The Cruel Beauty escrita por Tsu Keehl


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Pra variar eu demorei um pouco para atualizar a fanfic mas finalmente o novo capítulo está aqui! o/
Quero pedir desculpas pela demora e também agradecer á todos que estão sempre apoiando e incentivando a fanfic! Eu espero poder concluir ela ao chegar em uma determinada quantidade de capítulos, mas adianto que ainda vai acontecer muitas coisas!
E se tudo der certo, quem sabe rola ainda este ano, um photoshoot lindoso do Cruello? *o* Estou trabalhando nisso mas ainda tenho alguns photoshoots na frente. Agora vou perguntar uma coisinha aqui que também poderá servir de idéia...que tipo de talento escondido o Cruello poderia ter? Seria algo ligado á Disney e que a Igraine certamente iria adorar se soubesse! Deem suas idéias e façam suas apostas!
Agora chega de papo e vamos á fanfic!



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— EU ODEIO TODAS VOCÊS!

  Cruello gritara aquelas palavras com toda a força de seus pulmões e antes que qualquer uma delas pudesse fazer qualquer coisa, ele pegou a carteira, celular, chaves do carro e paletó e saiu correndo porta á fora.


— Cruello, espere...!
— Aonde pensa que vai, sua interesseira?! – Scarlet agarrou Charlene pelo braço. – Está precisando de muito óleo de peroba nessa sua cara de pau, hein?!
— Largue o meu braço que isso não te diz respeito!
— Mas você é muito ousada, garota! Não vou deixar você tocar em mais nada do corpo do Cruello!
— ...há! Invejosa! Está assim só porque eu tive o Cruello e você não!
— Além de louca e tarada você ainda é estúpida?! E eu lá quero aquela bicha enrustida?! Eu prezo pela sanidade e saúde dele porque meus lucros dependem disso! E não vou deixar que uma qualquer como você venha prejudicar meus negócios!
— ME LARGA! Você não tem o direito de querer me dar ordens! CRUELLO VOLTA AQUI!

Igraine não teve reação ao ver Cruello sair correndo da sala. Ela não conseguia acreditar que ele poderia ter sido vítima de abuso.

"Vá atrás dele,Igraine!" sua consciência gritava, e largando Scarlett e Charlene para trás ela, correu atrás do rapaz. JScarlett ajeitou os longos cabelos escutou e fuzilou Charlene que ajeitou as roupas amarrotadas.


— Ei! – ralhou a loira. – Aonde aquela caipira sonsa pensa que vai?! Se ela acha que tem altura para ficar ao lado do Cruello, vou é mostrar a realidade nua e crua para ela imediatamente!
— Antes ela do que você! - rosnou a morena. - Como pôde chegar á esse ponto Charlene Charutis? O que pensa que vai ganhar tentando violentar Cruello?
—Ora querida, Cruello é tudo aquilo que uma mulher deseja...e bem...-ela sorriu maliciosa -Além de me dar prazer, ele me abre portas. Acha que eu ia perder esse prestígio? - Charlene sorriu.

Scarlett suspirou desanimada.


— Seguinte,vou te dar um aviso. Tente dizer um única palavra sobre o que aconteceu aqui...e eu vou ACABAR com essa sua empresa e com sua pópularidade.
— Scarlett, você sabe que meu silêncio vale ouro... O que eu ganharia com tudo isso?
— Tente manchar a reputação de Cruello e eu irei revelar em toda a mídia que Charlene Charutis violentou e dopou Cruello Devil. E assim como fez com ele, pode ter feito com muitos outros clientes. Afinal, querida, o abuso ocorreu dentro de sua empresa, em sua sala, durante uma sessão de massagem. Você não foi nem um pouco profissional.

 A loira tencionou abrir a boca mas Scarlet a impediu com um gesto.


— E nem adianta dizer que foi consensual. Cruello fará um exame hoje mesmo que irá constatar que havia substâncias em seu corpo. E terei testemunhas como a garota que saiu correndo atrás dele e alguns funcionários seus que, por você tratar tão mal, não pensarão duas vezes em depor contra você. E uma última coisa: você tem uma empresa grande mas Cruello Devil tem muito mais status e dinheiro que você. Farei questão de contratar os melhores advogados e molhar muito bem a mão do juiz.
— Ai Scarlett minha amiga, você é mesmo uma insuportável!!  -Charlene bufou - Não vou exigir nada, só desejo que esse pequeno incidente não se espalhe. Está bem para você?
— ...por enquanto. Mas estou de olho em você.  Eu não sou sua amiga e nunca serei. E lembre-se...poder é poder.

