The Cruel Beauty escrita por Tsu Keehl


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoa, tudo bem com vocês?
Finalmente o novo capítulo da fanfic! Peço novamente desculpas pela demora em atualizar(se bem que dessa vez eu acho que não demorei um prazo tão exorbitante para atualizar) mas é que estou naquela correria básica e procurando me focar em diversos projetos, tanto literários como cosplaýsticos e organizacionais. A fim de evitar procrastinar tanto e ocupar o meu tempo disponível da forma mais produtiva possível, acabei criando diversas coisas que preciso manter no ritmo de produção. O lado positivo é que assim evito o ócio e luto contra a procrastinação e o negativo é que fico mais ocupada e ás vezes perco um pouco o fio da meada.
Inclusive eu fiz um artigo sobre Procrastinação em meu blog que pode ser muito útil para qualquer pessoa que goste de produzir coisas (seja na escrita, música, artes, etc) e viva em constante luta contra a preguiça, bloqueio e afins. Caso tenha interesse, aqui está o link: http://www.tsukeehl.blogspot.com.br/2016/02/a-nossa-procrastinacao-diaria.html
Agora sobre a fanfic..o que dizer desse capítulo? Bom o tão esperado encontro de Scarlet e Igraine e o surgimento de um novo personagem que será uma figura recorrente na história. Como é de praxe, tive problemas em desenvolver o capítulo e agradeço ao apoio de todos e o incentivo para que a fanfic e o projeto Cruello continuem ativos. Muito obrigada mesmo, pessoal!
Chega de papo e vamos á fanfic!



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~*~

        Igraine observou a mulher á sua frente, intrigada. Nunca vira uma mulher daquelas em sua vida. Ela parecia ter saído das revistas de moda e de filmes de Hollywood. Scarlet observou a garota e disse, com voz firme e autoritária.
— Deixe-me entrar!

   Em um primeiro momento, Igraine pensou em dizer não, mas havia uma imponência e uma aura de autoridade naquela mulher que fizeram a garota recuar alguns passos e permitir que Scarlet entrasse.

   Scarlet adentrou na casa, com ambas mãos na cintura e olhando ao redor. Á medida que caminhava em passos lentos, o salto de seus sapatos ressoava no piso. Observou a casa com um olhar intrigado e ao mesmo tempo irritado. Os móveis simples e um pouco gastos, o sofá com uma ridícula manta por cima, o cesto com revistas velhas, alguns enfeites...passou o dedo no móvel próximo á escada, sentindo o pó. Com uma expressão de desagrado, observou o tapete e o piso e arregalou os olhos quando viu  três cachorros e um gato estirados preguiçosamente no sofá e no tapete. Quando a  viu, Furacão se levantou saltitante mas parou abruptamente quando Scarlet o encarou. Ressabiado, o cão voltou a deitar no tapete com o rabo entre as pernas.

  Após uma rápida avaliação da casa, Scarlet voltou-se para Igraine e a garota retesou todo o corpo. O olhar daquela mulher era assustador. Ela parecia uma assassina profissional, daquele tipo sexy que aparecia nos filmes.

  Scarlet mediu Igraine de cima á baixo, procurando pela memória a imagem dela quando a viu pela primeira vez na loja em que trabalhara, em longíquos dez anos atrás. Pelo pouco que se lembrava, não parecia que a garota houvesse mudado tanto. Ganhara mais formas e emagrecera um pouco, mas continuava com a mesma cara de caipira. Ausência quase total de maquiagem, roupas simples e baratas, sem qualquer glamour e estilo. Sabia que ela não tinha condições financeiras de usar joias, mas poderia pelo menos usar algumas bijuterias. O cabelo parecia sem vida e...coque frouxo.
  O coque frouxo fez uma raiva lhe dominar os sentidos e, colocando ambas mãos na cintura, Scarlet começou.

— Presumo que você seja  a tal Igraine, não é mesmo? A tal Igraine que está se envolvendo com Cruello!
— ...e-eu...eu...é que...
— Ainda por cima não sabe assumir! Pare de gaguejar e fale como mulher!

  Igraine arregalou os olhos, assustada. Aquela mulher realmente metia medo.

— Eu imaginava que fosse uma garota simplória. Eu sabia que tinha alguma coisa errada com você para que o Cruello tivesse tentado ocultar ao máximo o envolvimento dele. Ele sabe que não faz sentido! Mas devo confessar que eu não esperava que você fosse tão simplória!

