Peeta-

Carreguei minha avó até a sala do raio-x e a coloquei numa espécie de mesa prateada. A ouvi reclamar mais uma vez da dor no pé e fazer uma careta que quase ri.
Quando ela me ligou, imaginei que fosse algo mais grave, mas graças a Deus ela tinha apenas torcido o tornozelo e pelo nervosismo passou um pouco mal. Não que fosse pouca coisa, mas era melhor isso do que um corte do ombro ao antebraço como da última vez.
Me mandaram sair da sala pois não poderia ter acompanhante na sala do raio-x, logo, fiquei sentado numa cadeira ao lado da porta esperando.
Aproveitei os minutos para refletir no que eu sentia por Katniss, o que Cato sentia por ela e o que ela sentia por nós, ou o que deixava de sentir, não sei...
Senti o telefone vibrar no bolso da minha calça, quando vi no visor, era Glimmer, mas não estava nem um pouco afim de falar com ela então desliguei o celular pois sabia que ligaria novamente.
Tentei voltar a "reflexão", mas me chamaram pois ja tinha acabado o raio-x e eu tinha que pegar minha avó.
Coloquei-a numa cadeira de rodas para facilitar seu deslocamento. Não que ela fosse muito pesada para mim, mas por que ela não gostava que eu a carregasse para os cantos.
– O que está acontecendo Peet? - ela me perguntou quando paramos no bebedouro. Eu realmente não posso e nem consigo esconder nada dela.
– É a Kat... Eu acho que gosto dela, mas Cato também e creio que ela gosta dele - Falei bebericando a água fria
Ela deu aquele sorriso de "eu te entendo" - E por que não pergunta a ela?
– Não posso simplesmente chegar pra ela e perguntar :" Katniss você gosta de mim?". Isso seria no mínimo humilhante.
Minha avó riu e pegou minha mão - Peet, se gosta dela, por que não luta por ela?
– Por três motivos. 1. Cato gosta dela, 2. Creio que ela gosta dele e 3.Até pouco tempo mal nos falávamos... Quer dizer, ela me odiava e eu nem se quer me lembrava de sua existência. Como vou me relacionar com ela sabendo que durante 5 anos ela me odiava e eu nem me lembrava dela?
– Bem, então desista dela. - Falou como se fosse algo totalmente comum, nada fora do normal entende?
Então eu meio paralisei meio dei um surto silencioso, eu não esperava ouvir aquilo justamente da mulher que sempre me falara para lutar por aquilo que eu queria.
– Se não crê que pode dar a ela o que ela merece, deixe que outro a proporcione mais felicidade. - Minha avó continuou.
Respirei fundo, com certa dificuldade, sentindo o ar pesar em meus pulmões.
– Está bem Peet? - Vovó perguntou visivelmente preocupada.
– Estou... - Suspirei, me jogando na cadeira.
Nessa hora, um enfermeiro veio trazer o raio-x e um atestado de 10 dias para que ela repousasse sem fazer esforço com o tornozelo torcido, o qual trataram de enfaixar assim que puderam.
– Precisa tomar um analgésico injetavel, depois vamos te dar uma receita de alguns comprimidos para tomar - Disse o enfermeiro quando terminou de enfaixar o pé dela.
– Odeio injeções - Reclamou vovó
Eu apenas ri e empurrei sua cadeira para a ala de enfermagem, onde iriam dar a injeção e assim poderíamos ir para casa.

