The Cruel Beauty escrita por Tsu Keehl


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

E ai meu povo! Como vocês estão?
Primeiramente quero pedir desculpas pela demora em atualizar a fanfic! Eu realmente não fazia idéia de que já tinha passado tanto tempo! Ando em uma correria tão grande, com tanta coisa para fazer que acabo perdendo a noção do tempo. Parece que foi há poucas semanas que atualizei a fic na última vez e quando vejo já se passaram quase dois meses! Não está sendo fácil, acho que preciso me sobrecarregar menos.
Agradeço á todos que se mantiveram fiéis em acompanhar a obra e perdoam (eu acho) essa autora desnaturada que eu sou XD. Mas pelo menos a Page do Cruello eu tento atualizar sempre (HTTP://www.facebook.com/cruellocruel). Mas agora finalmente trago á vocês um novo capítulo! Esse pra variar, foi meio difícil de escrever mas estou seguindo o meu lema de “não procrastinar” e fui intercalando ele entre as demais histórias que eu escrevo bem como outros afazeres. Gostaria de poder escrever na mesma velocidade que as idéias surgem...
Enfim, agradeço á todos que apoiaram e estão ajudando com a fanfic (em especial á Hime e a PaulaFer) e chega de papo e vamos lá porque esse capítulo já demorou demais para ser publicado!



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 ~*~

O silêncio e a imobilidade naquele quarto era sepulcral. Scarlet olhou para Cruello, depois para Igraine.  Quando seus olhos se encontraram, Igraine estremeceu mas pela primeira vez, mesmo assustada e envergonhada, não abaixou os olhos.

— Scarlet! Bata na porta antes de entrar!

  Cruello atrapalhadamente colocou uma almofada encima de si enquanto puxava a cueca para cima, percebendo que estava com um grande problema. E isso foi a única coisa que conseguiu fazer porque no instante seguinte Scarlet já havia avançado para cima de Igraine que só teve tempo de segurar os pulsos da mulher com toda a força que tinha.

— Você colocou todo meu plano por água abaixo, sua caipira maldita!!!!
— Sai de perto de mim, sua louca!

Nunca em sua vida Igraine havia se metido em algum tipo de briga. Sempre fora uma garota pacífica e invisível na época de escola e  mesmo na faculdade nunca teve problemas. Scarlet por sua vez, tivera uma adolescência habituada com brigas e aprendera a se defender. Já adulta, fez  aulas de krav maga e aprendeu como ser mortal.

Mas uma luta encima da cama não era um terreno propício para combates e o corset não ajudava a mobilidade fazendo com que nesse ponto ela estivesse em desvantagem. Fazendo uso das cobertas e movida por um instinto de proteção, Igraine revidou o ataque e logo ambas se degladiavam de forma selvagem, chegando ao ponto de conseguirem jogar Cruello para fora da cama.
  Ele se levantou indignado e ficou alguns segundos observando aquelas duas mulheres lindas lutando ferozmente na cama dele. Mas logo se recompôs.

— PAREM JÁ COM ISSO!!!

  Avançou contra elas, puxando Scarlet para fora da cama  e a imobilizando com os braços, levantando-a sem dificuldade, mesmo ela se debatendo e lhe socando o braço.

— ME SOLTA CRUELLO! Eu vou acabar com essa putinha! Já basta! Ela não vale nada ! Deixa que eu arranjo a filha do sheik para você!
— Eu não quero a filha do sheik!  Deixe a Igraine em paz!
— Não defenda essa rameira só porque ela tava caindo de boca em você! Ela quer te dar o golpe! Não permitirei que seja enganado! Nossa fortuna está em jogo!
— Pare com esse absurdo! Ela não é o que você está pensando!
— Pare de agir por instinto! ME SOLTA, ME SOLTA! Que eu vou arranhar ela toda!
— Não toque nela!
— Defendendo ela agora, é?! Você não manda em mim, me solta!!

  Scarlet conseguiu torcer o próprio corpo mesmo usando o corset e agarrou Cruello pelos cabelos.

— NÃO OUSE TOCAR NO MEU CABELO!

  Cruello gritara as palavras de um jeito furioso e assustador, mas isso exigiu demais de sua garganta e subitamente ele foi acometido por um violento ataque de tosse. Aproveitando o momento de descuido, Scarlet conseguiu empurrá-lo para a poltrona e avançou novamente contra Igraine para continuarem a luta.