  A garota não sabia o que dizer e antes que tentasse, Scarlet continuou.
— Cruello só pode estar louco! Deve estar em alguma crise existencial, não é possível! Olha essa casa, esse modo de vida, esses animais andando por todo lado e subindo nos móveis! Ainda se você fosse um tipo de mulher que chamasse atenção ainda eu poderia pensar que ele estivesse excitado mas...olha pra você! É tão...tão comum! Eu achei que Patrick Star estivesse exagerando ao te descrever mas pelo visto era verdade! Eu conheço Cruello há mais de vinte anos e você não faz o tipo dele, definitivamente!
— VOCÊ VEIO NA MINHA CASA SÓ PRA ME OFENDER?
— EEEEEEEEEEEEEEEEEEPA!!!!! Abaixa a voz comigo que eu não sou seus amiguinhos ativistas, não!
— Você chega na minha casa e acha que po-pode me ofender?!
— Ofender? Querida eu não estou te ofendendo, estou apenas enumerando fatos! Você não faz sentido na vida do Cruello.
— E quem é você para dizer isso?! – Igraine já sentia os olhos arderem de lágrimas.
— Eu sou Scarlet Medusa, a mulher de Cruello Devil!
— MULHER?! Vo-você e...
— Não pense absurdos! Eu não tenho nada com aquela criatura enrustida, aloka! Tenho meus princípios!  - ao perceber o desespero estampado no rosto de Igraine, ela riu. – Mas admito que  o Cruello não seria quase nada sem mim! Sou eu quem tenho de organizar tudo na Devil’s. Principalmente agora que aquele imbecil está quase colocando o desfile em segundo plano por causa dos malditos instintos masculinos! Acabo tendo trabalho em dobro e isso por SUA CAUSA!
— Mi-minha?!
— Sim! Essa sua gagueira está me irritando! – Scarlet olhou novamente ao redor. – Tudo isso aqui está me enfadando! Como Cruello decaiu á esse ponto?! O que você fez com ele?!  Foi a cruzada de pernas? - á cada pergunta ela avançava um passo. – Foi garganta profunda?! Foi dando algo que não se dá no primeiro encontro? Foi algum tipo de feitiço?!
— N-não, é nada disso!!! – gritou Igraine caindo sentada no sofá, assustada com o enorme decote do corset da mulher. – Eu e o Cruello não fizemos nada disso! Eu não sou a vadia que estão dizendo que eu sou!
— Ah, muito prudente querer dizer que é inocente! Aposto que está tentando dar o golpe!
— Golpe?! Que golpe?!  A senhora está maluca!
— Senhora?! Eu sou SENHORITA! Ou melhor...Madame Scarlet! E tenho muita experiência com gente interesseira, eu vivo rodeada de pessoas assim e se fingir de inocente não irá me enganar!
— Eu não sou assim, caramba! Maldita hora que me apaixonei pelo Cruello!

  Silêncio. Scarlet encarou Igraine que já estava enxugando as lágrimas, furiosa. Os olhos da bela mulher estudaram a jovem por alguns segundos, com suspeita. Conhecia bem o tipo de mulher  e de homens que se aproximavam de Cruello visando algo amoroso ou puramente carnal. Quando os confrontava, aprendera, ao longo dos anos, descobrir o que eles realmente queriam. Era sempre obter status, dinheiro, momentos de fama ou simplesmente abusar do corpo de Cruello.

  Porém, aquela garota á sua frente não parecia em nada com as pessoas que haviam se envolvido ou tentando se envolver com Cruello nos últimos anos. Á bem da verdade, ela fugia de qualquer estereótipo de gente interesseira com a qual Scarlet conhecia muito bem. Cruello dissera que a garota não sabia que eles já haviam se conhecido no passado e, pelo jeito dela, isso parecia ser verdade.
  Bom, se fosse mesmo, a garota era tão tapada que tecnicamente seria impossível para ela arquitetar um plano maquiavélico para extorquir dinheiro e  vantagens dele.

  Entretanto, ainda que a garota não fosse uma interesseira, não havia cabimento algum que Cruello se envolvesse com uma pessoa tão comum. Ele precisava de alguém que estivesse no mesmo nível. E aquela garota era bonita, mas não possuía glamour e claramente, a confiança necessária para ficar ao lado de um Devil. Na certa não iria aguentar o poder da mídia e tampouco a pressão e exigência que ela e Cruello colocariam. A garota chorava por qualquer coisa!

— Muito bem... – falou, seus saltos fazendo ruído no piso enquanto andava em torno de Igraine. – Eu não acredito em você mas lhe darei uma chance. Veremos como você irá se comportar durante uma semana.

  Parou na frente de Igraine, inclinando-se sobre ela e batendo ambas mãos nos braços da poltrona fitando a jovem, que estremeceu.

