The Cruel Beauty escrita por Tsu Keehl


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal!
Eu demorei, mas acredito que meio que consegui cumprir o prometido para algumas amigas próximas de lançar o novo capítulo da fanfic como um presente de natal! Na verdade, inicialmente eu tinha ideia desse capítulo ser completamente diferente, seria uma espécie de flash-back do passado de alguns personagens mas...acabou que seria impossível para que eu pudesse fazer agora. Existe coisas na trama que preciso colocar bem antes que isso ocorra. Decidi então escrever este capítulo. Ele me deu um grande trabalho tenho de admitir. Porque tenho as ideias mas é complicado para colocar elas na escrita.
Mas agradeço imensamente ao apoio de todos que leem a fanfic e que ficam me cobrando, incentivando e dando ideias para a história. E fiquei ainda mais feliz ao usar novamente meu cosplay do Cruello em um evento. Várias pessoas reconheceram *-*
Se quiserem ver fotos acessem : www.facebook.com/cruellocruel
Enfim..espero que gostem da fanfic...espero que esteja bom! Não deixem de comentar e dar sua opinião, é muito importante!! E por favor..não me crucifiquem! Eu procurei fazer o melhor que podia nesse cappie ;_;



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THE CRUEL BEAUTY

Capítulo 10

~*~

O som incessante da campainha fez Igraine despertar com um susto. Olhou no relógio, mas sua visão estava tão turva que não conseguiu enxergar com precisão. A campainha continuava tocando e ela se levantou aos tropeços.

– Já vou, já vou! Que droga, Nanny! Perdeu as chaves de novo?

Enfezada, Igraine desceu as escadas, segurando-se firme no corrimão. Nanny tinha o hábito de ir á padaria logo cedo alegando que “os melhores pães e doces tinham que ser pegos recém saídos do forno” e quase sempre perdia a chave da porta de algum modo. Uma vez a chave caíra no bueiro, na outra esquecera no balcão da padaria...e teve uma vez que ela conseguiu perder as chaves dentro da própria bolsa.

DIM DOM DIM DOM DIM DOOOOOOOOOOOOOOOM!!

– Caramba, Nanny! Já vou abrir!
Por sorte, a chave estava na fechadura, Igraine a abriu e a claridade que irrompeu da porta a fez fechar os olhos. Tudo o que queria e precisava era voltar para a cama, sem perguntas de Nanny acerca de seu rosto inchado de tanto chorar por causa de...
– ...entra logo.

Nada. Igraine levou a mão no rosto para ir se acostumando com a claridade e ao forçar seus olhos para se abrirem direito, o corpo estremeceu.
Cruello Devil estava parado á sua frente. Ele usava calça e camisa preta, com uma jaqueta branca por cima e segurando a piteira com seus dedos em luvas brancas. Os olhos azuis dele percorreram Igraine de cima á baixo mais de uma vez, mas ele não se mexeu.
Igraine ainda estava sonolenta e zonza demais por ter acordado de súbito para processar a informação de que estava usando apenas calcinha branca e regata semitransparente. A claridade a impedia de manter os olhos abertos e ela demorou alguns segundos para perceber que a pessoa parada na sua porta não era Nanny.

– Mas tu é mesmo uma ordinária!!!

Igraine arregalou os olhos somente á tempo de ver Cruello avançar na sua direção e a empurrar para trás. Com destreza, ele trancou a porta, jogou no chão o envelope que segurava e apagou o cigarro na terra do vaso de plantas sob a cômoda.
– O..o..o que...que...vo-vo...

A boca de Igraine foi coberta pela dele em um beijo intenso. Cruello contornou seu corpo com um dos braços e lhe segurou a cabeça para intensificar o contato Nos primeiros segundos, ela permaneceu estática mas logo fechou os olhos e se rendeu aos beijos segurando com força a jaqueta que ele usava.
Os lábios de Cruello se afastaram dos seus e lhe beijaram o rosto, o pescoço, o nariz e voltaram aos lábios. A forma como ele a abraçava era tão intensa que Igraine agarrou-se á ele com força, beijando-o com uma voracidade incontrolável.

