lama do chiqueiro.
— ...é só um porco.
— Olha o tamanho disso! Olha o tanto de bacon que isso pode oferecer!
— Ai credo! Não vamos matá-lo! Meu avô ganhou ele em uma rifa durante um festival anos atrás. Era um porquinho tão fofinho...mas cresceu rápido.

  Ela então ouviu som de latidos e foi na direção. Cruello olhou aturdido para o  porco mas quando o animal o encarou, ele saiu atrás de Igraine á passos rápidos.
  Igraine viu um pouco mais á frente no campo, um bando de cachorros das mais variadas raças e tamanhos brincando alegremente. Ela reconheceu todos de imediato. Levou a mão aos lábios, assoviando com força. No mesmo segundo os cães pararam, erguendo as orelhas na direção do ruído e, ao notarem Igraine, correram em sua direção, as caudas balançando freneticamente.  Cruello assistiu, chocado, os cães saltarem sobre Igraine, latindo, mexendo as patinhas, ganindo e fazendo a maior festa. A garota sentou-se no chão quando um grande pastor alemão saltou sobre ela. E logo lá estava ela rolando na grama na companhia dos cachorros que pareciam adorá-la. Cruello conseguiu contar cerca de dezoito cães ali e ver sua namorada totalmente feliz naquele meio de pelos, lambidas e latidos, Cruello se viu diante de um sentimento conflitante de surpresa e susto.

~*~

Roger Radcliffe abriu silenciosamente a porta do quarto de hóspedes, tendo a certeza de que nenhum dos empregados estava por perto. Adentrou no quarto, deixando a bengala de lado e dando uma olhada para a quantidade de malas que Cruello trouxera.

— Que exagero...igualzinho aquela baranga da Cruella.... – ele começou a abrir a mala e xeretar nas roupas. – Que peças escandalosas...Igraine fez uma péssima escolha, péssima!

  Caminhou até a valise com estampa de oncinha olhando abismado para o  tanto de maquiagem e cremes que havia ali.

— Posso saber o que você está fazendo?
  Ele virou-se assustado, encontrando Anita parada na porta, os braços cruzados.

— Olha isso, Anita! Nossa neta fez uma péssima escolha, esse moleque deve ser daqueles tipos transformistas! Olha a quantidade de tralha que ele tem?! Veja!!! - ele apontou para um hidratante caro. - Você já viu algum homem usar isso ?!!! Absurdo!!!
— Pare com isso, homem! Você devia dar graças a Deus por Igraine ter encontrado alguém de quem ela goste.  Não lembra o quanto essa menina sofreu por causa do rapazinho de Londres? Christian pode ter os trejeitos dele, mas vem de boa família e...
— Boa família?! Ele é um maldito Devil!!!!
— ... e nós dois sabemos que ele gosta dela... é só ver como eles se olham. Agora trate de deixar essas coisas aí, não mexa em nada! - Anita ralhou se aproximando e fechando a valise. - Pare de atormentar o rapaz! Se continuar assim, eles não irão querer mais voltar!
— Não faço a mínima questão desse afetado voltar! Seria bom que fosse para o raio que o parta!  Igraine estaria melhor sem ele! Já pensou se ela ficar prenha dessa coisa?!
— Ela  não é uma égua para ficar prenha!v E saia já daqui! Está na hora do seu remédio, vamos!

  Anita conseguiu empurrar Roger para fora do quarto, que continuou resmungando.  Ela suspirou, fechando a porta e decidida a manter vigilância para que o marido não atrapalhasse o namoro da neta.

“ Afinal, Igraine realizou um verdadeiro milagre sendo capaz de fazer o Christian se apaixonar por ela. Não deve ser fácil conseguir conquistar um homem como ele, ela não pode acabar perdendo-o por uma coisa besta! Melhor um Devil do que um punk indigente de Londres...”

~*~

  Após o alvoroço dos cães terem passado e Igraine lhe contar quem era cada cachorro (algo que Cruello fingia ouvir enquanto pensava em tudo que precisava fazer na Devil’s) ela tentou se aproximar do namorado que se afastou rapidamente.

— O que foi?
— Não pense que vai me abraçar depois de se esfregar nesses cachorros e muito menos encostar sua boca na minha! Um monte de cachorro lambeu sua boca e você sabia que cachorro tem o hábito de lamber o próprio ânus?!
— Nossa Cruello, como você é chato...
— Chato? Eu sou higiênico! Você precisa se lavar!
— Me lavar? Boa ideia!
— Sim! Vamos voltar para a casa... xô! PASSA! – ralhou ele quando alguns cachorros tentaram se aproximar para farejá-lo. – Não me passarão pulgas!
— Vou me lavar no lago.
—QUÊ?!

