A Herdeira de Hécate escrita por Rocker


Capítulo 39
Capítulo 38 - No Way Out


Notas iniciais do capítulo

Só peço uma coisa... Mentira, duas. Deem uma lida na minha nova one shot original, vou deixar o link nas finais ;) Ah, e a segunda: please, não me matem ao final do capítulo XDD



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A Herdeira de Hécate

will we ever get back home?
to the place
is it the same as when we left
has anything really changed
did they forget if so
we'll never know if we never get back home

Capítulo 38 - No Way Out (The Living End)

– Eu sabia! - exclamei, assim que saímos da vã dos hippies drogado, que eu, sinceramente, experava nunca mais ver na minha frente. Estávamos, pelas minhas contas, ainda na Virgínia Ocidental. - Sabia que aceitar carona deles não seria uma boa ideia!

– Pare de reclamar, Cristal, pelo menos já passamos mais um pedaço do caminho. - disse Travis, e eu apenas revirei os olhos. - Aprenda a olhar o lado bom: não vimos nenhum monstro!

O chão tremeu e eu me segurei em Nico para evitar uma queda.

– O que é isso?! - Paige perguntou assustada, caída no chão.

– Não tenho a menor ideia. - respondeu Nico.

Soltei um grito rouco de surpresa com outro abalo e Nico segurou firme em minha cintura enquanto nos agachávamos no chão para manter o equilíbrio.

– Está todo mundo bem? - perguntei quando o chão parou de tremer.

– Eu acho que sim. - respondeu Travis, levantando-se um pouco tonto.

Nico se levantou também e me ajudou a ficar de pé. Foi um pouco difícil, por causa das minhas pernas bambas, mas logo eu consegui recobrar o equilíbrio.

– O que acham que foi isso? - perguntou Nico.

– Um monstro? - perguntei, um pouco receosa, mas todos já sabiam a resposta.

– Travis, a próxima vez que você falar alguma coisa, eu vou explodir essa sua boca santa! - ameaçou Paige.

Eu adoraria rir numa hora como essa. Mas no momento em que vi alguma coisa saindo do meio das árvores na lateral da estrada, eu desisti. E a coisa era enorme. Um humanoide, maior do qualquer um que já tenha visto. Tinha, no mínimo, uns três metros de altura e três troncos. Sem brincadeira, três troncos com suas três cabeças, para apenas um par de pernas. Meu corpo inteiro estremeceu apenas em imaginar em enfrentar alguma coisa como aquilo.

Olá, semideuses!– gritou a cabeça do meio do gigante, olhando-nos com seus grandes olhos verdes que transbordavam insanidade.

– O quê... O quê é isso?! - perguntei, dando um passo atrás.

– Gerião! - disse Travis, com um tom que não soube reconhecer, mas quando o olhei, vi certo desespero em seu olhar. - É um dos gigantes filho de Crisaor e Calírroe. Irmão de Équidna, então não será fácil derrotá-lo.

– Por favor, me diz que tem alguma ideia de como matá-lo! - Nico disse, quase implorante, enquanto desembainhava sua espada.

– Na verdade eu tenho. - respondeu Travis, também com a varinha desembainhada. - Mas não somos tão bons com flechas quanto Hércules era.

Oh, droga!, foi a única coisa que eu consegui pensar naquele momento.

Virei-me e num só movimento arranquei a Capa das Sombras de Nix de dentro da minha mochila. Via meus amigos já em frente, lutando contra o gigante. Coloquei-a sobre os ombros rapidamente, a ponto de me infiltrar no mundo das sombras segundos antes de ser acertada por um tapa de Gerião. Fechei os olhos, receosa, mas a mão dele, opaca e sem forma uma sombra, simplesmente atravessou meu corpo, que agora era feita também de sombras. Olhei em volta, tentando ganhar tempo para encontrar algum ponto fraco no gigante ou alguma forma de derrotá-lo.

Até agora eu não estava indo muito bem.

Então eu simplesmente me juntei à luta.