Seus dedos enveredaram pelos cabelos bem tratados enquanto sentia as mãos ágeis acariciarem suas costas e puxar-lhe os cabelos com cuidado. Quando as mãos dele pousaram em seu quadril e os apertaram ela soltou um gemido baixo e seus olhos se encontraram. Não houve palavras em seguida, apenas beijos.
Cruello sentiu o corpo da garota reagir ao seu e a ergueu pela cintura, jogando-a sobre o sofá. Ainda zonza, Igraine apenas observou ele se livrar da jaqueta e desafrouxar o cinto, aproximando-se dela e a envolvendo em um abraço.

– Oh...Cruello... – ela murmurou puxando os lábios dele para um beijo.

As mãos de Cruello moveram-se ágeis pelo corpo, sentindo a maciez da pele. Ele mordeu o lábio inferior ao apertar as coxas da jovem, subindo pela cintura e tirando a regata sem que Igraine mostrasse resistência. Cruello cessou os beijos e ergueu-se um pouco para vê-la embaixo de si. A sombra de um sorriso passou por seus lábios enquanto a observava praticamente nua. Com os dentes, tirou as luvas que usava e enquanto inclinava-se , ela ergueu o braço para acariciar seu rosto.

Igraine sentia-se zonza e sonolenta á despeito das reações de seu corpo. Cruello parecia rendido ao seu toque enquanto ela acariciava sua face e a garota estremeceu quando os olhos dele a encararam em uma expressão de desejo e satisfação. Como aqueles olhos poderiam ser tão lindos e azuis?

Beijaram-se demoradamente e um arrepio percorreu seu corpo quando ele começou a tocar em seus seios primeiro com as mãos e depois com os lábios. Ela gemeu alto e deixou escapar um sorriso. O peso do corpo dele sobre o seu a forma como se moviam era uma explosão de sensações novas que só a faziam desejar mais. Suas mãos forçaram Cruello a retirar a camisa, o que ele logo fez, jogando-a longe.

Ousada, Igraine levou as mãos pelo peito bem definido, explorando-a da forma que dias atrás apenas o fizera com seus olhos.
Os beijos tornaram-se mais intensos e aos poucos Igraine permitia que ele avançasse nas carícias e nas formas de explorar seu corpo. E Cruello adorava aquilo. Adorava a forma como o corpo dela se mexia embaixo do seu, como ela gemia aos seus toques, como a pele dele se arrepiava quando aquelas mãos delicadas o exploravam com timidez. Envolveu Igraine em seus braços, sentindo o quanto ela era macia e como a queria por completo.

– Vem Cruello...- gemeu Igraine, os olhos fechados em prazer. - Cruello...vai, Cruello...
– ...você me quer mesmo..?

Ele sussurrou, os olhos azuis parecendo reluzir ao olhar para ela com o rosto á poucos centímetros de distância. Igraine sentia-se corada e desnorteada, como se aqueles olhos pudessem hipnotizar. Abriu os lábios para murmurar a resposta.

– Aaaaaaaaah!!!!!!!!!
O grito de Cruello doeu os ouvidos e ele rapidamente se afastou de si como se houvesse levado um choque.
– ANIMAL MALDITO! TARADO! DESGRAÇADO!!! NOJENTO!!!!

Igraine sentiu seu peito gelar ao ouvir aquilo dito aos berros e demorou alguns segundos para compreender o que acontecia.
Cruello mantinha-se em choque sem conseguir reagir e olhando enojado e desesperado para sua perna direita. Ali, literalmente grudado em sua canela, estava o pequeno Golias movendo-se com uma vivacidade e concentração indescritíveis.

– TIRA ISSO DA MINHA PERNA! TIRA ESSE MONSTRO ESTUPRADOR DA MINHA PERNA!!!