   Alfred surgiu na entrada do quarto com uma colher de pau  em uma mão e uma panela com refogado na outra, deparando-se com Scarlet e Igraine atracadas furiosamente na cama enquanto Cruello estava sentado na poltrona em posição fetal acometido por um violento ataque de tosse.

— Mas o que está acontecendo aqui...VIRGEM MARIA!

   Alfred vislumbrou Scarlet e Igraine se engalfinhando na cama, agarrando-se uma á outra entre gritos e urros de raiva. Elas urravam de fúria parecendo dois cachorros em rinha. O mordomo tentou se aproximar para separá-las mas logo notou que sozinho não iria conseguir e saiu do quarto apressado.

   Em poucos segundos ele retornou armado com um extintor de incêndio, esvaziando-o sobre as duas mulheres que finalmente se soltaram aturdidas, assustadas e tossindo. Aproveitando esse momento e se recuperando do ataque de tosse, Cruello se levantou, pegou Scarlet no colo e a colocou em seu closet, trancando a porta do mesmo e sentando-se no chão, exausto.
   Um silêncio se instaurou no local e Igraine, após recuperar o fôlego, colocou-se de pé mas sentiu as pernas fraquejarem e se sentou novamente. Alfred foi até Cruello, o ajudando a se levantar e o colocando sentado na cama ao lado da garota.

— Irei buscar um pouco de água com açúcar para vocês.
  Assim que ele saiu, Cruello suspirou e então virou-se para Igraine.
— Você está bem?
— ...como posso estar bem depois de quase ser morta por essa maluca?

  Igraine não percebeu a forma agressiva com que havia falado mas também como poderia? Estava chocada, envergonhada e irritada com tudo o que acabara de acontecer. Sentiu a mão de Cruello sobre a sua enquanto a outra mão envolvia seus ombros e ele depositava um beijo em sua testa, tentando arrumar os cabelos despenteados da jovem.

— Scarlet não irá machucar você.
— Como pode ter certeza?! Ela está louca e me odiando por ter nos pego fazendo...droga! Nunca deveria ter feito isso!
— Claro que deveria! Eu gostei. – ele deu  um sorrisinho provocador. – Vamos lá, esqueça a loucura desses últimos minutos.
— Esquecer?! Cruello, tem uma mulher psicótica dentro do seu closet!
— E existe uma mulher linda na minha cama.

  Aquilo pegou Igraine desprevenida. As mãos de Cruello acariciaram suas bochechas  e ele roçou seus lábios aos dela.

— Rapo...
— ABRA ESSA PORTA CRUELLO! COMO OUSA ME TRANCAR AQUI?! ABRA IMEDIATAMENTE; SUA BIXA ENRUSTIDA!

  Cruello se levantou e se aproximou da porta, mantendo os braços cruzados.
— Porque eu deveria?
— O QUÊ?!
— Você invade minha casa, entra no meu quarto sem bater, agride a garota que está comigo...
— Eu sempre invado sua casa e você nunca reclamou! Eu não tenho culpa que você estava fazendo putaria com uma qualquer! ABRA IMEDIATAMENTE! Precisamos conversar!
— Você está muito alterada! A resposta é não.
— Não pode me deixar trancada aqui! É um absurdo! Mal começou a se envolver com essa caipira e já está dando prioridade á ela? Continue assim que você irá se dar mal e eu não vou te ajudar!
— Pode falar o quanto quiser, Scarlet!

   Scarlet começou a esmurrar a porta e Cruello se afastou, indo pegar um copo de água com açúcar que Alfred havia acabado de trazer. Ele ofereceu para Igraine, mas ela recusou.

— Senhor Devil...devo servir o jantar?
— Espere mais alguns minutos.

  Alfred saiu do quarto e Igraine observou estarrecida tais atitudes. Cruello tencionou se aproximar da jovem mas nesse momento a voz de Scarlet retornou .

— Abra essa porta, Cruello! Ou eu juro que...
— Jura o quê? – comentou, provocador. – Não há nada que você possa fazer para me prejudicar agora.
— Sua bixa burra! Você me trancou dentro do seu closet! Eu tenho uma tesoura aqui dentro de minha bota e não tenho medo de usá-la!

  A cor na pele de Cruello dissipou-se no instante que a ameaça foi proferida e ele arregalou os olhos ao se lembrar que, no momento do desespero em parar o combate entre as duas, jogara Scarlet na primeira porta aberta que encontrara.

