– Peeta

A noite chegou e eu já estava na casa de Cato buscando-o. O mesmo havia emagrecido cerca de 6 quilos no hospital, ainda tinha a aparência saudável e os pontos já haviam sido retirados da testa e do braço. As queimaduras já estavam bem melhores e não davam ansia de vômito ao ve-las.
– Pareço mais magro? - Ele perguntou como uma mulher se olhando no espelho.
Eu ri - Parece um pouco.
– Eu perdi 6 quilos no hospital. Já ganhei 4.
– Nossa! Foi rápido.
– Sim, comi com força nos últimos três dias.
Eu gargalhei e o chamei pra irmos logo pois o irmão de Katniss já havia me ligado para irmos. Eles estavam chegando da corrida e queríamos estar lá assim que ela saísse do quarto.

– Ela já está de bem com você? - perguntou meu amigo loiro sentando ao meu lado no carro. Atrás estavam Madge e Delly. Ainda não entendia como Madge, uma menina tão popular havia se tornado amiga das duas garotas que, de acordo com a "sociedade escolar", eram consideradas esquisitas, assim como Cato, um dos rapazes mais cobiçados da escola, se tornou tão próximo de Katniss.

Assumo que sentia uma ponta de ciúmes deles, ela não brigava com ele como brigava comigo. Mas ele também não era tão estupido quando eu de fazer burrada o tempo todo. Ainda não sabia se ela iria me perdoar por ser bastante idiota com ela. Se fosse com uma garota diferente, ela já teria me dado um tapa e depois me beijado e estaríamos bem. Mas Katniss era diferente, ela de preservava. Tinha amor próprio o suficiente pra não cair nas labias de um qualquer (que no caso seria eu).
Porém, se eu fosse mais parecido com Cato, sendo menos imbecil, mais maduro, um bom ouvinte e um excelente amigo, ela talvez me perdoasse. Mas havia uma característica em mim que eu não conseguia mudar. Eu julgava pelas aparências. Eu sabia que era algo horrível, e de uma certa forma, errado. Mas eu cresci com meu pai me ensinando que deveríamos tratar de nossa aparência e era necessário andar com gente " normal" e "descolada", pessoas que tivessem boa fama e pareciam querer um grande futuro pela frente.
E isso, diferente de outras pessoas, eu não mentia. Todos julgam pelas aparências, mas poucos assumem. Eu ao menos assumo que julgo e ponto final. Não é algo de se orgulhar, eu sei.
Cato certa vez falou que se todos fossem por seus julgamentos pessoais, ninguém seria amigo de ninguém. E o pior é que esse abestado está certo. Eu não iria querer ser amigo de um cara praticamente " perfeito". Sei que soa meio gay, mas admito que meu amigo era bondoso, tinha lá seu charme, ela musculoso, um amigo para todas as horas e etc e tal. Não era atoa que Katniss era próxima dele...

Parei no sinal, ainda refletindo sobre a amizade de meu amigo com a garota pela qual nutro uma pequena " paixão", vamos chamar assim, até que levei um beliscão no braço.
– Ai! - Alisando o local dolorido.
Cato gargalhou ao meu lado - Estava murmurando seu besta.
– O que eu falei? - perguntei espantado imaginando que eu havia falado o que pensei.
– Não sei, estava murmurando baixo, não entendi o que disse. Mas estava engraçado - Ele fez uma cara divertida e ouvi as meninas rindo atrás.

Não demoramos pra chegar à casa dos Everdeen. Estacionei bem na frente da casa e saímos apressados. O portão estava encostado e entramos sem nos importar muito com os latidos dos cachorros, afinal estavam presos.
– Venham, ela entrou agora no banho! - Ben chamou da porta principal.
– Oi Ben! - As meninas disseram em perfeita sintonia e o abraçaram
– Como a Kat está? - Disse a ruiva
– Melhor do que a semana passada. Estamos todos indo ao psicólogo semanalmente e parece estar melhorando, aos poucos. - Disse ele nos fazendo entrar e guiando até o quarto dela.
– Eu vou estar lá fora no churrasco com meus amigos. Eu pedi algumas pizzas pra vocês - Agradecemos e ele foi para o lado de fora, acompanhado de quem parecia ser a namorada dele.
– Vamos, quero ver a Kat - Cato falou subindo as escadas como se já conhecesse o caminho.
E realmente conhecia.
Abriu a porta e se jogou na cama, assim como as meninas.
– Daqui a pouco ela sai do banho - Sussurrou Delly sorrindo, empolgada por rever a amiga.
Olhei os três na cama de Katniss como se fossem amigos a anos, e percebi que eu queria aquilo. Eu queria aquela proximidade deles, tanto entre si quanto com Kat.
O ruído da porta da suíte se de arrancando nos trouxe uma Katniss apenas de toalha e os cabelos molhados, com uma cara que precisamos rir.
Ela provavelmente não esperava todos agora, ainda mais em cima de sua cama.
– Kat! - A ruiva pulou e a abraçou - Que saudades Kat!
– Eu também Delly - A morena a apertou e logo Madge se juntou ao abraço.
– Meus animaizinhos
– Também quero hein - Cato declarou com uma expressão engraçada e nos fez rir.
– Esperem eu colocar uma roupa e depois ficamos na sala - Katniss comentou, parecendo desconfortável enrolada na toalha.
– Vamos esperar aqui fora - Falei indo para a porta e chamando os outros.
Todos os três me seguiram e vi Kat me fitando, mas não pude decifrar se ela estava contente em me ver ali ou não. Provavelmente não.

