The Cruel Beauty escrita por Tsu Keehl


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Desculpem a demora! Mas eis aqui mais um capítulo da fanfic! o/
Quero agradecer á todos que apoiam a fic e pedir desculpas pela demora em atualizar. Mas o ano começou na correria, com férias e tentar confeccionar um cosplay novo, várias coisas pra resolver e estou tentando (pra variar) engatar em um projeto original. Se der certo posso até arriscar de postar aqui mas por enquanto quero escrever mais um pouco dele pra saber se vira ou não vira XD.
Mas fora isso, esse capitulo deu um trabalhinho básico pra escrever, mesmo que eu já tivesse em mente algumas cenas. Enfim nem vou falar muito aqui, vou deixar para vocês conferirem. Espero que gostem!



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~*~

Ela realmente não imaginava que aquilo fosse tão bom  á ponto de fazê-la esquecer toda a vergonha e puder para entregar-se ao instinto do prazer.
   Enquanto Cruello a estocava em um ritmo intenso e apertando sua cintura, Igraine gemia alto, dominada pelo prazer de tê-lo dentro dela. De quatro na cama, Igraine apertava os lençóis embaixo de si, todo seu corpo entregue áquelas sensações novas.

   Na parede ao lado da cama, viu a si e Cruello transando de forma selvagem e intensa mas, em vez de se envergonhar, aquilo a excitava ainda mais. A forma como Cruello a pegava, os movimentos dele e de seu próprio corpo ao retribuir as estocadas percebendo o quanto ambos aproveitavam aquilo a faziam sentir mais e mais prazer.
   Ainda que estivesse descabelada e suada, Igraine achou-se linda. E Cruello...ah, Cruello. Não era somente o corpo dele e a forma como ele a possuía que a excitava, mas também na certeza de saber que ele sentia prazer em fazer aquilo com ela. E isso dissipava qualquer pudor que a garota pudesse manter.

— ...isso... – ela sussurrou, fechando os olhos. – Vai, Cruello!
   Cruello sorriu, extasiado. Segurou a cintura de Igraine com mais força e aumentou o ritmo, fazendo-a gemer ainda mais alto e ele próprio gemeu também.

~*~

   Igraine abriu os olhos devagar, demorando alguns segundos para recuperar a consciência., Mexeu-se na cama, caindo desta sob o chão coberto por um tapete persa.

— Ai?!

   Se sentou molengamente e olhou para a grande cama de dossel. Estivera dormindo em um espaço mínimo da mesma, totalmente encolhida. Enquanto Cruello dormia atravessado na cama, monopolizando quase que totalmente cobertas, travesseiros e 90% da cama.

 “Espaçoso folgado...”

   Mas era lindo. Lindo e ainda fodia bem. Riu do  próprio  pensamento. Não que tivesse experiência em sexo, mas o que conhecera ontem já lhe davam alguma base. Haviam feito três vezes.
   Transara com Cruello Devil, quem diria! Nanny e Yumie iriam fazer uma festa quando soubessem.

   Descabelada, Igraine se levantou rapidamente e teve que se apoiar na parede. Suas pernas doíam e estavam um pouco bambas. A virilha também doía, como se houvesse feito um exercício físico intenso. Tudo isso era consequência de ter sido sua primeira vez?

      Sentou-se na beirada da cama, olhando no relógio da mesa de cabeceira: 6:15. Então se levantou, indo ao banheiro. Precisava se vestir e fazer suas necessidades. Depois acordaria Cruello e pediria pelo café da manhã.

Após sair do banheiro, Igraine foi até sua mochila, colocando roupas íntimas limpas mas, como havia  não tinha outra muda de roupa, colocou a mesma que usara para ir até a mansão. Escovou os cabelos, cantarolando baixinho e chegou até mesmo a passar uma sombra nos olhos e um batom de cor leve. Sua barriga roncou e ela percebeu o quanto estava faminta. Olhou na bandeja que tinha alguns aperitivos mas não encontrou nada. Ela e Cruello haviam comido tudo enquanto intercalavam as transas.

     Foi até a cama, inclinando-se próximo de um Cruello adormecido. Observou o peito dele subir e descer durante a respiração e mordeu o lábio, pensando se deveria ou não tocá-lo.

“ Mas que besteira! Não tenho motivo pra ficar com receio de tocar nele depois do que aconteceu ontem á noite!”


— Ei Cruello...Cruello. – começou ela baixinho, tocando de leve o ombro dele. – Acorda.

     Ele remexeu-se na cama, abrindo os olhos devagar.

