A Herdeira de Hécate escrita por Rocker


Capítulo 24
Capítulo 23 - Monster


Notas iniciais do capítulo

15 comentários no capítulo passado, já disse que adoro vocês?! *u*



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A Herdeira de Hécate

I'm only a man with a candle to guide me
I'm taking a stand to escape what's inside me
A monster, a monster
I've turned into a monster

Capítulo 23 - Monster (Imagine Dragons)

Irrompi pelas portas do meu chalé e corri até o banheiro. Não, não, não! Isso não podia estar acontecendo! Mas, infelizmente, estava. Assim que me olhei no espelho, percebi que aquilo realmente era obra da minha mãe. Ambos os meus olhos estavam numa mistura de lilás, vinho e prateado. Um sinal claro do quanto eu estava nervosa, ansiosa e assombrada. Isso não era bom, nada bom. Eu sentia as lentes ainda ali, mas não tinha a menor ideia do que realmente havia acontecido. Aproximei meu rosto do espelho, segurando nas beiradas da pia, prevendo uma possível queda.

Não havia quase nada de errado ali, pois as lentes continuavam no lugar em que eu tinha encaixado nessa manhã. A diferença estava na falta de cor nelas. No momento elas estavam parecendo lentes de grau - mas sem o grau. Abri uma das gavetas, a que estava com as duas caixinhas de lentes, e tirei a caixinha vazia. Tirei as lentes que usava e as guardei. Não seriam úteis até o momento que eu descobrisse um contra feitiço. Peguei a caixinha reserva e a abri, esperançosa e rezando para todos os deuses que eu me lembrava. Mas nenhum deles impediu a decepção e o desespero surgindo em meus olhos na cor laranja quando percebi que estas lentes estavam tão sem cor quanto as outras.

– Isso não podia estar acontecendo comigo! Poxa, mãe, e a parte que eu lhe disse que odeio ser uma aberração?! - eu gritei para o teto do quarto enquanto ia até a estante, esperançosa em achar um contra feitiço. - Onde é que fica?!

– Você não é uma aberração. - ouvi uma voz atrás de mim, vinda da porta do chalé, e paralisei no ato de estender uma mão até o livro.

Não, não, não!

Valeu, mãe, te devo uma!, pensei com sarcasmo e poderia jurar ter visualizado um revirar de olhos divertido.

Abaixei a mão e fiquei onde estava. Abaixei a cabeça, balançando-a levemente para a franja tapar meus olhos - em vão, já que ela cobria apenas minha testa. Péssima hora para não ter um óculos de sol.

– Saia daqui, Nico. - pedi inexpressivamente, pegando o primeiro livro que eu via e fingia que o folheava. Não conseguiria procurar nenhum contra feitiço enquanto ele estivesse ali.

– Não até você me contar o que aconteceu. - ele disse, e eu senti-o parado bem atrás de mim, separados apenas por centímetros.

Parei de folhear o livro instantaneamente, sentindo sua respiração arrepiando os pelos da minha nuca. Não levantei meu rosto e nem me virei, mas logo vi Nico tomando o livro da minha mão e o colocando novamente na estante. Joguei os braços ao lado do corpo, exausta de tudo. Sabia que mais cedo ou mais tarde eu teria que mostrar a ele a aberração que eu era, mas eu ainda não estava preparada psicologicamente para isso. Foram emoções demais para um dia só.

Acho que Nico percebeu que eu estava evitando olhá-lo diretamente, pois ele logo colocou uma mão sobre meu ombro e me girou de frente para si. Mantive minha cabeça abaixada e fechei fortemente os olhos. Senti meus olhos lacrimejando e levei minha mão para frente do rosto, suplicando para as lágrimas não descerem. Nico segurou minha mão, impedindo-me de tapar o rosto, e segurou meu rosto com a outra, levantando-o.

– Olha pra mim, Anjo. - ele pediu, mas eu balancei a cabeça.

– Eu sou uma aberração. - sussurrei.

– Não é não. - ele contrariou e eu senti sua testa encostada à minha. - Abre os olhos, Anjo.

Dessa vez eu não pude resistir ao seu pedido sussurrado contra meus lábios. Abri os olhos, sentindo-os sendo predominados pelo roxo da insegurança. Nico observava cada centímetro do meu rosto e a insegurança se transformou em nervosismo, transformando meus olhos roxos em lilases. Pude perceber seu assombro ao ver a mudança de cores, e rapidamente me desvencilhei dele, virando-me de costas.

– Eu sou uma aberração. - eu murmurei, cruzando os braços sobre o peito, como se isso pudesse diminuir a dor que eu sentia por isso.

Logo senti os braços fortes de Nico me abraçando pela cintura e ele depositando um beijo sobre minha têmpora.

– Não é não, Cristal. - ele repetiu, sussurrando ao meu ouvido e me fazendo arrepiar por completo.

– Até você se assustou quando viu. - resmunguei.

– Mas isso só porque eu nunca tinha visto algo assim. - Nico disse, abraçando-me mais forte contra seu peito, e eu sentia-me relaxando aos poucos. - Você é especial, Cristal, não se esqueça disso.

– M-mas... - eu me virei, preparada para discutir, mas assim que vi o brilho em seus olhos negros e um sorriso brincando no canto de seus lábios, eu rapidamente perdi a fala.

O sorriso de Nico aumentou, e ele depositou um selinho sobre meus lábios. Meus olhos se tornaram tão rosados quanto minhas bochechas coradas.

– Acho que posso me acostumar com isso. - ele disse marotamente, beijando-me novamente.

É, talvez ser uma aberração não fosse assim tão ruim.


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