Amor Eterno escrita por TAYAH


Capítulo 10
Filhas do sonho - Regina


Notas iniciais do capítulo

Só me desculpes a demora. Mas a vida ta foda.

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/489574/chapter/10

Já faziam dias que eu sonhava com a mesma coisa. Nada... nada de diferente. Era como um filme se repetindo dolorosamente enquanto dormia. Aquele, sem duvidas era o mais agonizante de todos. Não pela dor do parto, já que fisicamente eu não as sentia, mas sim pela dor da perda, pela dor de sentir com toda a minha alma, aquelas duas menininhas nascerem e partirem.

Sarah e Elise, não tinha como esquecer aqueles nomes. No mundo louco dos meus sonhos, Emma e eu as tínhamos feito com o amor verdadeiro. Coisa que até mesmo para um conto de fadas, ou a insanidade da minha mente, era muito, muito difícil de assimilar. De todas as minhas doideiras, aquela era uma das quais talvez nem a psicologia conseguisse explicar.

Depois que um forasteiro – junto com sua família em um fusca amarelo - nos pediu informação, eu fui diretamente ao consultório do Dr. Hopper. Não era possível aquele homem, ser o mesmo homem em que eu havia sonhado. O homem que tinha levado “minhas filhas” para outro lugar através de um portal mágico. Não podia ser, nem da cidade ele era, tinha algo de muito errado comigo. Eu precisava de algum remédio urgentemente.

Dr. Hopper conversou comigo e tentou me acalmar, mas disse que apenas um psiquiatra poderia me passar remédios e que talvez fosse preciso de um acompanhamento mais profundo. Aquele idiota não servia para nada mesmo, só me fez aceitar que eu era realmente pirada. Em uma tentativa completamente falha - de resolver meus problemas com os sonhos – eu voltei para casa ainda mais confusa e frustrada. O que me restava era viver minha vidinha de florista, aprender a lidar com toda aquela confusão que minha cabeça fazia, era tentar de alguma maneira ser feliz no meio de toda aquela zona.

Ao mesmo tempo em que eu queria focar em minha vida, meu trabalho, minhas tarefas. Eu precisava ter Henry por perto. Eu desejava mais que tudo ter Emma ao meu lado. Eu queria muito conhecer o forasteiro e sua família. Eu queria toda aquela loucura mais que presente, queria sentir em minhas veias, o sangue pulsar do mesmo jeito que nos sonhos. E por mais que soubesse e entendesse, que o que eu tinha a fazer era me afastar, eu só me via mais dentro deles, mais próxima de tudo aquilo que me fazia pirar.

— Você anda tão distante ultimamente, Regina. – Ammy comentou descontraída ao arrumar as rosas brancas, enquanto eu fazia algumas anotações.

— Ando? – Perguntei focada no que estava fazendo.

— Sim... – Veio até o balcão e tirou a caneta de minha mão. – Eu não sei o que está acontecendo, mas você não está nada bem... Suas olheiras estão enormes, sua voz está cansada, até seu humor está péssimo... – Seus olhar era preocupado. – Sei que não tem muitos amigos, mas eu, Regina, eu sou sua amiga e estou aqui ao seu lado para qualquer coisa. – Ela sorriu me passando um pouco de segurança. – Não sei se é isso.... mas... desde que o filho e a mulher da Prefeita entraram em sua vida, as coisas mudaram bastante. – Ela estreitou o olhar me analisando.

— Como assim? – Me fiz de desentendida, queria saber até onde iam suas duvidas. Se estava tão na cara assim, ou ela era realmente minha amiga e prestava atenção em mim.

— O garoto, Henry, quando ele vem aqui, te deixa tão feliz, que até seu tom de voz muda, é algo incrível a maneira com que você cuida dele... Parece até que é a mãe... – Foi inevitável eu não me assustar com aquilo. – Agora com a Xerife... bem... – fez uma pausa - com ela é diferente... Acho que te conheço o suficiente para dizer isso... Acredito que existe uma tensão muito forte entre vocês duas. E que isso não vem de hoje, vem de outras vidas...