— O que foi...? – resmungou, com voz embargada.
— É...hora de acordar...
— ...que horas são...?
— Seis e meia...
— É cedo, volte a dormir!
  Ele afundou a cara no travesseiro.
— ...Cruello... – recomeçou Igraine.
— ...que foi?
— Eu to com fome.
— ...problema seu...Me deixa dormir....
— Mas...!
— ...vai na cozinha... – ele falou, mais dormindo que acordado. -  E manda fazerem algo pra você comer....depois mande que tragam meu café aqui...
— Mas eu...
— ...me deixa dormir...  -  ele virou de costas para a garota, cobrindo-se com o edredom.

     Igraine bufou encontrou o ímpeto de puxá-lo pelos cabelos. Quem ele era para tratá-la assim?!
    Irritada, se levantou e saiu do quarto, convicta de que iria se empanturrar de comida para que ele não tivesse nada para comer quando acordasse.

~*~

  A mansão Devil era realmente gigantesca. Igraine caminhava receosa, abraçando á si mesma. Aquele lugar lhe causava uma sensação incômoda, quase opressora. Quase podia jurar que não estava sozinha naquele corredor. Parou e olhou ao redor. Nada.

     Voltou- se para frente e então viu, no final do corredor, Ela.
  Cruella Devil.

      Igraine nunca a vira pessoalmente, mas já vira muitas fotos da falecida socialite. E ela era inconfundível, com sua magreza esquelética, os casacos de pele e o cabelo monocromático. Igraine piscou, mas a imagem não sumiu e ela sabia que não era um quadro. Então subitamente Cruella Devil se projetou na sua direção, como se voasse, os olhos irradiando ódio e a feição cadavérica parecendo a de um demônio pronto para atacá-la. A garota gritou, protegendo o rosto com os braços e foi como se uma névoa atravessasse o seu corpo. Abriu os olhos e tudo estava normal no corredor. Não havia Cruella e nem ninguém.

      Igraine engoliu em seco. O que diabos havia sido aquilo?! Na certa sua imaginação lhe pregando peças  por conta de seu estado emocional. Estar com Cruello, a mansão Devil que era impregnada da essência de Cruella...
  Mesmo assim, apressou o passo e desceu rapidamente as escadas em direção á cozinha. Tão aturdida que estava, acabou esbarrando em um par de peitos visivelmente grandes.

— Ah, finalmente apareceu!
— ...Scarlet?! O que faz aqui?! Quando chegou?!
— Estou aqui á trabalho e cheguei agora. Algum problema, caipira?
— ...não...só que...não pensei que você...
— Eu tentei te ligar durante horas ontem! E seu telefone só dava caixa postal! - a morena ralhou, ambas mãos na cintura. – Cruello era outro que não atendia e quando liguei aqui no residencial, Alfred desligou o telefone na minha cara e depois quando eu ligava dizia que não havia sido possível completar a ligação!
— Estava chovendo aqui e o telefone ficou mudo. – falou Alfred enquanto  mexia uma massa de bolo.
— Não tente me enganar! Eu sei que você e o Cruello ficam de segredinhos  para acobertar as putarias dele! Aliás... - ela se voltou para Igraine, parada na porta da cozinha. – Vocês finalmente treparam?! Porque é pra isso que você veio aqui.
— Isso...isso não lhe diz respeito! Ora essa!
— Diz sim! Cruello anda pensando demais com a cabeça de baixo desde que você começou a ficar no chove-não-molha com ele e isso só pode ser resolvido se ele meter! Já que pelo visto ele não quis permanecer solteiro, o que ferrou muito os meus planos!
— Me-meter?! – Igraine corou. – E que raios de planos você tinha pra ele?!
— Não me olha assim! Eu não quero pegar o Cruello, Khrisnna me livre! Mas então, onde ele está?
— ...dormindo...no quarto...
— Ah mas vou fazê-lo levantar já! Temos que começar a levar algumas roupas da Cruella para a Devil’s e decidir que roupa ele vai usar no desfile!


  Scarlet disparou pelo corredor e subiu as escadas, o som de seus saltos ecoando. Igraine tencionou segui-la, mas suas pernas estavam fracas da noite anterior e a perspectiva de ter que subir as escadas lhe desanimava. E também um delicioso cheiro de pão fresco dominava seus instintos e ela optou por sentar-se diante da mesa e abocanhar ferozmente um pedaço de pão.

— Calma, senhorita!  Passe manteiga ou geleia no pão antes... – pediu Alfred. – Quer um chá para acompanhar? Ou talvez uma vitamina para repor as energias que o chefinho tirou de você noite passada.

  Igraine parou de mastigar o pão e encarou o homem de preto. Percebendo a preocupação da garota, tratou de adiantar.