— Eu vou te observar, eu vou te investigar, eu vou te testar. Eu não vou deixar que Cruello ou a Devil’s sejam manchados por qualquer escândalo esdrúxulo de uma cidadã comum achando que existe contos de fadas. Eu...

   O celular de Scarlet tocou e, irritada, ela se afastou e atendeu.
— O que foi? – uma pausa enquanto ela ouvia a pessoa na outra linha até que seus olhos se arregalaram furiosos. – O quê?! Os estilistas disseram isso?! O Cruello tem que... – mais uma pausa. – O QUÊ?! Como assim esse desgraçado não está na empresa?!  Não importa se ele estava passando mal ou colocando os pulmões para fora! Ele não pode deixar as coisas nesse estado! NÃO!  Como assim a mercadoria está sendo taxada?! De modo algum! Não! Espera,  avisa o pessoal que não vamos parar e que vai dar tempo, sim! Esse estilistas são uns frouxos! Eu já estou indo para a Devil’s!

  Desligou o telefone, transtornada. Igraine observou as reações da mulher. O que Scarlet tinha de bonita, tinha de estressada.  

— Eu ainda não terminei com você. – avisou, com o dedo em riste. – Tenho de resolver algo urgente mas eu volto. E teremos uma conversa muito séria!

  Saiu da casa com passos rápidos, batendo a porta atrás de si. Igraine permaneceu estática por alguns segundos, procurando compreender o que acabara de acontecer.
  A primeira vez que Cruello aparecera na sua casa e na sua vida, havia sido como um furacão mas Scarlet...Scarlet parecia um ataque aéreo de uma grande potência militar.

“ Que medo...”

~*~

   Após Scarlet sair furiosa e aos berros no celular, batendo a porta atrás de si, Igraine sentou-se no sofá, procurando compreender o que havia tudo aquilo. Que furacão de mulher havia sido aquilo?!

   Levou uma mão ao peito, procurando conter o choro. Porque todo mundo parecia odiá-la agora? Só por ela estar supostamente namorando o todo-poderoso Cruello Devil isso dava ás pessoas o direito de falarem coisas terríveis e lhe ditarem ordens e ameaças?! Não era justo! Desse jeito, não iria aguentar, desse jeito iria...

   A campainha tocou e ela não se moveu. Tocou mais duas vezes até que Igraine foi até a porta, mas segurou a maçaneta. Se fosse mais alguém querendo xingá-la ou tentando invadir a casa, iria reagir. Iria reagir com violência. Não pudera sentar um tapa na cara de Scarlet e esse tapa iria para o próximo que a provocasse.
  Respirou fundo e abriu a porta, dando de cara com um homem vestido um terno preto impecável, cabelos penteados para trás, barba e óculos escuros com um pacote em mãos.

— ...é a senhorita Igraine Radcliffe?
— É...bem..hum...sim...
— Tenho uma coisa a lhe entregar á pedido do senhor Devil. Posso entrar?

  Igraine receou um pouco mas por fim cedeu passagem para que o estranho entrasse. Furacão e Dois Tons se aproximaram cautelosos mas, á um gesto da mão do homem, eles se aproximaram, farejando-o e abanando a cauda. O homem acariciou a cabeça deles e então virou-se para Igraine.

— Desculpe incomodá-la mas meu chefe pediu para lhe entregar uma coisa.
  Ele abriu uma maleta preta e entregou uma caixa de veludo para a jovem, que pegou-a intrigada.

— Hãn..obrigada mas...quem é o senhor?
— Meu nome é Alfred Raven e sou o mordomo do senhor Devil. A família Raven serve aos Devil por gerações e eu pretendo manter esta tradição. O senhor Devil pediu para que eu lhe entregasse pessoalmente isto, o qual desconheço o que seja. Mas devo aguardar sua resposta acerca do que foi entregue.
— Ah..tu-tudo bem. 

   Igraine sentou-se com a caixa de veludo em mãos.  O que diabos seria aquilo? Abriu a caixa com cuidado e quando viu, sentiu que o ar faltava em seus pulmões. Fechou a caixa e então a abriu de novo para ter certeza.
  Era uma joia. E não qualquer joia. Era um belíssimo colar de ouro. Com um design delicado e elegante, o pingente, cravejado com pequenos brilhantes e uma pedra de rubi no centro, tinha o formato de uma raposa.

  O coração de Igraine palpitou e ela sentiu que tremia. Seus olhos encheram-se de lágrimas e ela respirou fundo. Nunca ganhara um presente tão bonito e caro como aquele. Era algo além do que ela imaginara e ao ver o pingente em forma de raposa, sentiu a lembrança e a saudade se abaterem sobre si como um furacão.

