A Herdeira de Hécate escrita por Rocker


Capítulo 42
Capítulo 41 - Iris


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei, prometi postar a cada duas semanas, mas é muita coisa pra uma Beatriz só. Passo o dia inteiro estudando e à noite é enterrar na apostila do Enem. Meu único tempo pra escrever no fim de semana e quando eu tive criatividade pra uma short fic de Mazer Runner no mês passado eu não consegui fazer nada a não ser escrevê-la. Inclusive acabei de postá-la, vou deixar o link nas finais pra quem estiver interessado. Mas vou tentar postar mais frequentemente e eu sei que muitos querem me matar depois do último capítulo, mas garanto que Traige logo se resolve! ;)



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A Herdeira de Hécate

And I’d give up forever to touch you

Cause I know that you feel me somehow
You’re the closet to heaven that I’ll ever be
And I don’t want to go home right now

Capítulo 41 - Iris (Goo Goo Dolls)

– Está com frio? – perguntou Nico ao me ver estremecendo.

Desviei meu olhar do céu noturno que eu olhava pela janela do ônibus desde que escurecera e me virei para Nico, sentado ao meu lado. Abri a boca para negar, dizendo que estava muito bem daquele jeito, mas assim que a primeira palavra ameaçou abandonar minha boca, o ar condicionado pareceu esfriar a temperatura um pouco mais e eu estremeci novamente.

– Okay, talvez um pouco. – admiti ao ver um sorriso presunçoso nos lábios de Nico.

– Vista isso. – ele disse, inclinando-se para frente para retirar sua jaqueta de aviador.

– O quê? – eu disse rapidamente. – Não precisa, Nico, é sério, eu estou bem.

– Nem pensar. – ele insistiu. – Vista.

Revirei os olhos, mas eu acabei aceitando, sabendo o quanto ele sabia ser cabeça dura.

– Tudo bem, obrigada. – eu murmurei, passando meus braços através da manga e me aprumando melhor, sentindo o cheiro natural de Nico desprendendo do tecido e invadindo meus sentidos. Nico passou um braço ao redor dos meus ombros e me acomodou encostada a si. – Acha que demora muito? – perguntei depois de algum tempo.

– Espero que não. – ele sussurrou, apoiando a bochecha no alto da minha cabeça quando eu acomodei a minha sobre seu ombro. – Tudo o que eu quero é ir para casa com você.

Eu sorri levemente ao ouvi-lo dizer isso e eu soube que ele também sorria. – Qual casa se refere?

– Com certeza não é o Mundo Inferior e muito menos a Itália. – ele disse, e eu arregalei os olhos, afastando meu rosto um pouco para enxergar o dele.

– Itália?! – perguntei, surpresa e assustada, e Nico abriu um leve sorriso tímido.

– Acho que já te contei da minha história no Cassino Lótus, não?

– Contar, você contou, mas nunca disse que o lugar onde nascera há mais de oitenta anos foi a Itália! – exclamei, maravilhada.

Nico ainda parecia um pouco encabulado e receoso.

– Isso não é estranho, é? – ele perguntou e eu sorri de modo confortador.

– Isso é demais, Nico! – exclamei, tomando cuidado para não acordar os outros passageiros. – Sempre quis conhecer algum italiano!

– Agora conhece. – ele sorriu, dando-me um selinho em seguida.

– Espera, você considera o Acampamento seu lar? – perguntei ao me separar dele.

– Depois que você está lá, sim. – ele disse, sem vergonha alguma dessa vez, e eu sorri.

– Bom saber. – comentei, dando uma risada baixa.

– Antes de você aparecer, eu não era de sorrir muito. – ele comentou, ainda tímido, e eu sorri com seu jeito fofo.

– Pode deixar que sempre que eu puder estarei tentando fazê-lo sorrir. – garanti, mas ele sorriu abertamente para mim.

– Só estando ao meu lado você já o faz.

~*~

Bocejei e me espreguicei assim que desci para nossa segunda parada de viagem, em Louisville, Kentucky. Não havíamos ainda chegado à metade do caminho, mas já atravessamos um bom pedaço de chão para duas semanas. Tínhamos ainda quase três semanas para completar a missão e eu já estava ficando aflita. A noite ainda não passara, e eu esperava sinceramente que desse tudo certo. Na primeira parada, tudo ocorrera normalmente, e ninguém, nem mesmo um monstro, invadira o ônibus. Eu apenas esperava que tudo corresse bem novamente na segunda parada.

– Caraca, acho que não aguento entrar mais em ônibus nenhum! – resmungou Paige, esfregando os olhos.

– Nem fale, eu estou um caco. – Travis comentou, fazendo uma careta ao ajeitar a alça da mochila em seu ombro.

– Lembraram de trazer tudo? – perguntei novamente. – Apenas por garantia, sabe?

– Sim, madame, trouxemos tudo. – resmungou Travis, revirando os olhos.