— Não se preocupe, não ouvi nada. Permaneci a noite toda no andar de baixo.  Aceita chá?

  Corada, ela fez que sim com a cabeça. Igraine bebericou o chá e pegou mais uma fatia de pão, enquanto observava Alfred ajeitar a cozinha.

— Onde estão os seus pais?
—  Devem estar em algum lugar da mansão. Casas grandes sempre tem alguma coisa pra fazer ou limpar. O chefinho pediu pra levar o café dele na cama?
— ...não. – mentiu. – Ele que desça e venha comer! Alfred...á quanto tempo você conhece o Cruello?
— Já faz  quase uns quinze anos. Nos tempos de adolescência saíamos pro rolê juntos. Ah, bons tempos de sair de coturno, moicano e metendo o louco nos bares underground...
— Sério?! Então você conheceu o Cruello na época que ele era o Devs?
— ...você sabe sobre isso?!
— Bom...digamos que...a primeira vez que eu e o Cruello nos encontramos, ele tinha um moicano preto e branco enorme e atendia pelo nome de Devs. – Igraine sorriu, sonhadora. – Foi apenas um dia mas foi inesquecível pra mim. Eu era uma garota do campo e tinha decidido ir sozinha para Londres. Eu tinha quinze anos na época, imagine que loucura! Estava completamente perdida então ele apareceu e acabou sendo o meu guia pela cidade...se não fosse por ele nem imagino o que poderia ter me acontecido. – ela levou uma mão aos lábios. – Até hoje lembro de quando ele me beijou pela primeira vez e tenho guardado o presente que ele me comprou quando me levou em uma lojinha repleta de acessórios alternativos...penso que ele deve ter me achado uma garota idiota e simplória mas mesmo assim se dispôs a me guiar e me fazer sentir que era interessante.
— Nossa! Então você que era a camponesa de tranças ordenhadoras de vaca?!
— ...hein?!
  Alfred deu as costas para o fogão, explicando.

— Eu lembro que dez anos atrás, o chefinho ainda estava curtindo os rolês, sem compromisso com a empresa e tal, quando ele era livre e mais de boas com ele mesmo... uma vez, ele contou para mim e pra madame Scarlet que havia conhecido uma garota que ele classificou como “simples camponesa com tranças ordenhadoras de vaca” e contou como foi e coisa e tal...ele até levou ela na loja que a Scarlet trabalhava....
— "Camponesa com tranças de ordenhadora de vacas?!" – Igraine fechou os punhos com raiva. – Eu idealizei ele como meu príncipe punk durante anos e é assim que ele me classificava?! Cachorro!
— Ei, calma...eu não terminei! – continuou Alfred. – Você  de alguma forma marcou o chefinho e cá entre nós...na época ele realmente ficou muito sentido como o fato de que depois não teve mais qualquer contato seu. Claro que isso também tinha á ver com o falecimento da tia dele e que por conta disso ele teve que herdar todo o império Devil porque era isso que estava escrito no testamento dela...o que quero dizer é que o chefinho ficou bem mal e aí ele teve que mudar, mudar radicalmente.

  Igraine apenas afirmou com a cabeça. O monólogo de Alfred estava se mostrando deveras revelador. Com certeza através dele poderia saber muito sobre Cruello, sobre coisas que Cruello não iria lhe dizer.

— Então, ele ficou realmente bem atribulado, teve que se focar de vez na empresa e em responsabilidades coisas que até então ele não tinha. E precisou mudar, como eu disse. Ele mudou radicalmente. E eu e madame Scarlet fizemos o mesmo.
— ...mas por quê? Por que tiveram que mudar sendo que o Cruello teve devido ao fato de ele ter herdado o império Devil e tudo o mais?
— ...porque o Cruello não iria suportar tudo sozinho. Perder família e parentes é uma coisa, mas perder isso e depois ter que herdar uma empresa famosa e poderosa é algo que não dá pra se fazer sozinho, ainda mais por ter um monte de sócios e advogados sanguessugas querendo pegar parte nas ações. E eu e Scarlet decidimos apoiá-lo e ajudá-lo a lidar com tudo isso porque é isso que os amigos fazem.

   Igraine observou-o pensativa e até um pouco surpresa.

— E você, senhorita? Porque não deu mais sinal de vida pro chefinho depois daquele dia que se conheceram? Você mesma disse que foi uma pessoa importante pra você e ele me contou na época que deixou o número do telefone dele no seu celular. Ele realmente acreditou que você iria ligar e ficou bem bolado quando isso não aconteceu.