“ Raposinha.”

   Não. Não deveria mais pensar nisso, reviver lembranças. Nunca o encontraria de novo, essa era a verdade. Havia uma outra pessoa em sua vida agora. E essa pessoa acabara de lhe dar um presente extremamente caro e ainda com um pingente na forma do animal que ela mais gostava. Como ele poderia saber disso sendo que detestava animais?

   Cruello a tratava de forma rude, tinha sempre um comentário acudo na ponta da língua, com manias e trejeitos que a irritavam mas...subitamente ele fazia algo que a deixavam desnorteada e ao mesmo tempo encantada. Talvez ela devesse pensar mais em Eu e Ele do que Eu e a Opinião Alheia.

— Está tudo bem, senhorita?
— Hãn?! Ah, sim, sim... – Igraine limpou as lágrimas que teimavam cair.
— O presente não foi do seu agrado?
— Não! Digo, pelo contrário! É lindo, é...nossa, nunca ganhei algo assim!
— O Senhor Devil tem muito bom gosto...na maior parte das vezes.
— Mas eu...eu não posso...não posso aceitar!

   Alfred a encarou, sério.
— Não posso levar o presente de volta, senhorita. Senhor Devil iria me dar broncas e cortar uma parte do meu salário.
— Mas...eu ...eu não consigo ligar para ele e... "a tal Scarlet quase me matou. "
— Gostaria que eu a levasse até a casa dele?

   Igraine encarou Alfred, confusa.
— Mas...Cruello está trabalhando!
— O senhor Devil me ligou pouco antes de chegar dizendo que saiu da empresa e estava indo para o apartamento. Aparentemente ele pegou um resfriado grave. O encontrei hoje cedo quando ele me pediu para entregar isso. – ele apontou para a caixa.  – Eu não posso me demorar pois tenho de ir ao apartamento dele para preparar o jantar. Então se quiser ir, é recomendável que iremos já.

~*~

   “ O que afinal eu estou fazendo aqui?!”

   Enquanto o carro seguia pelas avenidas de Londres, Igraine tentava compreender os recentes acontecimentos.

   Primeiro, a chuva de ódio e difamação gratuita que as pessoas na internet estavam fazendo contra a sua pessoa. Depois, a discussão de Valder, agourando o seu possível relacionamento. Depois, a certeza de que sua aparência realmente não combinava com Cruello. E então a chegada daquela mulher, Scarlet, que parecia uma mistura de deusa com demônio da moda e do bullyng, altamente sedenta para destruí-la. E quando a situação ficaria ainda pior, surgiu um homem com aparência de agente secreto que se identificava como Alfred que lhe entregou uma joia caríssima á pedido de Cruello e agora a levava ao encontro dele.

    Havia deixado um recado para Nanny avisando que tivera de sair, mas que já deixara ração para todos os mascotes. Como o tal Alfred exigia que ela não poderia demorar, acabou tendo que se arrumar rapidamente. Vestiu jeans e uma camisa e uma  tranças no cabelo para diminuir o volume e a aparência desleixada, colocando a boina por cima.

   Estava confusa com tudo o que acontecia naquele dia insano e precisava encontrar alguma resposta para poder se acalmar.
  Mas teria feito certo? Ela sabia que aquele era o carro de Cruello, o carro que lhe atropelara na segunda vez em que haviam se encontrado. Não conhecia Alfred, poderia estar se arriscando. Deveria ter pelo menos avisado Nanny que...

— ...está tudo bem, senhorita?
— Ah...há, há s-sim!

  Igraine mexeu nos cabelos, incomodada. Alfred a observou através do retrovisor e voltou a atenção para o trânsito.

— É... – começou Igraine após algum tempo. – Você...digo...o senhor sabe porque o Cruello pediu que eu fosse até sua casa?
— Desconheço as intenções de meu patrão para levá-la até ele. Apenas cumpro ordens. – diante dos olhos arregalados da jovem, ele completou. – Mas o patrão tem boas intenções com a senhorita.
— O senhor...
— Pode me tratar como você. Quem utiliza nomes de tratamento sou eu, senhorita.

  Igraine afirmou com a cabeça um pouco indecisa e tornou a ficar calada. Passaram-se alguns minutos e Igraine observou, aliviada, que o tal Alfred era um ótimo motorista, ao contrário de Cruello. Quando sua mente voltou a se lembrar de Scarlet e as palavras ditas por ela, tratou rapidamente de afastar tais pensamentos.

