A Herdeira de Hécate escrita por Rocker
Notas iniciais do capítulo
Demorei, mas sabem como anda difícil ultimamente para mim. E também estou desanimando com essa fanfic. Já não está tento o número comum de leitores, parece que eles caíram pela metade e eu sinto que a culpa é minha, mas para aqueles que ainda acompanham, eu não vou parar de postar. Mas acredito que não terá todo o número de capítulos que eu planejei inicialmente. Já está na reta e não quero enrolar muito mais. Revisei o capítulo várias vezes, mas pode ser que eu tenha deixado alguma coisa passar. De qualquer maneira, aí está. Esse capítulo é um pouco mais calmo, mas eu precisava colocar algo fofo entre Crisnico antes das coisas acontecerem XDD
A Herdeira de Hécate
Here we are at the end of the road
A road that's quietly caving in
Come too far to pretend that we don't
We don't miss where we started
Capitulo 48 – Kids In The Dark (All Time Low)
Senti o assento duro da cabine do trem amortecendo minha queda. Fiquei momentaneamente sem ar e lutei para respirar novamente. Recuperei-me e fui até a janela, conseguindo ver a nuvem de poeira dourada sumindo ao longe. Conseguimos derrotar a Anfisbena.
– Cristal, Nico, temos que ir rápido! – Paige entrou apressadamente em nossa cabine enquanto Nico se levantava do chão.
– Por quê? O que houve? – ele perguntou, franzindo o cenho.
– Guardas mortais. – disse Travis, entrando logo em seguida e fechando a porta. – Precisamos dar um jeito de sair daqui.
Minha mente começou a acelerar, trabalhando em algum plano de última hora. Não que fosse funcionar muito, claro, geralmente meus planos de improviso eram uma droga.
– Tive uma ideia. – Nico pareceu ter raciocinado mais rápido do que eu. – Peguem suas coisas.
Peguei minha mochila e a pendurei em meus ombros, vendo os outros fazendo o mesmo. Vozes gritavam do lado de fora da cabine. Não tínhamos muito tempo.
– Vamos viajar pelas sombras. Como são quatro pessoas, pode ser um pouco mais desconfortável. – ele avisou, pegando minha mão e de Paige, pedindo para que Travis completasse o círculo.
Como estava escuro tanto fora quanto dentro do trem, foi mais fácil de ele conseguir. Conseguimos entrar nas sombras no segundo em que os guardas arrombavam a porta da cabine. No entanto, não havia sido nada agradável. A sensação de desmembramento e de estar entrando num mundo gelado apenas triplicou pelo fato de ter mais pessoas que o comum. A vontade de desistir de tudo estava presente, mas isso era questão de costume. Quando eu me senti sufocada ao extremo ali dentro, senti-me caindo de costas no chão de cascalho ao lado dos trilhos já percorridos pelo trem que estávamos.
– Ah. – arfei, sentindo todo o ar escapando do meu pulmão quando tentei me levantar. Minhas costas doíam.
– Cris, está tudo bem? – Travis perguntou ao meu lado.
Eu neguei com a cabeça e estiquei a mão, esperando que ele entendesse. Travis segurou minha mão e me ajudou a levantar. Estiquei-me, sentindo minhas costas latejarem. Acho que eu não teria uma boa noite de sono.
– O que devemos fazer agora? – perguntou Paige, levantando-se sem qualquer ajuda e passando as mãos na bunda de sua calca para limpá-los.
Como se fosse automático, os três se viraram para me olhar, deixando-me desconfortável.
– Eu não sei, gente. – murmurei. – Talvez devêssemos acampar por hoje e decidir amanhã.
– É uma boa ideia. – concordou Nico. – Vamos. – ele disse, seguindo pela floresta que ficava ao lado dos trilhos de trem.
– Vamos mais adentro até perto da estrada de asfalto. Talvez seja mais fácil para amanhã conseguirmos sair daqui. – sugeri.
Eles assentiram, concordando, e adentramos cada vez mais a floresta. Eu permanecia perdida em meus pensamentos, alheia a quase tudo que não fosse meus pés seguindo o caminho dos meus amigos. Com o silêncio à minha volta, minha mente ficava mais aberta a pensamentos que pensei já ter esquecido. A profecia me perturbava. Era clara, mas o fato de Nico ter me escondido parte dela me deixava inquieta. E se justamente essa parte escondida for a que diz que eu coloco tudo a perder?
Andamos e andamos, até que a Lua estivesse mais a pino no céu, indicando quase meia noite.
– Melhor paramos. – sugeriu Paige, olhando para alto e expressando em palavras meus próprios pensamentos.
– Nico, você pode procurar algumas frutas para a gente comer? – perguntei, tirando minha mochila expansiva das costas e procurando as barracas.
– Tudo bem. – ele disse, sumindo por entre as árvores em questão de segundos.
Suspirei, com o sentimento da tristeza me assolando. Terminei de pegar as duas barracas com os equipamentos para montá-las e entreguei uma a Travis, enquanto eu e Paige nos dedicávamos a montar ao lado da outra.
– Vocês sabem a profecia inteira? – perguntei de repente, e percebi que ter quebrado o silêncio assustou o casal.
– Como assim? – perguntou Paige, franzindo o cenho em confusão enquanto continuava seu trabalho com a barraca.