 Aquilo era sério?! Cruello/Devs realmente pensou nela e nutriu algum tipo de esperança de que pudessem manter contato? A certeza disso fez o peito da garota aquecer e ela sorriu, abobalhada.

— Senhorita?
— Hãn...há! Então é que...bem...eu quis muito ter contato com ele mas...
— Você tinha namorado? Seus pais não deixavam namorar porque era muito jovem ainda mais com um cara da cidade grande de estilo duvidoso? Isso aconteceu comigo uma vez e uma moça chamada Eleonora que tinha uma família com problemas tão grande quanto a bunda dela e...
— Não, não! É que...bom...eu...
— Não é comigo que você tem que se explicar, é com o chefinho.

 “Então por quê perguntou?”

 - Bom, eu vou lá acordar o Cruello e pegar meu celular. Já já eu volto! Não precisa levar o café na cama pra ele.

~*~

  Quando Igraine se aproximou do quarto, ouviu o som de risadas, tanto de Scarlet quanto de Cruello. Eles conversavam sobre alguma coisa e ela se aproximou da porta fechada, procurando ouvir e com o coração batendo a mil. Todo seu receio e dúvidas aumentavam, Será que Cruello estava contando todos os detalhes da noite passada ou de alguma forma eles haviam feito um tipo de aposta e agora tiravam sarro dela?

     Nervosa, apoiou-se na porta, sem perceber que estava havia sido encostada e não fechada. A porta se abriu e Igraine entrou tropeçando no quarto, por pouco não perdendo o equilíbrio.
     Silêncio. Igraine  olhou para frente, constrangida. A primeira coisa que notou foi a fumaça que pairava no local. Cruello estava sentado na cama, vestido e Scarlet sentava-se na poltrona próxima, as pernas cruzadas. Ambos tinha uma cigarreira com um cigarro aceso na ponta.

— É... desculpem... eu esqueci meu celular... Espero não estar interrompendo nada! - Igraine encarou Cruello, inquisidora.

O jovem por sua vez, sorriu jogando os cabelos para trás.


— Estava espionando a nossa conversa?
— ...achando que estávamos falando de sua performance sexual? - Scarlet sorriu.
— ... claro que não! – ela mentiu, cerrando os punhos.. - Eu me garanto no que fiz, senhorita Scarlet! Cruello também não reclamou. – ela resmungou. - Até pediu arrego!  Acho que devo me orgulhar ...não? - ela jogou os cabelos para trás, alcançando o celular no criado mudo e tentando manter uma pose de convencimento.
— Que absurdo... - murmurou Cruello. - Quem ficava falando "ain não, não", 'é muito forte"... - ele afinou a voz. - Isso sem falar que ela pedia pra eu continuar fodendo com força!
— Uau! Realmente não esperava isso dessa caipira!
— Dez anos querendo isso, ela ficou mais que satisfeita!
— ...você é mesmo um babaca, Cruello! -  rosnou Igraine. – Não sei porque eu ainda fico  surpresa!

     Ela deu ás costas para os dois, mas antes que saísse do local, Cruello se levantou e a abraçou por trás.

— Ora, não vai ficar bravinha, não é? Relaxa, raposinha!
— Me-me solta, Cruello!
 
     Cruello jogou-a na cama e deitou-se por cima, beijando seu pescoço. Scarlet resmungou e prontamente se levantou.

— Eu vou sair daqui porque não estou á fim de ver um pornô amador ao vivo! Tratem de pararem com isso de cachorros no cio logo porque temos muito trabalho á fazer! Arrumar essa caipira aí não vai ser fácil!
— Ela tem potencial, Scarlet....eeeei!

     Scarlet puxou Cruello pelos cabelos e o tirou da cama.

— NÃO TOCA NO MEU CABELO! -  ele se desvencilhou. – AAAAAAAH! VOCÊ TIROU FIOS!
— Chega de putaria né, Cruello?! Teve o bastante ontem e a garota ainda deve estar toda assada! Vamos, de pé! Temos que agilizar as coisas para o desfile e estou cansada de arcar com quase tudo sozinha!
— O Cruello vai se ele quiser!

     Silêncio. Scarlet encarou Igraine, que a encarou de volta. Cruello passou o olhar de uma para a outra, se afastando.