— Você não faria isso! – disse ele com um certo toque trêmulo na voz.
— FARIA SIM! Não tenho nada á perder estragando suas roupas!
— Scarlet, existe peças aí que são caríssimas e exclusivas! São minhas roupas, não toque nelas!
—  Olha só essa camisa semitransparente que você usou naquela balada de Las Vegas ano retrasado! – som de tecido sendo rasgado. –  Pronto, sem mangas fica melhor.
— NÃO ESTRAGUE MINHAS ROUPAS!
— Se não abrir essa porta eu vou fazer PICADINHO de tudo que tiver aqui!

  Cruello olhou desvairado para a porta e em seguida para Igraine.
— Eu abro...mas você tem que prometer que não vai voar pra cima da Igraine!
— Você não está em posição de fazer exigências, querido! Oh vejam só! Essa jaqueta é da época dos rolês! Tem até seu apelido costurado nela!  Minha  tesoura está ansiosa para picotar esse couro velho!
— A jaqueta não! Ela tem valor sentimental!!!!

   Ele escuta o ruído de algo sendo picotado e rapidamente destranca a porta do closet, abrindo-a e se deparando com Scarlet segurando sua jaqueta e com a tesoura prestes a cortar uma das mangas. Com um movimento rápido, ele arranca a jaqueta das mãos da mulher, olhando desesperado em busca de algum rasgo. Igraine observou de uma certa distância e aquela jaqueta preta com algo que parecia bottons costurado á ela lhe causou um frio no estômago e um aumento dos batimentos do coração. Mas isso logo sumiu quando Cruello jogou a jaqueta para dentro do closet assim que Scarlet saiu dele. Ela parou á menos de dois metros de distância de Igraine, cruzando os braços de um modo que deixavam seus seios ainda maiores no decote do corset.
   Cruello pegou um robe azul marinho e vestiu-o se colocando entre as duas, ambas mãos na cintura.

— Muito bem. Vamos deixar umas coisas bem claras aqui. Chega de bagunça na minha casa. Scarlet querendo ou não o meu relacionamento com ela agora já é de conhecimento público e não tem mais nada que possamos fazer contra isso.
— Quem mandou ser descuidado?
— A questão é que já foi. Agora teremos que fazer um pronunciamento oficial e obrigatoriamente teremos que ensinar Igraine se portar e se vestir adequadamente!
— Ah, por favor! Eu tenho coisas mais importantes para fazer do que transformar uma caipira em socialite!
— Me portar e me vestir adequadamente?! Que raios de problema você vê no meu jeito de ser, Cruello?!
— Na verdade, “querida”. – provocou Scarlet. – Você toda é um problema.
— Olha só! – Igraine apontou para a mulher, encarando Cruello. – Eu não estou atacando ela! Ela que quer me atacar!
— Parem as duas! Ambas vão ter que se tolerar porque há não só minha reputação mas a reputação da Devil’s em jogo!

  Alfred surgiu no quarto.
— O jantar está servido.
— Ótimo. Vamos comer. – ordenou Cruello para as duas. – Depois discutimos isso.

~*~

   Com os ânimos acalmados após o uso do extintor de incêndio, os três haviam se sentado em torno da mesa de jantar: ele no centro e uma de cada lado. Scarlet enviava um olhar de ódio para Igraine e Cruello; Igraine enviava olhar de desprezo para Scarlet e Cruello...ele procurava controlar os próprios pensamentos homicidas que aquelas duas malucas provocavam nele.
   Alfred surgiu carregando três pratos e os colocou á frente de cada um.

— Aqui está um legítimo Roast Beef. Embora seja um prato normalmente consumido aos domingos acredito que é uma boa opção para hoje. Afinal o senhor Devil precisa se alimentar bem para melhorar desse resfriado. Temos carne de porco, carne de frango, batatas cozidas e salada de brócolis fresco. – ele colocou pequenas tigelas. – Temos molho branco, mostarda e molho de raiz forte. Para beber, um vinho tinto suave safra 1879.

  Ele colocou quantidades iguais em três taças que ofereceu ás pessoas á mesa.
— Bom apetite.

  Ele se retirou e novamente o silêncio se instaurou na sala. Cruello foi o primeiro a se servir e logo Scarlet fez o mesmo. A mesa havia sido posta de forma  elegante mas ao olhar para o próprio prato, Igraine conteve seu horror. Havia ali um monte de carne.

— Não vai comer? – indagou Cruello.
— É que...eu...eu sou vegetariana, lembra?

  Scarlet soltou uma gargalhada e limpou delicadamente os lábios com um guardanapo. Ignorando Igraine, ela virou-se para Cruello.

