Perdidos escrita por Mariii


Capítulo 24
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Quase fim... :(



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– Molly

Eu comecei a chorar quando entendi o que Mary estava me dizendo. No começo devagar e silenciosamente. Então as memórias começaram a vir. Rápidas. Não, por favor, eu não quero me lembrar. Mas uma sucessão de imagens e cores me invadiu. Os olhos de Sherlock. A última coisa que vi antes de tudo apagar. Aqueles olhos tão impenetráveis tinham deixado uma gama de sentimentos aparecerem por apenas alguma fração de segundo. Eu só desejei poder tê-lo comigo. Ao menos uma vez. E quando o tive, era só um sonho.

Conforme as lembranças reais foram aparecendo, meu choro foi se tornando mais profundo e eu comecei a me debater na cama. A dor não cabia em meu corpo. Eu queria sair dali, queria arrancar aqueles fios de mim, queria quebrar alguma coisa. Talvez a mim mesma.

Os meus gritos devem ter sido ouvidos de longe. Eu não conseguia me controlar. Tudo em mim parecia estilhaçar. Mary e a médica tentaram me segurar. Em segundos algo foi aplicado diretamente em meu braço. Eu dormi em seguida.

Quando acordei, não tinha noção de quanto tempo havia se passado. Mary estava deitada em um sofá próximo a minha cama e se ergueu quando viu que eu estava acordada. Eu não queria conversar, não queria ver ninguém. A única pessoa que eu queria, não existia. Mary parecia receosa e, novamente, com pena. Mais um pouco e me internariam como louca.

Ela me perguntou como eu me sentia e eu menti que estava tudo bem. Todos “entenderam” que fora só um estresse pós-traumático meu. Eu não discutiria. Não queria ir parar num hospício. Mary ainda continuava me olhando como se eu fosse pegar um bisturi e matar a todos no hospital. Confesso que me sentia um pouco tentada por essa ideia.

Bateram na porta e Mary foi atender. Estranhei quando ela saiu ao ver quem era. Acabei ouvindo a discussão que acontecia. Entre Mary e Sherlock. Parecia que todos o culpavam pelo acontecido. Meu corpo começou a tremer e eu sabia que choraria de novo em breve. Isso não podia estar acontecendo, mas estava. Ouvir a voz dele mexeu comigo de tal forma que meu ar faltou. Para que servia mesmo esse maldito cano na minha traqueia?

Sherlock passou pela porta e fechou-a atrás de si, deixando Mary falando sozinha e com uma cara indignada para trás.

– Oi Molly.

Minha voz quase não saiu quando eu respondi. Droga. Parecia que alguém estava apertando meu coração. O que eu poderia dizer? O que eu poderia fazer?

– Você está melhor? - Dei de ombros. - Eles me deram alta, estou saindo agora e passei para ver como você está.

Minha garganta, que já estava dolorida, pareceu se fechar ainda mais. A voz dele saia aos trancos e eu não conseguiria abrir a boca sem chorar. Só assenti. Meus olhos já inundaram. Queria segurar a mão dele e que ele me dissesse que estava tudo bem.

Mas ele abaixa o olhar, parecendo envergonhado.

– Me perdoe, Molly.

Eu respiro fundo. As lágrimas irão pular de meus olhos a qualquer minuto.

“E todas as manhãs, quando eu acordar, eu terei a certeza que não poderia ter feito escolha melhor e que não há mais uma vida onde nós estejamos separados.”

Dor. Eu já não conseguia mais suportar a dor. O dia em que ele me pediu perdão na banheira veio certeiro como uma flecha em forma de lembranças. Tão nítidas como vê-lo agora. Fechei meus olhos e visualizei Sherlock me olhando. Apaixonado. Nós estivemos fazendo planos. Deus... Eu respiro fundo mais uma vez, olho para ele e repito minhas palavras.

– Você está perdoado há muito tempo, Sherlock.

Porque era verdade.

Ele levanta os olhos para mim, espantado. Por um momento eu consigo visualizar aquele Sherlock dos meus sonhos. Meu coração começa a disparar, mas é impossível, eu sei. Ele parece não saber o que dizer. Fecho meus olhos novamente e o escuto sair do quarto após alguns segundos de hesitação.

Finalmente deixo que as lágrimas caiam de meus olhos.

Mary entra no quarto logo após Sherlock sair. Ela pensa que estou chorando por tê-lo visto depois que ele causou o acidente. Mary não entendia. Ninguém nunca entenderia.

Disseram-me que eu ficaria mais uns dias internada até que pudessem remover meu gesso. Eu sabia que era mentira. Estavam preocupados com a minha sanidade por eu ter batido a cabeça e agido de forma estranha quando acordei. Ao menos eu me livrei do tubo, já que estava conseguindo respirar sozinha. É, mais ou menos, era só não pensar em Sherlock que eu respirava.

Meus dias se passaram da pior forma possível, entre crises de choro e medicações. Foi um pequeno alívio quando finalmente chegou o dia em que tirariam meu gesso. Pelo menos isso. E eu devo agradecer a esse momento todos os dias da minha vida.

A enfermeira cortava meu gesso com habilidade, mas isso me dava aflição porque parecia que iam cortar meu braço. Eu olhava com atenção, para puxar o braço a qualquer instante. Quando vi meu braço livre, meu coração acelerou e minha boca se escancarou.

– Você consegue mexer o braço, Molly?

Meu braço. Meus olhos se encheram de lágrimas pela milésima vez em dias. Mas dessa vez eu estava em um misto de euforia e medo. Medo de estar realmente ficando louca e me decepcionar. Comecei a tremer.

– Molly?

Eu virei meus olhos para a médica devagar. Ela me encarava sem entender, como era habitual desde que eu acordei. Tive que certeza que seria internada agora. Abri a boca e as palavras não saíram da primeira vez. Eu queria e não queria perguntar. Precisava e tinha medo de saber.

– Você consegue mover o braço?

Assenti. Sim, não havia nada de errado com meu braço. Olhei novamente para ele. Estava perfeito. Mais que perfeito.

– Quando... Quando foi que me queimei?

Pela primeira vez a médica pareceu realmente surpresa. Eu apontei para a queimadura em meu braço. Ainda parecendo recente. Ela se aproximou e meu coração disparou quando ela pareceu intrigada. Observei ela examinar a queimadura e suas sobrancelhas se erguerem. Folheou meu prontuário. Eu estava em choque.

E meu estado piorou quando não encontraram uma explicação para minha queimadura e sugeriram que talvez eu tivesse me queimado logo antes do acidente. Mas eu não estava sem memórias mais. E eu sabia que não havia me queimado antes.

Minha alta veio no dia seguinte. Apesar das insistências de Mary, que eu aposto continuava preocupada por eu não estar mentalmente normal, eu fui para o meu apartamento.

"Mas eu quero ficar abraçado com você em seu apartamento, quero que a gente tome café da manhã em Baker Street, que vejamos filmes deitados no sofá da sua sala."

Olho para o meu sofá e todo meu apartamento vira uma caixinha de fósforo me sufocando. Corro para o quarto e me jogo na cama, chorando. Definitivamente não sei o que fazer. Não posso só dizer que me queimei em um sonho e esperar que isso torne tudo real. Mas por que essa queimadura me dava esperanças?


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