Perdidos escrita por Mariii


Capítulo 11
Capítulo 10




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– Sherlock

Acordei com Molly em meus braços. Percebi, por sua respiração, que ela estava acordada. Por algum motivo ela não tinha se mexido ainda. Isso era muito errado, em vários níveis. E eu me perguntava por que não estava me importando.

De qualquer forma, retirei meu braço devagar e me levantei. Não queria que as coisas piorassem ainda mais. Ou queria muito, não sei.

Percebi que Molly não comeu quase nada no café da manhã e saiu para caminhar. O clima entre a gente estava meio tímido. Acho que não sabíamos como agir depois de dormirmos juntos.

Eu nunca tinha dormido antes com alguém. Não me interprete mal, para mim sempre foi só sexo. Para que dormiria com alguém na mesma cama por uma noite inteira? Só de pensar nisso me sentia incomodado. Era muito... Íntimo. Mas por que com Molly eu havia gostado e me sentido bem? Dúvidas, dúvidas. Molly estava bagunçando tudo aquilo em que eu acreditava.

Ela estava demorando para voltar, por falar nisso. Fui atrás dela. Não sei desde quando eu tinha desenvolvido essa dependência de companhia. Sei sim, mas vamos ignorar.

Encontrei-a olhando para o mar parecendo perdida em pensamentos. Senti uma estranha tristeza em pensar que ela realmente queria ir embora dessa ilha. Sabia que o pesadelo tinha mexido com ela. Eu também não me sentia confortável ficando aqui até sabe-se lá quando e com a possibilidade de morrer. Mas, tenho que admitir, às vezes me esquecia que não estava aqui por vontade própria. Pelo menos não que me lembrasse.

Foi por vê-la tão pensativa que decidi quebrar o clima e jogar água nela. E também porque ela não assumiu que escolheria ficar comigo na ilha. Opa, eu disse mesmo que queria ficar com ela na ilha? Deve ser o sol.

Brincamos como duas crianças e eu não iria querer ver areia pelos próximos vinte anos. Infelizmente isso não era uma opção. Eu ainda me perguntava por que isso não estava me incomodando mais e por que eu estava gostando dessas brincadeiras estúpidas.

Brincadeira a qual continuou no chuveiro da piscina e depois na própria piscina. Acho que essa ilha reduzia nossos neurônios, só conseguia pensar nessa explicação. Eu ainda apostava nos imãs dentro de nossos corpos, porque nossas mãos não ficavam nem cinco minutos sem que tocássemos um ao outro.

Molly estava deitada na parte rasa da piscina, com a cabeça apoiada na borda e eu estava sentado, não muito próximo a ela. Um milagre, levando em conta as últimas horas. Culpei o sol de novo quando comecei a falar.

– Mycroft sempre escondeu seus sentimentos, desde que nós éramos crianças. - Os olhos dela grudaram nos meus. Agora eu teria que continuar. - Quando ganhei Red Beard dos meus pais, ele me avisou. Envolver-se e ter qualquer tipo de sentimento por seres vivos só traria sofrimento, era o que ele dizia. Os animais morrem, as pessoas nos deixam. Quando Red Beard morreu eu percebi que ele estava certo. Boa parte de nossa infância foi passada tentando esconder tudo que sentíamos, tornando-se um hábito. Eu gostava de quando fazíamos jogos de dedução, acho que era a única parte divertida entre nós. Não sei como meus pais suportaram conviver com dois filhos esquisitos. Enfim, não tenho muito o que dizer. Não foi uma infância feliz como a sua, provavelmente, mas foi normal para mim.

Ai caramba, ela estava emocionada? Não era esse o objetivo. Só achava que devia uma resposta melhor para ela.

Ficamos em silêncio. Eu não sabia mais o que dizer e acho que ela também não. Molly ficou um tempo perdida em pensamentos e então me avisou que entraria para se trocar e comer alguma coisa. Passou por mim e bagunçou meus cabelos. Sorri que nem idiota.

Demorei um tempo para entrar e quando passei pela sala ela já estava sentada no sofá assistindo algum filme. Tomei banho e me troquei o mais rápido que pude. Quem vê pensa que eu gostava muito de assistir filmes. Talvez não fosse bem o filme que me chamava atenção.

Cheguei até o sofá por trás e me lancei sobre as almofadas, caindo ao lado de Molly e pousando minha cabeça em seu colo. Ela se assustou, é claro.

– Sherlock! Você está ficando maluco?

Sim, eu estava.

Virei-me para a televisão e comecei a acompanhar outro filme chato. Não demorou para que seus dedos começassem a se enrolar por meus cabelos. Eu gostei disso. Estava gostando de muitas coisas que não faziam parte da minha rotina habitual. De repente passei a gostar também dessa história de filme e queria que ele durasse o dia todo. Meu corpo se arrepiava com o toque dela em meus cabelos. Às vezes ela descia até minha nuca e voltava. Estou certo que ela sabia o que causava. Eu juro que tentei prestar atenção na porcaria do filme. Uma tentativa frustrada. Ele acabou pouco tempo depois e não me lembro de nada sobre.

Nós ainda ficamos um tempo ali, olhando os créditos subirem. Foi triste quando não tivemos mais desculpas para ficar na mesma posição.

O resto do dia passou rápido. Tínhamos algumas sobras do jantar anterior, então não precisei picar cenouras de novo.

Deitamos tarde nesse dia. Após o jantar voltamos para a sala e ficamos algumas horas conversando sobre fatos corriqueiros. Ela me pediu para contar sobre alguns crimes que elucidei e nem preciso dizer que comecei a falar sem parar a partir daí. Era fácil conversar com ela porque ela entendia. Às vezes completava a frase antes que eu terminasse.

Quando já estávamos na cama, percebi que Molly estava tensa.

– O que foi?

– Não sei. Estou me lembrando do pesadelo. E se acontecer de novo?

– Esqueça, Molly. Já passou.

Tentamos dormir, mas percebi que ela cochilava e acordava assustada. Como acontece quando a gente sonha que está caindo.

– Droga, Molly.

Resmunguei mas a puxei para mim novamente. Parece que nossas noites seguiriam um padrão a partir de agora.

Foi na manhã após essa noite que acordei com o corpo pegando fogo. Não é o que vocês estão pensando. Eu acordei me sentindo febril.


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Notas finais do capítulo

E por hoje é só, pessoal! :D