Aturdida, Igraine levantou-se do sofá, pegando Golias da perna de Cruello.
– Vamos, Golias solte agora! Golias!
– DEPRESSA ANTES QUE ELE JOGUE PORCARIA NA MINHA PERNA! QUE NOJO! QUE NOJO!

Igraine finalmente conseguiu desgrudar Golias que rosnou e se debateu nas mãos dela, obrigando-a a soltá-lo. O chiuhauhua então correu em direção á cozinha enquanto Cruello permanecia estático, os olhos arregalados em um misto de fúria e pavor. Olhou para a perna, assegurando-se que nada de horroroso havia ocorrido. Igraine continuava imóvel enquanto sua mente começava a clarear e ela percebia o que estava acontecendo .

“Cruello...Cruello...não era um sonho...ele está aqui...eu e ele...nós estávamos...isso é bom demais para ser verd...não, péra.”


– Porque você não tranca esses animais ?! – resmungou Cruello colocando uma almofada encima de si. – É um absurdo toda vez esses bichos no caminho!

Ele suspirou enfezado e então parou, olhando para Igraine. Ela estava imóvel usando apenas calcinha, os cabelos desalinhados e a pele alva um pouco avermelhada aonde ele apertara com um pouco de força. Porém, seu semblante, embora corado, era taciturno. Cruello recostou-se no sofá, segurando-lhe o pulso com um sorriso provocador.

– Venha cá. Vamos continuar.
– ...não.
– Ora, deixe disso vamos..
– TIRA A MÃO DE MIM!

Ela se afastou, ofegante. Cruello arqueou as sobrancelhas e percebeu que o rosto dela, embora corado, estava repleto de raiva. Mas os seios dela eram maiores do que imaginava.

– Você pensa que eu sou o quê?! Uma vadia qualquer? Uma garota para você usar e jogar fora?! Para agarrar quando bem entende?!
– Mas do que...
– Ficou lá transando com uma vadia rica ontem á noite toda e vem logo cedo tentar fazer o mesmo comigo?! Eu não sou esse tipo de garota com a qual você está acostumado, senhor Devil!
– De onde você tirou que eu...e cubra esses peitos ou eu vou perder o controle!

Ao perceber a forma como estava, Igraine corou e se apressou em pegar a regata sobre o sofá colocando-a á frente de si. Nisso, Cruello a puxou para seu colo.

– Nyah! O que..o que...
Ele a beijou com vontade, mas rapidamente ela se desvencilhou e lhe deu um tapa no rosto. Não foi forte, tampouco deixaria marcas, pois mesmo coberta de raiva, ela não tinha coragem de machucá-lo. Mas foi o suficiente para Cruello empurrá-la para longe de si, indignado.

– Qual é o teu problema?!
– ..e-eu...
– Mas que diabos! O que está havendo com você?
– Comigo?! É tudo culpa sua!
– Minha culpa?! Eu não estou fazendo nada que você não queira!
– Você..você...estava me agarrando!
– Você retribuiu! Eu sei que você me quer Igraine! Eu também te quero, vamos acabar com essa enrolação de uma vez!
– AS COISAS NÃO SÃO DESSE JEITO! – gritou ela. – Eu não quero que você me toque mais!
– Mas até agora há pouco você...
– Eu não estava em são consciência! Havia acabado de acordar e achei que era um sonho como da outra vez!
– ...ui...costuma ter sonhos eróticos comigo, ordinária?
– Isso não é piada! Porque você nunca leva a sério as coisas exceto quando são suas?! E eu como fico?!
– Você está muito estressada, isso é falta de sexo! Vamos dar um jeito!
– NÃO É ASSIM QUE TEM QUE SER! Eu gosto de você e não é justo que...
– Todos gostam de mim, lógico que você não seria uma excessão.
– Seu...seu...canalha!! Insensível! Insuportável!
– Ae, pode ir parando de me ofender! – rosnou Cruello ao perceber que as preliminares haviam acabado. - Diz logo o que está querendo comigo! Não sou vidente e sou um homem muito ocupado e requisitado! Não tenho tempo para ficar decifrando suas meras crises! O que você quer, afinal? Vamos, fala!