  Igraine ia até um pequeno lago mais á frente. Cruello precisou se esquivar dos cachorros (o  Labrador parecia visivelmente interessado nele) e viu Igraine se despir da camisa e dos sapatos, ficando apenas de shorts e regata com um sorriso infantil.

— O que você...Igraine, pare. Você não deve entrar aí!
— Nado aqui desde pequena. Venha! A água daqui é maravilhosa! - Igraine mergulhou tão divinamente que por alguns segundo Cruello perdeu a fala.
— Jamais!!! - ele se recompôs. - Onde já se viu eu, Cruello Devil, nadar em um lago! Essa água está cheia de bactérias, não é água devidamente tratada! Há bichos vivendo nela! Bichos que podem morder ou entrar por nossos orifícios! Vi um documentário uma vez de uma espécie de peixe que...
— Vamos Christian! - Igraine sorriu enquanto emergia da água escura, o máximo que pode acontecer é você esbarrar em um peixe..mas os peixes aqui são lisinhos e fazem cócegas!Além do mais, é água corrente, não tem bichos que vão entrar em os seus orifícios! - ela rebateu, paciente. - Essa água tem propriedades benéficas para a pele!  Vai te hidratar!
— Primeiro, não me chame por esse nome, já falei! Segundo,  nada do que você me diga irá me convencer a entrar aí! - ele circundou o lago, achando um pedaço grande de um galho de árvore o qual pegou, se aproximou da margem e o estendeu na direção da garota. - Vamos Igraine. Saia desse lago imediatamente e vamos para a casa dos seus avós. Venha logo!

  Igraine suspirou. Cuello não tinha jeito mesmo.
— Está bem...mas o galho está muito longe, não consigo alcançar.
  Cruello deu dois passos para frente, esticando o galho
— Mais perto, Cruello! Ainda está longe!
— Chega! – ele bateu o pé, largando o galho. -  Se acha que eu vou me aproximar  para você me puxar e eu cair nesse lago está enganada! Você está lidando com Cruello Devil e não um caipira paspalho! Quer ficar no lago? Então fique! Eu vou voltar para a casa onde há um mínimo de higiene e civilização! 

    Ele deu as costas e tornou a subir o pequeno morro para longe do lago. Mas, quando estava na metade, pisou sobre uma pedra, que rolou e o fez perder o equilíbrio. Cruello ainda tentou se equilibrar mas como não havia nada em que pudesse se segurar, caiu estatelado na terra e seu peso fez com que ele próprio deslizasse pelo barranco e caísse sentado nas margens do lago.

— Há....hahahahahahahahahahahahahahahahha!
— ...não ria!! – ralhou ele entre dentes percebendo que estava com lama nas roupas, braços e pernas.
— De-desculpa... – Igraine arfou e tornou a rir. – Não dá...pra evitar foi...muito engraçado!- MALDIÇÃO!! – gritou ele batendo as mãos com ódio na água. – Eu odeio lagos! Odeio terra! Odeio fazenda! EU ODEIO ESSE MALDITO LUGAR!

~*~

  Escurecia na fazenda. Os animais haviam sido recolhidos para o celeiro e as luzes da casa foram acesas. O silêncio era total, exceto pelo cricrilar incessante dos grilos e um ou outro coaxar de sapos e pios de corujas.

   Desde que caíra no lago, o humor de Cruello piorara. Mesmo molhado e sujo, ele não parou um segundo de reclamar e surtar pelo que havia lhe acontecido até o caminho de volta á casa. E quando o casal de idosos o viu, Cruello deixou as explicações por conta de Igraine e foi ao banheiro tomar um demorado banho. Anita ficou estarrecida enquanto Roger desatava a ir.

  Igraine tentou puxar assunto com Cruello ao longo do dia mas não obteve muito sucesso. Optou por deixá-lo na varanda mexendo freneticamente no celular (estaria ele xingando muito no Twitter?) e foi caminhar pela fazenda, verificando as criações e plantações. Só á noite que Igraine, deixando de lado seu orgulho, pediu desculpas (pelo quê ela nem sabia direito mas achou que seria uma boa forma de fazer Cruello voltar ao normal) e lhe ofereceu um pedaço de bola de brigadeiro para selarem as pazes.

— Não vá achando que irá me comprar desse jeito. – resmungou ele servindo-se de mais uma fatia. – Nunca vou esquecer o que aconteceu e garanto que vai ter volta!