— Uma vegetariana?! Já basta ela ter um monte de animais peçonhentos na casa dela! Só falta me dizer que ela é  defensora dos animais!
— Qual problema teria em eu ser defensora dos animais?! Os animais também merecem respeito e direitos!
— ... levanta a voz pra mim de novo que eu enfio esse bife goela á baixo em você!
— Tenta para ver o que te acontece! – Igraine já pegara o garfo caso precisasse se defender.
— Parem com isso vocês duas! Chega! Estou com dor de cabeça!
— Ah isso é tudo ataque de pelanca! Vai defender a caipira só porque ela te fez um boquete?!
— Melhor ser caipira do que ser uma despudorada!
— Ah, olha quem fala! A “ bela, recatada e do lar”! Essa sua pose de boa-moça é tudo fachada, garota! Eu vi sua verdadeira índole! E pensar que eu cogitei a possibilidade de tentar confiar no seu caráter quando fui á sua casa...
— Você foi á casa dela?! – Cruello parecia realmente surpreso.
— Lógico! Tinha que ver o tipo de encrenca que você tinha se metido por causa do que tem no meio das pernas!
— Eu não sou um animal movido unicamente por ímpetos sexuais!
— Não é o que aquela foto que está estampada em todos os tablóides está dizendo! Os funcionários na Devil’s estão todos comentando!
— Que comentem! Lá tem um monte de mulheres e homens que adorariam estar no lugar dela! – exclamou apontando para Igraine.
— ...eu agora tenho que dar graças aos deuses por isso...?
— Claro! Olhe para mim! Olhe para você! Onde uma garota comum poderia...
— JÁ CHEGA! – Igraine deu um murro na mesa que as taças balançaram. – Estou cansada de vocês dois me humilharem!
— Ninguém te humilhou, meu bem. Só dissemos a verdade, lide com ela. – comentou Scarlet bebendo um gole de vinho.
— V-Você deveria ter mais respeito! Não me conhece e não tem direito nenhum de falar assim comigo!
— A primeira impressão é a que fica. E a impressão que tive de você naquele quarto não foi nada positiva!
— Parem as duas! EU NÃO AGUENTO MAIS!!!
— O que está havendo? – Alfred surgiu na sala. – A  hora da refeição é uma hora sagrada. Não devem brigar ou fará mal para a digestão.
— CALA A BOCA E VOLTA PRA COZINHA!
— Isso não é jeito de tratar um funcionário seu! – Igraine se virou para o mordomo. – O senhor sabe que pode ir no sindicato dos trabalhadores e exigir seus direitos!
— Igraine, não se meta.
— Não é certo você tratar as pessoas desse jeito!
— Nossa garota, como você é chata!
— Pelo menos eu não sou uma louca desvairada!
— Seguinte, Cruello! – ralhou a morena o encarando. – Não tem jeito de tentar arrumar essa menina. NUNCA ela conseguirá ser uma pessoa apresentável para o seu círculo social!
— Não sejamos extremistas. Eu acredito que com as roupas da Devil’s  e um pouco de treino ela pode...
— Vocês estão achando que eu sou um produto para ser exibido?! – Igraine sentia-se tão irritada que á cada minuto sua vergonha se dissipava.
— Você quer namorar com o Cruello e ser vista do lado dele? Então tem que ter consciência da pessoa que ele é! Portanto terá que se enquadrar nos padrões dele!
— Isso não é justo! É um absurdo!
— Se não aguenta, pula fora!
— JÁ CHEGA!!!! VÃO EMBORA DA MINHA CASA!

  Cruello batera os dois punhos com força na mesa. Passou os olhos de uma a outra e se levantou.
— Perdi o apetite. Scarlet, vá embora.
— Está me expulsando?!
— Estou te pedindo para ir embora. Conversaremos amanhã na Devil’s. O que está feito, está feito.

  Os dois olharam-se profundamente por segundos que pareceram uma eternidade.
— Irei. Mas ela deverá ir também.
— ...ela irá em seguida, pedirei que Alfred a leve.
 - Está certo.  Mas vamos jantar primeiro. A comida preparada por Alfred não deve ser desperdiçada.

  Eles então começaram a comer. Igraine os observou e decidiu comer apenas as batatas e os vegetais, deixando a carne de lado. E a refeição se seguiu em completo silêncio.

~*~

   Quando Scarlet finalmente decidiu ir embora (não sem antes fazer altas represálias para Cruello e ameaças disfarçadas para Igraine), o casal sentou-se no sofá enquanto Alfred lhes servia uma xícara de chá.
  Igraine mantinha-se em silêncio, sem saber o que dizer.  Na verdade queria dizer muitas coisas, mas não sabia como começar.