Ficamos cerca de 15 minutos ali no corredor esperando por ela, até que a mesma saiu usando uma calça de pijama xadrez branca e preta e uma blusa vermelha lisa de alças. As duas amigas pularam em cima da terceira e foram rumi a sala, deixando eu e meu amigo atrás
– Acho que ela não me quer aqui - Comentei descendo as escadas
– Relaxa. Fala com ela e explica o que aconteceu, ela é ótima ouvinte.
– Mas eu já fiz bastante besteira com ela...
Ele fez uma careta e deu de ombros - Aí é com você. Boa sorte cara.
Vi ele se afastar e abraçá-la forte. Achei melhor esperar que ela terminasse de conversar com os outros. Assim ficaria mais calma para falar comigo.
A morena se jogou no sofá entre Delly e Madge. Cato se sentou numa das duas poltronas colocadas lado a lado, e eu sentei-me na outra para conversar enquanto as meninas tagarelavam e minavam Katniss.
Por mais que qualquer um gostasse de mimos, ela não parecia querer. Ela parecia gostar mais de ficar sozinha na tristeza do que compartilhar com os outros, e isso eu entendia nela. Talvez por sentir que consegue se virar sozinha...
– Cato, tem dinheiro em cima do balcão, pode pagar a pizza? - Ela pediu.
– Claro. Vem comigo buscar - Disse se referindo a mim, e o segui até o lado de fora.
Pegamos umas cinco ou seis pizzas com direito a três refrigerantes e trouxemos para dentro.
Peperone, portuguesa, muzarela, marguerita, pizza doce de chocolate e frango. Cada uma mais cheirosa do que a outra. Cato e Delly atacaram, mas eu e Katniss preferimos pegar um pedaço se cada vez, enquanto Madge não queria nada.
– Estou bem, juro - Foi o que a loira afirmou para todos nós.
– Vou trazer o refrigerante - Katniss anunciou seguindo sozinha para a cozinha. Essa era minha deixa.
Fiz um sinal para Cato que ele entendeu de primeira: Não deixe ninguém ir pra cozinha.
Havia uma enorme parede entre a cozinha e a sala, tendo-se que atravessar ainda a sala de jantar com uma mesa para 12 pessoas. Agradeci pois assim poderia conversar sem ter alguém escutando.
– Droga! - Praguejou Katniss quando quebrou um copo na pia.
– Calma Kat...
Ela me olhou com os olhos azuis cinzentos arregalados e num instante me ignorou.
– Kat por favor me escuta.
– Não obrigada. - Falou colocando alguns copos na bancada.
– Me ouve - Segurei seus braços com cuidado - Me perdoa... É sério. Por favor..
Ela me olhou no fundo dos meus olhos e vi que aquilo não era o suficiente.
– Peeta... Você não me faz bem
Aquilo doeu. Senti um aperto forte no coração.
– Num dia me ignora, noutro me beija e me trata com carinho e depois me coloca de lado como se minha existência fosse insignificante.
– Kat eu-
– Katniss! - Ela me corrigiu.
– Kat! Me da uma chance. Eu sei que sou um idiota, sei que te fiz de idiota, mas me deixa te mostrar que te quero bem.
– Peeta por favor, acabei de perder meu pai.. Me deixa quieta. Não quero mais alguém pra me iludir de novo.
– Katniss eu entendo o que sente...
– Não, não entende! - Agora ela falava num tom mais alto - Você não perdeu seu pai! Você não sabe a dor que estou sentindo!
– Você ao menos teve um pai pra amar e ser amada por ele - Falei calmamente e ela pareceu desconcertada, sabendo que eu não tinha um bom relacionamento com meu pai - Me de essa semana e eu vou te mostrar que posso ser melhor.
– Sinto muito quanto ao seu pai - E se virou ignorando o que eu havia acabado de falar, enquanto colocava os copos numa bandeja.
– Kat - Sussurrei em seu ouvido e a vi arrepiar-se - Me da uma chance...
Ela bufou e foi até a geladeira, tirando duas garrafas de refrigerante.
Me aproximei e a prendi contra o balcão - Vou considerar isso um sim - E a beijei, pronto para segurá-la quando tentasse sair.
Mas para minha surpresa, ela me correspondeu. Deu passagem para minha língua e passou os dedos entre meu cabelo, enquanto a outra mão estava em meu ombro.
Minhas mãos, que antes estavam em seus braços, agora estavam em sua cintura apertando-a contra meu corpo. Eu a queria perto e não queria que esse beijo acabasse. E pelo visto nem ela.
Quando paramos para respirar, ela mesma tomou a iniciativa de me abraçar e me dar selinhos, antes de aprofundar um novo beijo.
Meu coração acelerou de maneira tão repentina que tive medo dela poder ouvir, senti as tão famosas borboletas na barriga e sentia o desejo crescer.
Mas eu queria ir com calma e afastei minha ereção para que ela não se assustasse. Ela parecia entender e parou o beijo.
– Sua última chance Mellark. Não estrague tudo - Ela me avisou, dando as duas garrafas pra levar pra sala e ela me seguia com a bandeja de copos.