  Anita apareceu carregando uma bandeja com chá. Roger vinha atrás e sentou-se em sua poltrona, lançando um olhar feio para o casal sentado no sofá.
— Então.. – Igraine começou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. – Me diga vovó. Como estão as coisas por aqui? Dei  uma volta pela fazenda e parece que estão com mais galinhas...
— Ah sim, recentemente muitos ovos chocaram e os pintinhos crescem muito rápido!

     Enquanto as duas mulheres conversavam sobre animais, Cruello percebeu o olhar carrancudo de Roger para si enquanto ele fingia prestar atenção em um programa de talk show na televisão, com pessoas evidentemente estúpidas que não acertavam uma única questão apresentada e perguntavam aos supostos universitários, que sabiam menos do que elas.
  A sombra de um sorriso passou nos lábios de Cruello e ele ousadamente colocou a mão sobre a coxa de Igraine, apertando-a com vontade.

— LARGA MÃO DE SEM VERGONHICE, SEU TARADO!
— Caalma... – ele falou diante da explosão de Roger, que assustou as duas mulheres. – Eu não fiz nada que um namorado não fizesse.
— Namorado...absurdo...
— Relaxa,vovô... – ironizou Cruello.- Eu sou macho suficiente para... AIEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!!!
  Cruello deu um pulo do sofá, caindo em cima de Igraine.

— O..o que foi?!
— Um monstro! Um bicho nojento, asqueroso!

  Ele apontou para um besouro brilhante e gordo que entrara pela janela e voava em torno do lustre.
— Ah é um bichinho que não faz mal algum...
  O besouro desnorteado pela luz, voou na direção de Cruello.
— AIEEEEEEEEE! SOCORRO!!! TIRA ESSE DEMONIO DE  PERTO DE MIM!

   O besouro posou no meio da cabeça de Cruello e ele começou a gritar desesperadamente, se agitando como se tivesse baixado o espírito da Pomba-Gira e a propaganda na TV anunciando o documentário sobre rituais musicais de religiões africanas só tornou a atmosfera de terreiro ainda maior.

  Vendo o desespero dele, Igraine enrolou uma revista e tencionou atingir o besouro e mandá-lo para fora mas na hora que faria isso, o besouro levantou voo e ela deu uma revistada na cabeça do empresário.

— AU! Porque você me bateu!
— Desculpa! Eu só queria ajudar...

   Cruello tirou a revista das mãos dela, enrolou como se fosse um bastão e ficou em posição. Quando o besouro tornou a voar, ele o atingiu em cheio, mandando-o para o canto da sala. Com o inseto ainda zonzo, ele pegou o inseticida que levava consigo ao longo do dia e atacou , esvaziando quase metade do fraco no  bicho.

— Ninguém mexe com Cruello Devil!  - se virou para os presentes. – Se me atacar, eu vou atacar!
  Satisfeito, desejou boa noite aos presentes e subiu para o quarto.

~*~

  O sol nasceu no horizonte. Seus raios começaram a iluminar os verdes campos, a copa das árvores, o celeiro e a casa da fazenda. Um galo – um belíssimo exemplar da raça. - estufou o peito e, quando os raios de sol tocaram em suas penas, ele começou.

— COCORICÓOOO! COCORICÓOOOO! COCÓRICO!!! COCORICOOOOOOOO! COCORICÓOOOO!COOOCOOORICOOOOO!COCORICOOO! COCÓRIIIIIIIIIIIIIIIIIHHHGAAAHS!!!

     Um peso de porta atingiu em cheio o galo, que caiu da cerca  e rolou pela grama, aturdido, tentando entender o que havia acontecido.
  No segundo andar da casa, em uma janela, Cruello sorriu satisfeito e tornou a fechar a janela com força.

— Animal idiota! – praguejou ele. – Não consegui dormir a noite inteira, fui pegar no sono só de madrugada e não sou Testemunha de Jeová pra acordar cedo em pleno domingo!
  Irritado, tornou a deitar na cama e e cobrir com o edredom.

— Bom dia, Cruello... -  falou Igraine sorridente abrindo a porta. – O dia já nasceu, você não ouviu o galo cantar?
— Ouvi...e aposto que ele ouviu bem o peso de porta também...eu estou com sono, demorei para dormir por causa dos malditos animais peçonhentos do campo!
  Igraine acariciou a cabeça dele.
— Então descanse mais um pouco. Eu vou sair para passear pela fazenda.

~*~

  Eram dez horas quando Cruello decidiu se levantar. Demorou meia hora para se arrumar e fez  seu cuidado matinal na pele antes de descer em direção á cozinha.