— Parece que tudo sempre conspira para nos atrapalhar, hein?
— ...quem é ela?
— Hum?
— Ela. Scarlet...quem é ela afinal?
— Bom...é uma longa história...Scarlet é a mulher que sempre esteve comigo.

  A expressão de desamparo no rosto de Igraine fez o rapaz rapidamente continuar.

— Calma, não é desse jeito que está pensando. Eu e Scarlet jamais tivemos qualquer tipo de envolvimento amoroso! Ela é assustadora! Mas é  a pessoa em quem eu mais confio.
— ...sério?!
— Ela parece maluca...na verdade ela é um pouco...mas é inteligente, responsável...eu não conseguiria ter assumido a Devil’s na época que Cruella Devil faleceu, se não tivesse Scarlet do meu lado.

   Houve um silêncio incômodo até que Igraine tomou coragem para perguntar mais uma coisa. Nem ela sabia porque estava preocupada com isso mas depois de todo o ocorrido, da fúria e principalmente da aparência de Scarlet, Igraine teve de perguntar.

— Você...gosta dela?
— ...ela é parte da minha vida, Igraine. E pelo visto você está sendo também.
— ...han...

  Cruello se levantou, passando a mão no rosto e concluindo que precisava descansar.
— Essa semana teremos muito trabalho. Amanhã eu ligo para você. Temos de te preparar para o pronunciamento oficial.
— ...pronunciamento oficial do que?
— De que estou namorando, oras! – ele suspirou. -  Muito bem, pedirei que Alfred a leve até sua casa. Preciso ficar aqui e resolver algumas coisas.
— ...tente descansar...você está gripado.
— Não posso mais me dar ao luxo de descansar.
— Bom então...eu vou indo para não te atrapalhar mais.

  Assim que ela se levantou ele a segurou pelo braço. Se aproximou e, ainda que no fundo não quisesse que ele se aproximasse, ele o fez e a envolveu em seus braços.

— Ela te assustou, não é?
— ...assustou, ameaçou, humilhou, atacou, machucou...
— Vocês irão aprender a se entender. Na verdade você vai aprender muitas coisas á partir de agora, Igraine. E isso será bom.
— Como pode ser bom?

   Cruello não respondeu á pergunta, preferindo mergulhar seus lábios nos dela em um beijo lento e demorado que, embora fosse algo bom não era capaz de dissipar todo o incômodo que cobria-lhe a mente.

~*~

   Igraine sentia-se horrível. Mais do que horrível, como se aquilo fosse possível. O caminho de volta foi em silêncio. Tudo na sua vida parecia o caos e acreditava cada vez mais que ela era uma vadia qualquer como a mídia e Scarlet diziam que ela era. Talvez até Cruello no fundo pensasse assim e por isso a tratava daquela forma confusa; ora sendo gentil, ora sendo ousado, ora sendo um completo panaca.
   Agora ele e aquela mulher maluca iriam obrigá-la a se transformar para se adequar aos padrões  estéticos que ELES consideravam corretos.

“ Você quer namorar com o Cruello e ser vista do lado dele? Então tem que ter consciência da pessoa que ele é! Portanto terá que se enquadrar nos padrões dele!”

  O que eles iriam fazer? Mudá-la fisicamente de forma radical era algo que ela poderia tentar encarar, como acontecia naqueles filmes de comédia romântica onde a garota simples se tornava uma femme fattale ou naqueles programas de moda. Mas e se eles quisessem que ela mudasse quem ela era? Que ela começasse a se tornar uma pessoa esnobe, viciada no luxo, que não se incomodasse com a mídia, que interagisse com pessoas da alta sociedade? Pior: poderiam querer impor que ela abandonasse as causas que defendia e as coisas que problematizava.

  Não poderia aceitar deixar de ser o que era por isso. Cruello nunca deixaria de ser o  que ele era, então porque ela deveria? Teria de conversar muito sério com ele, aprender a se impor. Não importava o quanto de influência que ele conseguia exercer sobre si com apenas um olhar daqueles olhos azuis lindos, não poderia deixar se tornar uma boneca moldada pelo capitalismo consumista Devil.

— Chegamos, senhorita.
   Igraine despertou de seus pensamentos ao notar que Alfred havia estacionado em frente á sua casa.  Agradeceu á carona e estava abrindo a porta quando ouviu a voz do homem.

