A Herdeira de Hécate escrita por Rocker


Capítulo 16
Capítulo 15 - Because We Can


Notas iniciais do capítulo

Acho que sem muita coisa pra falar por aqui kkkk Espero que gostem do capítulo!!



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A Herdeira de Hécate

I don't wanna be another wave in the ocean
I am the rock, not just another grain of sand

Capítulo 15 - Because We Can (Bon Jovi)

Não demoramos muito no chalé de Nico. Esperei apenas Nico guardar seu violão ao lado do armário e saímos em direção a uma arma para mim. Mas claro que antes disso passamos pela crise das filhas de Afrodite, que ainda xingavam quem quer que tenha vandalizado seu chalé. Sinto muito, Afrodite, mas seus filhos não têm mais do que um rostinho bonito. Ao invés de pegarem tintas e recolorirem as paredes, ficam resmungando por aí e ameaçando o culpado, que ainda nem aparecera. Claro, não querem sujar as próprias unhas.

– Você fez um bom trabalho. - disse Nico, acordando-me dos pensamentos. Segui seu olhar e percebi que ele tinha um sorriso irônico nos lábios ao observar a crise dos filhos de Afrodite.

– O q-quê?! - gaguejei. Ele não podia saber que era eu. - E-eu não tenho nada a ver com isso.

– Tem sim, Anjo. - Nico disse tão firmemente que finalmente me recordara que ele me conhecia tão bem quanto eu mesma. Meu coração deu um pulo estrondoso ao ouvi-lo me chamando de anjo. - Eu reconheceria aquelas pinceladas rústicas e em relevo em qualquer lugar. Ficou perfeito.

Eu corei e sorri levemente, voltando meus olhos aos desenhos abstratos e grafitados. Nico tinha razão. Meus traços em tela eram delicados e perfeitinhos, mas quando eu grafitava eles se tornavam agressivos e rústicos, como se eu pretendesse descontar todos os problemas do mundo num só desenho. Cada obra requeria um cuidado especial e o que eu fizera na parede do chalé de Afrodite fora algo que eu senti ser a minha mais marcante obra. Os traços duros e rústico, como se fosse uma quebra às regras impostas à sociedade perfeitinha daquelas patricinhas.

– Obrigada. - sussurrei e Nico sorriu, passando o braços pelos meus ombros e me levando em direção ao Arsenal.

Mas enquanto andávamos até lá eu senti algo me incomodando. Algo que eu até o momento nem me dera o trabalho de saber. Então, antes de entrar no Arsenal, eu estanquei. Era algo que eu sentia que precisava perguntar. Algo que simplesmente começou a me corroer de repente.

– O que foi, Anjo? - Nico perguntou, parando de frente para mim.

Pensei em qual seriam as minhas palavras. Mas resolvi ir direto ao ponto.

– Nico, você ainda não me disse de quem era filho.

Nico deu um passo atrás, assustado, receoso e nervoso. Não tinha a menor ideia do porquê, mas fiquei imaginando se seria algum deus tão ruim. Ele parecia não querer me contar, como se eu fosse sair correndo quando soubesse.

– E-eu... - ele gaguejou e pude perceber que ele estava mais nervoso do que aparentava. - Eu pensei que já tivessem te falado...

Balancei a cabeça, negando. - Não, acho que esqueceram de me falar isso.

Nico suspirou derrotadamente, mas nada disse.

– Vai me dizer ou não? - insisti. Não que eu quisesse pressioná-lo, mas aquela dúvida martelava constantemente em minha cabeça.

– Hades. - ele respondeu, tão baixinho que se eu não estivesse observando seus lábios pensaria que estava delirando. Nico encolheu os ombros, provavelmente esperando algum tipo de reação explosiva. - Não vai fugir, vai?!

– Por quê eu fugiria? - perguntei, apesar de saber a resposta.

– É o que todos fazem. - Nico disse, olhando diretamente em meus olhos e me assustei com a dor que eu via naqueles olhos tão lindos. - A maioria dos campistas me evitam por medo.

