Katniss -

Entrei em casa e minhas duas melhores amigas estavam jogadas no sofá assistindo a um seriado, o qual eu ainda não conhecia.
– Passaram a tarde aqui? - Perguntei pendurando meu casaco num armarinho pequeno ao lado da porta de entrada.
– Sim - Falou Delly devorando a pipoca amanteigada do pote - Estamos aqui faz umas seis horas horas.
– E com quem estava? - Perguntou Madge empolgando-se no sofá.
– Com Peeta Mellark - Falei correndo escada a cima sabendo que elas se surpreenderam e saíram correndo atrás de mim.
– Você está pegando o gostoso do Peeta Mellark? - Madge gritou se atirando em minha cama enquanto eu abria o guarda roupas.
– Não, mas... ele passou o dia no hospital comigo. - Falei sabendo que meu rosto estaria como uma pimenta.
– Katniss Mellark. Bonito nome ne? - Madge riu - Mas só a tarde? Já se passaram das dez da noite.
– É que fui à casa dele. Mas só fiz um lanche - As meninas soltaram um "hum" - E eu o beijei...
A loira berrou pulando na cama - Eu sabia! Eu sabia, eu sabia, eu sabia - ela cantarolou.
– Katniss Everdeen você está ficando com Peeta? - Delly arregalou os olhos verdes vivos.
– Não! Estavamos lanchando, não sei o que me deu... eu apenas o beijei. E, ele me perguntou sobre o Cato quando ficamos presos no elevador...
– Como? - As duas falaram em uma só voz, como em um coro perfeitamente sincronizado.
Contei toda a história de que eu precisava de alguém maior de idade comigo no hospital, de como Peeta estava me pondo louca com pequenos movimentos e caretas que eu achava extremamente sexy, isso me rendeu uma bela piada de como eu era uma safada que estava escondendo o desejo sexual que sentia por Peeta. Também contei de como meu pai estava, que acordou por alguns minutos, conheceu Mellark e que corria um risco de perder alguns movimentos básicos da perna. O elevador quebrado, nossa conversa, a casa dele, o beijo no sofá.
– Katniss, você é muito burra, ele gosta de você. - A loira falou sorrindo
– Não sei... - Falei ainda indecisa.
– Kat, eu acho que gosta. Apesar de ter sido assim do nada, tão rápido, acho que ele realmente gosta de você.
– Por que não assumiu que ele é gostoso? - Madge falou espantada
Guaguejei e tentei dispistar o assunto com a conversa com Cato.
– Conta, ele falou que gosta de você, e você disse o que? - Mad fixou seu olhar em mim.
– Eu perguntei se ele estava brincando, então ele disse que não e eu perguntei quando ele começou a gostar de mim e por que. Ele foi respondendo e no final, se tocou que não gosta de mim para namorar, mas para ter amizade apenas. Na hora eu comentei que pensei estar gostando dele também, mas depois concluí que o considerava como um irmão.
Pensei em contar a elas o que eu estava sentindo por Peeta, mas achei melhor não.
– Não sei o que me deu naquele sofá - Falei tirando a roupa e entrando no banheiro.
– Você gosta dele Kat. Está quase escrito na sua testa - Delly falou jogando sais de banho na banheira ja quase cheia.
– Agora você não pode mais se vestir de qualquer maneira Kat - Madge falou sentando no chão apoiada na parede comendo torradinhas de presunto.
– Como assim? - questionei amarrando o cabelo num coque alto.
– Peeta Mellark é o capitao do time de futebol, foi o rei do baile no primeiro e segundo ano e muito provavelmente neste ano também. Ele é delicioso e uma boa porcentagem das mulheres o deseja.Você tem que mostrar que pode.
– Mad, não vou mudar minhas roupas por causa dele. - Falei com a água quente até o pescoço, enquanto brincava com a espuma da banheira.
– Okay. Mas se precisar, estarei presente - Ela levantou-se para buscar mais torradinhas e Delly se aproximou.
– Kat, eu não concordo que mude suas roupas só por causa dele, mas creio que seria melhor se você usasse algumas peças do closet...
O closet, era um local proíbido para mim. Lá eu colocava as roupas de marcas caras que minha mãe me dava, estas ela sabia meu tamanho e me caíam como uma luva, porém, era o tipo de roupa que eu pretendia evitar usar.
– Delly, não vou mudar minhas roupas por causa dele. Afinal, não temos nada firme.
– Vocês se pegam sempre que dá - Falou a loira entrando novamente no banheiro com outro saco das torradinhas de presunto, sentando-se no mesmo lugar de antes.