Ele já havia se colocado de pé, ambas mãos na cintura. Igraine tinha que admitir que era uma bela visão e como gostaria que ele fosse seu como estava sendo minutos atrás mas...durante a noite ele pertencera á outra pessoa.
Aquilo era demais para suportar.

– ...vai embora, Cruello. Me esqueça!
– Não sem respostas. É impossível que uma mulher, ainda mais uma mulher como você, não queira me ter ao seu lado! É algo que não faz sentido!
– Seu...seu....absurdo! Metido! Como pode se achar tão especial assim?!
– Bem... – ele riu. - A votação é quase sempre unânime...
– Então vai lá! Fique com seu bando de bajuladores! Com seus contatos do facebook que curtem suas fotos! Com aquela enchente de mulheres e homens afeminados te querendo! Com o bando de puxa-sacos da sua empresa! Com...com mulheres fáceis que passam á noite na sua cama e ficam atendendo o seu celular enquanto você está tomando banho!
– Está com ciúmes?
– E-eu...eu não estou com ciúmes! Estou é revoltada com a sua atitude! Você é um canalha! Como pode fazer isso comigo?! Você não tem caráter? Me iludindo assim e me traindo logo em seguida?
– ...do que está falando?
– Não se faça de inocente, seu cínico! Não adianta mentir! Eu descobri, tá? Eu não quero ser apenas uma garota tola e comum que você vai usar e jogar fora! Isso não é justo! Eu tenho sonhos e sentimentos! Quem era aquela vadia que estava na sua casa ontem?!
– Era... mas o que diabos você está querendo saber da minha vida, garota? Que te importa com quem eu estou ou deixo de estar? Além do mais você nem sabe o que eu estava fazen...
– ENTÃO É ISSO?! Você realmente tem outra?! Quantas mais? Por que?

Cruello desviou á tempo da almofada que Igraine lançara em sua direção.
– Ficou maluca sua..ei!
Igraine lançara uma cesta que estava sob a mesa.
– Posso saber o ...
A segunda almofada por pouco não atingiu seu rosto e, por instinto, Cruello a pegou e lançou sobre Igraine.
– O que pensa que está querendo fazer me jogando coisas?!
– Não é óbvio seu canalha?! - rosnou ela pegando a cesta de revistas e lançando uma revista por vez. – Quero acabar com a sua cara!
– Vai sonhando sua maluca! Demente! Não ouse prejudicar o meu rosto! É um bem muito valioso!
– Aaaah como eu odeio sua soberba! Canalha, cachorro! Vadio! Cafajeste! Bicha enrustida!
– Eeeeepa!!!! Fala direito comigo que não sou teus ativistas, não!

A cada revista lançada por Igraine, Cruello rebatia com a almofada. Ele só precisou agir quando ela, ao ver que não tinha mais revistas e nem a cesta para lançar, pegou um vaso que estava sobre o aparador. Cruello lançou a almofada contra Igraine, que revidou jogando o vaso. Assim que este se espatifou no chão, Cruello em posse de um porta-cds e um livro, começou o contra-ataque.

– Está lançando coisas sobre mim?! Isso é agressão contra a mulher!!! Seu..seu...machista!
– Você que começou a me agredir, só estou me defendendo!
– Eu tenho nojo de você! – gritou Igraine ao lançar o último enfeite do aparador. - Passa a noite toda com outra e depois aparece aqui parecendo me desejar por gostar de mim! Como pode ter tamanha coragem e falta de caráter de fazer isso?! Nós estamos juntos e...
– Ei, ei ei!! Podem ir calando a boca! Quem você acha que é para ficar querendo que eu lhe dê satisfações da minha vida pessoal?
– ...mas..mas eu, eu gosto de você...
– Nós estamos ficando, não temos qualquer compromisso sério e você já vem querendo monitorar minha vida? Ainda mais agindo como uma mulher surtada e ciumenta? Ficou maluca?
– Eu...eu...pensei que...
– Pensou errado! Exigindo um monte de coisa para mim? Eu sou um homem livre, faço o que eu quiser, não tenho que ficar dando satisfações e sendo acusado de absurdos! Você é uma chata! EU NÃO TENHO QUALQUER COMPROMISSO COM VOCÊ E NEM QUERO TER!