Adiantei-me, com a varinha transformada em uma espada, a única coisa sólida à minha volta. Desviei de Paige, que atacava um dos joelhos de Gerião, e dei um pulo para acertar a parte de trás da coxa esquerda dele. Ele urrou quando o sangue negro saiu do ferimento, mais irritado do que realmente machucado, e começou uma série de chutes em direção a Paige, que se desviava com certa dificuldade. Olhei em volta, procurando alguma outra maneira de intervir. Mas tudo o que havia eram os carros diminuindo a velocidade para que os curiosos decifrassem algo irreal que a Névoa criasse para eles. Isso não era nada bom.

Tirei o capuz e o mundo voltou a ser novamente físico e colorido.

– Vamos levá-los para a floresta! - gritei para meus amigos, segundos antes de desviar de um ataque do porrete de madeira que Gerião trazia em uma de suas seis mãos. - Os mortais estão percebendo algo fora do normal!

E eles logo entenderam o recado.

– Ei, seu monte de estrume de boi! - gritou Travis, andando de costas para a floresta.

Nico e Paige passaram a atacá-lo pelas costas, chamando sua atenção.

Ora, seu filhote imprestável de deus!– urrou o gigante, andando entre as árvores e derrubando algumas.

Coloquei novamente meu capuz e segui atrás deles. Eu sabia que apenas me esconder atrás da minha Capa não funcionaria muito bem. Na verdade, não funcionaria em nada. Mas eu precisava usar isso de algum jeito. Pensei em usar um feitiço para transfomar gravetos em arcos, mas nada disso mudaria o fato de que minha mira era péssima. Não somente a minha, mas a de Nico, Paige e Travis também. Eu estava ficando cansada de atacar sempre os mesmos pontos. Nada acima do quadril. Ou dos quadris. E parecia que haviam três gigantes contra quatro semideuses. Quatro semideuses exautos, que pareciam não dormir decentemente há semanas.

Depois de, com muito custo, decepar um dos braços do gigante, eu me afastei. Arranquei o capuz novamente e tentei recuperar rapidamente o fôlego, pois uma ideia surgiu em minha mente. Podia ser um pouco insana, mas ainda sim era uma ideia.

– Travis! - gritei para quem percebi ser o menos cansado. Aliás, ele parecia ter boas informações sobre a maioria dos monstros. - Pegue um galho e use como flecha, é a nossa chance!

Por um segundo pensei que a distância e os gritos da luta o impediriam de entender, mas quando ele assentiu eu relaxei levemente. Voltei aos meus ataques, rezando para que o plano desse certo, mesmo sem nada planejado antecipadamente. Mas depois de fazer um corte profundo no abdómen da direita, eu ouvi um grito ensurdecedor. Mas não era do gigante.

Olhei para o lado a tempo de ver Travis caindo ferido ao chão.

O galho que ele usaria para derrotar Gerião estava atravessando seu abdómen.

O mundo pareceu parar por um único segundo. Tudo à minha volta parecia correr em câmera lenta, enquanto eu observava um dos troncos do gigante se aproximando de Travis para terminar seu trabalho. E eu ficaria ali parada, vendo meu melhor amigo, meu irmão de coração, morrendo diante dos meus olhos.

– Afaste-se dele! - berrou Paige, se colocando entre o corpo caído de Travis e o tronco do meio.

Ela deu de tudo para afastar o gigante de perto de Travis. Eu via o quanto ela se esforçava, tirando força física de sua força de vontade. E então algo me chamou a atenção naquele quadro. Seu rosto. Seu rosto claro estava sujo e vermelho e eu conseguia ver um rastro de lágrimas saindo de seus olhos vermelhos. Talvez eu estivesse certa o tempo sobre ela e Travis. Talvez realmente precisasse apenas de um incentivo para que o amor dela por ele extravasasse.

E o incentivo finalmente chegou.

E eu não poderia simplesmente ficar parada.

Despi-me rapidamente da Capa das Sombras, rezando para todos os deuses que eu me lembrava para que meu plano funcionasse.

– Nico! - chamei sua atenção e ele me olhou. Joguei-lhe a Capa e ele me olhou com seus olhos negros confusos. - Vista e viaje!

Ele entendeu.

Então eu corri para o lado de Paige, pronta para ajudá-la a distrair o gigante enquanto via Nico sumindo debaixo da Capa, que parecia deixá-lo invisível.