—  Bom dia, Christian!
     Cruello pensou em corrigir a senhora idosa. Se tinha algo que não gostava, era ser chamado pelo próprio nome. Mas ao ver o sorriso gentil de Anita, ele optou por ficar quieto.
— ...dia.
— Dormiu bem? Ficou aquecido? O colchão estava macio?

“ Se eu dormi bem?! Como eu poderia dormir bem com o tanto de barulhos animalescos de grilos e sapos á noite toda?! Uma mariposa quase entrou no meu ouvido e quando olhei para o teto havia uma maldita lagartixa do tamanho de um velociraptor! Ainda fui acordado por um maldito galo que desconhece o significado de Domingo! Acha que eu dormi bem nesse inferno?!”

— ...sim.
— Ah que bom! Fiquei preocupada que não tivesse lhe dado cobertas suficientes. Mas sente-se, venha tomar um café! Tem queijo e leite fresquinho!
— Onde está Igraine?
— Ela se levantou no raiar do sol. Disse que queria aproveitar a fazenda ao máximo antes de voltar para Londres. – Anita suspirou. – Ela sente muita falta daqui...me diga, como ela está em Londres? Igraine sempre diz que está bem mas eu gostaria de saber da boca de alguém íntimo dela. Digo, imagino que a revelação do namoro de vocês tenha causado um grande rebuliço, afinal apareceu até no programa do Patrick Star...eu não acesso a internet mas imagino que tenha sido algo bem chocante para a Igraine. Ela sempre foi uma garota sensível e tímida. Como ela está lidando com tudo isso? Como as pessoas estão tratando ela?

      Na mente de Cruello surgiu como um flash, lembranças da vez que Scarlet e Igraine se atracaram furiosamente em sua cama, da vez que Patrick Star afrontara ambos em frente á casa dela,  Scarlet atacando Igraine, a fúria do seu fandoom contra ela, Scarlet provocando Igraine verbalmente, Charlene e Igraine trocando ofensas no SPA,  a fúria de Scarlet no escritório ao flagrar os dois se pegando, o barraco na Devil’s, a relação conflituosa de Igraine e Scarlet...

— Ela está lidando bem...e as pessoas a estão tratando bem...foi apenas um choque inicial mas já passou.
— Que bom! Fico aliviada em saber disso! Igraine é minha única neta, filha do meu único filho. Só eu sei o quanto me preocupo com eles! Sempre os criei junto a mim, mas eles cresceram e foram para longe....eu entendo que eles foram em busca de suas próprias felicidades emas eu não consigo deixar de sentir falta deles. Se fosse possível, manteria-os sempre aqui na fazenda, comigo. Mas sei que fazer isso não os faria realmente feliz. É como diz aquele ditado: se você ama, deve deixá-los livres.

     Cruello percebeu que a senhora adquirira um olhar vago e melancólico e não soube o que dizer. Não estava habituado a lidar com pessoas que sensíveis embora quisesse dizer algo. Mas e optou por tentar mudar de assunto.

— O que é isso?
— ...oh, é um salgado comum no Brasil. Chama-se pão de queijo, é muito bom. Experimente!
  Cruello assim ao fez, percebendo que o sorriso gentil voltara ao rosto de Anita.
— Hum...é bom mesmo.

~*~

  Após saborear um farto café da manhã (Anita não permitiu que ele se levantasse antes de comer uma generosa fatia de bola de cenoura), Cruello caminhou em direção ao celeiro, onde Anita dissera que Igraine estava. Como era de praxe, Cruello calçou suas botas, colocou o boné e, munido de um novo spray para afastar mosquitos, caminhou com passos decididos. Alguns metros atrás de si, três dálmatas o acompanhavam (ainda que ele tivesse tentado enxotá-los).

— Animais burros...que droga, da janela este celeiro parece mais perto! Onde já se viu eu, Cruello Devil, tendo que andar na grama de uma fazenda!  Estou com meu lindo corpo repleto de picadas de mosquito, posso correr risco de pegar uma doença grave! Não consegui dormir noite passada por culpa desse local barulhento e ar puro é o carralho! – ele parou, recuperando fôlego e nisso os dálmatas se aproximaram, abanando suas caudas. – Caiam fora! Não cheguem perto de mim ou vou pegar pulgas e carrapatos!  Não tem sinal de celular em nenhum ponto dessa droga, meus sapatos estão sujos de terra e que maldito cheiro de chiqueiro empestou a fazenda inteira! Como alguém pode viver nesse lugar?! – ele tornou a andar, irritado. -  Como se não bastasse aquele velho caquético está preparando alguma, tenho certeza! Maldição, maldição! Igraine vai ver só, vou falar umas verdades e ela vai ouvir tudo caladinha! Isso se eu não decidir ir embora e deixá-la no galinhe...

