Dies Incertus escrita por Roosiwelt Silva


Capítulo 5
Buscando o Profeta


Notas iniciais do capítulo

Trazendo mais um capítulo de Dies Incertus. Espero que gostem :)

Nos vemos nas notas finais.
Ah! Antes que eu me esqueça kkk Betagem por Juju Ashenbert



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Salvador, Bahia – Junho de 2014

Passaram-se três meses desde que Ivan deixou o hospital no Rio de Janeiro. Durante este tempo ele descansou, pois como tinha sofrido um acidente, precisava de repouso – mesmo que sua recuperação fosse acelerada por um celeste. Também era necessário reunir informações para a missão que o anjo lhe concedera: procurar um suposto segundo profeta, semelhante a ele, e também o despertar. Como iria fazer isso, não sabia, mas, segundo as instruções do alado, no momento oportuno, saberia como proceder, o que o deixou um tanto intrigado.

Era uma tarde agradável de junho quando ele foi ao aeroporto embarcar com destino a Salvador. Nas ruas, o clima era de alegria e expectativa, pois era véspera da estreia do Brasil na Copa do Mundo e o jogo começaria logo mais. Mas Ivan não estava nem um pouco interessado o que iria acontecer neste Mundial, tinha uma missão, tal como aqueles jogadores que iriam estrear no dia seguinte, de caráter mundial. O voo saiu às 17h30 minutos do Rio de Janeiro e chegou ao seu destino, sem maiores complicações, ao menos, após, uma hora e meia. Ivan estava exausto, e se hospedou em um dos hotéis da orla de Salvador. Dormiu tranquilamente e no dia seguinte, quando preparava para descer ao café, encontrou um papel escrito com o endereço do segundo profeta. Ivan se perguntou como sabiam onde estava. “Ah, são anjos. Devem saber de tudo”, pensou. Virou a folha, onde tinha as seguintes palavras: “Retire o dia hoje para conhecer a cidade. Devo dizer que aqui há belas praias e ótimos locais, inicie amanhã a sua missão. Estamos contando com você.” Mesmo sem mostrar seu remetente, soube de súbito quem poderia ser: Uziel.


Ele saiu para conhecer a cidade. Salvador é uma cidade que fervilha em cultura. Em suas ruas, a marca histórica de uma das primeiras cidades do Brasil era evidente. O pelourinho, indício de sua cultura, e a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, mostra a forte religiosidade do povo, que também é diversa. Ivan andou pelas ruas da metrópole, superentusiasmado com seu povo e seus costumes. Passou o dia passeando pelo centro histórico e provando das comidas típicas – principalmente o acarajé, o qual ele achou bem apimentado. E assistiu às danças, como a capoeira. A capital soteropolitana encontrava-se agitada pelo jogo da Copa do Mundo que ocorreria naquele mesmo dia. Foi na ala mais humilde da localidade, onde alimentou alguns mendigos. Sentiu tristeza pela miséria daqueles que foram renegados pela sociedade, mas sustentava sua esperança na chance que ele tinha de salva-los, e era esta a sua missão. Quando chegou ao hotel já eram 21 horas, e estava visivelmente exausto pelo passeio. Tomou uma ducha quente e quando saiu, dirigiu-se até a sua bolsa, onde encontrou roupas leves, quando subitamente Uziel se materializa na sua frente e acena para ele:


‒ Me desculpe. – Ivan estava somente com o calção – vou colocar uma roupa apropriada.


Uziel sorriu.


‒ Não precisa, vou ser rápido. – então, se dirigiu até a janela para observar a rua. – Estou passando aqui somente para saber como você está. Vejo que está bem!


‒ Obrigado! A propósito, sabe alguma coisa sobre o Segundo Profeta? – indagou o rapaz.


‒ De início, não. Somente me repassaram que ele se encontrava neste endereço, nada mais. Disseram que você teria que acha-lo, e despertar seus dons.


¬‒ Despertar? – Ivan parecia distante. – Como poderei desperta-lo? Já que não sei bem executar isto?


Uziel fez um gesto de frustração.


‒ Desculpe-me, Ivan. Se eu pudesse, contaria tudo, mas é a política celeste. Algo meio que complicado demais, mas com o tempo você irá entender. Já que faz parte disso tudo agora.


O jovem sorriu, conhecia bem a política terrena. Entendia como algo complicado que somente gênios ou loucos por poder, sabiam dominar tão bem. Agradeceu a visita do celeste, que se desmaterializou com um sorriso. Ivan estava cansado e se deitou. Buscou o livro na bolsa – o qual não sabia qual era ainda – e foi tamanha a surpresa quando descobriu o qual era.


‒ O meu favorito! - falou baixinho. A Batalha do Apocalipse do autor Eduardo Sphor, o seu livro predileto, o qual ele queria comprar a tempos.


‒ Obrigado! - murmurou como se falasse perto do alado. Passou um tempo lendo, até que adormeceu com o livro em mãos.