— Er...senhor...digo, Alfred....você e o Cruello se conhecem há muito tempo?
— Sim. Desde que o senhor Cruello assumiu o controle da Devil’s após o falecimento de Cruella Devil.
— Oh...e quantos anos isso faz?
— Quinze anos mais ou menos. O senhor Cruello era uma pessoa muito diferente do que era hoje. A senhorita não acreditaria se soubesse como ele era antes...na verdade ninguém acreditaria!
— Sério? Como ele era? – indagou Igraine curiosa, mas procurou perguntar de forma desinteressada.
— O senhor Cruello não gosta que as pessoas saibam como ele era no passado. O estilo e as opiniões dele eram muito diferentes das que são hoje e não seria bom para a imagem dele que isso viesse a público.
— ....ele era transformista ou algo do tipo?

  Alfred segurou uma risadinha, imaginando seu patrão como uma Drag Queen ao estilo Cruella Devil e confessou pra si mesmo que, dada á metrossexualidade exagerada de Cruello em determinados momentos, imaginar isso não era tão impossível.

— Não...ele só era um pouco...”rebelde”. A estética dele era bem diferente de hoje. Se o cabelo bicolor dele já chama atenção, tinha de ver anos atrás!
— Sério? Como ele era?
— Peça para ele lhe mostrar uma foto qualquer dia desses, senhorita. Ele mantém esse passado oculto só eu e madame Scarlet que chegamos á conhecê-lo nessa época.
— E o que fez mudar tanto?
— As responsabilidades, senhorita. As responsabilidades.

~*~

    Igraine seguiu Alfred pelo hall principal do prédio após deixarem o carro na garagem. Ele caminhava com passos firmes, mas a velocidade natural dele ao nadar obrigava Igraine a apertar o próprio passo á fim de alcançá-lo. Ele havia tirado os óculos escuros e ela pôde notar que ele não era tão velho quanto pensara no primeiro momento que o vira. Na verdade ele parecia ser um apenas alguns anos mais velho do que Cruello.

  Dessa vez, entrando pela porta da frente e andando sem medo de ser pega e mandada para fora, Igraine pôde observar todo o luxo e limpeza do apartamento.  O hall principal era imenso, com uma decoração clássica e de muito bom gosto. Em quase todas as paredes haviam grandes espelhos e á medida que andava, suas botas curtas faziam barulho no piso bem encerrado.

  Pegaram o elevador e foram até o penúltimo andar. Igraine sabia que era um apartamento por andar e, ao chegar no local, se deparou com o corredor que atravessara na outra vez. O chão era atapetado e nas paredes haviam espelhos e quadros. Diante da porta, Alfred bateu duas vezes antes de pegar o cartão magnético e abrir a mesma.

  O apartamento estava muito bem arrumado, mas o silêncio era total.
— Senhor Devil. – chamou o homem. – Senhor Devil!
— Já ouvi, Alfred! – ouviu-se a voz de Cruello seguida por um acesso de tosse. – Você fez o que eu pe...Igraine?!
— O-oi...

  Igraine observou Cruello, sem acreditar muito no que via. Era a primeira vez que via Cruello sem suas roupas elegantes e impecáveis. Ele vestia apenas um shorts curto e uma camisa cinza com a estampa de Jurassic Park. Os cabelos bagunçados e o nariz vermelho, deixavam claro que  ele estava com um resfriado péssimo.

— O que você está fazendo aqui?! – a voz dele era rouca, indicando a garganta inflamada.
— Eu..eu...
— Ela pediu para que eu a trouxesse aqui, senhor. – falou Alfred para indignação de Igraine. – Ao que parece ela precisava muito lhe ver.

   Cruello bufou, parecendo claramente desconfortável com aquilo. Igraine suspeitou que pudesse ser pelo fato de ele estar incrivelmente normal, sem toda aquela vaidade latente e montado em suas roupas caras. Queria dizer que ele continuava bonito do mesmo jeito e não precisava se preocupar, mas acabou ficando quieta.

— Senhor, vou á cozinha preparar o jantar.
— Vá, vá! – gesticulou Cruello para o mordomo. – E você venha cá.

  Igraine obedeceu e quando chegou perto, Cruello segurou seu rosto e lhe deu um beijo rápido, o qual ela instintivamente retribuiu. Logo ouviram o som de Megadeth tocando alta na cozinha seguido pelo barulho de panelas e armário sendo abertos. Logo, em meio a música, puderam ouvir Alfred cantarolar.

— Vamos conversar no meu quarto.