  Scarlet deu ás costas á loira e saiu do local com um certo cuidado para não pisar nos destroços da porta que ela mesma destruira.

~*~

   Igraine correu desnorteada atrás de Cruello. Vendo que ele pegara o elevador, ela desceu  as escadas com velocidade, segurando-se no corrimão para não cair. Precisava chegar até Cruello, confortá-lo e mostrar que estava ao seu lado. Não sabia o que dizer, mas sabia que precisava ficar com ele. Chegou arfante na recepção, olhando em todas as direções.

— Com licença! – chamou ela para a atendente que lhe recepcionara na chegada. – Por acaso você viu se o Cruello passou por aqui?
— Quem?
— O Cruello! Um cara alto com um cabelo metade branco e metade preto.
— Ah sim! Aquele deus grego né? Então ele passou por aqui feito um furacão, parecia transtornado ou parecia que tinha cheirado cocaína...acho que ele deve estar no estacionamento e...

   Igraine saiu correndo para fora do local  mas logo notou que chegara tarde. Cruello já havia entrado em seu carro e saíra disparado em direção á rua, cantando os pneus.
— Cruello...

   O nome saiu de seus lábios e ela levou uma mão ao peito. E se ele entendera errado e estivesse achando que ela também havia compactuado com tudo aquilo? Não. O momento era pensar unicamente no que Cruello estivesse sentindo ao perceber que fora quase violentado por uma louca. Por sorte aquilo não acontecera graças á atitude de Scarlet. Scarlet...talvez devesse...

— Onde ele está?
  Scarlet surgira ao seu lado.

— Ele..ele..foi embora...
— Embora? Para onde?!
— Não sei..quando eu cheguei ele já estava saindo com o carro! Estou preocupada com ele, Scarlet! O Cruello foi abusado, ele está em choque, precisa de ajuda!
— Duvido muito que aquele estúpido precise de ajuda com relação á isso. – diante do olhar indignado da garota, ela continuou. – Mas de toda forma acho que seria bom encontrá-lo. No estado que ele está, pode acabar causando mais problemas do que já temos. Venha comigo.
— Mas..mas...não sabemos para onde ele foi!
— Vou deixar o pessoal da Devil’s avisado. Mas tenho certeza que ele deve ter ido para casa, se trancar no closet e ter alguma crise existencial abraçado á suas roupas de grife.
—  E quanto aquela mulher?! Ela pode chamar a mídia e...
— Ela não vai chamar. Pelo menos não por enquanto. Mas não confio que fique de boca fechada também. – falou Scarlet já indo em direção ao próprio carro. – Hey! Vai ficar parada aí ou quer vir comigo para acharmos aquele traste?
— ...já estou indo!

~*~

  A Mercedes vermelha seguia com grande velocidade pelas ruas de Londres. Scarlet desligou o telefone e o jogou contra o painel, irritada. Cruello havia desligado o celular e obviamente sequer ficaria online nas redes sociais. No banco do carona, Igraine observava apreensiva. Não apenas pelo jeito meio assustador que Scarlet dirigia, mas pelo ocorrido com Cruello.

— Eu vou MATAR aquela piranha loira! Vou acabar com a vida dela! Se ela acha que vai conseguir dar algum golpe e tirar proveito do Cruello e da fama dele, está completamente enganada!
— ...mas...mas..o que aconteceu entre o Cruello e aquela abusadora?!
—  Ele conheceu essa maluca anos atrás. Estava em um conflito existencial em ter que abrir mão da vida descomplicada que tinha e herdar todo o patrimônio da Devil’s bem como as responsabilidades logo após a morte da Cruella Devil.
— Mas..os pais dele não o ajudaram?
— Pais? – Scarlet riu. – Cruello nunca teve ajuda deles, Acho que eles nem tiveram tempo para isso.
— Como assim?!
 - Ele não te contou? Bom, já era de se esperar.  – Scarlet trocou a marcha do carro. – Você ainda não está no nível para saber tais coisas do Cruello. Apesar de ser uma pessoa pública, o passado é algo que o Cruello esconde muito bem. Se visse como ele era dez anos atrás iria ter um ataque cardiaco.
— Alfred já me falou sobre o quanto Cruello era diferente no passado...como ele era? Era uma Drag Queen ou coisa do gênero?
— Não. – ela riu. – Mas admito que isso seria possível. Mas ele tinha um visual legal, pessoal identificava ele á metros de distância.
— Como era?