— Senhorita Igraine, posso lhe dar um conselho?
— ...hãn...sim.
— Nem toda mudança é ruim. Ás vezes precisamos nos adaptar para as coisas em nossa vida mudarem para melhor.
— É...quem sabe. Obrigada pela carona.
— Não faço mais do que minha obrigação.

  Despediram-se e Igraine adentrou na casa antes que as primeiras gotas de chuva começassem a cair. Foi recebidas calorosamente por seus mascotes que pulavam animados e só se acalmaram depois de alguns afagos e palavras de carinho. Percebeu então que Nanny estava sentada no sofá, folheando uma revista enquanto a TV passava um programa qualquer sobre celebridades.

— Você anda bem “independente” ultimamente. – murmurou Nanny folheando a revista.
— Bom...eu já tenho vinte e quatro anos, preciso saber cuidar de mim mesma.
— Isso é verdade.
—Se é por tudo o que está acontecendo, eu confesso que não sei bem o que fazer. - Igraine sentou-se no sofá, cabisbaixa - Tenho a felicidade de ter Cruello para mim só que...são tantas diferenças!
— Eu entendo que você goste dele e eu mesma a incentivei mas... - Nanny lhe estendeu a revista. - Agora eu já não sei mais se meu incentivo foi certo.

   Igraine folheou a revista visivelmente chocada, nela várias fotos de Igraine durante o percurso para o trabalho e mais algumas onde ela estava atracada com Cruello. Um embrulho no estômago a tomou, enquanto as lágrimas teimavam em seus olhos.
   Nesse instante na tv surgiu uma rápida matéria sensacionalista no programa de fofocas .

— Okay, okay! – exclamou o apresentador com seu penteado pigmalião repleto de laquê. – E agora não é que o empresário e herdeiro da Devil’s finalmente apareceu aos beijos com alguém!
—  Ele consegue sentir algo por alguém que não seja ele mesmo?
— Ao que parece sim! – falou o apresentador ás gargalhadas para a mulher ao seu lado.

   Na tela atrás dele apareceu justamente a foto tirada por Patrick Star, em que Cruello e Igraine estão atracados no beco, com ela cruzando as pernas envolta da cintura dele que a segurava pelos quadris em meio á um beijo intenso.

— UAU!!! Mas olha isso! – exclamou a mulher. -  Cruello Devil demorou tanto para aparecer ao lado de alguém que quando aparece é para causar polêmica!
— É...ao que parece Cruello Devil passou um dia inteiro junto com essa moça misteriosa!
— Misteriosa e ousada! Se ela continuar com esse ímpeto logo teremos que noticiar uma machete procriativa aqui!

  Os dois apresentadores riram e logo o homem voltou a falar.
— Cruello Devil todos nós conhecemos mas o grande mistério é  acerca de quem é a moça! Ela não é famosa, não é da alta sociedade, ela é uma pessoa comum igual á mim, você e aos telespectadores!
— Sério mesmo?! – a mulher fingiu surpresa. – Como ela conseguiu chegar até Cruello Devil?!
— Ainda não sabemos mas tenho certeza que isso não vai demorar para ser revelado!  Estamos de olho!
— Mas é muita ousada essa moça, não? Para não dizer outra coisa...
— Vamos para os nossos comerciais e voltamos em instantes! Dessa vez o novo escândalo da herdeira de uma famosa rede de hotéis!

   Ao fim da vinheta, Igraine afundou-se mais no sofá. Um medo insano percorreu seu corpo: na internet deveriam estar massacrando ela. Tinha medo de acessar seu facebook e se deparar com toneladas de mensagens de ódio. Sentiu seu estômago embrulhar e desejou desaparecer.

—Pela deusa... onde eu fui me meter?! – murmurou apertando uma almofada contra o  rosto enquanto Nanny a abraçava.

  Logo seu celular começou a tocar. Tocou uma vez, duas, três...até que a insistência de quem estivesse ligando era tal que obrigou Igraine a se afastar de Nanny e pegar o aparelho dentro de sua bolsa.

— Pronto.
— Você é um desastre ambulante mesmo! - era a voz de Scarlet. – Aquela maldita foto de você agarrada ao Cruello está circulando por toda internet e já saiu em rede internacional!
— E-eu...
— Pare logo de gaguejar! É questão de tempo até aparecer jornalistas na sua porta e sair gaguejando nos vídeos ainda mais com suas roupas sem graça, será motivo de piada!  Amanhã MESMO eu e o Cruello vamos te mandar algumas roupas, trate de usá-las!
— Mas como assim, eu....
— E não faça nenhuma postagem com textão no facebook á respeito disso!  Deixe que aquele abestalhado em cio do Cruello faça um pronunciamento primeiro! Estamos lidando com o status do Cruello aqui!

