A Herdeira de Hécate escrita por Rocker


Capítulo 7
Capítulo 6 - Last Kiss




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/491260/chapter/7

A Herdeira de Hécate

She's gone to heaven, so I've got to be good

So I can seen my baby when I leave this world.

Capítulo 6 - Last Kiss (Pearl Jam)

Acho que podemos dizer que chamar Nico para entrar no meu apartamento não foi a pior ideia que eu tive. Porque a pior ideia que eu tive foi levá-lo para meu quarto para evitar que eu me sentisse desconfortável nos ambientes que meu pai frequentava, como sala e cozinha. Eu era meio paranoica com isso, então eu simplesmente tive a ideia de girico de levá-lo pro meu quarto. Assim que ele entrou, começou instantaneamente a analisar cada canto do meu quarto, desde algumas roupas jogadas aos pés do guarda-roupa, a colcha lilás e preta, as paredes todas pichadas com minhas obras de artes e cobertas com os poucos pôsteres de bandas de rock que eu lutei pra conseguir.

Imediatamente me senti desconfortável ao perceber que era Nico ali comigo. E senti meu coração dar um solavanco.

Larguei a mochila ao lado da porta, mas não entrei.

– Desculpe a bagunça. - eu disse, meio envergonhada. - Meio que realmente parei essa semana.

Nico se virou para mim, arqueando a sobrancelha interrogativamente.

Dei de ombros, sabendo o que queria saber. - Precisava pensar em tudo o que aconteceu, depois que você me ajudou.

– Fico feliz em ter ajudado, Anjo. - ele disse, sorrindo, e eu sorri também, sem poder evitar. Desde que ele entrara em minha vida eu fazia muito disso. - O que foi?

Ele me olhou de cima a baixo, percebendo que eu nem ao menos passara do batente. Dei de ombros e tirei meu all star cano médio surrado. Deixei-o no corredor e entrei no quarto, dessa vez sentindo-me confortável.

– O que foi isso? - ele perguntou, e eu sorri minimamente.

– Um ritual que eu sempre faço. Como se assim eu pudesse deixar todos os meus problemas do lado de fora.

Eu pensei que Nico riria da minha cara. Ou ao menos me chamaria de louca. Mas não. Ele simplesmente me observou por alguns segundos e retornou pra porta. Eu o analisava, me perguntando o que aquilo queria dizer, até que o vi retirando os próprios tênis.

– Ei, não precisa, Nico, sério!

Mas ele me ignorou até que os dois pés de tênis estivessem ao lado dos meus no batente.

– Não precisava disso. - eu disse, enquanto ele voltava para dentro do quarto com seu sorriso sedutor.

– É, mas seria bom se os problemas ficassem de fora por, pelo menos, três minutos. - ele disse misteriosamente, e eu senti algo gelando meu estômago.

– Por quê três minutos? - perguntei, receosa.

Nico sorriu, como se esperasse que eu lhe fizesse essa pergunta. E não parava de se aproximar.

– Será tempo suficiente.

– Para...? - perguntei, engolindo em seco com a mínima distância que existia entre nós.

Eu devo ter muito autocontrole para não agarrá-lo naquele instante.

E ele vinha aproximando seu rosto do meu - eu já podia sentir sua respiração em minha boca.

– Diga não se quiser que eu pare. - ele sussurrou, num tom implorante para eu ficasse calada.

E eu fiquei. Porque, sabe... Com a boca de Nico contra a minha era meio difícil de falar qualquer coisa. E eu jamais falaria um não para algo que eu mesma queria. Sabe o autocontrole mencionado ali em cima? Então, esqueça ele. Ele sumiu no momento em que os lábios macios de Nico se apertaram contra os meus. Segurei sua nuca, procurando trazê-lo para mais perto e dando-lhe um sim para continuar. Nico envolveu minha cintura com os dois braços e eu me choquei contra seu peito levemente musculoso. Quando ele apertou mais seus braços ao meu redor, qualquer controle de qualquer parte do meu corpo ou da minha sanidade foi cortado quase instantaneamente.

