Éden

100º ano da Criação

Quando Eloah criou a raça humana, decidiu que seriam feitos à sua semelhança. Então criou Adão do pó da terra, e das costelas do primeiro homem, criou a mulher. E os colocou no Jardim do Éden. A princípio tudo corria bem, o casal original tirava da natureza o seu sustento e vivia em perfeita harmonia com ela e seus integrantes. Mas, com o passar do tempo, eles adquiriam conhecimento, e com esse vieram os questionamentos. Mas eram inocentes demais para pensar adiante, e não tinham a sabedoria necessária para ser um pensante. Foi neste momento que Lúcifer – um arcanjo caído – se aproveitou da situação para se vingar de Deus.

No primeiro dia da criação, quando Eloah criou o fogo, deu forma a seu primeiro filho, um Ser dotado de grande beleza, poder e intelecto. Com um corpo esbelto, magro, rosto largo e olhos profundamente cinzas, cabelos loiros até a cintura, usava túnica alva como a neve e tinha dois pares de asas douradas, somado a um brilho estonteante, tanto que recebera o nome de Lúcifer, que significa “Estrela da Alvorada”. No entanto, transcorrido certo tempo, ele começou a achar, por causa de sua beleza, poder e sabedoria, que era superior a seu Criador. Então, organizava discursos secretos no paraíso chamando os demais anjos para aderirem à sua causa: Onde todos poderiam ter poder e sabedoria. Certo dia, Eloah descobriu a traição da Estrela da Manhã e quando esta traição veio a público, causou uma ira generalizada no céu. Uma guerra civil celeste que durou meio século e que resultou com a expulsão de Lúcifer do paraíso, como também os anjos que abraçaram sua luta. Sendo, a partir deste dia, chamados de Demônios e o próprio Lúcifer, de Diabo ou Satanás.

Eloah instruíra o casal a não comer o fruto de determinada árvore. A mesma era conhecida como a árvore do conhecimento, e caso o casal se alimentassem de seus frutos, morreriam. A Estrela da Manhã então se aproveitou desta oportunidade e executou seu plano: Se transmutou em uma serpente e tentou a mulher, convencendo-a a provar da fruta da árvore proibida. E assim que ela provou do fruto proibido, ofereceu ao marido e desobedeceram as ordens do Altíssimo. Como consequência, foram expurgados do jardim e condenados a viver na Terra, e sofrer as suas dores. Este foi o Pecado Original, o homem criou consciência e sabedoria, o que o afastou de seu Criador.

Daquele dia em diante, o homem se tornou perverso, não mais agia com a bondade outrora herdada de Deus. E assim, começou seu processo de corrupção que dura até os dias atuais. Mas Eloah, acreditando que poderia mudar o coração dos homens, pediu aos seus primeiros filhos – os Arcanjos – para procurarem pela Terra, um homem que fosse justo aos olhos de Deus.

Os arcanjos são entidades poderosas e dotadas de grande intelecto. Foram concebidos por Deus momentos depois do segundo dia da criação. Seres majestosos, cuja missão é auxiliar Eloah nos seus feitos por toda a eternidade. O primeiro arcanjo criado foi Miguel, e por ser justamente o primogênito, recebeu o título de Príncipe dos Arcanjos. De aparência jovial, cabelos ondulados e negros e olhos profundamente verdes, em contraste com uma pele alva como a neve da Terra. Seu semblante era de um líder fiel e justo, um comandante, fiel a Deus eternamente.

Mesopotâmia

1000º ano da Criação.

O vale entre os rios Tigre e Eufrates foi nomeado de Mesopotâmia, cujo significado em grego é “terra entre rios”. Sua região corresponde ao antigo Iraque. Este território, fértil e pequeno era frequentemente disputado pelos povos da antiguidade. Composto de várias cidades, sendo Ur, a mais notável, localidade onde morava um pastor chamado Noé. Homem justo e bom, ao contrário dos outros filhos de Eloah que se corromperam logo após o pecado original, conservara a retidão, a justiça e a bondade tão ansiada pelo Altíssimo. Possuía uma idade ligeiramente avançada, carregava no rosto o trabalho duro que enfrentou em toda a sua vida. Um homem reto, que se orgulhava de suas virtudes, em contraste com o corpo castigado pelo tempo.

Miguel estava há quase 1000 anos em busca de um homem que atendesse aos requisitos que Deus recomendou – ser justo, bom e reto – para repovoar a Terra após o seu plano de inundação, fato que extinguiria os humanos corruptos e, novamente, traria a paz a terra recém- -criada. Em sua procura diária, encontrou um pastor de ovelhas, de aparência castigada, mas que aparentava uma estranha bondade. Suspeito de que encontrou o homem que procurava, resolveu testar o humilde pastor. Então, desceu a Terra e se transmutou em um jovem rapaz sedento e faminto. Aproximou-se de Noé:

— Pastor, tenho com fome e sede! – exclamou quase sem fôlego, fez uma pequena pausa, e continuou – Me dê água e comida, e um lugar para descansar, há dias que eu estou no deserto, enfrentando noites de frio cortante e dias de calor escaldante. Suplico, senhor! – tentou parecer mais realista – Me ofereça alimento e descanso.

Noé olhou aquele pobre coitado, sentiu pena dele e prontamente ofereceu ajuda. O levou para a sua cabana, disponibilizou alimento e água fresca, além de um local para descansar. Passou a noite, e no dia seguinte, Noé ofereceu alimento e um cantil com água, para que não tivesse sede no deserto. Antes de se despedir, o arcanjo disfarçado falou em um tom de gratidão:

— Obrigado, Noé. Nestes tempos, é quase impossível encontrar um homem justo e bom como você. Tem a minha gratidão.

Noé rebateu com um jeito quase que automático:

— Não há de que, jovem. Só faço aquilo que Deus gostaria que fosse feito.

Miguel se espantou, “este homem ainda mantém laços com o Altíssimo?”, indagou-se. Então, ele pôde ver que existia alguém que ainda acreditava no Pai, que seguia seus dogmas e viveria na Terra de forma justa. Antes, quem tanto foi contra a criação da raça humana, por receio de que Deus não os amasse mais, agora via um homem que atendia àquilo que Eloah passou quase mil anos encontrando. E não teve dúvidas de que aquele humano era o escolhido. Agradeceu mais uma vez a pessoa que mudou a sua ideia sobre o Homem. Sua missão chegou ao fim. Agora, está perto o momento em que os humanos perversos seriam expurgados, dando lugar aos justos, que adorariam ao Pai e que finalmente poderia trazer a paz à Terra. Transferindo o lugar a homens como Noé.