  Scarlet não respondeu, apenas olhou para Igraine.
— Peça para ele te mostrar. Eu não vou falar nada.

  Igraine abriu a boca para retrucar mas Scarlet pegara novamente o celular, ligando para a Devil’s.

— Quem fala? Valder! Me diga, o Cruello está aí? Não? ELE O QUÊ?! Desgraçado!  - ele escutou a noticia do outro lado da linha. – Eu sei que estamos cheios de serviço por conta do desfile, não precisa me lembrar! Eu irei trazer o Cruello! Avisa para a equipe de estilistas segurar as pontas que trarei o Cruello nem que seja arrastado! Não, não interessa o que aconteceu com ele. Tchau!

   Ela desligou o celular e agarrou o volante com ambas mãos, irritada. Igraine queria continuar a conversa, pois se sentia realmente incomodada em saber que Cruello provavelmente não a considerava importante o suficiente para dar detalhes da própria vida pessoal. Mas a morena ao seu lado estava extremamente irritada e praguejava baixo sobre Cruello e Igraine achou melhor ficar quieta á fim de não deixar a mulher mais irritada. De repente ela poderia até provocar um acidente de trânsito e já estavam quase chegando ao apartamento onde Cruello morava.

~*~

  Scarlet e Igraine entraram no apartamento de Cruello Devil abrindo a porta com violência. Alfred, que estava deitado no sofá sem camisa e de meias, com uma vasilha de pipoca, uma garrafa de turbaína e assistindo á maratona do clássico seriado mexicano Chapolim.

—  Eita! O que você estão fazendo aqui?!
— O  que diabos VOCÊ está fazendo?! – ralhou Scarlet. – Tire já as patas e abunda do sofá, vista uma camisa e pare de comer! Onde está o Cruello?!
— Ele saiu.
— Ele não pode sair! Você o está acobertando?!
— Não!
— Então diga onde ele está!
— Eu...eu não sei! Ele chegou aqui do nada, muito furioso, fez uma mala e disse que ia para a mansão Devil e não sabia quando iria voltar! E que eu deveria ficar aqui cuidando do apartamento!

   Silêncio. Scarlet demorou alguns segundos antes de voltar a dizer.

— Ele não pode fazer isso! Não pode deixar a Devil’s por causa de uma besteira daquelas! Ele tem que trabalhar!
— Besteira?! – Igraine fechou os punhos. -  O Cruello não está bem! Ele foi enganado, drogado e abusado por uma potencial estupradora!
— ..como é?! O chefinho o quê?!
— Ele não tem tempo para ficar com crise depressiva agora! – rebateu Scarlet ignorando a pergunta de Alfred. –  A data do desfile está marcada e o sheik chega essa semana exigindo um desfile exclusivo á portas fechadas com peças polêmicas e únicas!  E metade destas roupas do desfile ainda precisam de ajustes finais! A agência está demorando em mandar modelos decentes porque não vamos deixar qualquer um vestir as peças da Devil’s na passarela! Embora os convites e todo o material de marketing esteja pronto, ainda temos de  selecionar a imprensa que estará presente e confirmar a lista de convidados! Eu ainda não decidi o meu vestido porque o Cruello está colocando tudo nas minhas costas enquanto fica arrumando encrenca! 
— Eu imagino o quanto de trabalho você tenham mas aconteceu algo grave! O Cruello é um ser humano também!
— Ele é um Devil! Deve ser imune á coisas mundanas!
— Mundanas?! Acha que abuso é algo mundano?! Quero ver se fosse com você!
— Ele é homem! E ele já teve caso com a Charlene que eu sei!
— Não é justificativa! Pare de ser tão capitalista e insensível! O Cruello deve estar em choque!
— Em choque ou não em choque o capitalismo não pára! A Devil’s tem que honrar seu compromisso e credibilidade e ele não pode se esquecer disso nunca!
— Mas pense nos sentimentos do Cruello antes!
— Ele que pensasse antes nos problemas que poderia ter antes de meter o pau dentro da Charlene! Eu sempre avisei para ele ficar longe dela!
— Mas temos que fazer alguma coisa! Não podemos ficar aqui gritando!
— EU SEI! Mas sou apenas uma só! – gritou Scarlet levando ambas mãos aos cabelos. – Mas a Devil’s está com muitas coisas para serem concluídas e supervisionadas. E não posso deixar os funcionários sozinhos por muito tempo e muito menos os estilistas. Se eu demorar demais para chegar, sabe-se lá o que pode acontecer! Eu não sei o que é pior: os estilistas e os demais funcionários transformando aquilo em uma arena de guerra fashion ou eles se unindo para fazer uma rave fashionista!
—Pela deusa... - Igraine suspirou, desanimada. - Vamos fazer assim, você vai até a Devil' s resolver o que pode e eu vou atrás do Cruello, pelo menos você consegue colocar ordem na empresa. Sei o quanto a empresa é importante para você e o Cruello, e apesar de tudo, vou fazer o que eu puder para ajudar! 