Silêncio. Aquelas palavras e a forma como ele a encarou fizeram a raiva de Igraine desaparecer. Ela sentia como se uma faca fosse fincada em seu coração. Aquilo doía mais do que poderia acreditar. Sentiu as lágrimas invadirem seus olhos e baixou a cabeça.

– Pra mim já chega! Cansei de você e sua atitudes infantis! Nunca sei o que você está querendo ou pensando e toda essa brincadeira já deu!

Cruello colocou-se de pé e vestiu a camisa que havia jogado em um canto.
– Tome aqui seus exames que foram parar na minha casa! – resmungou ele jogando o envelope no sofá. – Não sei porque me dei ao trabalho de vir aqui. Até um dia, Igraine.

Cruello já estava com a jaqueta em mãos quando olhou-a uma última vez.
Ela chorava. Em silêncio, com uma das mãos sobre o peito, ela lutava consigo mesmo para segurar as lágrimas, mas era em vão. Seus olhos se encontraram e ela abaixou a cabeça, triste e envergonhada.
Igraine caiu em prantos ao ouvir a porta ser fechada com força.

“Porque eu tive que gostar de você? Eu sou uma idiota! Uma idiota! Maldito Cruello! “
Sentada no tapete, ela chorou, debruçada no sofá. O vira-latas Furacão se aproximou da dona receoso, e a tocou com o focinho.
Ela encarou o cachorro, que a fitava com os grandes olhos pretos preocupados.

– Eu sou uma tola Furacão... – ela murmurou. – Me deixei apaixonar por um homem daqueles. Fui uma tonta iludida por pensar que ele gostaria de mim...quem iria querer ficar com uma mulher boba e simplória como eu? Nunca que Cruello Devil iria gostar!
O cachorro ganiu baixinho, preocupado.
– Me deixe sozinha...eu vou ficar bem...eu tenho...de ficar...afinal...o que uma garota boba como eu posso querer exigir algo de Cruello Devil?

Furacão observou a dona sem compreender. Foi até uma cestinha e voltou com uma bolinha de borracha na boca. Ele começou a fazer graça com o objeto, saltitando para lá e pra cá e abanando a cauda á fim de diminuir a tristeza da dona.
Mas isso fez apenas Igraine aumentar o choro.

“ Eu sou tão patética! Chorando por um homem que sequer tem alguma consideração por mim! Que me enganou, que me fez ser tonta o suficiente para me iludir acreditando viver um conto de fadas mais tonto ainda! Sou tão estúpida que até meu cachorro está tentando me consolar! Bem feito sua boba! Aprenda de uma vez que ele nunca iria querer ter algo sério com você! Só queria pegar para passar o tempo! E eu quase cedi...eu quase cedi porque...não, não! Só tem um homem que eu vou gostar pelo resto da minha vida! E NÃO SERÁ VOCÊ, Cruello!”

~*~

Cruello parou na entrada da casa de Igraine, irritado.
– Garota idiota! Quem ela pensa que é para falar comigo daquele jeito? – praguejou. - Eu sou Cruello Devil! Ninguém pode me destratar e desprezar desse jeito! Ainda mais uma garota simplória e caipira como ela! Eu devia saber que ativistas politicamente corretas são todas umas imbecis bipolares! Eu mereço coisa muito melhor!

Passou a mão pelos cabelos e aspirou o ar fresco daquela manhã nublada.
Parecia que ainda sentia a maciez da pele de Igraine em seus dedos e os lábios continuavam adormecidos. Sua cabeça começou a doer e ao fechar os olhos, a imagem dela com os olhos cheios de lágrimas lhe veio á mente.