~*~

   Era a segunda vez que Igraine adentrava nos aposentos particulares de Cruello e isso lhe causavam uma sensação incômoda. O quarto dele era imenso e muito bem decorado. O closet na certa deveria ter um tamanho e uma quantidade de roupas e acessórios que ela sequer poderia imaginar. A cama era enorme e estava repleta de almofadas e algumas cobertas. Cruello foi até lá e ajeitou-se.  Logo começou a espirrar e rapidamente pegou a caixa de lenços que estava sob a mesa de cabeceira. Depois, ajeitou-se na cama, rodeando-se por almofadas e cobrindo-se até a cintura.

— Venha cá. – falou, indicando o espaço na cama ao seu lado.

  Igraine hesitou. Mesmo com a porta do quarto fechada, poderia ouvir barulhos na cozinha.

— Relaxa, ninguém vai nos incomodar! – Cruello deu uma tossida. – Alfred na certa está preparando o jantar então só vai bater na porta quando tudo estiver pronto. Enquanto isso... – ele recostou-se na cama, colocando os braços atrás da cabeça. – Podemos curtir um pouco...sozinhos.

  Ela o observou, confusa consigo mesma. Uma parte de si queria se jogar nos braços dele e se entregar ali mesmo. Mas a outra parte queria conversar sobre coisas importantes, principalmente no que se dizia respeito ao que as pessoas estavam falando sobre si. Aliás, difamando sobre si. E também sobre a "visita" de Scarlet.

— Gostou do presente?
— Pre... – o rosto de Igraine corou e ela rapidamente começou a mexer na bolsa. – Cruello,  o presente..o presente...

  Ela retirou a caixa aveludada da bolsa e estendeu para ele.
—  ...o que...
— Eu não posso aceitar!
— ...por quê? Não gostou?
— Cla-claro que gostei! É lindo e...é uma raposinha e...
— ...então fique com ele.
— Mas...mas...não posso, Cruello! Isso é uma joia! É de ouro e...são...não sou uma especialista em pedras mas isso são rubis e cristais!
— Diamantes.
— Que seja e...deve ser uma fortuna!! – ela esticou a caixa novamente para ele. – Não tenho condições de aceitar um presente desses e também não seria o certo! É algo muito valioso!
— ...qual o problema de não aceitar? Eu dei, é seu.
— Mas é muito caro!!!
— Eu sei.
— Então...
— Eu sou rico! – ele riu de forma soberba. – E além do mais, o design da jóia foi feito por mim. É uma peça exclusiva.
— Mais um motivo para eu não aceitar, Cruello! Eu...eu...é lindo, mas é caro e é muito chique e eu realmente não posso...
— Pare de tentar achar argumentos para não aceitar o presente! – ralhou ele e, por forçar a voz, tossiu algumas vezes. – Eu lhe dei o presente, não é um custo que me fará falta, como pode bem ver! – ele abriu os braços lembrando a condição abastada em que vivia. -  Ou você faz questão de querer rejeitar todo o meu imenso bom gosto com presentes?!
—  Mas é que..que...isso é algo muito chique e elegante! Não tenho lugar algum que possa usar uma coisa dessas!
— Não vou aceitar esse presente de volta! Já basta o pouco caso que você fez com o corset que eu lhe dei visando uma melhora em sua estética!
— O corset...o corset...mas Cruello, isso é uma joia! É algo caro demais para eu manter!
— Se não quer usar, então venda! – ralhou ele. – Quem sabe com o dinheiro você consegue comprar uma casa decente e parar de viver naquela choupana!
— Minha casa não é choupana! E não preciso do seu dinheiro para me mudar de lá! E eu não quero mudar de lá!
— Não tem cabimento você ficar naquela casa, com aqueles animais, naquela simplicidade suja que facilita a transmissão de doenças e...

   Cruello foi acometido por um ataque de tosse e espirros que o fizeram se apressar em pegar a caixa de lenços. Igraine fez uma careta, cruzando os braços.

— Curioso..se eu vivo na simplicidade suja correndo risco de pegar doenças como você esmo diz...porque é você quem está quase morrendo?
— É por sua culpa! – ele quis gritar mas a voz saiu em um sussurro por conta da garganta. – Eu estou doente por sua culpa! Aquele dia que a levei de moto, eu tomei chuva e agora estou aqui, morrendo de gripe e perdendo minha bela voz!
— Eu estava de vestido, peguei chuva, vento e não fiquei doente! Você está com falta de vitaminas!
— Não estou com falta de nada!

  Igraine bufou, irritada. Ainda tinha a caixa de veludo em mãos e além de ter de entregar aquilo, precisava falar para Cruello sobre toda a difamação contra sua pessoa que ocorria na internet. Em seguida falaria de Scarlet.

— Cruello, preciso dizer...hoje na internet... – ela começou, pensando ao mesmo tempo em que falava. – Nosso...a nossa situação está sendo alvo de imensas...