Quando acordou, já era cedo. O Sol batia ao lado da cama, em uma parede de cor caramelo, o que refletia em um dourado em todo o quarto. A propósito, o seu cômodo era de uma aparência meio rústica. Os móveis eram supostamente antiquados, arrumados de modo discreto por todo o ambiente, e sua cama era de mogno maciço. Ao seu lado, um criado-mudo de madeira, com um aspecto antigo, mas por conta de renovarem a pintura, conseguia enganar olhos mais atentos. Mas, por razão desconhecida, Ivan conseguia perceber que era velho. Ao lado, mas à frente encontrava--se encostada à parede, uma cômoda, cor marrom e bem-conservada. Em contraste a tantos adereços antiquados, mais à frente localizavam-se equipamentos claramente modernos como TV, DVD, refrigerador e um mini system. Se jovem se vestiu e desceu para a sala de refeições. O lugar estava bastante cheio, pois turistas do mundo inteiro encontravam-se hospedados lá. Foi até o self-service e buscou apenas pães, queijos e presuntos, além de um bom cappuccino. Depois da rápida refeição, saiu para a sua missão: encontrar o segundo proeta. Foi uma surpresa para ele, que o local fosse tão relativamente perto de onde hospedava. Realmente, anjos sabem organizar como ninguém. Mais adiante, teve sua segunda surpresa: o local do Segundo era um centro de candomblé. Buscou o papel novamente e o endereço estava certo. A casa era sólida, um pouco obsoleta, e branca. Aliás, por todos os lados se viam cores brancas. A não ser pelos imensos coqueiros que rodeavam a casa, que ofereciam sombra e sensação refrescante. Subitamente a mão de Ivan começou a esquentar. “Que sensação é esta?”, pensou. Então lembrou o que Uziel lhe falou dias antes: “Saberá o que fazer.” Este formigamento anormal, poderia muito bem ser um sinal de que estava no lugar certo. Adentrou-se ao local, e escutou batuques e pessoas cantando em língua desconhecida. Na porta da casa, dispostas lado a lado, duas estátuas de seus orixás que Ivan conhecia bem quais eram, pois era entusiasta das religiões afrodescendentes. A primeira era de Iemanjá, que segundo suas tradições seria a deusa dos mares. Personificada como uma mulher alta e graciosa, cabelos pretos e longos, sempre com um longo vestido azul e uma coroa de estrela única em sua ponta. A segunda, separada da anterior por um caminho de terra, representava a personificação de um senhor idoso, que usava uma túnica branca. Em uma das mãos, carregava uma espécie de cajado, que seus filhos segundo a tradição, chamam de apaxorô. Ornava uma coroa na cabeça, e é considerado o pai de todos os orixás conforme a tradição de quem o segue. Uma comparação com o Deus dos cristãos. Na entrada, uma mulher vestia uma roupa de ração. – típica vestimenta dos candomblecistas – composta por uma saia longa e branca, que recebe o nome de axó e o singuê, que é um pano que substitui o sutiã. A mulher o recebeu calorosamente:


‒ Axé! Como vai? Em que posso ajuda-lo?


Ivan não sabia o que falar, então arriscou.


‒ Sou um estudante de religiões. Quero conhecer um pouco mais sobre vocês. Se não lhes for incômodo, podem me ajudar?


A senhora respondeu alegremente.


‒ Mais é claro! Sempre estamos dispostos a ajudar quem quer nos conhecer mais. Mas peço que entenda que não podemos falar tudo. Você sabe como é, não é verdade? – ela assumiu um comportamento tímido – religiões e seus segredos.


‒ Entendo perfeitamente. – apertou a mão da mulher – conte-me apenas o que lhes é permitido.


Seguiram para o interior, onde o espaço se mostrava bem maior. Enquanto conversavam na cozinha provando um chá de ervas, o rapaz repentinamente ouviu uma voz em sua cabeça: “Ivan, não fale nada, apenas ouça! Peço que se apresse no despertar do Segundo. Pois houve uma pequena mudança de planos. Então, desperte-o logo e o traga ao quarto de hotel onde irei explicar melhor.”. Para encerrar a conversa com a mulher, ele solicitou:


‒ Posso visitar o local onde está ocorrendo o ritual? – suas mãos formigavam mais intensamente como da outra vez – preciso realizar um desejo de infância.


‒ Claro! Podemos ir!

A mulher o guiou para uma sala branca. Assim que pisou nesta, uma força o impeliu para frente. A guia o questionou:


‒ O que você está fazendo? Não pode atrapalhar a sessão!


Sabia que era proibido, mas seu corpo não respondia por si. Com a cena, o canto parou, os batuques cessaram e todos estavam com a atenção na peculiar cena: Ivan, involuntariamente indo de encontro a um jovem rapaz. Era negro, magro e cabelos curtos, aparentava ter uns 17 ou 18 anos. Usava roupa típica da ocasião. Olhou para o outro, incomodado.


‒ Senhor, que faz aqui? Não vê que está atrapalhando a sessão? Peço respeitosamente que se retire do local.


Chegando mais perto, o jovem rapaz percebeu que Ivan estava distante. Então assumiu uma postura de preocupação.


‒ O senhor está bem?


Então, o enviado do celeste respondeu à meia-voz, um pouco sorridente.


‒ Sim, estou!


Na sua cabeça, a mesma voz que pediu para que se adiantasse o orientou em sua mente de novo. “Este é o segundo profeta. Desperte-o, e o traga conosco.”
Ivan assentiu, olhou para o jovem que estava à sua frente, que ainda carregava preocupação.


‒ Desculpe jovem, qual o seu nome?


‒ Ismael, senhor. - respondeu com desconfiança.


‒ Bem, Ismael, chamo-me Ivan e trago uma boa-nova. Você foi escolhido.


Antes que o jovem Ismael pudesse retrucar, Ivan pousou a mão formigante na cabeça do jovem profeta.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, espero que tenham gostado. Sintam-se a vontade para opinar está bem? Até a próxima!!



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