  Scarlet observou a garota. Ela parecia bem mais confiante e destemida hoje, quase nem parecia a mesma garota timida e chorona. Talvez ela pudesse...


— E você sabe aonde fica a mansão Devil por acaso?
— Saber eu não sei, mas Alfred pode me levar lá... E além do mais,Cruello precisa de mim! Eu sinto isso!- ela disse preocupada. - Não posso deixar as coisas desabarem na cabeça do Cruello assim, eu preciso fazer alguma coisa!

   Silêncio. Scarlet observou a garota e pareceu pensar. Suspirou, sentindo a cabeça latejar.


— Está certo. Eu não tenho outra opção no momento mesmo. Alfred, leve a garota.
— Pois não, madame.
— Seguinte...Igraine. - ela frisou o nome. - Acho bom você ter bons e eficazes argumentos ao encontrar Cruello. Nada de choro ou timidez. Pegue ele de jeito e faça-o entender que temos coisas importantes e prioritárias!

  Igraine corou por um segundo, porem decidida encarou a beldade a sua frente.


— Pode deixar Scarlett, dessa vez, vou mostrar ao Cruello que ele pode contar comigo! Não vou fraquejar! As deuses me darão forças, eu sei!
— Madame Scarlet, senhorita Igraine. – interpôs Alfred. – Acho válido lembrar que a mansão Devil é longe e seria recomendável que a senhorita Igraine levasse alguns pertences. Vi na previsão do tempo que há risco de chuvas intensas á noite e não seria recomendado pegarmos a estrada na volta assim á noite.
— Quê?! Mas..mas como...eu não posso passar a noite fora de casa e...
— Depois de vir com todo o discurso de agora há pouco está dando para trás? – rosnou Scarlet, ambas mãos na cintura. - Mas você é mesmo uma imprestável!
— Ei!  Quantas vezes vou dizer para você não me julgar sem nem me conhecer?
— O pouco que estou conhecendo está me deixando maluca!
— Quer saber? Eu vou sim na mansão Devil! Só preciso pegar algumas coisas em casa antes, caso tenha de ficar lá. Eu falei que iria ajudar o Cruello e vou ajudar!
— Então vá...e me mantenha informada. - a morena tirou um cartão da bolsa. - Traga ele de volta logo, intacto e exalando essência Devil de preferência.
  Igraine respirou fundo, decidida.
— ...c-certo!

~*~

   Igraine adentrou em sua casa aturdida. Afagou seus mascotes automaticamente e subiu rapidamente para o quarto seguida por eles, ávidos por mais  carinho. Não podia demorar, Alfred dissera. Pegou a mochila e abriu o guarda-roupa, confusa sem saber o que pegar ou o que fazer.
   Estava assustada e toda aquela situação parecia completamente insana. Cruello acabara de ser abusado por uma maluca, ela própria esbofeteara a maluca e agora estava indo para um lugar desconhecido. Agarrou as roupas mais básicas, enquanto seus mascotes corriam pelo quarto.

— Furacão, não faça bagunça!!  Mimo, sai daí!! -Igraine reclamou quando ouviu a porta abrir.
— Mas o que está acontecendo, Igraine? - indagou Nanny vendo a quantidade de roupas na cama, as gavetas abertas e a bagunça crescente. - Te deu a louca, foi?
—N-não Nanny, e-eu não sei como começar... Está tudo tão confuso, e complicado!E eu tenho que ir atrás do Cruello!  - Eu não sei direito o que fazer! -Igraine caiu no chão, arrasada.
— Mas  o que ele aprontou dessa vez?! - Nanny se ajoelhou ao lado da garota. - Sai Furacão, eu vou consolar a Igraine agora! Isso é assunto de mulher!