   Cruello foi acometido por um ataque de espirros e deitou a cabeça no travesseiro.
— Eu....eu estou fraco...
— Você está só gripado! Eu preciso falar que...
— Não é só uma gripe, Igraine...ela está dominando meu corpo... – ele arfou, afundando-se nas cobertas. – Estou fraco...muito fraco....você me levou á esse estado e ainda recusa meus presentes...vai me recusar também?
— Eu não tenho culpa que você esteja gripado!
— Tem, sim! Por sua causa eu peguei a maior chuva na moto e no caminho de volta eu acabei esquecendo de pegar a minha jaqueta que emprestei para você não ficar andando na moto com um micro vestido!
— Eu tinha uma probabilidade muito maior de ficar gripada e não fiquei! Você está com falta de vitaminas!
— Não estou com falta de nada!

  Ele começou a espirrar e em meio aos espirros procurou a caixa de lenços, Igraine pegou uma que estava sob a estante e entregou á ele. Naquele momento percebeu que, embora ele fosse Cruello Devil, também possuía uma fragilidade como qualquer ser humano.

   Pousou a mão sobre a cabeça dele, massageando os cabelos macios. Como gostaria de poder ficar com ele em paz, sem ser julgada por pessoas que sequer a conheciam! O encontro com a tal Scarlet havia provado que o estil ode vida de Cruello estava além do que ela poderia imaginar ou mesmo lidar. A vida não era um filme romântico onde as coisas dariam certo no final. O mundo dele e o seu mundo era diferentes. Incompatíveis.

  Interrompeu os próprios pensamentos ao sentir as mãos de Cruello em torno de sua cintura e no segundo seguinte sentia que ele a puxava para a cama. Ela soltou um gritinho e não soube como, mas Cruello com uma agilidade que não combinava para uma pessoa acamada posicionou-se sobre ela.

   Ao deitar na cama de Cruello, Igraine percebeu o quanto o colchão era macio.  As cobertas estavam quentes mas sua análise logo foi superada pela sensação de calor que lhe cobria ao ter o corpo de Cruello sobre si.  Ele a envolvia em seus braços e ela não sabia se o calor do corpo dele era devido ás cobertas em que ele estava envolvido até poucos minutos atrás ou a febre devido a gripe. Trocaram alguns beijos mas logo ela colocou ambas mãos sobre o peito dele.

— Cruello, não podemos ficar...fazendo isso!
— Por que não? – ele indagou com voz rouca.
— Porque....porque você está doente, está gripado!
— Com medo de eu lhe passar gripe? – ele falou lambendo o pescoço da garota.
— N-não..eu raramente fico gripada mas...você está com febre! Está...
— Sabe qual é um excelente remédio para ajudar a melhorar a gripe?
— ...chá de guaco...
— Não! – ele ralhou. – Sexo.
— QUÊ?!
—  Isso mesmo. Sexo é um ótimo remédio para aliviar os sintomas da gripe!
— Onde você leu isso?
— ...ouvi por aí.
— Cruello! Isso não é fonte confiável e...
— Por favor, Igraine... – ele murmurou. – Eu quero, você quer, estamos namorando, estamos na minha cama, você negou meu presente...
— Mas mas..não estamos sozinhos aqui e...
— Alfred não irá nos atrapalhar! Ele está  preparando o jantar e é do tipo que nunca entra sem bater! E já que você está aqui, ele sabe que não deve nos incomodar.

  Igraine sentiu-se corar, o coração acelerado. A verdade é que queria ficar com ele, ele estava lindo com aquela camisa, os cabelos meio despenteados e a expressão do cansaço provocado pela gripe. Tocou o rosto dele com ambas mãos, observando o azul daqueles olhos. E então ergueu-se um pouco para beijá-lo com paixão.

  Dane-se o que os outros pensam. Ela tinha Cruello á sua frente. Real, quente e por um momento procurou esquecer todas as aflições que ocupavam sua mente, entregando-se aos beijos e carícias. Suas mãos percorreram o corpo de Cruello, ajudando-o a tirar a camisa que vestia para então lhe tocar os ombros largos, o tórax definido e descendo até as coxas. Estremeceu de surpresa e excitação quando sentiu o corpo dele já excitado. Beijou-o com mais intensidade e logo sentiu as mãos de Cruello começarem a lhe tirar a roupa. Os lábios dele desceram por seu pescoço enquanto ele tentava abrir  o zíper da calça jeans que ela usava.

— Porque usa uma roupa tão difícil de tirar?
— Po...porque não pensei que você iria tentar tirar!