     Parou seu monólogo ao notar, metros á frente, Igraine. Ela vestia botas, um short jeans, camiseta xadrez e um chapéu de cowboy. Mas não foi esse visual caipira ou a as tranças de ordenhadora de vacas que ela mantinha que lhe chamou atenção. E sim o fato de que ela conversava com um homem de boa aparência, que usava um chapéu igual ao dela, calça surrada, botas, camisa aberta e segurava nas mãos uma enxada.

  Igraine ria e conversava empolgada com o estranho, que apoiara o braço musculoso no cabo da enxada. Cruello fez uma careta de asco. Quem era aquele caipira metido a macho de livro de banca de jornal? Se aproximou com passos decididos.

— Ah, olha quem finalmente chegou! – comentou Igraine. – Bom dia, Cruello. 
— Então esse é o tal Cruello Devil! – falou o homem estendendo a mão para cumprimentá-lo

  Cruello aceitou. O aperto de mão do homem era tão forte que ele sentiu os ossos de sua mão rangerem. Após o cumprimento, Cruello disfarçadamente limpou a mão na própria calça.

— Ah, Cruello! Esse é o Antony, ele sempre trabalhou aqui na fazenda! Nos conhecemos desde que éramos crianças!
— Lembra quando nadávamos no lago depois de subirmos nas macieiras?
— Impossível esquecer! E aquela vez que fomos andar pelo pasto e um touro perseguiu a gente? – os dois riram.

  Cruello tirou um cigarro do bolso, acendendo-o e dando uma longa tragada, enquanto observava os dois conversando sobre as peripécias caipiras que faziam quando crianças.

— Bom, a conversa está boa, mas preciso voltar ao trabalho. Tenho de pegar o trator e terminar de arar a terra. Vamos plantar milho agora! Passe em casa antes de voltar para Londres, Igraine!
— Se conseguir , irei sim, com todo o prazer!

  Enquanto Igraine e Roberto se despediam, Cruello olhou para os dois estarrecido.  Se despediu do homem mecanicamente e, quando ele já estava longe, levando a enxada por cima dos ombros, o empresário voltou-se indignado para Igraine, que já tomava o rumo em direção ao celeiro.

— Você não vai á casa daquele homem, vai?!
— Eu até gostaria de ir mas infelizmente temos que voltar hoje para Londres e não vai dar tempo... – ele murmurou,  ajeitando as cordas e as pendurando em um suporte onde havia uma sela de montaria.
— Igraine! Você agora é uma mulher comprometida! E comprometida com Cruello Devil! Não tem que ficar indo na casa de outro macho! Era esse tipo de caipira que eu, há quinze anos, pedi para você não ficar se engraçando!
— ...é impressão minha ou você está com ciúmes?
— Eu?! Ciúmes?! Olhe pra mim! Eu sou Cruello Devil! Um dos homens mais desejados da Inglaterra! Sou lindo, rico, sexy, charmoso...até parece que me sinto ameaçado por um...ora, faça-me o favor!
— Seei...mas pode ficar tranquilo. Antony é meu amigo de infância e além do mais, ele é casado e pai de cinco crianças lindas!
— ...cinco filhos?! Ele é um homem ou um coelho?! Igraine, ainda bem que você se mandou pra Londres. Se ficasse nesse fim de mundo estava tendo filhos igual á uma égua parideira! Já deu pra perceber que as pessoas desse lugar não tem muitas maneiras de se distrair...

    Ele observou o celeiro, com aquele cheiro típico de palha e animais. Aquilo era um horror. Algo sujo, simplório, arcaico...olhou para Igraine, com aquelas botas de montaria, um shorts jeans que, agora via bem, era minúsculo, salientando o tamanho de sua bunda e a camisa xadrez que era um pouco folgada (na certa era da época que ela era mais gordinha) e alguns botões abertos deixavam visível um decote quando ela se abaixava. E as tranças...uma de cada lado do rosto, parecendo uma camponesa. Aquilo o enfadava.

  Igraine sentiu um corpo roçar no seu e mãos contornarem sua cintura. Estremeceu e não pôde deixar de gemer quando os lábios de Cruello tocaram seu pescoço.

— O..o que...
— Fica quieta. – ele a virou em sua direção. – Não diga nada, apenas deixa acontecer.

  Igraine decidiu acatar ao pedido e logo ela e Cruello beijavam-se sofregamente. Suas mãos explorando o corpo um do outro com avidez e sensualidade. Agora que estava novamente a sós com ele, sentia todo o desejo de tê-lo para si aumentar. Em poucas carícias já se sentia úmida e não era pouco. E pelo volume que roçava entre suas coxas percebia que não era a única claramente excitada.