– Cla-claro que não - Guaguejei - Foi so um beijo.
– E no dia da praia? - Ela me encarou com um sorriso malicioso - Acha que não notei o volume no meio da bermuda dele?
Senti meu rosto ferver - Ah, eu... eu... não fiz nada.
Madge gargalhou alto e Delly comentou que Peeta estava com um volume enorme naquele dia, mas que os rapazes não perceberam, apenas elas.
– Aposto que o pegou na caverna aquele dia - Madge falou - Sua safada.
– Não sou safada... ele que é. - Falei tocando a ponta de meus dedos indocadores.
– "não sou safada" - Mad disse imitando minha voz e meu gesto.
Delly riu e tomou o saco de torradinhas dela - Vamos nos arrumar pra dormir por que amanhã acordamos muito cedo.
Concordei e sai do banho enquanto elas se jogavam na cama. Me enrolei na toalha e me olhei no espelho. Encarei a figura da garota de cabelos escuros e olhos claros por alguns minutos, notando seu cabelo emaranhado, a pele com cravos e sobrancelhas grossas. Puxei a franja para trás, dando total visão de meu rosto, inclusive da fina cicatriz que vinha desde o lado esquerdo perto do couro cabeludo até quase tocar a sobrancelha. Eu jogava a franja para aquele lado para não aparecer, mas sempre saberia que ela estava lá, me lembrando da tortura que ocorreu.
Abri a gaveta com a maquiagem e uma maluca idéia me passou pela cabeça. Eu poderia pedir que Madge me ajudasse a aprender a me maquiar, mas desisti. Eu a conhecia muito bem e não queria que pensasse que so estava me arrumando para Peeta.
Fechei a gaveta e passei para o quarto vendo as meninas ligarem a televisão enquanto eu trocava de roupa para deitar na cama com elas.
– Kat, me fala sinceramente. Gosta dele? - Delly cochichou no meu ouvido quando Madge levantou para pegar o controle.
– Eu... Eu acho que sim. - Respondi ainda insegura.
– Então começe a ter certeza. - A ruiva retrucou
Suspirei e concentrei minha atenção no seriado que Mad amava, Grey's Anatomy. Admito que também amei o seriado, a junção da profissão que eu queria seguir, juntamente com um drama.
Delly dormiu já no segundo episódio, ela não era muito fã de séries, eram poucas as que ela gostava. Quando o terceiro episódio terminou deitei na cama improvisada no chão para deixá-las dormir na minha cama.
Fiquei pensando no que Delly falou e realmente eu não poderia ficar apenas "achando" que gosto. Eu deveria ter certeza se gosto ou não, mas creio que tudo foi muito rápido, não é? Mas de uma certa forma, sei que gosto dele. Desde pequena eu gostava, até ele enfiar o lápis em meu olho e ficar com aquela menina, então todo o amor que eu tinha virou ódio.
Legal Katniss. Você é a garota mais indecisa do mundo! Ou talvez não... Mas provavelmente.
Rolei alguns minutos mais na cama improvisada com alguns edredons grossos, até achar a posição mais confortável para mim. Mas Peeta Mellark ainda perturbava minha mente, então decidi ir à cozinha, onde eu sabia que iria encontrar minha mãe.
Por causa de meu Pai, todos nós em casa criamos o hábito de fazer lanchinhos a noite. Meus irmãos estariam no hospital, então só veria mamãe hoje.
Ela estava na bancada da cozinha com dois potes de cereal de chocolate, um com leite que ela comia e outro sem, mas o mesmo estava logo ao lado. Intuitiva como sempre, ela separou para mim sabendo que eu iria querer.
– Como estão lá em cima? - Perguntou mamãe carinhosamente me dando uma colher
– As meninas estão bem, mas eu não. - Falei derramando o leite em minha tigela.
– Peeta?
Assenti com a boca cheia.
– Me conte apenas um resumo.
Assim, contei do elevador, do hospital, da casa dele e da conversa com as meninas. Se havia uma coisa excelente em mamãe, era que eu poderia falar de tudo abertamente com ela. Omiti apenas a parte das roupas do closet, pois ai sim ela me obrigaria a usá-las.
– Kat, parece gostar realmente dele, e pelo visto ele também. Mas não mude por ele, mas por você. Se acha que vai lhe fazer melhor então mude, se não, permaneça assim. - E levou a ultima colherada do cereal à boca me deu um beijo na testa e foi dormir.
Refleti um pouco sobre suas palavras e cheguei a uma conclusão. Se fosse mudar, seria por mim.
Devorei o resto da caixa do cereal e fui dormir, sabendo o quão dificil seria acordar no dia seguinte.