   O cachorro encarou Nanny  parecendo confuso mas agitando a cauda.


—N-não foi nada que o Cruello fez... Foi mais... Ai minha deusa!- ela segurou a própria cabeça com as mãos.  Cruello foi abusado sexualmente por uma ex dele!
— Abusado?! Como assim?!
— É uma história muito louca! A  Scarlet e eu o encontramos desacordado enquanto ela abusava dele e... Foi terrível Nanny, terrível! Cruello parecia tão perdido!
— E onde ele está agora?! Menina, nunca soube de um caso de abuso desse tipo exceto em uma novela que assisti uma vez...se bem que levando-se em conta um homem como o Cruello...bom ele é quase um atentado ao puder ambulante! Não que justifique ser abusado mas ele atiça os desejos carnais nas pessoas!
— Nanny! Isso é sério e grave! E o Cruello praticamente fugiu e eu agora estou indo para onde ele está! Não posso deixá-lo sozinho em uma hora dessas!
— Sim eu posso imaginar mas..e o seu trabalho?
— Yumie entenderá! Ligarei para ela no caminho! – disse pegando na gaveta uma bateria extra.

  Nanny observou a garota nervosa, sem saber o que colocava ou não na mochila e então se lembrou de algo importante.
— Mas se você não sabe onde o Cruello está, como vai sair daqui e ir até ele?!
— Eu estou com o motorista dele me esperando lá na rua! Alfred disse que me levaria até a casa que Cruello disse que estaria! E Scarlet garantiu que apareceria lá assim que conseguisse resolver as coisas na Devil’s!
— ...mas se você vai apenas falar com ele e trazê-lo de volta, porque está levando uma mochila? Só uma bolsa bastaria!
— É que...é que...o lugar onde ele foi é meio longe e já é começo da tarde...não sei...é que...que...

  Nanny percebeu  o rosto de Igraine se avermelhar mas a garota estava tão confusa e preocupada que sequer percebi a reação do seu subconsciente diante de possíveis disponibilidades. Nanny então suspirou e se aproximou da garota.

— Faça o seguinte. Vá lá tomar um banho rápido enquanto eu arrumo sua mochila! Porque se depender de você, vai demorar mais de uma  hora para decidir o que levar e não levar.

  Igraine acatou a idéia de Nanny e, enquanto a garota entrava no banheiro, Nanny observou a imensa bagunça sobre a cama. Teria trabalho para guardar tudo aquilo mas no momento precisava arrumar uma mochila eficaz com itens necessários e indispensáveis. Igraine a agradeceria afinal..não havia governanta mais eficiente do que Nanny.

~*~

  A mansão da família Devil se localizava no alto de um morro nos extremos do distrito de Costwold, no interior da Inglaterra. A construção era antiga, erigida por volta de 1600 e ostentava uma beleza clássica com forte influência do estilo gótico. Era como um mini castelo, provido de torres altas e fachada de pedra. Reinava soberano e solitário naquela colina, com os campos e o bosque abaixo de si e mais á frente a torre da igreja da pequena cidade.

  Localizada em uma região de difícil acesso, a mansão  Devil mantinha-se isolada desde sua construção, sendo lar de notórios membros da linhagem Devil que para ali iam somente em ocasiões especiais ou para desfrutarem da calmaria em épocas que ansiavam pela solidão. Ao longo dos séculos, muito se especulava sobre o que acontecia realmente na mansão. Boatos entre os maus supersticiosos diziam que a família Devil fizera um pacto com uma entidade demoníaca que conferira á eles grande poder, fortuna e sucesso por muitas gerações. O que deveriam pagar para manterem isso ninguém sabia, mas muita se especulava, inclusive uma fidelidade á prática de magia negra. É fato que á cada século, a linhagem Devil parecia ter mais poder, embora  os membros da família estivesse diminuindo gradualmente bem como maior parte das mortes serem marcadas por incidentes trágicos e com um toque de mistério.

  Mas isso muito provavelmente se dava a inúmeras situações estressantes e modos de vida que os membros da linhagem Devil costumavam desenvolver do que influência de algum tipo de misticismo.

   Assim, a mansão Devil. Tão solitária e misteriosa, com sua aparência aterrorizante se tornou um local que atraía e intrigava. Poucas pessoas haviam entrado nela: os reparos e cuidados do local eram feitos por empregados que moravam permanentemente no local e qualquer manutenção maior era feita por empresas contratadas e sigilosas. Era raro que um membro da família Devil fosse até ali e quando isso acontecia, por algum motivo, as estadias eram extremamente breves e imprevisíveis.