    As roupas começaram a ser tiradas com velocidade e avidez. Aquilo era loucura Igraine não conseguia crer que estava aos amassos com Cruello dentro de um celeiro mas não seria louca de perguntar ou mesmo  impedi-lo. Aquilo era como a realização de uma fantasia sexual que ela própria não sabia que tinha. Sentiu que seu corpo caía em algo macio e que pinicava um pouco. Palha. Estava deitada em um monte de palha com Cruello Devil!

    Gemeu alto quando sentiu que ele entrava dentro de si com intensidade. Mas estava tão desejosa daquilo que o prazer foi imediato. Ele gemeu também, apertando suavemente a cintura da garota. Trocaram um longo beijo e logo Cruello endireitou o corpo e começou a se movimentar dentro dela, primeiro devagar, aumentando aos poucos a intensidade conforme percebia que o prazer dela  aumentava. E poder senti-la de novo o fazia gemer enquanto observava as expressões dela embaixo de si, e aquelas benditas tranças emoldurando o rosto corado.

— Ah Igraine... – ele murmurou. – Assim eu vou chegar logo.
— Vem Cruello...eu to quase...

     Cruello aumentou a velocidade dos movimentos e ambos chegaram ao  ápice juntos, gemendo altos.  Igraine sentiu-o se desfazer dentro de si e o abraçou, fazendo a cabeça dele encostar em seu peito e sentir as batidas aceleradas de seu coração. Ele suspirou, satisfeito. Aquilo fora impulsivo, mas muito bom. Queria tanto poder sentir Igraine novamente e o contato do corpo macio dela o fez relaxar.
   Até que a consciência foi voltando aos poucos e ele percebeu a palha. E o local em que estava. Se levantou com um pulo, assustando Igraine.

— Por toda a linhagem Devil!!! O QUE  EU FIZ?
— ...Cruello...você está bem?
— Claro que não estou bem! Eu transei com você em um celeiro! Na palha! No cheiro de animais e esterco! Eu, Cruello Devil transando em um celeiro! Isso é imperdoável!

  Com rapidez ele se vestiu, enquanto Igraine se levantava devagar, ainda zonza pela transa.
— Calma, não é o fim do mundo e foi muito...
— Isso é um absurdo! Como pude fazer isso comigo mesmo?! Eu me deitando em um celeiro! Preciso de um banho imediatamente!

     Antes que Igraine pudesse dizer qualquer coisa, Cruello já saia aos tropeços do celeiro, em direção á casa. Igraine o assistiu aturdida. Porque Cruello tinha de ser assim? Haviam transado de forma deliciosa e intensa mas ele tinha que dar os siricuticos de sempre! Suspirou, começando a se vestir.

    Cruello caminhava desnorteado em direção a casa, indignado consigo mesmo. Agira por impulso, por uma fantasia sexual que mantivera oculta nos confins de sua mente por tanto tempo porque ele era Cruello Devil! Não era homem de se sujeitar a transar em celeiros!

— Posso saber aonde o senhor estava?
  Ele parou, virando-se para trás. O velho Roger estava parado, apoiado em uma bengala e com um dálmata de cada lado.

— ...não te interessa, seu velho chato!
— Interessa a partir do momento que você está na minha fazenda e com intenções ruins com a minha neta! Com um Devil não se pode confiar! O que você fez com ela?

  Cruello cerrou os dentes.
— Se está tão preocupado então vou dizer...eu comi sua neta, sim! E ela gostou muito de todas as vezes! Agora se você tiver um ataque cardíaco com essa revelação não é problema meu!

    A  expressão de horror e ódio em Roger era visível. Se pudesse, ele quebraria a bengala ao meio na cabeça daquele desgraçado.

— Sei que era isso que você queria mas não vou enfartar, muito menos na sua frente! – ralhou Roger. – Vou fazer algo melhor. – ele se virou para os dálmatas, apontando o dedo na direção de Cruello. – PEGA!

    Os dois dálmatas avançaram na direção de Cruello que empalideceu e começou a correr, as pernas ainda bambas pelo “esforço” que fizera com Igraine. Roger ria com gosto ao ver o herdeiro Devil correndo desesperadamente em direção á casa  e amaldiçoando-o de todas as formas possíveis, com os cães em seu encalço.

~*~


— Vovó!! – Igraine entrou na casa, com um sorriso no rosto. – Vovó, onde você está?
  Ela foi até a cozinha, encontrando a senhorinha olhando a janela, parecendo preocupada. A abraçou.
— Oieee!
— Nossa, Igraine! Assim você me assusta! Mas que bom que está aqui, preciso falar uma coisa com você.
— O que aconteceu?