– Dane-se! É tudo culpa dela! Eu tenho muito mais o que fazer do que me preocupar com uma bobalhona que se apaixonou por mim!
Se apaixonou...
– Não vou perder mais tempo... – ele murmurou pra si mesmo. – Eu tenho muito o que fazer! Tenho um desfile para organizar, roupas para criar, pessoas a contatar e...

A visão de Igraine embaixo de si, tão perfeita, voltou á sua mente.
Cruello passou a mãos pelos cabelos, incomodado. Nervoso, pegou as chaves do carro e estava apertando o botão para retirar o alarme quando viu, dobrando a esquina, Ele.

– Não...pode...ser...!

Ali na esquina, segurando um pacote de compras do mercado e conversando animadamente com o morador de uma das casas, estava um homem moreno e de baixa estatura. Ele usava óculos de aro branco, brincos de argola na orelha, uma jaqueta e calça jeans junto com um colete que era sempre sua marca registrada, a famigerada gravata cor de rosa...E a câmera. Ele SEMPRE estava com aquele maldito objeto pendurado no pescoço.

Cruello mordeu o lábio inferior. Se descesse as escadas e entrasse em seu carro, na certa Ele o veria. Aquela coisa parecia ter um imã, um sexto sentido, um terceiro olho para encontrá-lo onde quer que ele fosse.
Se aquele ser o visse ali e agora, estaria com problemas. Cruello só conseguira caminhar normalmente por Londres e ficar livre de aporrinhações devido a seus encontros com Igraine porque aquele ser não estava na cidade. Mas agora...agora...

“ Posso correr até o carro e entrar. Por sorte esse meu automóvel é o mais simples que tenho, pode passar despercebido. Basta só eu sair rapidamente daqui. Ele está entretido na conversa, provavelmente contando intimidades das pessoas que persegue, maldito! Muito bem...eu tenho cinco segundos para correr até o carro, aperto o alarme e corro. Se ele me ver aqui vou ter problemas, tudo estará acabado. Certo...é agora, eu vou correr e...”

Quando Cruello daria o primeiro passo, o homem na esquina despediu-se do morador e seguiu pela rua, na mesma calçada onde ficava a casa de Igraine.

“Maldito! Não tenho como ir até o carro sem que ele me veja! Ele vai me ver e estarei ferrado! O que eu faço? O que eu faço? Para onde vou?”

Cruello olhou em todas as direções, em um misto de nervoso e preocupação. Só havia uma única direção á qual poderia ir para escapar daquele homem que se aproximava cantando distraidamente uma música da Madonna.

~*~

Ao perceber que Igraine não pararia de chorar e soluçar sobre o sofá mesmo diante de suas tentativas de animá-la, Furacão murchou as orelhas e deitou-se próximo á dona, paciente. Ergueu as orelhas quando a porta da entrada foi cuidadosamente aberta e em seguida fechada. Se levantou, mas ao perceber quem era, o vira-latas apenas se afastou com o rabo entre as patas.

No silêncio daquela manhã, só se ouvia na sala o choro baixo de Igraine. E a visão da garota sentada sobre o tapete, chorando debruçada no sofá, com a sala toda bagunçada, não era algo que Cruello Devil esperava ver, tampouco que diante disso pudesse sentir uma estranha sensação em seu peito.
– ...ei...você está bem?

Igraine estremeceu ao ouvir aquilo e ergueu os olhos inchados, fazendo Cruello se arrepender da própria pergunta. Era lógico que ela não estava bem! E isso porque...
Ela tentou limpar as próprias lágrimas e se levantar, mas não conseguiu fazer nenhuma das coisas. Fechou os próprios punhos...era mesmo a rainha das patéticas. Se ela fosse Cruello também não iria querer ficar ao lado de tamanha boboca. Cruello se aproximou até ficar parado á frente dela, colocando ambas mãos na cintura.

– Vamos lá, levante-se!
Igraine não se moveu. Seu coração batia rápido e ele ali, parado á sua frente, olhando-a de cima para baixo era algo terrível.