Eu não disse mais nada e apenas seguimos com os outros passageiros até a lanchonete próxima de onde o ônibus parara, nos arredores da cidade, e fomos atrás de nossos pedidos. Sentamo-nos em fileira de frente ao balcão e eu apoiei minha mochila aos meu pés. Batuquei os dedos sobre o balcão até que uma loira platinada veio nos atender.

– O que desejam? – ela perguntou, a voz irritantemente arrastada parecia um pouco anormal, mas acabei relevando.

– Quatro sanduíches e quatro latas de Coca. – pediu Travis ao lado de Nico, parecendo entediado. – Para a viagem.

A loira estava prestes a se afastar quando Nico a chamou de volta.

– E uma barra grande de chocolate.

Arqueei uma sobrancelha para ele quando ela se foi e ele apenas deu de ombros.

– Eu disse que quando pudesse, iria comprar chocolate para você.

Eu ri, balançando a cabeça em negação. – Eu sabia que era só uma desculpa!

– Talvez. – ele assumiu, sorrindo maroto para mim.

– Do que vocês estão falando? – perguntou Paige ao meu outro lado.

– Nico disse que meu beijo tem gosto de chocolate. – eu respondi, revirando os olhos.

– Que vocês eram estranhos eu sabia, mas não sabia que chegavam a esse nível. – brincou Travis, inclinando-se sobre Nico para falar comigo.

Acabei rindo, mesmo me sentindo um pouco envergonhada.

– Aqui está. – disse a loira ao voltar. Seus olhos negros pareciam arregalados demais para alguém normal e eu quase podia jurar que vi pupilas em fendas, mas elas logo sumiram.

– Obrigada. – eu disse, ainda um pouco desconfiada, enquanto colocava a comida em minha mochila com extensão.

Maiss alguma coisssa semideusssesss? – ela perguntou, sua voz ainda mais arrastada, e eu tive a confirmação de que algo estava muito errada.

Dei um pulo do banco que estava sentada e pendurei a mochila em meus ombros, transformando minha varinha em um espada em uma ato reflexo. Nico, Paige e Travis também fizeram o mesmo. A mulher à nossa frente pulou por cima da bancada e sua pele foi se transformando. As pernas se tornaram troncos de cobras e a pele se tornou escamosa e gosmenta. Ela abriu a boca e de lá saiu uma língua bifurcada, para fazer o complemento do quadro de horror com as pupilas em fendas. Olhei ao redor, assustada, e percebi que todos naquela lanchonete estavam se tornando o mesmo monstro que havia se passado pela loira platinada.

– Eu disse que loiras platinadas sempre trazem problemas. – murmurei para Paige, que apenas assentiu em concordância.

Quatro gossstosssosss semideusssesss para a sobremessa. – sibilou o monstro logo à nossa frente.

– O que eles são? – perguntei a Travis.

Dracaenae. – ele respondeu e eu senti que já conhecia esse nome.

Mas então quando os monstros sibilaram todos ao mesmo tempo, uma série de lembranças me invadiu em questão de segundos.

Uma mulher, aparentemente bonita.

Se não fosse por suas pernas de serpentes.

Aquele tipo de coisa vivia me seguindo. Eu fugia, claro, mas sempre me encontravam. Até que alguma coisa - ainda mais estranha do que esses bichos que querem me matar - fazia com que eles sumiam. Era sempre quando eu já estava cansada de correr, ou irritada por isso sempre acontecer. Às vezes vinha uma frase estranha em outra língua na minha mente e eu acabava falando-a em voz alta. Daí o bicho explodia do nada. Eu nunca soube exatamente o que era isso que eu fazia, mas sabia que era eu.

– Precisamos ir. - eu disse, levantando-me rapidamente. - Agora.

– Aquilo era uma dracaena.

– Uma draca-o quê?! - perguntei, confusa.

– Uma dracaena. - ele respondeu, puxando-me para voltarmos a andar de onde viemos, de volta para o apartamento. - São seres mitológicos, enviados para ir atrás de semideuses.

– Como saberá que é a dracaena? - perguntou Nico, desconfiado.

– Não se preocupe. - disse meu pai, sorrindo em despedida para mim. - Sou uma das exceções de mortais que podem ver através da Névoa. Foi assim que eu soube que você também era um semideus, rapaz.

E meu pai abriu a porta antes que eu pudesse impedi-lo. E ele mal teve tempo de atacar a mulher-cobra, que tomou-lhe a faca rapidamente e cortou-lhe a garganta. Um grito aterrorizado foi ouvido e, com certa dificuldade, percebi que era meu. Tentei correr até o corpo de meu pai, mas Nico me segurou firme pela cintura. A dracaena finalmente nos percebeu e veio em nossa direção com um sorriso diabólico. Seu sorriso e o sangue do meu pai na faca que ela segurava foram as últimas coisas que eu vi antes de Nico me arrastar para um túnel sombrio.