— Escuta aqui, sua camponesa suburbana... – começou Scarlet, ambas mãos na cintura. – O fato de eu ter te trago até aqui não foi porque sou uma boa samaritana, tampouco porque quero ser a sua amiga. Eu te trouxe aqui há NEGÓCIOS. Você tinha apenas que abrir suas pernas para o Cruello sossegar o facho e superar o súbito trauma. E já que isso foi obtido, temos de voltar á programação normal! Ao contrário de você que presta serviços á uma ONG mequetrefe na qual é a sócia majoritária que mal tem trabalho com clientes exigentes de todos os setores, a Devil’s é uma empresa de renome internacional e uma referência da moda mundial! E já estamos atrasados  em diversos...
— Calma, Scarlet, calma... – pediu Cruello acendendo outro cigarro. – Tudo pode será resolvido á tempo. Só precisamos trabalhar e relaxar...
— O sheik virá para Londres semana que vem junto com a família!

      Ao ouvir aquilo, Cruello deixou o cigarro pender dos lábios, arregalando os olhos.

— Ele já está vindo? Pensei que ele só viria daqui quinze dias!
— A viagem foi antecipada! Não viu os noticiários? Os terroristas estão agitados lá no Oriente Médio e ao que parece isso fez o sheik acreditar agora seria uma boa hora de se mandar pra cá!  

     Cruello passou a mão pelos cabelos. Igraine percebeu o nervosismo e preocupação nos olhos dele e, apesar da postura confiante, percebeu que Scarlet estava cansada e igualmente preocupada.

— Hãn...com licença mas...quem é esse tal sheik?

    Scarlet encarou Igraine com indignação e tratou de explicar.

— O sheik Harim Abdulah Al-Sahim é um dos homens mais ricos e poderosos do mundo. Proprietário de cinco jazidas de petróleo, três hotéis de luxo em Dubai, principal investidor de um time de futebol europeu e dono de duas ilhas, uma que ainda possui minas de diamante, ele e sua família são ávidos consumidores de artigos de luxo, incluindo de peças da Devil’s. Ele é nosso melhor cliente, conseguido graças ao poder persuasivo de Cruella Devil e cabe á esse aqui... – ela apontou para Cruello. – Manter essa fonte de renda para nós. Se o sheik e sua família querem algo, nós não contestamos ou perdemos tempo; nós fazemos!

     Houve um momento de silêncio, no qual cada um dos presentes mantinha-se pensativo. E foi Igraine quem retomou a conversa.

— Bom...se é assim....acho que você precisa ir para a empresa, Cruello...
—  Viu só?! Até ela tem consciência das prioridades! – Scarlet sorriu, satisfeita. – Muito bem, vamos!
— Eu ficarei aqui. – respondeu Cruello. – Irei  separar mais algumas peças  de Cruella Devil para levar ao desfile. Tenho certeza que há coisas que poderão ser aproveitadas e até vendidas.
— ...vocês vão vender peças usadas no desfile?!
—  São peças diferenciadas. Algumas sequer foram usadas e outras só precisam de um retoque por mãos de um verdadeiro mestre na arte da confecção peculiar.
— ..mas mesmo assim...!
— Igraine, não fale sobre o que não sabe. – pediu o rapaz.
— E quanto ao pelei...
— Alfred vai buscar!

     O olhar inquisidor de Cruello sobre si fez Scarlet se calar. Ambos conheciam-se á tempo suficiente para se entenderem apenas com uma troca de olhares. E aquele significava que não deveriam falar sobre o assunto do peleiro na presença da garota.

— Está certo. Eu voltarei pra Devil’s.
— Hãn...eu preciso ir embora também...tenho de ir na ONG e ver meus filhos.
— Filhos?!
— ...são os bichos dela, acredita?
— Afeee.... – resmungou Scarlet. – Está bem, eu levo você. Mas não vá se acostumando!

~*~

  Patrick Star suspirou pesadamente, recostando-se  em sua poltrona reclinável, olhos fixos na tela do computador. Por mais que tentasse não estava conseguindo se concentrar no trabalho. E como se não bastasse, estava cercado de funcionários incompetentes. Jornalistas acomodados e recém formados sem a iniciativa necessária para serem ousados e impertinentes o suficiente á fim de conseguirem coletar boas matérias de cunho polêmico. Profissionais como ele eram raros hoje em dia. Todos parecem que tinham medo de tomarem processos judiciais.

— Imbecis! A mídia não pode ser calada pela lei, seja ela qual for! Essas celebridades não podem achar que são superiores só porque possuem mais dinheiro e fama! Temos que colocá-los em seus devidos lugares! O Portal das Celebridades precisa de polêmicas! Ninguém quer saber da simpatia dos artistas! Querem saber das bizarrices e injúrias que eles podem fazer! Da forma sórdida como usam seus poderes de fama para fazer o que quiserem!

   Apertou uma tecla no telefone em sua mesa.
— Aline, me traga um suco de laranja.
— ...sim, senhor. E senhor... alguém está aqui na recepção e deseja lhe falar.
— Estou ocupado demais. Agora. Anote os dados e entrarei em contato depois.
— Ela diz que é urgente.
— Quem é ela?
— ...Charlene Charutis, proprietária do SpaChar.