– Pare com isso, Igraine.
– ...
– Porque está chorando assim?
– ...
– Que você é uma manteiga derretida eu sempre soube mas olha ao seu redor! Que cenário deprimente! Vamos, levante-se! Esse tipo de atitude chega a ser bizarro!
– ...
– Eu não vou cair nesses dramas de novela mexicana! Cruello Devil não é enganado por teatrinhos patéticos como o seu!
– VAI EMBORA! PARE DE ME MACHUCAR, CRUELLO! VOCÊ NÃO FAZ IDÉIA O QUANTO ISSO DÓI EM MIM!

Silêncio. Cruello observou Igraine sentada no chão á sua frente, encarando-o com o rosto molhado de lágrimas, ainda vestida apenas com aquelas peças íntimas e o cabelo bagunçado. Por mais estranho que aquilo parecesse, Cruello tinha de admitir que ela estava...linda.
E percebera que fizera bem em voltar ali.

– Hãn escuta...então é sério o que você...
– Eu gosto de você! Gosto muito! Sim, sou mais uma para seu álbum de figurinhas de “Pessoas Apaixonadas por Cruello Devil” ! Eu tentei evitar mas não consegui, mesmo sabendo que não daria certo, que eu sou uma idiota! Mesmo assim eu acabei gostando de você!

Cruello apenas a observou. Nada que uma pressão para fazer com que a outra pessoa dissesse as coisas.

– Eu sei que não sou bonita, sexy, perfeita...que não tenho o seu nível e que sou uma ativista do tipo que você detesta! E você também possui comportamentos que eu abomino então eu sabia que não era real que não passava de um sonho ou brincadeira o que estava acontecendo! Tentei evitar mas não consegui! Eu acabei realmente gostando de você exatamente como eu temia! Seria melhor você ter me rejeitado e sumido da minha vida logo no começo! Mas toda vez você me envolvia e me fazia acreditar que poderia gostar de mim! E eu comecei a aceitar, comecei a gostar! Só que no fim você só tinha desejo ou vontade de se divertir com uma simples cidadã, não é?
– ...bem...
– Não, não diga! Eu já sei...vai doer mais se você falar! Por favor, respeite pelo menos o fato de que eu acabei gostando de você! Não tente se aproveitar de mim sabendo que eu estou apaixonada ! Por favor, só peço isso! Você vai me esquecer logo, mas eu não vou te esquecer..
– ...é...eu sei que é impossível alguém me esquecer.
– CHEGA CRUELLO! Você não consegue ter nem ao menos um pouco de consideração?! Eu estou machucada, por favor... – ela soluçou, os olhos vermelhos de tanto chorar. – Por favor, eu não sou um brinquedo...por favor, eu não sou uma pessoa forte, eu...

Igraine sentiu os braços de Cruello fecharem-se em torno de seu corpo. Aquilo era tão bom mas...

– Me solta! Me solta, Cruello! Chega eu não quero! Pare, por favor! Não é justo que eu tenha que gostar de você e sofrer assim! Me deixe, eu gosto de você!
– ...se gosta de mim porque pede que eu a deixe?
– Me solta! Porque..porque...eu estou sofrendo e vou sofrer mais quando você me abandonar e dizer que era só brincadeira! Que era algo para passar o tempo! Por favor, eu não...
– Você adora acreditar em suas próprias conclusões!– ele falou, encarando-a nos olhos. – Nem sequer pergunta ou fala com franqueza.

Ele sorriu... Sorriu daquele jeito soberbo e provocador.
– Eu sabia que você me queria.

Beijou-a com intensidade, mas diferente daquela forma luxuriosa de antes. Igraine estremeceu e tentou relutar, empurrá-lo para longe mas...não conseguia. E apenas retribuiu o gesto.
Quando ele quebrou o beijo, ambos se encararam. Ela ainda chorava, o rosto todo vermelho e molhado, olhos inchados em contraste com a pele lisa e impecável dele. Igraine sentia um misto de paixão e raiva ao encará-lo e procurava palavras para dizer contra aquela atitude abusada e insensível.