  Cruello Devil abriu a grande porta principal da mansão com agressividade,fazendo o ruído ecoar por todo o imenso hall de entrada. Os empregados sabiam com antecedência de sua chegada por Alfred e se mantinha á postos, agradecendo mentalmente a si mesmos por terem feito a faxina na mansão aquela semana ou seus empregos estariam com os dias contados.

— Boa tarde, senhor Devil... – começou o mordomo cordialmente.
— Boa tarde é o carralho!!! Me leve as melhores e mais  fortes bebidas que tiver no bar do escritório. Estou no escritório e não quero saber de perguntas e incômodos! DEPRESSA!

   Os empregados observaram o jovem empresário subir as largas escadas e só quando ele desapareceu no corredor, trocaram olhares entre si.

— Senhor Cruello está possuído pelo espírito de madame Cruella...
— É melhor obedecer e nem pensar em contrariar...

~*~

 Quando Igraine saiu do banho, viu que boa parte de suas roupas já havia sido guardada e que todos os seus mascotes (Mimo, Golias, Furacão e até mesmo DoisTons) estavam deitados encima de sua cama, gozando de sua vida de animais despreocupados.

— Mas vocês são uns folgados mesmo, hein? – comentou ela, divertida, enquanto colocava a roupa que Nanny deixara separada no cabide preso á porta do guarda-roupa.

  Sentou-se na cama para pentear o cabelo e prontamente Mimo procurou aconchegar-se em seu colo.

— Ah meus amores...mamãe ultimamente não está dando a devida atenção para vocês, não é? – ela falou e prontamente Golias se aproximou querendo expulsar Mimo do colo dela para ocupar seu lugar.

  Furacão soltou latidos quase grunhidos e choramingos, como se estivesse querendo dizer alguma coisa e colocava a pata sobre o braço dela.

— É...o Cruello tem ocupado tempo DEMAIS na minha vida e na minha cabeça. E isso não poderia acontecer, não é? Me desculpem, prometo que irei dividir melhor minha atenção.

  Furacão uivou mais alto, puxando o braço dela com a força de sua patinha.
— Oh, Furacão! É claro que eu amo você! Amo todos vocês! Mas entendam meu lado! Eu nunca tive um namorado na minha vida e quando encontro um,  bem...ele não é um namorado normal e acaba ficando tudo uma confusão...

  Ela observou DoisTons deitada mais no canto da cama, os olhinhos tristonhos mas a cauda abanando de um jeito mimoso.
— Ah minha menina...eu nem cuidei de você devidamente, é? Sentiu faltados mimos? – ela afagou a barriga da cachorra que amoleceu. – Ei, é impressão minha ou você tá gordinha hein?

   O som estridente de uma buzina ecoou e Igraine levantou-se prontamente.
— Ai meu Deus, estou atrasada! Filhos, mamãe promete que volta amanhã!!! E trarei presentes para vocês!

   Abraçou cada um dos bichos, pegou a mochila e a bolsa e desceu correndo as escadas. Quando chegou na rua, Nanny e Alfred estavam conversando encostados no veículo enquanto ele tomava uma xícara de chá servida pela mulher.
— Até que enfim, Igraine! – ralhou a governanta. – Eu precisei tocar a buzina ou você ia demorar quanto tempo?
— Desculpa, eu estava  falando com meus filhos...
— Filhos? O senhor Devil sabe?
— É os cachorros e o gato. – respondeu Nanny á pergunta de Alfred.
— Bom...eu...eu acho que estou pronta....
— Não se preocupe, coloquei tudo o que você precisa dentro da mochila. Não se esqueça de ligar para Yumie avisando.
— Eu não ficarei lá por dias. Pretendo voltar hoje!
— A viagem é longa, senhorita. E existe previsão de chuva, não é recomendado viajar pela estrada em noites de tempestade. – Alfred colocou os óculos escuros. – Prefiro evitar porque se algo acontecer com o carro, senhor Devil deduzirá os gastos do meu pagamento.
— Hãn...então...mas aí...
— Entra logo no carro, Igraine. – Nanny praticamente empurrou para o banco do carona. – Se cuide e trate de ajudar o Devil de todas as formas que lhe forem possíveis.
— Mas como assim?!
— Senhor Alfred, pode ir.
— Obrigado pelo chá, senhorita.