Aquele monstro tirara a vida do meu pai. E eu iria me vingar, por isso não pensei duas vezes antes de levantar minha espada e correr em direção ao primeiro monstro que vi na frente, ignorando completamente os gritos dos meus amigos. Eu tinha sede de vingança. Meu pai estava se tornando o pai decente que eu sempre quisera quando sua vida fora arrancada à base de uma facada por uma mulher-cobra. Eu jamais iria perdoar e acabaria com qualquer dracaena que aparecesse na minha frente.

E foi o que fiz.

Usei toda a minha força para transformar em pó cada mulher-cobra que se aproximava de mim, enquanto eu via Paige ao meu lado fazendo o mesmo. Apesar de todo o nosso esforço, eu via a dificuldade que passávamos. Não daríamos conta das mais de vinte dracaenae que nos cercavam e por um segundo eu vi o nosso fim. Eu já estava exaurida e ferida em mais de quinze cantos do meu corpo. Vi um movimento pelo canto do olho e vi um gigante de cem braços se aproximando da janela ao nosso lado. Eu não conseguiria me desviar dos cacos de vidro que voaram quando ele atravessou a grande janela se não fosse por Nico jogando seu corpo contra o meu e nos fazendo rolar pelo chão para longe do tumulto.

E tudo o que pensei naquele segundo era que não daríamos conta de vinte mulheres-cobra e um gigante. Mas ele fez algo inesperado. Duas de suas mãos se aproximaram de mim e Nico e, apesar de Nico ter tentado me fazer fugir, elas nos pegaram e nos levantaram acima da linha de alcance das dracaenae. Não sei se o gigante querer nos destruir por si só poderia ter alguma vantagem. Quando olhei ao redor, vi Travis e Paige sendo segurados por outras mãos.

– Me solta, seu inútil! – rugia Paige, tentando se soltar, mas o gigante a impedia.

– Será melhor se ficar quieta, semideusa. – o gigante falou, antes de usar suas outras dezenas de braços livres para esmagar as dracaenae e num movimento só transformá-las em pó. – Melhor sairmos daqui.

Parei de me debater ao ver que sua intenção não era exatamente nos trucidar, e olhei confusa para Nico, que parecia tão alheio aos acontecimentos quanto eu. O gigante nos levou para longe da lanchonete detonada e nos deixou em frente a uma casa próxima dali que parecia abandonada, ainda na mesma rua aparentemente deserta àquela hora da noite. Deixou-nos no chão, e eu ainda me perguntava porque ele não tentava nos matar.

– Você é um dos Hecatônquiros! – exclamou Travis, parecendo surpreso.

– Meu nome é Briareu, filho de Hermes. – o gigante anunciou. – Foi uma ordem de Zeus que eu os livrassem daqueles monstros, e isso é tudo.

E então sumiu na escuridão, sem qualquer sinal de que havia estado antes aqui.

– Okay, isso foi estranho. – eu disse, virando-me para os outros.

– Muito. – concordou Paige, com os olhos arregalados. – Acha que isso faz parte daquele lance de ser protegida de Zeus e Afrodite?

Dei de ombro. – Sinceramente? Não tenho a menor ideia.

– Acho que teremos que passar a noite aqui. – disse Travis, olhando para a casa de dois andares atrás de nós.

Não era uma casa antiga, mas parecia abandonada, ou parecia que os donos haviam ido viajar. Já era período de férias, então era bem provável que haviam saído para aproveitar as vantagens que o verão trazia, o que trazia vantagens para nós. A pintura um pouco desgastada em verde claro fazia um pequeno contraste com as portas de madeira branca bem conservadas. A grama do jardim estava um pouco alta, mas os arbustos ainda pareciam ter o formato que havia sido cortado há algum tempo. Imaginava se algum vizinho estaria ajudando a cuidar da casa durante o tempo e eu esperava sinceramente que não.

– Iremos invadir? – perguntou Paige, parecendo surpresa.

– Por quê não? – perguntou Travis, dando de ombros.

– Isso não é certo, não me sinto confortável com isso. – disse Paige, cruzando os braços parecendo um pouco indignada.

– Mas é preciso, Willians, aceite. – disse Travis, semicerrando os olhos, e eu percebi que aquela discussão não dizia respeito apenas à casa.

Era minha hora de intervir.

– Vão entrando e dando uma checada enquanto eu e Nico voltamos na lanchonete à procura de comida. – eu sugeri.

Paige, com muita relutância acabou acatando e impediu Travis de arrombar a porta ao pegar uma chave extra debaixo de um vasinho pequeno de plantas.

– Acha que eles vão se acertar? – perguntou Nico quando eles entraram.

– Não tenho ideia. – eu disse, seguindo-o de volta à lanchonete. – Mas espero sinceramente que sim.


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Notas finais do capítulo

Aqui está o link da fic de Maze Runner que eu comentei nas iniciais. A propósito, a fic é com o Newt. http://fanfiction.com.br/historia/600752/The_Glue/