  Patrick bufou. O que aquela mulher arrogante queria agora?!
— Mande-a  entrar. Mas não traga suco para ela. Só água já está mais do que bom! E da torneira, de preferência.

  Desligou e pegou alguns papéis que estavam na mesa, aguardando verificação.  Conta de internet, propaganda de uma dedetizadora, folheto de Testemunhas de Jeová, um envelope da Devil’s, cardápio da pizzaria da esquina...um envelope da Devils’?!

  Pegou o grande envelope em mãos, notando o requinte e a gramatura do papel. O abriu, encontrando ali um convite.
  Um convite exclusivo e particular para o Devil’s Fashion Day: o evento de gala que ocorrerá dentro de duas semanas.

      Patrick estreitou os olhos. O convite estava assinado por Scarlet Medusa e Cruello Devil e o jornalista conhecia bem os convites da Devil’s: aquele era legítimo. Mas era muito estranho que o estivessem convidando depois de todo o atrito ocorrido. Se bem que, se não o convidassem, a mídia  e ele próprio falaria do elitismo exagerado  da empresa na qual, escolhendo a imprensa mostraria que exibiriam peças que causariam furor.

      Patrick ainda se lembrava bem do último Devil’s Fashion Day no qual Cruella Devil estivera presente. Ao final do desfile, a dona da empresa e principal estilista atravessou a passarela trajando um legítimo casaco de tigre siberiano albino, que causou uma grande polêmica na sociedade e artigos revoltados de ativistas. Embora de péssimo gosto, o desfile alavancara as vendas da empresa para os consumidores mais ricos e exigentes, atraindo até mesmo políticos de países que nenhum ativista ousaria enfrentar. Afinal, um rei somali poderia muito bem desfilar com um sobretudo feito com pele de leopardo.

      Batidas na porta, que em seguida foi aberta para que a secretária adentrasse com uma bandeja contendo água e suco,  acompanhada de Charlene Charutis. Charlene não esperou ter permissão para sentar-se  na cadeira á frente da mesa de Patrick e após servir as bebidas a secretária se retirou.

— Muito bem... – começou o jornalista bebericando o suco. – Posso saber o que a senhorita deseja? Já vou avisando que não deixarei de fazer um artigo preciso sobre a forma como o SpaChar dividi e trata seus clientes. Eu sempre fui um cliente fiel que pagou todos os serviços em dia e não merecia ser tratado da forma como fui, carregado por seguranças só porque o senhor Devil resolveu ter um ataque de pelanca! Todos vocês que desenvolvem algum contato com ele o endeusam a tal ponto que ele realmente acredita que pode fazer o que quiser e ficar impune!
— Eu não vim aqui defender Cruello Devil. Vim aqui denunciá-lo!

     Patrick encarou a mulher, que o encarou de volta.

— Até onde sei, a senhorita sempre foi uma defensora árdua do senhor Devil. O que a faria mudar subitamente de ideia em questão de um dia?
— ...Cruello me usou durante muito tempo e agora carrego uma lembrança dele que me  acompanhará para sempre. E por conta disso, vou expô-lo. Eu vou expor ele!

     Patrick Star notou o olhar repleto de raiva da mulher. Conhecia bem aquele tipo de atitude. Pessoas ambiciosas descartadas por celebridades sempre desenvolviam uma necessidade doentia de prejudicar seus objetos de desejo em prol de uma fama momentânea.  E isso era ótimo para os portais de celebridade.
     Acionou um número no telefone.

— Aline, prepare um suco de laranja para a senhorita Charutis. Nossa conversa será longa e produtiva.

~*~

A manhã seguia nublada, com o sol aparecendo vez ou outra entre as nuvens.

— Pronto. – falou Igraine desligando o celular. – Já avisei a Yumie que vou me atrasar um pouco para chegar á ONG mas compensarei fazendo hora extra amanhã. E mandei uma mensagem para Nanny, mas ela ainda não me respondeu, mas deu como mensagem enviada, então tudo bem. Só acho estranho que meu celular estivesse desligado quando o peguei..tenho certeza que o deixei ligado ontem...
— ..deu de falar sozinha agora?
— Hãn?! Não, eu só estava pensando em voz alta.

   Ela percebeu mais uma vez o quanto Cruello era alto. Corou ao se lembrar não apenas da noite anterior mas que ele era Devs. Só isso fazia seu coração acelerar. O destino era realmente interessante.