– Olha aqui seu gigante imbecil! - eu gritei, chamando a atenção das três cabeças. - Quem você pensa que é para tentar matar meu amigo?!

Ora, sua pirralha, sou o grande Gerião, habitante de Etíria e pastor do maior rebanho de bois de todos os tempos!– ele urrou, o som saindo de sua boca do meio.

– Ah, eu acho que não! - eu gritei de volta, torcendo para que desse tudo certo e Nico conseguisse dar um ataque final. - Que eu me lembre, Hércules roubou-lhe o rebanho há milênios atrás!

Oh, aquele semideus metidinho a herói!– ele urrou de raiva.

– O que está fazendo? - perguntou Paige, com a espada ainda preparada.

– Tentando distraí-lo com palavras. - eu sussurrei de volta, sem tirar meu olhar do gigante. - Agora vá cuidar de Travis!

Ela não negou e muito menos reclamou. Simplesmente não pensou duas vezes antes de dar meia volta e correr até onde Travis estava caído, quase fraco demais para se manter consciente.

– Bem - eu disse de volta ao gigante, que mantinha seus três pares de olhos em mim -, não posso fazer nada se você é previsível e incompetente!

Por um segundo eu achei que seria meu fim. Achei que ele se irritaria a tal ponto de simplesmente me dar um soco que me jogaria direto para a morte. Mas ao invés disso, a cabeça da esquerda simplesmente virou para a do centro e lhe fez uma pergunta que, se não fosse pela situação de vida ou morte, teria me feito rir.

O que é incompetente?

Revirei os olhos e suspirei.

E o que é previsível?– perguntou a cabeça da direita para a do centro, que apenas deu de ombros.

– Legal, agora são burros também. - sussurrei para mim mesma.

Cristal, cuidado!– ouvi a voz de Paige gritando para mim.

Olhei rapidamente para ela, vendo-a há metros à minha direita, com a cabeça de Travis em seu colo enquanto cuidava de seu ferimento. Mas então ela apontou para alguma coisa além de mim e quando me virei para o gigante Gerião novamente, ele cambaleava. Todas as três cabeças estavam decepadas. Pulei para longe no exato momento em que seu corpo triplo sem cabeças caía onde eu estivera momento antes. E então, após quase um minuto, o corpo se dissolveu em pó.

Cristal, você está bem?! – ouvi a voz de Nico próxima a mim, e eu olhei em volta à sua procura. Pouco depois ele surgiu à minha frente, arrancando a Capa das Sombras. Aproximou-se de mim e se agachou à minha frente, preocupado. - Está ferida?

Balancei a cabeça, sem conseguir encontrar minha voz quando a exaustão me tomou por completo.

– Travis, como ele...? - eu tentei perguntar, mas não consegui finalizar a pergunta.

Ele não podia morrer. Ele não podia morrer.

– Vamos até lá. - Nico disse, e me ajudou a levantar, sustentando a maior parte do meu peso, mesmo que estivesse tão fraco quanto eu.

Demoramos um pouco até chegar onde Paige e Travis estavam, mas conseguimos mancar até lá. Quando nos aproximamos, Paige terminava o curativo no abdómen dele, que estava incosciente, o que mais me preocupava.

– Como ele está? - perguntei, soltando-me de Nico e me jogando ao seu lado no chão.

– Vou ajeitar as barracas. - disse Nico antes de se afastar, e eu quase não notei algo diferente em sua voz, mas ignorei naquele momento.

Coloquei minha mochila de lado e toquei a testa de Travis, soada e quente. Ele não estava nada bem.

– Fiz o que pude. - disse Paige, ao terminar o curativo ao redor do abdómen nu de Travis. - Não sou nenhuma filha de Apolo, mas espero que resolva.

– Acha que ele vai sobreviver? - perguntei, preocupada e receosa.

Quando olhei em seus olhos azuis, porém, eu tive a minha resposta antes mesmo que ela a pronunciasse.

– Agora cabe às Parcas decidirem.


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Notas finais do capítulo

http://fanfiction.com.br/historia/589100/The_Beach/



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