  Antes que Igraine pudesse dizer algo, o telefone já havia sido desligado.
— Quem era?
—  Um..demônio...um demônio em forma de mulher capitalista...
— Como assim?

  O celular tocou novamente em sua mão fazendo Igraine ter um sobressalto. Ao perceber no visor quem era, ela atendeu.

— Menina! – era Yumie. – Você está na TV! Seu caso com o Cruello já é de conhecimento público! Vira e mexe no meu facebook aparece alguém compartilhando postagens com aquela foto de vocês no beco! Estão até criando memes já! Mas eu não acho que seja uma boa idéia você acessar o facebook hoje...você deixa suas publicações do facebook em modo público?!
— N-não!
— Menos mal! Você e o Cruello precisam se assumir logo, o fã-clube dele no face está em polvorosa e devo avisar que não de um jeito muito positivo. Tá ocorrendo uma verdadeira guerra de textão lá sobre quem é a favor e quem é contra a “garota misteriosa’ que tá com ele!

  Igraine sentiu que mais uma pessoa estava ligando e ao ver quem era, soube que precisava atender.

— Yumie tenho de desligar aqui, daqui á pouco eu te ligo.
— Tudo bem! Mas pode ficar tranquila que se alguém te atacar, eu vou atacar a pessoa!

   Se despediram e ela atendeu a ligação seguinte.
— Igraine. – era a voz de Cruello. – Nossa foto está...
— Eu sei. Em todas as mídias sociais, nas revistas e na TV!
— Fique quieta e não fale nada que possa dar problema! Eu vou lidar com essa situação. Maldição! Não era para isso vir á público agora e desse jeito!
— ...desculpa...
— Não é culpa sua! É culpa de Patrick Star! Aquele febre do rato vendeu as fotos dele e está lucrando ÁS MINHAS CUSTAS! Mas amanhã mesmo darei início á um processo judicial e...
— Cruello, o que eu faço? Estou assustada com tudo isso e querendo morrer de vergonha! A minha foto agarrada á você no beco foi vista por todo mundo!
— Ser vista agarrada á minha pessoa tem que ser algo do qual você orgulhe, ora essa!
— Como você pode...
— Amanhã lidarei com isso. Inclusive amanhã iremos marcar de você vir aqui em casa.
— Por quê?!
— Sem perguntas. Apenas venha, temos pouco tempo para te tornar apresentável na mídia.
— Pare de me dizer o que fazer!
— Tenho que dizer porque você não faz a mínima idéia do tipo de pessoas que terá de lidar á partir de agora! Preciso ficar junto com você. Amanhã eu te ligo.  – a voz de raiva dele rapidamente se tornou calma. – Tente descansar hoje e não acesse a internet. Você precisa relaxar um pouco rapos...enfim, tenha uma boa noite e amanhã nos vemos!
— ...está bem, boa noite.
— Boa noite, Igraine.

   Assim que ele ligou, Igraine ficou olhando para o aparelho, sem realmente pensar em algo. Nanny se levantou e ia dizer algo quando o telefone da casa tocou.

— Deixa que eu atendo. – Nanny se prontificou ao notar o quanto a garota parecia cansada.
— Casa dos Radcliffe...oh, olá!!!

  Igraine não ficou para ouvir a conversa. Já havia recebido ligações o bastante para um dia. Foi até a cozinha seguida por Furacão, tencionando pegar algo para comer. Abriu a geladeira e estava pegando a caixa de leite quando ouviu a voz de Nanny.
— Igraine! Sua avó quer falar com você!

  Ao ouvir, a garota sentiu um alívio e alegria súbita. Fazia tempo que não conversava com sua avó, que morava em uma fazenda na cidade de Bibury. Correu até o telefone empolgada de poder conversar com alguém que não fosse uma pessoa surtada que a repreenderia mas logo suas expectativas miaram ao ouvir o tom sério na voz de sua avó e a pergunta que ela não queria responder.

— Igraine...o que significa você aparecer em fotos agarrada em um beco com o sobrinho da Cruella Devil?
— Eu...eu...
— ISSO É UM ABSURDO! O que a Igraine tem na cabeça?!

  A voz furiosa de seu avô surgiu um pouco mais ao longe na linha.