– Vou ter que cancelar minha viagem - Vovó reclamou quando entramos no carro. Eu havia colocado um par de muletas e a cadeira de rodas no porta malas, para o caso de ela precisar.
Eu ri - Uma pena perder o boliche em nebraska.
– Vou ter que ligar para as meninas e avisar que não vou - Ela emburrou e eu ri.
– Eu posso fazer uma pista de boliche la em casa vó, com a ajuda de Finnick. Seu quintal é grande e não é muito dificil.
– Ora Peet. Não é a mesma coisa... Mas agradeço a intenção.
– Vou fazer e a senhora vai jogar
– Com esse pé? - Apontou para seu pé enfaixado.
– Não vózinha, com o outro - ri da minha própria piada e isso me rendeu um tapa no ombro, mas ela riu.
Houve alguns minutos de silencio e do nada ela falou - Tenho que ligar para Paul* Ele fica preocupado se eu chegar atrasada para o chá.
– Vó... Meu avô faleceu faz dois anos. - Falei triste.
Meu avô, Paul, falecera com câncer, e minha avó estava ao seu lado quando aconteceu. Como ela não lembrava?
Ela apenas exclamou um "oh" e permaneceu calada o resto do trajeto até em casa.
Ignorei o acontecimento e também me calei, vez ou outra cantei uma canção junto com o rádio, mas não puxei conversa. Imaginei que ela estaria assim apenas pelos analgésicos que tomara.
Em casa, a coloquei em pé com as muletas e peguei a cadeira de rodas, a acompanhando até a porta.
– Quer algo pra comer? - Ofereci
– Tem uns salgadinhos no armario. Vamos ver um filme.
Liguei a televisão e quando fui pegar os salgadinhos senti meu celular vibrar no bolso.
Como sempre, atendi sem ver quem era - Alô?
– Mellark? - A voz de Katniss surgiu do outro lado da linha. Senti o coração gelar por um instante.
– Oi Kat. Está tudo bem? - Perguntei comendo alguns salgados do pacote.
– Sim, eu so estava preocupada com sua avó... Como ela está?
– Ah, era só o tornozelo. Ela torceu...
– Oh... Espero que esteja tudo bem.
– Sim, está. Já estamos em casa - Notei que minhas mãos estavam suando e um tanto trêmulas.
– Okay então. Vou desligar
Nos despedimos e ela desligou.
– Que gracinha - A voz de minha avó apareceu do nada e quase me matou do coração.
– Vó pelo amor de Deus não faz isso - falei com a mão no peito
Ela riu e mancou com a muleta até a geladeira - Você estava demorando. Era a Katniss no telefone?
– Era - Falei pegando-a no colo e a colocando de volta no sofá.
– Ela é uma graça mesmo.
– Ela é... - Suspirei e tornei a cozinha buscando os salgadinhos e um suco de maracujá.
Vovó colocou um filme policial que ja vira umas nove vezes, mas não me incomodou. A única coisa que eu conseguia pensar era por que Katniss me ligou? Ok, ela queria saber como minha avó estava, mas seria uma desculpa para me ligar ou ela estava realmente preocupada? Essas e outras perguntas começaram a perturbar minha mente, mais do que ja estava perturbada.
O suco de maracujá me provocou um pouco de sono, fechei os olhos por um instante e acabei dormindo.
Acordei duas da manhã, a TV ligada no mesmo canal do filme policial que passava, mas agora se via um dos minions do filme "Meu malvado favorito". Eram engraçadinhos, eu gostava.
Levantei e segui para a cozinha, morto de fome. Incrivel como acordamos famintos no meio da madrugada.
Furtei alguns doces de um pode em cima da geladeira e me preparei chá de maçã com canela. Sei que alguns acham meio gay um homem tomar chá, mas eu não vejo mal algum nisso.
Beberiquei o chá e resolvi deitar no quarto um pouco. Coloquei a xícara no criado mudo e tirei o celular do bolso. 18 mensagens e 9 ligações, todas de Cato. Não sou viciado em celular, portanto direto as pessoas reclamam que não conseguem falar comigo, mas não tenho culpa se não lembro que tenho um celular né?
Das 18 mensagens, 8 eram de Cato, 2 de Thresh, 3 da operadora, 4 de Glimmer e mal acreditei quando vi uma de Katniss. Uma. Nada mais. Mas aquilo me alegrou muito, e eu nem mesmo sabia pra que tanta felicidade.

"Espero que sua avó esteja bem :)
XOXO Everdeen"

E essa foi a mensagem de Katniss, pequena, mas que me deu esperanças de que talvez ela não gostasse do Cato. Infantilidade, não?
Resolvi acabar com a curiosidade e abrir as mensagens de Cato.

"Cara, atende o telefone"
"Atende essa merda"
"Porra Peeta, atende"
"Mas que droga heim! :@"
"Seu jeba..."
"Seu monte de estrume de vaca! Atende essa bosta ou enfio na sua bunda"
"To brincando amiguinho, não vou fazer isso. Mas atende vai"
"Desisto..."

É... essas eram as mensagens de meu melhor amigo. Fazia mais de três horas que ele havia enviado a ultima, então nem respondi. Não li as mensagens de Glimmer nem as da operadora. Thresh apenas queria me avisar do treino nas próximas semanas.
Então apenas respondi à Katniss:

"Ela está bem, obrigado pela preocupação :)
Durma bem, XOXO Mellark"

Tomei um susto quando meu celular vibrou em poucos segundos. Outra mensagem de Katniss.

"Você também ^^"

Tentei responder a mensagem, mas eu ja estava grogue de sono e não conseguia acertar as letras, assim ela pensaria que estou bêbado. Dormi sem muito esforço, apenas pisquei...