Nico pediu passagem para sua língua, e eu logo permiti. E nem foi preciso que o roxo por trás das lentes me lembrassem do quanto eu estava receosa. Aliás, acho que toda menina deveria ficar assim em seu primeiro beijo. É, era meu primeiro beijo. Nunca tive amigos, então namorados estava mais que descartável. E Nico devia saber disso, pois foi cuidadoso ao extremo comigo, enquanto sua língua explorava cada canto da minha boca. E por mais estranho que fosse, eu gostei. Porque era com Nico.

Nico mordeu meu lábio inferior, dando uma leve puxadinha, e eu sorri. Senti-o sorrindo também sobre meus lábios, e ele encostou nossas testas rapidamente, antes de me dar um beijo na bochecha e voltar a atacar meus lábios recuperados da falta de fôlego. E os beijos se tornaram uma pequena brincadeirinha de provocação. E vários sorrisos cúmplices apareciam em nossos lábios, antes de voltarmos a nos atacar. Eu não podia estar mais feliz.

Até ouvir a tranca da porta da sala.

Eu e Nico abrimos os olhos ao mesmo tempo e nos separamos rapidamente. Enquanto ele calçava correndo os tênis, desesperado e a procura de uma saída, eu fechava a porta correndo, pegava sua mochila e abria a janela.

– Escada de incêndio. - sussurrei para ele, ouvindo meu pai tendo um trabalho com a tranca. Provavelmente bêbado. Mas mesmo bêbado, eu corria o risco de apanhar por ter um garoto no meu quarto.

Nico pulou a janela até a escada de metal e se voltou para mim.

– Te vejo amanhã? - ele perguntou, com um ar esperançoso.

– Sim, sim! - eu disse rapidamente. - Agora se esconda e não faça barulho, depois abro a janela pra te ajudar a ir embora.

Nico sorriu, e me deu um último beijo rápido antes de se esconder nas sombras que o beco fazia na escada.

E a porta do meu quarto se abriu no mesmo instante em que eu fechava a janela.

Meu pai entrou, completamente diferente do eu esperava. Calça jeans limpa, tênis comum, e uma camisa não-rasgada ou suja. Ele parecia... Apresentável. E sóbrio.

– Ouvi um barulho vindo daqui. - ele disse cuidadosamente. - Está tudo bem?

Estava quase respondendo de que estaria melhor se ele saísse quando eu percebi. Quando eu percebi que Nico realmente fizera diferença em minha vida. Meu pai nunca havia se importado comigo antes. Nunca, nem mesmo fingira. O que estava acontecendo, afinal?

– Ahn... Sim... - respondi cuidadosamente, como se estivesse pisando em campo minado.

– Filha, precisamos conversar. - outra frase incomum. Ele se aproximou e se sentou na ponta da minha cama, cauteloso.

Ele nunca fora cauteloso.

– Diga. - eu disse, sem me sentar.

– Pensei bem no que você disse essa manhã, e resolvi mudar. Eu preciso seguir minha vida, eu preciso cuidar de você. Esse cargo não pode ficar sobre seus ombros, tem apenas dezesseis anos! Então quando você saiu hoje de manhã, eu fui logo atrás. Rodei todo o Brooklyn atrás de um emprego, e consegui um ponto de táxi. Vão me fornecer o carro. Quero melhorar, e quero que nos tornemos uma família.

Eu não sabia o que falar. Eu estava sonhando, era isso?! Era a única explicação. Eu já estava até considerando chamá-lo de louco como ele havia feito comigo. Mas então eu vi algo brilhando em seus olhos. Arrependimento. Ele havia realmente se arrependido. E, bem... Se eu consegui mudar, por quê ele não?!

– Podemos tentar. - eu disse, sorrindo ternamente.

Quando papai saiu, poucos minutos depois, corri até a janela para me desculpar com Nico.

Mas nem foi preciso.

Pois ele tinha sumido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!