— O que foi?
— Na-nada...bom eu já vou indo então...Devs.
— Não me chame assim. Eu sou Cruello Devil!
— Porque abandonou seu antigo apelido e mudou tanto o seu estilo? Naquela vez você parecia gostar e ter muito orgulho de como era.
— O passado fica no passado. E agora não vamos falar desse assunto. Eu tenho trabalho pra fazer e você também. Mas não esqueci que essa semana preciso que vá na Devils para que comecemos a lhe vestir adequadamente. E...
— Está bem, está bem. Eu disse que aceitaria que você me vestisse mas em troca terá que ir comigo visitar meus avós na fazenda.
  Cruello  trincou os dentes. Nem se lembrava mais daquilo.
— Precisamos mesmo fazer isso? Não podemos deixar para depois?
— NÃO! Você prometeu e agora terá que cumprir! Eu aceitei que você me meta nas roupas da Devil’s em troca de você ir na fazenda comigo! E tem que ser nesse final de semana! E nem adianta vir com a desculpa de que está abarrotado de trabalho por conta desse tal desfile!

     Cruello encarou a garota surpreso. Desde quando ela era tão autoritária e ousada desse jeito? Será que perder a virgindade havia feito isso com ela?

— ...está  bem...que seja..mas iremos no mesmo dia e voltaremos no outro! E não voltaremos á noite! Depois disso você vai ter que ser submetida á um treinamento intensivo de como se portar feito uma mulher de alta classe!
— Não garanto nada, Cruello!  Mudar meu estilo da noite para o dia não vai ser fácil... Eu preciso me adaptar. - ela murmurou. - O seu mundo é muito diferente do seu...
— Ei vocês dois, casalzinho clichê! - ralhou Scarlet. - Vamos logo com a despedida porque o tempo está passando e temos muito o que fazer na Devil's!

   Igraine assentiu indo em direção ao jovem alto, apoiando- se no peito dele. Ficou nas pontas dos pés para depositar um beijo em seus lábios e logo ele enlaçou sua cintura, intensificando o beijo.

  Enquanto o casal se beijava demoradamente, Scarlet observou Alfred terminar de colocar algumas malas no porta-malas. Subitamente, ela lhe chutou a bunda com força, fazendo-o cair com metade do corpo no porta-malas. Ao tentar sair, ainda bateu a cabeça na porta.

— AU! Senhorita Scarlet, por quê fez isso?!
— Nunca mais ouse desligar o telefone na minha cara! Onde já se viu priorizar a pegação do Cruello em vez da Devil’s?! É pra isso que você é pago?
—  Scarlet! – ralhou Cruello. – Pare de chutar o meu empregado!
— Volta a beijar sua caipira que estou dando uma lição nesse seu funcionário! Sabia que ele desligou o celular na minha cara?! E ainda desligou todos os telefones da mansão!
— Ele fez o que mandei. Bom trabalho, Alfred.
— Só fiz o meu trabalho, senhor.
— E posso saber qual a necessidade de fazer isso?!
— Toda vez que eu queria avançar com a Igraine alguém nos interrompia... – ele começou, a garota ainda envolta de seus braços. – Decidi então que isso não ia acontecer. Desliguei  os celulares,  Alfred ajudou  e veja só! Deu certo!
— Você desligou o meu celular também?
— Lógico. Eu SABIA que de alguma forma alguém ia atrapalhar e você iria me recusar de novo! E eu já estava cansado desse chove-não-molha!
— Nossa Cruello...você só queria fazer sexo comigo?! É isso?
— Não! Bem...sim...um pouco..mas não apenas isso...ora pare de me olhar assim! Você também queria! Agora vai. Temos muito trabalho para fazer, á noite eu te ligo ou pode me ligar.
 ...você não muda, não é mesmo?
—  Qual o problema? Você se apaixonou por mim pelo que eu sou. Até porque... – ele riu com soberba. – É meio difícil não se apaixonar por Cruello Devil.
— Mas aí é que está... eu descobri que não sou apaixonada por Cruello Devil! - ela o encarou, firme. - Demos um passo importante ontem, e eu não quero que ache que isso foi uma banalidade...porque eu não sou como as outras!
— Não é apaixonada por mim? - ele riu. - Ora, pare com isso...vai me dizer que é apaixonada por quem, então? Pelo punk do seu passado que, olha só...sou eu!

  Igraine fitou os belos olhos azuis do rapaz.