Dei de ombros, como se não tivesse tanta importância quando, na verdade, tinha.
– O que sabem da profecia? – perguntei.
– Apenas o que você nos mostrou. – respondeu Travis, parecendo também confuso. – Por quê?
Desisti de continuar a montar a barraca do jeito errado e me sentei perto de onde possivelmente seria a fogueira.
– Porque Nico está escondendo uma parte dela de mim. – eu respondi, abaixando minha cabeça. – Uma parte importante.
– Por quê acha isso? – Travis perguntou, terminando de montar sua barraca e indo ajudar Paige com a outra.
– Quando ele me contou a profecia pela primeira vez, ele hesitou e evitou me olhar. – contei, lembrando-me do exato momento que ele me contava a profecia no meu Chalé. – E eu acredito que não é uma parte muita boa.
– Tem alguma ideia do que é? – perguntou Paige, finalizando a segunda barraca.
– Nenhuma, na verdade. – murmurei, alto o suficiente para que eles ouvissem, e abaixei a cabeça para o chão.
Meus lábios se abriram para um grito fino e engasgado quando vi o que tinha próximo aos meus pés. Era pequena e vermelha – um fruto de uma briônia. Como eu não havia visto isso antes?!
– Cris, o que foi?! – Paige correu até mim, ajoelhando ao meu lado, preocupada.
Arregalei ainda mais os olhos.
– Me diz que isso não é o que eu estou pensando! – implorei a ela, apenas apontando para a briônia, sem tocá-la.
Paige agachou e analisou a frutinha.
– É uma briônia! – ela exclamou, mais surpresa do que realmente assustada como eu. Olhou em volta. – Aqui está cheio delas.
Arregalei os olhos, olhando em volta também e vendo vários pés de briônias à nossa volta. Não era o que sobrepujava na paisagem, mas era um detalhe que não poderíamos ter deixado passar em branco. Algo apitou em minha mente quando constatei isso, mas eu não consegui captar o que era de imediato.
– O que tem elas? – perguntou Travis, se aproximando de nós com o cenho franzido em confusão.
– São usadas para uso medicinal, mas, se ingeridas, são letais. – eu disse, tentando extrair da minha mente o que queria dizer o alarme.
– Cris. – chamou Travis, olhando-me preocupado. – Nico sabe disso?
Arregalei os olhos, finalmente me dando conta de que o alarme que soava era que eu havia mandado Nico procurar comida. Levantei do chão e corri pelo caminho que Nico tinha percorrido. Eu chamava por seu nome, mesmo sabendo que havia o perigo de chamar a atenção de algum monstro, mas eu não me importava. Eu precisava achar Nico antes que o pior acontecesse. Eu não aguentaria caso comesse as briônias por culpa minha.
Lágrimas escorriam quentes por minhas bochechas, e eu pouco me importava também. Com os pensamentos enevoados e a vista embaçada, quase tropecei em Nico quando finalmente o encontrei. Ele abria um sorriso tímido e me mostrava as frutas que segurava pela camisa. Pisquei algumas vezes antes de reconhecer aquelas frutinhas como briônias.
– Achei um riacho não muito longe daqui, Anjo, e eu não sei se essas estão boas, mas... – ele começou, mas eu entrei em pânico, dando um tapa em sua mão, o que fez as briônias caírem todas no chão. – Cristal, o que...?
Não o deixei terminar de falar, apenas me joguei em seus braços, tentando controlar o choro. Inicialmente Nico pareceu confuso, até que me abraçou de volta pela cintura, puxando-me forte contra si.
– Anjo, o que foi? – perguntou ele, o tom de voz preocupado contra meu ouvido. – Cris? Cristal?
Demorei um pouco, mas consegui me recuperar. Separei-me de Nico, enquanto esfregava meu rosto para secar as lágrimas.
– Anjo, o que aconteceu? – ele perguntou, com o cenho franzido.
Segurei seu pulso e o puxei pela direção de onde veio. – Onde é o tal riacho?
– Por ali. – ele apontou, ainda confusos, e seguimos em silêncio até lá.
Chegamos até o riacho e eu ainda tinha a respiração ofegante pelo choro. Fiz Nico se ajoelhar ao meu lado em frente ao riacho e segurei seus dois pulsos, levando suas mãos até a água. Esfreguei suas mãos o máximo que pude, tirando todo o resquício possível das briônias.
– Eram briônias, Nico. – eu murmurei para ele, com a voz ainda rouca, mas eu sabia que ele escutava. – Briônias são incrivelmente letais se ingeridas. – virei-me para ele, e o vi olhando diretamente para mim. – Eu fiquei tão apavorada com a possibilidade de você ter comido...
– Cristal, calma. – ele disse, segurando meu rosto em suas mãos e olhando fixamente para meus olhos. – Eu não comi, tudo bem. Está tudo bem. Eu não comi, é isso o que importa.
Joguei-me em seus braços novamente, abraçando-o forte contra meu corpo e sentindo-o retribuir na mesma intensidade.
– Eu não sei o que eu faria se você tivesse comido. – eu sussurrei contra seu peito. – Tive tanto medo de te perder...
– Eu não comi. – ele me apertou mais forte em seus braços. – E você não vai me perder. Eu juro.
– Jura? – perguntei e funguei.
– Eu juro pelo rio Estige.
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