– ...e eu também a quero. Até mais do que eu gostaria.

A última frase foi dita em um sussurro antes que Cruello a beijasse novamente. A abraçou com carinho, sentindo o corpo dela junto ao seu. Ela estava trêmula, frágil...magoada. Mas isso iria mudar. Ele faria com que mudasse afinal...ele era um Devil.

O momento foi interrompido quando a porta da entrada foi aberta com brusquidão e surgiu Nanny repleta de sacolas da padaria. Ao ver o que acontecia, ela deixou que as sacolas caíssem no chão, acometida pelo espanto.
A sala da casa repleta de objetos espalhados pelo chão. A manta do sofá surrada, vaso quebrado livros espalhados. Igraine sentada no chão, trêmula, com o rosto inchado coberto de lágrimas e seminua. Ao seu lado, segurando-a com força pelos braços, Cruello Devil com uma expressão maníaca.

O rosto de Nanny ficou lívido e ela soube o que deveria fazer. Pegou a vassoura colocada sempre atrás da porta e avançou, séria.

– É agora que eu te mato, seu playboy maldito! Vai pagar pelo que fez com ela!!
– ...mas hein?

Cruello só teve tempo de saltar para o lado e desviar do golpe de vassoura que visava atingir sua cabeça.
– Na-Nanny!! – gaguejou Igraine. – O que...
– Não se preocupe, Igraine! Não importa se ele é poderoso ou não, ou se serei presa depois disso! – exclamou a empregada. - Ele não sairá impune por ter te machucado e desonrado!
– Mas o que você está falan...aieeee!!!

Cruello recebeu uma vassourada de raspão no braço e rapidamente pôs-se de pé, á tempo de ver Nanny mover a vassoura com maestria, como se fosse uma especialista em lutas com bastão. Ela avançou com rapidez, desferindo golpes, tentando atingir áreas estratégicas do corpo do rapaz.

– Sua maluca! Fica longe de mim! Igraine, detenha-na!
– Vou te fazer nunca mais ser capaz de usar o que tem no meio das pernas, senhor Devil!
– SOCORRO! Estou sendo atacado! Sai de perto de mim, sua doida!!!

Cruello avançou até a porta e saiu em disparada na direção da rua, com Nanny em seu encalço. Quando terminou de descer as escadas, seu corpo chocou-se violentamente contra outro e ambos foram ao chão.

– Agora eu te pego!!!
– Fico longe, eu vou chamar a polícia e....
– CRUELLO DEVIL!!!

Cruello estremeceu ao ouvir seu nome. Olhou para a pessoa com quem havia se esbarrado e amaldiçoou a própria falta de sorte. De todas as pessoas em quem poderia esbarrar, tinha que ser justo aquele cara. E justamente depois de todo o esforço que fizera para evitar que ele o visse e estragasse o que acabava de conseguir.

“Mas que droga! “

~*~


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Notas finais do capítulo

Acho que este capítulo foi o mais complicado e o que sofreu mais alterações em seu desenvolvimento, A ideia original para ele era uma coisa, mas foi se tornando outra e quando vi o resultado ficou totalmente diferente. Mas eu acho que já era hora de rolar um entendimento dos nossos protagonistas. Tem horas que é preciso colocar tudo em pratos limpos.
Maaaaas...como puderam ver....ainda não foi resolvido hehehe. Será que um dia eles vão se entender?
Gente, por favor não me atirem pedras! Eu realmente tive dificuldades, muita correria, eventos e etc...pelo menos consegui publicar a fanfic antes do final do ano. Só espero que continuem acompanhando a fanfic. Muitas coisas vão acontecer á partir de agora.

Agradeço imensamente á todos meus amigos que me apoiam e fazem cosplay dos meus personagens da fanfic (só lembrando..eu faço o Cruello Devil =p). Obrigada pelas ideias, incentivo..e o memso digo á todos que acompanham!
Essa fanfic é pra vocês!
Nos vemos em breve!