“Me chamou de senhorita!”
— Na próxima vez entre para experimentar alguns biscoitos!!

  Alfred já ligara o carro e estava engatando a marcha quando Nanny lembrou-se de perguntar.

— Igraine! Me diga para onde você vai!
— ...para a mansão Devil. Me deseje sorte!

  O carro saiu pela rua com velocidade e Nanny apenas suspirou.
— Ai Igraine...boa sorte e se cuida, menina.....oh céus! Esqueci de falar para ela sobre DoisTons! Bom, eu falo quando ela voltar...

~*~

   Cruello Devil sentou-se sobre a grande poltrona do escritório Devil, que mais se assemelhava á um trono acolchoado, procurando conter a sensação de ódio que dominava cada centímetro do seu ser.

  Cruello Devil abusado sexualmente. Isso era um ultraje, uma vergonha! Não podia ser verdade. Charlene havia enlouquecido, não poderia ter feito uma coisa dessas. Mas o pior era o fato de como ele não havia percebido as intenções dela antes.

“Como isso pôde me acontecer?! Eu sou Cruello Devil! Isso é um ultraje! Uma vergonha!! O que eu vou fazer?! O que eu fiz para merecer isso?! Será o preço a pagar por minha perfeição?! O que devo fazer? O quê?!”

Como se tomasse uma decisão, Cruello saiu de seus aposentos e caminhou, decidido, até a mais alta torre da mansão Devil. Aquele local era muito raramente usado e os empregados sequer tinham acesso ali pois a única chave da porta sempre ficava guardada em um pequeno cofre escondido detrás do grande brasão da família Devil fixado  na parede do escritório. Poucas coisas eram guardadas ali, mas seu valor era inestimável.

“Quando um Devil estiver em uma crise por algo grave que seu majestoso intelecto não consegue superar, é o momento de pedir auxílio ao Devil que ele mais admirar.”

   Cruello sabia disso. E chegara o primeiro momento de pedir ajuda para lidar com a terrível verdade que acontecera com ele. Pegou do cofre um antigo livro de couro, uma taça de cristal ornamentada, um pacote contendo uma mistura de folhas e uma pequena adaga.

 Com tudo isso em mãos, ele foi até a sala solitária no alto da torre. A destrancou e sentiu o ar abafado de um local que há muito tempo ficara trancado.
   Tudo parecia exatamente igual á primeira e única vez que estivera lá. Era um garoto quando sua tia o levara até ali e lhe contara – daquele jeito sempre rude e impaciente dela – um grande segredo da linhagem Devil.

   A bem da verdade, Cruello nunca acreditara que tal coisa era possível e que aquilo presente ao longo das gerações da família só aumentava os boatos acerca de pactos de magia negra da família Devil. Não que fosse ruim: isso enaltecia o sobrenome e evitava fanáticos religiosos, que temiam ser alvos de vodu caso desejassem provocá-lo.
  Trancou a porta e, após colocar os artefatos no chão, sentou-se no mesmo com uma careta de desgosto. O local estava abafado, o obrigando a tirar o casaco. Abriu o velho livro de couro procurando interpretar os estranhos escritos registrados ali.

~*~

   Após saír da cidade londrina, o veículo preto contendo Alfred e Igraine seguiu pela rodovia em alta velocidade. Mas, para alívio da garota, Alfred era um motorista muito diferente de Scarlet e principalmente de Cruello então a viagem transcorria calma e ela não se sentia apreensiva. Bom, pelo menos não com relação á isso.

— Está com fome, senhorita?
— Hãn? – Igraine percebeu que não comera nada desde que saíra de casa e diante de todos os acontecimentos só havia se lembrado no momento da pergunta. – Um pouco mas...posso comer depois! Temos que achar o Cruello!