— E você acredita em outras vidas?

— Eu acredito em tudo, até que me provem o contrário. – Ela falou como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— É Ammy... – Eu respirei fundo, abaixei a cabeça, e sem pensar muito resolvi me abrir. Se o Dr. Hopper não podia me ajudar, talvez, quem sabe minha única amiga poderia. – Eu estou a ponto de enlouquecer... – Falei ainda de cabeça baixa, mas logo encontrei seus olhos, que estavam ansiosos a espera de alguma grande revelação.

— As coisas nem sempre são tão monstruosas quanto parecem. Talvez, se colocar para fora, tudo que está te remoendo por dentro você se sinta mais leve. Assim a loucura pode até passar a ser sua melhor amiga. E não aquela que te tira o sono todas as noites.

— Não Ammy... – Eu ri. – Minha loucura é o que me faz dormir todas as noites, mas é também a responsável por toda a minha dor de cabeça durante o resto do dia.

— Não acredito que seja algo tão complicado assim... – Ela me desafiou com os olhos e um leve sorriso. Ammy queria saber o que se passava em minha cabeça.

Contei tudo a ela. Dos sonhos doidos. De como Emma, Henry e Zelena eram iguais as pessoas que eu sonhava e tinham até os mesmos nomes. Das coisas estranhas que aconteceram naquelas duas semanas entra Emma e eu. Sobre o que a Prefeita havia me dito depois do jantar. Falei até o que não era preciso.

Diferente de quando conversei com o Dr. Hopper, me senti acolhida pelo olhar interessado de Ammy e pelas perguntas curiosas que ela fazia. Parecia até uma criança ouvindo uma história cheia de fantasia. O que me fez relaxar pela primeira vez naquelas semanas, como se finalmente alguém pudesse me entender e me apoiar.

— É sem duvida a história mais louca que eu já ouvir. – Ela disse mais encantada do que assustada. – Louca e completamente maravilhosa. – Ela sorriu contente. – Mas tem algumas coisas me assustando um pouco.

— Como o que?

— Bem, você me contou vários sonhos, eu até apareci em alguns deles como uma fada... – Ammy parou de falar como se tentasse organizar as coisas em sua mente. – Então... é que eu também já sonhei com algumas coisas assim. Não como você, que acontece todas as vezes que dorme, que simplesmente lembra de todos os detalhes... Comigo as coisas eram meio borradas, não lembro de tudo, mas algumas partes até que foram bem marcantes.

— Como assim que você também sonhou? – Isso era algo novo, e também me assustou.

— Então, é isso que está estranho nessa história, é meio impossível duas pessoas terem o mesmo sonho... A não ser que sejam lembranças de outra vida.

— Oh minhas queridas. – Um homem nos deu um susto, nenhuma de nós o ouviu entrar. Era o dono da loja de penhores, o tal do Sr. Gold – Sonhos quase sempre são lembranças de uma outra vida. – Ele sorriu sem emoção, olhou ao redor, pegou uma rosa branca e cheirou. – O perfume de uma rosa é suave, e sempre te faz fechar os olhos ao cheira-la. Se não tomar cuidado e acabar se distraindo com sua beleza e aroma, ela simplesmente te fere com os espinhos. – Por mais que eu tivesse feito muito esforço, eu não entendi metade das coisas que ele disse.

— Boa tarde senhor, deseja algo em especial? – Eu perguntei ignorando tudo que tinha dito.

— Já encontrei o que queria. – Ele sorriu do mesmo jeito que antes e se aproximou com a rosa branca em mãos – Aqui está. – Ele a colocou sobre o balcão.

— Deseja mais alguma coisa Senhor? – Ammy perguntou o olhando cheia de duvidas.

