– Molly

Eu acordo e não sinto o braço de Sherlock em volta de mim. Ainda de olhos fechado tateio a cama e só sinto o lençol gelado. Droga. Coloco o braço sobre meus olhos. Não quero chorar.

Sabia que isso iria acontecer. Todos aqueles toques, aqueles carinhos. Sherlock agiu impulsivamente e tinha se arrependido. Era tão típico dele! Agora só me restaram duas opções. Ou eu desistia dele e fingia que nada tinha acontecido, ou eu provocaria até que ele não aguentasse e continuaria com isso até que eu cansasse. Preciso dizer qual que eu escolhi?

Levantei e corri para o banheiro. Depois que tomei banho fui olhar meu armário para ver o que eu vestiria que acabaria com a pose de Sherlock. Aparecer só de lingerie vermelha funcionaria, mas não era uma opção. Muito explícito. Olhei para o armário dele e uma ideia brilhante passou por minha mente. Iria provocá-lo sim, e ainda por cima iria irritá-lo.

Peguei uma camiseta branca dele e vesti por cima da minha lingerie vermelha. Apesar de larga, a camiseta ficou mais curta que meus vestidos. Perfeito.

Caminhei até a cozinha e parei, assustada. Sherlock estava fazendo café da manhã? Meu coração deu uma leve acelerada. Mentira, ele acelerou bruscamente como seu tivesse corrido uma maratona. Cruzei os braços, encostei na porta e fiquei ali, observando-o. Os cabelos dele estavam molhados pelo banho, e ele tinha vestido a calça de um pijama e uma camiseta branca igual a minha. Percebi que talvez eu estivesse errada achando que ele me abandonara, mas isso não anulava meu projeto de provocá-lo.

Ele parecia estar empenhado em esmagar frutas. Tentei não rir, para que não chamasse atenção. Demorou mais alguns minutos até que ele finalmente percebesse que eu estava ali. Ele ficou envergonhado e eu quis mordê-lo.

O alívio tomou conta de mim quando vi nos olhos dele que nada havia mudado. Ao que parecia, ele estava tentando me surpreender. Continuei a provocá-lo, lembrando-me da calda de chocolate. Vale frisar que isso e vestir a camiseta dele estavam dando muito certo. Pude comprovar quando olhei abaixo da linha da sua cintura.

Quando percebi que ele iria me agarrar naquele segundo, me afastei e mudei de assunto. Estava me divertindo com aquele jogo. Mas eu não esperava que ele fosse fazer o mesmo, e quando ele puxou meus cabelos, todo meu corpo reagiu. Quis espancá-lo quando ele interrompeu o beijo e fez a maior cara de anjo para dizer o que tínhamos para comer. Cachorro.

Ele sentou-se à minha frente. Uma pequena ingenuidade da parte dele, porque só esperei que ele colocasse uma torrada na boca para subir meus pés por suas pernas. Eu ri quando ele engasgou, mas também soube quando ele me olhou que isso iria ter volta.

Passei o café todo provocando. Provavelmente estava brincando com fogo, mas era isso mesmo que eu queria. Fogo.

– Parece que você acordou bem hoje, Molly.

– Sim, você não?

– Ah sim. Muito bem.

Ele tentava parecer normal e tranquilo enquanto meus pés iam e vinham por suas pernas. Eu me mantinha neutra, como se não estivesse fazendo nada. Em determinado momento ele abaixou uma das mãos e segurou meu pé. Já comecei a me retorcer, eu tinha cócegas, muitas cócegas.

– Solte, Sherlock.

O filho da mãe só riu e passou um dedo por meu pé. Se ele continuasse com isso, daqui a pouco eu derrubaria essa mesa. No entanto, eu lembrei que eu tinha outra perna e quando meu pé que estava livre chegou a lugares que não tinham sido explorados antes por mim, ele soltou meu pé. Levantei num pulo. Sabia que ele se vingaria de mim de qualquer forma.

Passei por ele e abaixei o rosto para beijá-lo. Ele tentou me segurar, mas desvencilhei, fugindo dele.

– Você sabe o que vai acontecer se eu te pegar, não sabe?

Eu parei a meio caminho da porta da cozinha, de costas pra ele.

– Sim... Eu sei...

Ouvi a cadeira dele se afastando, então eu corri.

Sherlock me perseguia. E eu fugia. Uma vantagem de ser menor e mais leve é que eu era mais rápida. Chegamos até a sala de jantar, um de cada lado da mesa. Eu ria e já estava cansada. Ele me olhava como um leão perseguindo sua presa. Ops.

Ele apoiou as mãos na mesa e eu recuei.

– É uma pena, Molly, que você não tenha escutado quando disse que você não podia pegar roupas minhas.

Ergui a sobrancelha e ele sorriu. Sexy, muito sexy.

– Agora vou ter que arrancá-la de você.

MEU DEUS. Derreti. Não sabia mais onde estava e nem quem eu era. E quase cedi. Quase. Porque nessa hora ocorreu um apagão e eu me vi totalmente no escuro, sem enxergar nada. Lá fora já tinha escurecido, então ficamos sem luz totalmente. Aproveitei o momento de hesitação.

– Você vai ter que me encontrar primeiro.

E corri para longe.

Eu ria enquanto me afastava, e ouvia Sherlock me perseguindo. Esbarrei nos poucos móveis que existiam, segurando gritos de dor.

Em determinado momento percebi que não ouvia mais Sherlock. Será que ele tinha desistido da brincadeira? Comecei a andar devagar, onde será que ele tinha se metido? Já estava começando a ficar com medo dessa escuridão agora. Ouvi alguns barulhos, mas não consegui definir de onde vinham.

Achei que tivesse visto uma claridade, mas apagou-se de novo. Isso estava me assustando. E muito.

– Sherlock?

Nada. Silêncio.

Não sabia mais nem em qual cômodo eu estava.

– Sherlock? Onde você está?

Ai que saco. Sherlock estava pegando pesado agora. Continuei andando devagar e vi uma frestinha de luz saindo por de baixo de uma porta. Acho que era a porta do nosso quarto. Eu estava morrendo de medo, mas mesmo assim me aproximei dela e já estava quase alcançando a maçaneta quando Sherlock me agarrou. Eu gritei e ele riu. Como sempre.

– Parece que eu encontrei você.

De novo meu coração estava acelerado. Não sei se pelo susto, por Sherlock atrás de mim me abraçando ou pelos beijos que ele começou a dar no meu pescoço. Sua respiração no meu ouvido está me fazendo perder o controle das pernas.

– Achei velas.

Ele sussurra e eu tenho a sensação de que vou desmaiar enquanto ele estica o braço e abre a porta do nosso quarto, que agora está iluminado por pequenas velas.