Pensei por alguns momentos, antes de sorrir de modo reconfortante e enlaçar seu braço ao meu. - Eu teria medo do seu pai, não de você. Se quisesse me matar, não teria me salvado na Ponte do Brooklyn.

E, por incrível que pareça, Nico conseguiu sorrir abertamente.

– Obrigado, Anjo.

Eu sorri de volta, enquanto finalmente entrávamos no Arsenal. E qual não foi a minha surpresa quando esbarramos em Leo, filho de Hefesto.

– Leo! - chamei sua atenção e ele logo largou as espadas que observava.

– Cristal, Nico! - ele veio até nós e nos cumprimentou com um sorriso largo. - Vieram atrás de uma arma pra sua namorada, Nico?

Me perguntei se Nico enfezaria com isso como da última vez, mas ele apenas revirou os olhos e foi atrás de algumas espadas.

– Nervosinho ele, não? - brincou Leo e eu ri.

– É, talvez um pouco. - eu disse. - Então, algum concelho pra uma boa arma?

– Isso depende de cada um. - respondeu Leo. - Você se imagina em combate corpo a corpo e mais próximo?

– Com adagas, você quer dizer? - perguntei, meio atordoada. Leo assentiu. - Não mesmo!

– Arco e flecha, o que acha? - ele perguntou novamente.

Balancei a cabeça veementemente. - Acho melhor uma espada mesmo.

– O que acha dessas? - perguntou Nico, se aproximando com umas três espadas em mãos de formatos e tamanhos diferentes.

E então eu passei as próximas duas horas analisando cada uma das espadas ali no Arsenal. Nenhuma se encaixava perfeitamente em minhas mãos. Sempre tinha algum probleminha. Ou eram grandes demais, ou eram pequenas demais, ou eram leves demais, ou eram pesadas demais, ou tinham falta de equilíbrio, ou tinham alguma quebra que me incomodava a ponto de eu não conseguir pensar em usá-la.

– Nenhuma! - reclamei, jogando-me no chão, irritada. - Eu não consegui me dar bem com nenhuma!

– Hey, calma, Anjo, não se preocupe. - disse Nico, colocando a mão sobre meu ombro de modo reconfortante. - Leo pode tentar fazer uma espada pra você depois. Uma que fique perfeita com você.

Levantei o rosto, esperançosa, para o moreno de cachinhos. - Pode?! - perguntei, fazendo voz infantil e os dois riram.

– Claro que posso! - disse Leo. - Demora alguns dias, mas enquanto isso você pode ir treinando com alguma e até eu conseguir a sua você já estará melhor.

Eu sorri abertamente e pulei nos braços de Leo, abraçando-o fortemente. Nico pigarreou atrás de mim e me perguntei se ele realmente se sentira desconfortável com isso.

– Ah, obrigada os dois! - eu disse, meio sem graça, enquanto Nico fechava a cara e Leo ria de algo que eu não entendia.

~*~

É, eu não era tão boa assim quanto eu pensei.

– Vamos, Anjo, você só precisa de treino. - disse Nico, procurando me consolar do meu evidente fracasso. - Ninguém chega já sendo bom em tudo.

Suspirei derrotadamente. - Eu sei, mas... Ah, sei lá! Isso não é pra mim.

Eu sentia-me decepcionantemente frustrada. Joguei a espada no chão aos meus pés, vendo minha sombra formada pelo sol das três da tarde. O suor escorria por minha pele, os fios ruivos grudavam em minha testa. Virei-me para ir embora, sentindo algo se transformando dentro de mim; um desejo desesperado de mostrar que eu também tinha meu valor, que não era a inútil que todos pensavam que era. Eu queria, uma vez na vida, vencer.

E então eu ouvi o som de espadas, mais próximas do que eu julgava capaz que as outras duplas estivessem. Virei-me novamente e me desesperei com a cena que encontrei.

Nico estava cercado.

Por sombras.


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