   Alfred puxou do banco de trás uma sacola e colocou no colo da garota.
— Não pode ficar muito tempo sem comer. Nessa sacola tem um lanche natural, um suco de caixinha e um pacote de biscoito. Pode comer.
— Mas...
— Fique tranquila, peguei na cozinha do Cruello.
— Quando você fez isso?
— Quando eu fui buscar o copo de água com açúcar aproveitei e peguei porque a viagem é longa e é sempre bom sermos precavidos.
— Quanto tempo é daqui até a...mansão Devil?
— Não é tão longe quanto parece depois que você se acostuma. Mas com sorte chegaremos lá no começo da noite. A previsão disse que choveria então espero que cheguemos antes dela. Mas..senhorita...pode me dizer o que realmente aconteceu? O senhor Devil...
— Eu realmente não sei. Foi tudo tão chocante e bizarro, que chega difícil de acreditar. Mas aquela tal Charlene...
— Eu sempre falei para ele! Faz anos que eu aviso que aquela Charlene é uma pessoa suspeita. Ela posta demais no facebook coisas sobre boas ações e testes de signos que chega a ser suspeito. Mas estou realmente chocado com a audácia dela!
— Eu fiquei tão indignada que quando vi o Cruello totalmente subjugado e indefeso eu não me contive e ...dei mais  de um tapa na cara dela!
— Eita!! Me conte isso direito!
— É..bem... – Igraine sentiu o rosto esquentar. – Praticar violência não é algo que eu me orgulhe e goste e...
— Relaxa e se acostume. Viver com o Cruello significa que tem que estar disposta a partir para a agressividade. Não vê Madame Scarlet?
— Scarlet é insana e altamente propensa á violência. Eu não sou assim, não!
  Alfred olhou para a garota com o canto dos olhos. Pensou em comentar mas decidiu ficar calado. Igraine mordiscou o lanche, pensativa.
— ...o que devo fazer? – ela perguntou.
— O quê?
— Quando chegar á mansão. Não sei o que devo falar para o Cruello, como confortá-lo, ele deve estar muito abalado e confuso!
— Você sabe como confortá-lo.
— ...eu não sei! Estou aqui pensando e...
— Você sabe.  Só não percebeu e não admitiu ainda.

~*~

  O silêncio reinava por completo na pequena sala no alto da torre da mansão Devil. Cruello olhou ao redor, esperando que algo acontecesse. Nada. Olhou para o desenho que fizera no chão de madeira, olhou para o cálice, olhou para a mão machucada (que ele tivera o cuidado de enfaixar logo após infligir um pequeno corte na palma) e revisou o trecho do livro que dissera em voz alta. Estava tudo certo mas por quê não acontecia nada?

   Simplesmente porque tudo isso era balela, óbvio. Esse tipo de invocação e magia era tremenda besteira. As histórias antigas contadas sobre o pacto dos Devil eram apenas rumores supersticiosos. Jogou o livro para um canto e se levantou, endireitando as costas. Sentou-se na poltrona que havia em um canto da sala, não se preocupando se ela estava empoeirada.

   Era inútil achar que Ela aparecia para lhe aconselhar. Nunca fizera aquilo e não era agora, depois de morta, que isso iria acontecer. Com ela, Cruello havia aprendido a como ser um verdadeiro Devil e como guiar os negócios da Devil’s de forma eficaz e ter estilo. Mas no quesito emocional...”cada um com seus problemas”.

  Suspirou, recostando-se na poltrona. Não sabia se estava mais estressado, irritado ou frustrado. Talvez um pouco dos dois. Um ímpeto violento de sair quebrando tudo lhe assolava a mente mas de que adiantaria fazer isso? Não mudaria o fato do que lhe acontecera. Fechou os olhos, procurando suprimir qualquer sentimento estúpido que quisesse surgir em si devido á isso.

— ...acorda, seu moleque idiota!

   Cruello abriu os olhos soltando um gritinho de pânico e encolhendo-se na poltrona. Não era possível, não podia ser. Aquilo só poderia ser uma ilusão gerada com o auxílio de drogas, ainda que ele não houvesse ingerido nada. Mas não havia uma explicação plausível para o que estava diante de si, a usar um casaco de peles e ostentando a expressão irritada e cadavérica.

  Mas lá estava ela, a primeira e única...
Cruella Devil.

~*~


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Notas finais do capítulo

Hey pessoal! Enfim chegamos ao final de mais um capítulo!
Será que Igraine indo até a mansão Devil finalmente o Cruello vai conseguir algo que não apenas ele, mas todos os leitores (e até mesmo a própria Igraine ainda que ela não admita) querem? E será que Cruello terá um encontro com sua falecida tia? É esperar para ver!!!
Enfim, agradeço imensamente á todos que continuam acompanhando e apoiando a fanfic...cada comentário, cada curtida, cada incentivo é super importante!!! Mesmo eu demorando para atualizar saibam que penso todo dia na fanfic e faço o melhor possível em cada capítulo para trazer algo legal aos leitores. Espero estar conseguindo!
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