  Anita olhou ao redor para ter certeza de que estavam sozinhas e fez Igraine sentar-se em uma cadeira.
— Eu não sei bem o que aconteceu mas sei que foi alguma coisa errada.
  Igraine sentiu seu estômago retorcer. Será que a avó soubera que ela transara com Cruello no celeiro?

— O Cruello chegou correndo aqui em casa, batendo a porta da sala com força. Ele parecia confuso, assustado e cheio de palha. Notei que os dálmatas preferidos do seu avô estavam latindo e raspando na porta, na certa perseguiram Cruello. E depois o seu avô apareceu  rindo mas não quis me dizer o motivo e está até agora com um sorriso provocador no rosto. Eu acho que ele aprontou alguma! Só falta ele ter feito os cães perseguirem o seu namorado!
— O vovô não faria uma maldade dessas! – Igraine falou. – E onde está o Cruello?
— Ele subiu e disse que precisava tomar um banho...e até agora não desceu.
  Roger surgiu na cozinha praguejando.

— Aquele afetado do seu namorado está com o chuveiro ligado há mais de quinze minutos! Ele vai acabar secando a água do nosso poço desse jeito! Ele está pensando que aqui é a casa dele?!
— Choveu a semana passada inteira aqui! – ralhou Anita.  E temos poço artesiano, Roger! Não é um banho demorado uma vez na vida que vai secar o nosso poço!
— Péssima escolha, Igraine. Você poderia ter escolhido alguém melhor, não uma coisa daquelas que eu duvido até que seja hétero! Acho que ele só finge porque homem que é homem não usa uma valise enorme cheia de cremes!
— ...eu vou ver como o Cruello está.

  Igraine não estava a fim de ouvir as indignações do avô e subiu rapidamente em direção aos quartos. Por sorte, encontrou a porta do quarto de hóspedes entreaberta e entrou, se deparando com Cruello  que vestia apenas uma toalha na cintura e enxugava os cabelos com uma toalha menor. Mordeu o lábio inferior. As costas dele eram lindas e a certeza de que podia usufruir daquele corpo sempre que quisesse a deixavam excitada.

— Olá...como você está?
  Cruello sentiu que Igraine sentava-se ao seu lado na cama. Ele respirou fundo antes de devolver a pergunta.

— Como acha que eu estou? Eu transei em um celeiro! Tinha palha em todo o meu corpo e eu poderia ser picado por uma aranha ou pior! Pegar carrapatos! E como se não bastasse, o seu avô psicopata agiu feito um nazista pra cima de mim mandando aqueles dois demônios pintados me atacarem! Odeio cachorros! E odeio velhos caquéticos que me odeiam só por  causa da minha linhagem! Eu não aguento mais esse lugar Em nenhuma outra circunstância eu teria descido ao ponto de transar em um celeiro, em um monte de palha! Que ruína para minha imagem, que  ruína!

   Ele escondeu o rosto com as mãos, desiludido. Igraine se aproximou, abraçando-o pelas costas e acariciando seu tórax enquanto lhe mordiscava orelha.

— Ahn Cruello... – ela ronronou. – Foi algo impulsivo e muito bom...vai dizer que você não gostou?
  Mesmo a contragosto, ele sorriu.
— Estaria mentindo se dissesse que não foi bom...eu estava querendo você há dias...mas não justifica eu ter cedido aos meus desejos e feito sexo com você em um celeiro! Tenho uma reputação á zelar! Sou uma celebridade da moda, não um caipira!
— ...mas se você não contar, ninguém ficará sabendo.
— E como fica a minha consciência?!
— Posso te fazer esquecer isso.
— Como?! Terei pesadelos de estar trancado em um celeiro agora!

     Igraine envolveu Cruello em seus braços e o fez se deitar com ela na cama. Logo se posicionou sobre ele, movendo seu quadril sobre o meio das pernas dele enquanto mordiscava seu pescoço.

— Hum...o que houve com você? Está toda ordinária hoje...
— Eu? Eu sou uma moça inocente, você que está me levando para o mau  caminho...
— Eu?! Quem está em cima de mim é você.

    Ela riu e abaixou-se para beijá-lo, permitindo que Cruello revertesse a situação e ficasse por cima dela.
— O que acha de repetirmos a brincadeira de hoje de manhã, antes de irmos embora desse fim de mundo?