— Seu avô está muito bravo e indignado com o que viu. Sabe que a saúde dele é frágil e foi realmente um choque ele ter visto a foto em um programa de TV.
— Mas o vovô está bem?
— Sim, sim não se preocupe...mas ele está furioso com o que viu e muito bravo com você!
— Avise á ela que temos que ter uma conversa séria! Ela não sabe com o que se meteu! Ele é um CANALHA igual aquela maldita tia dele! Deixa eu falar com ela!
— De modo algum, Roger! – a voz da avó se afastou um pouco do fone. – Fique aí sentado! Não adianta nada brigar com ela por telefone agora!
— Mande ela voltar imediatamente pra fazenda antes que fique prenha daquele bastardo!
— Igraine querida...
— Não seja branda com ela! Igraine precisa ouvir umas verdades! Onde já se viu ser flagrada em um beco com um  Devil?!
— Igraine, você viu como seu avô está.
— S-sim...
— Precisamos ver você. Venha aqui para a fazenda no final da semana. – a avó abaixou a voz. – E tente trazer Cruello. Creio que seria bom seu avô conversar com ele .
— O QUÊ?! Mas mas vó...
— Mas o quê, Igraine? Você está em um relacionamento sério com ele, não está? Por favor, não me diga que está apenas tendo um caso sem compromisso! Você está na mídia, sua reputação...
— Está certa vó, eu vou tentar. E-eu..aviso a senhora.
— MANDA ELA VIR PRA CÁ IMEDIATAMENTE!
— Pare de gritar, Roger! O que os vizinhos vão pensar?
— Vizinhos?! Só se for os bichos do celeiro, moramos em uma fazenda! Enfim Igraine..acho que é bom você voltar para cá o quanto antes. Te ligarei amanhã.
— Okay vovó Anita...boa noite.
— Boa noite querida...e por favor se cuide.

  Após se despedir, Igraine encostou-se na parede e foi deslizando até sentar no chão. De imediato Dois Tons, Furacão e Golias a rodearam, com o gato Mimo subindo em seu colo.
   Estava ferrada. Literalmente ferrada. Como dizer á seus avós que se apaixonara por um “odioso Devil”? E pior...como convencer Cruello a ir para o campo conhecer a fazenda de sua família?
   Sem pensar muito e quase que mecanicamente, Igraine selecionou um determinado contato da agenda do celular. Após três toques, a pessoa atendeu.

— O que foi?
— ..nossa credo, Cruello! Você não consegue ser gentil?
— Eu estou ocupado. Agora que estamos na boca do povo preciso traçar toda uma estratégia e ainda tenho as ocupações do desfile!
— Está certo, vou falar rápido. Você já sabe o que fazer no fim de semana?
— Querida, eu não sei nem o que vou fazer daqui algumas horas! Preciso verificar na minha agenda, meus compromissos eu peço que minha secretária anote e...
— Então você pode ir comigo visitar meus avós?
— ...por quê?!
— B-bom...eles viram aquelas fotos e estão furiosos.
— Como eles podem ficar furiosos de ver a neta atracada com um homem rico e lindo como eu?! Eles deveriam é  estar em júbilo da neta ter conseguido um partido que irá tirá-la da miséria!
— Eu não estou na miséria!!!

  Ela o ouviu rir do outro lado da linha. Respirou fundo e continuou.
— Acontece que eles não são liberais e exigiram que querem te conhecer.
— Mas porque toda essa babaquice que...
— Por favor, Cruello! Eu já estou me dispondo a tentar..
— Olha eu estou com a minha cabeça latejando e preciso estar melhor da gripe pois há muito para ser feito na Devil’s. Se quiser, marcamos de ir vê-los. Onde eles moram?
— É...em uma...fazenda em Bibury...

   Silêncio no outro lado da linha.
— Você quer que eu vá para uma...fazenda?! Nunca!
  Igraine fechou os olhos e suspirou irritada. É, não seria fácil.

~*~


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Notas finais do capítulo

E mais um capítulo da fanfic foi finalizado! A situação para Igraine se complicada cada vez mais. Será que ela vai aprender a se produzir como uma pessoa que combinaria para o estilo de Cruello Devil? E será que o Cruello teria coragem de ir para a fazenda?
Quero agradecer aqui á todos que estão sempre apoiando a fanfic, me incentivando a continuar! Espero poder atualizá-la mais rápido na próxima vez mas não tenho como prometer porque estou sempre na correria e também tentando trabalhar no meu projeto literário original e em meus cosplays. Quem sabe esse ano consigo realizar um photoshoot do Cruello?
Enfim, até o próximo capítulo!