  Cruello sorriu e deitou-se na cama, puxando Igraine para que ela ficasse sobre si. Como se fosse um dejávu Igraine sentiu uma sensação agradável lhe dominar ao sentir o membro de Cruello embaixo de si e a visão dele seminu deitado embaixo de si. E, ao sentir os olhos de Cruello sobre si, uma verdade tomou-lhe a mente.
  Não importa o que os desconhecidos falassem. Não importava as ameaças de Scarlet. Cruello estava ali, desejando-a. Quantas outras mulheres gostariam de estar sentadas no colo dele como ela estava agora?

— ...o que foi? – ele perguntou, ao ver que ela estava quieta e parada. – De novo vai querer parar tudo e apenas me deixar com vontade?
— E-eu...

 Ele suspirou, parecendo resignado.
— Pelo visto eu nem devo ter mais expectativas. Você na certa fica tão envergonhada que nem vai conseguir fazer direi...whoa!

   Cruello gemeu, deitando  a cabeça no travesseiro, sentindo a onda de prazer e satisfação percorrem seu corpo. Custou a acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. Tanto que até ergueu um pouco a cabeça para olhar e ter certeza de que não era imaginação. Sorriu, observando Igraine compenetrada em lhe dar prazer de um jeito que ele não imaginava que ela faria. Pelo menos não agora.
  Deitou novamente a cabeça no travesseiro, fechando os olhos e mordendo os lábios.

— ...é mesmo uma ordinária...

  Igraine procurava não pensar no que estava fazendo. De onde vinha a coragem para deixar a vergonha de lado, não sabia. Talvez tenha sido a provocação de Cruello ou toda a raiva pelo ódio de pessoas desconhecidas na internet ou mesmo a ameaça provocativa de Scarlet. Independente do que fosse surpreendeu-se a si mesma pela atitude e tinha de confessar que aquilo não era tão estranho de se fazer quanto pensava que seria. E perceber que Cruello gostava a estimulava a continuar. Afastou os lábios do membro, acariciando com uma das mãos.

— ...eu não consigo fazer? – ela perguntara mais como uma provocação do que como uma dúvida.
— Con...consegue... – ele abriu os olhos e a encarou. – Você é muito ousada mesmo...
— Não devo ser?
— Claro que deve! – ele passou a língua nos lábios.

  Igraine baixou o rosto para que ele não percebesse o quanto estava corada ainda mais porque ele tinha uma expressão que a deixava excitada. E por falar em excitação, Igraine tinha de admitir que Cruello era maior do que pensava. Mas não ia pensar sobre isso agora. Fechou os olhos para recomeçar a carícia quando...

— CRUEEEEELLLO!!!!!

   A porta do quarto foi aberta com violência e nela surgiu Scarlet com um semblante furioso e uma pasta em mãos.
— Saia dessa cama! Estamos com problemas urgentes  na Devil’s e você preci....MAS O QUE É ISSO, SUA CAIPIRA VAGABUNDA?!

  Igraine quase engasgou e olhou assustada e envergonhada para Scarlet. Cruello estremeceu e pálido, procurou rapidamente se cobrir.  O rosto de Scarlet ficou lívido e ela demorou alguns segundos para decidir qual dos dois iria atacar primeiro.  Sendo pegos no flagra, ambos se abraçaram e, através  dos olhos psicóticos de Scarlet, perceberam que estava com um problema. Um problema dos grandes.

~*~


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Notas finais do capítulo

Mas essa Igraine é uma baita ordinária mesmo hein?! Safadeeenha!!! O problema é que madame Scarlet não gostou nem um pouco disso e na certa vai ter treta!
Mais um personagem adentrou na história, o Alfred. Ele é um coadjuvante que ocasionalmente irá aparecer na história e prefiro deixá-lo mais carismático mas como foi a primeira aparição dele, procurei deixá-lo com um estilo mais “profissional”.
Esse capítulo foi um pouco menos difícil de escrever do que eu esperava. Tudo bem que atrasei um pouco porém quando me dediquei para escrever, as coisas foram fluindo um pouco melhor do que nos capítulos anteriores. Só a parte da primeira conversa entre Igraine e Scarlet que tive mais dificuldade e no final não sei se ficou bom e não foi muito o que eu esperava poder fazer (não lembro o que eu queria fazer, mas enfim sou um fracasso mesmo ;_;).
Mas agora muitas coisas começarão a entrar no eixo na história. Será que a Igraine vai aguentar tudo isso? E será que ela vai parar de ser tapada e se tocar que o Cruello é o Devs?
Obrigada á todos que estão acompanhando e incentivando a fanfic!!!



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