  A porta foi aberta com um estrondo.
— FICA LONGE DA MINHA NETA, SEU MALDITO DEVIL!
— Vovô?!!! – envergonhada, Igraine saltou da cama.
— Além de ser um folgado e entojado, ainda tem falta de respeito querendo abusar da minha neta! Não vou deixar fazer putaria com ela!
— Chegou atrasado, velhote! Eu já fiz muita putaria com a sua neta e adivinha...ela ADOROU!
— Seu maldito enrustido, afetado! Caia fora imediatamente ou eu te capo!
—  Tá frustrado porque agora com esse pinto murcho não consegue fazer mais nada e tá invejando quem pode?! Eu não vou ficar quieto só porque você é um velho que está fazendo hora extra aqui na Terra!
— Ah querendo desacatar idosos, não é? Pois saiba que eu tenho saúde de ferro e tenho capacidade para enterrar mais um Devil!
— Tenta que eu dou a honra de te colocar na cova rasa ao lado do grandioso mausoléu da família Devil!
— Parem com isso vocês dois! – ralhou Igraine constrangida.
— Ele que começou! – disseram em uníssono.
— Você  não é bem vindo aqui!
— Eu nem queria estar aqui pra começar!
— Então eu te convido educadamente a sair por aquela porta e ir para o raio que o parta!
— E eu vou mesmo! Meu nível é alto demais para ficar nesse lugar! Vamos embora, Igraine! – rosnou Cruello pegando sua valise e saindo com passos decididos pela porta.
— Mas...mas...
— VAI E NÃO VOLTA! Até aquele maldito punk desconhecido que Igraine se apaixonou na adolescência seria um partido melhor pra ela do que um maldito abichado Devil!

~*~

  Graças a habilidade política de Anita, os ânimos foram acalmados mas não demorou para que Cruello e Igraine arrumassem as malas e as colocassem de volta no carro. Roger optou por observá-los sentado em sua cadeira de balanço na varanda. Igraine despediu-se dele enquanto Anita se despedia de Cruello.

— Aqui está. Preparei alguns biscoitos e pães de queijo para levarem.
— Não precisava se incomodar, senhora Radcliffe... – o rapaz começou.
— Ora que isso! Eu peço desculpas pela atitude do Roger, ele não é má pessoa mas o que ocorreu com Cruella no passado afetou muito ele fora que...bom ele tem muito ciúmes da neta. Foi muito difícil para ele aceitar que ela morasse em Londres.
— Não é a senhora que precisa se desculpar. Me tratou bem enquanto estive aqui mas devo confessar que aqui não é o tipo de lugar que combina comigo.
— Evidente! – ela riu e ele deu um sorriso curto. – Cuide bem da Igraine, por favor. Ela é uma garota muito especial.
— ...eu sei.

  Houve um silêncio enquanto Cruello e Anita se fitavam, como se tivessem em uma conversa muda.

— Bom vovó...estou indo.
— Oh, minha querida! – as duas se abraçaram demoradamente. – Prometa que não vai demorar muito para tornar a nos visitar!

 Assim que as coisas se acalmarem eu venho passar uma semana na fazenda!
— Venha sozinha, não precisa trazer um encosto com você. – falou Roger levando o cachimbo á boca.

  Cruello colocou os óculos escuros, jogou os cabelos para trás  e andou desfilando até entrar no carro.
— Se cuide, Igraine. – falou Anita e sussurrou baixinho. – E aproveite o seu namorado que é um homem e tanto!

     Igraine entrou no carro e Cruello precisou fazer uma curva com o veículo em direção á saída da fazenda. Mas, antes de sair, parou o carro bem á frente de Roger, abaixou o vidro, tirou os óculos e deu o sorriso mais cínico que podia fazer.

— Então só uma coisinha...sabem o punk desconhecido de Londres que seria uma péssima influência mas que sua neta se apaixonou na adolescência?! Então...ele era eu. Tchau, tchau!

  Ele acelerou o carro e saiu cantando os pneus, deixando uma  vasta poeira de terra para trás, exatamente como Cruella Devil fazia.

~*~


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Notas finais do capítulo

Aehoooo!
Mais um capitulo finalizado! DEMOROU MAS EU CONSEGUI!
Agradeço imensamente á todos que continuam apoiando a fanfic mesmo eu sendo essa autora terrível e procrastinadora que demora pra atualizar. Eu tentei fazer o melhor possivel nesse cappie que foi dificil de escrever porque era muita coisa que eu queria abordar e não sei se consegui fazer tudo de forma realmente eficaz. Inclusive teve coisas que deixei de fora e quem sabe reaproveite em outra oportunidade.
Agradeço á minha a minha Hime por me ajudar em algumas partes e espero que tenham gostado desse cappie! Comentem!!!

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