— Eu sou apaixonada pela pessoa que foi o Devs e agora é o Cruello...mas que sempre vai ser aquela outra pessoa que há mais de dez anos disse o seu nome no meu ouvido.
— ...você realmente se lembra de todos os detalhes daquele dia?
— Odeio ter que admitir, mas aquele dia me fez sonhar por muito tempo. Tira esse sorriso soberbo e convencido da cara! – ela corou feito um tomate maduro. – Enfim...eu só quero que você me valorize e entenda que eu não sou como as outras mulheres que você conheceu...ainda que eu mude um pouco, minha essência não vai mudar. Não consigo me transformar como você.
— ...e eu nem quero.
— Hein?

  Ele tornou a enlaçar os braços na cintura fina dela.
— Acha que eu me interessei por você por qual motivo? Tanto no passado como agora?
— Eu...eu não sei...
— É porque você justamente não é igual ás outras. Além de outras coisinhas.
— ...que coisas?
— Saberá com o tempo, raposinha.

      Antes que ela pudesse processar a informação, Cruello a envolveu em um beijo demorado, o qual Igraine retribuiu de forma apaixonada.

— Quer bonito, mas que bonito, hein! Por acaso eu estou atrapalhando o casalzinho aí?! Temos que trabalhar! Não se ganha dinheiro por conta do beijo de vocês!

  Separaram-se diante do comentário de Scarlet, que já estava dentro do carro.

— Acredita que vai aguentar a viagem com Scarlet?
— ...eu consegui aguentar você até agora. – Igraine rebateu, divertida. – Acho que posso lidar com Scarlet.  Até porque...ela ajudou a te resgatar daquela maluca e também concordou que eu viesse aqui te consolar.
— Foi uma excelente forma de me consolar. Agora vai antes que eu tenha vontade de te levar pra cama de novo e Scarlet tente me capar por causa disso.

     Trocaram um beijo rápido e logo Igraine entrou no  carro, não demorando para Scarlet sair da mansão cantando os pneus. Cruello ficou parado ali, acendendo um cigarro e contemplando a frente, pensativo.

— E então. – começou Alfred parando ao seu lado. – Por que não me disse que a senhorita Igraine era a camponesa do seu passado?
— Como você sabe disso?!
— ...ela me contou hoje de manhã, quando desceu para a cozinha e devorou dois pães, duas xícaras de chá e cinco biscoitos amanteigados.
— Você não contou nada do que não deveria, não é?!
— Fica tranquilo, chefe! Minha boca é uma tumba! Não literalmente falando....

  Ficaram um tempo em silêncio.

— E o que ela disse?
— ...nada que o senhor já não deve ter percebido. Tipo, ela ficou realmente apaixonada pelo senhor, até disse que era o príncipe punk dela ou alguma boiolagem do tipo...
— Ela falou o motivo de não ter entrado em contato comigo depois daquele dia, sendo que eu anotei o meu telefone no celular dela?
— Não. Bom, ela disse que queria ter mantido contato mas por culpa dela não conseguiu mas quando pensei em pedir detalhes, ela desconversou, o leite ferveu e ela disse que ia te acordar e não precisava levar seu café na cama.
— ...estou sem comer, me prepare um lanche! Que horas o peleiro falou que viria?
— Meio-dia, senhor. E ele parecia animado o que é estranho para um cara tão sinistro. Acho que ele conseguiu o que você pediu.
— Ótimo! O que está esperando, Alfred?! Vá preparar meu café e já deixe um chá pronto para quando o peleiro chegar. Irei ao closet de minha tia averiguar mais algumas peças que posso aproveitar no desfile. Vá, vá!

      Assim que Alfred adentrou na mansão, Cruello terminou de fumar seu cigarro pensativo. A noite havia sido excelente, Igraine fora tudo que ele esperava e muito mais.
     Porém, embora estivesse satisfeito e poderia até arriscar dizer, feliz, por alguma razão sentia-se incomodado com alguma coisa que não sabia dizer exatamente o que era.  Talvez porque não era apenas uma única coisa. Uma coisa que aprendera em sua vida é que quando tudo subitamente ficava bem em sua vida após um momento de caos é porque um caos ainda maior estava por vir.
       Ele só não imaginava o tamanho desse caos.

~*~


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Notas finais do capítulo

Então pessoal! Terminei o capítulo aqui! Incrivelmente ele foi um capítulo que quando comecei a escrever até que fluiu meio que rápido e não tive tantos bloqueios, como costuma acontecer. Eu tenho uma metade conseguir finalizar a fanfic esse ano, será que consigo? Pois muita coisa ainda vai acontecer! Já tenho algumas ideias em mente!
Agradeço imensamente ao apoio e paciência de todos! Prometo não decepcioná-los!
E se os deuses quiserem esse ano sairá muitas fotos maravilindas do Cruello de photoshoot *o*
Enfim, nos vemos no próximo capítulo!



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