— Sim. – Ele pego a rosa e deixou o dinheiro no lugar. – Quando tiver alguma duvida sobre qualquer coisa nesse mundo, procure dentro de si, que logo encontrará as respostas. – Ele falou somente comigo como se Ammy nem se quer existisse ali. – Até mais senhoritas. – Ele deu as costas e se foi, nos deixando sem palavras ainda por alguns segundos.

O que aquele homem quis dizer com tudo aquilo? Acho que tanto eu quanto Ammy ficamos completamente surpresas com sua aparição e suas palavras. O silêncio absoluto prevaleceu dentro da loja por longos segundos.

A cada momento que se passava, eu via com nitidez que as coisas podiam sim, ficar piores e mais confusas.

Quando conseguimos voltar ao assunto, foi Ammy quem mais falou. Fez mil perguntas. Queria detalhes sobre os sonhos, detalhes de minha relação com Henry e Emma, detalhes de tudo que vinha acontecendo naquelas duas semanas. Detalhes de todos os sonhos. Detalhes até dos meus sentimentos mais profundos. Nunca fui de me abrir daquela maneira e por mais que aquela fosse a primeira vez, eu me senti confortável em compartilhar toda a minha loucura.

Minha única amiga me fez repetir as coisas várias e várias vezes, não sei se ela não estava entendendo, ou se queria memorizar cada pedacinho da minha insanidade.

O lado bom de conversar sobre minhas doideiras com ela, foi que o tempo passou tão rápido, que até com o movimento fraco daquele dia fizeram as horas parecerem minutos.

— Ammy, querida, você já sabe de tudo, sabe até a cor do sutiã que eu estava usando aquele dia, já não está bom para você? – Eu falei em tom de irritação, mas não estava brava de verdade. Ela nem se abalou com meu tom de voz.

— Não, nunca está, eu preciso entender tudo isso. Preciso colocar seus sonhos em ordem cronológica. Preciso saber qual é a sua real ligação com eles. E qual a magia que existe, para você sonhar com as pessoas antes de conhecê-las. – Sua voz saiu firme, como se me estudar fosse algo muito sério.

— Falando assim até começo a acreditar que existe magia nisso tudo. – Eu sorri achando engraçado. Porem meu coração bateu mais forte como se ficasse feliz com minha descoberta. – Porque de todas as explicações possíveis e impossíveis, essa é a única que se encaixa nessa doideira toda, mesmo não tendo nenhum fundamento.

— Também estou nessa. – Ammy olhou em seu relógio de pulso. – Já são cinco horas e a gente nem começou a fechar a loja, Henry já deve está chegando.

— Já? – Eu me assustei ao olhar a hora em meu celular. – Não fizemos nada hoje, Ammy, e olha que quase não tivemos clientes.

— Claro que fizemos, trabalhamos muito em seus sonhos. Eu já quase consigo coloca-los em ordem. – Ela mantinha seu olhar em um ponto fixo, como se pudesse ver tudo que eu lhe contei.

— E isso vai nos ajudar em que? – Meu olhar a desafiou.

— Vai nos fazer entender, entender o que aconteceu nessa outra vida. – Ela sorriu contente, como se aquilo fosse a solução dos meus problemas.

A porta da floricultura se abriu, dando passagem a Henry, com sua mochila pendurada em um ombro só e seu sorriso simpático de sempre. Só de vê-lo meu coração se acalmou, uma paz enorme me invadiu. De tudo que Ammy e eu conversamos, uma das únicas coisas que eu tinha certeza era que, aquele menino me fazia um bem tão grande, que nada faria com que eu me afastasse dele.

— Acho que me atrasei. – Ele sorriu sem jeito dando alguns passos a frente.

— Que nada, você chegou na hora certa. – Sai de trás do balcão indo a sua direção. – Eu que me perdi na conversa e nem vi que já estava na hora.

— Pode deixar comigo, Regina, eu fecho o caixa e faço o que tem que ser feito, podem ir. – Ela sorriu.

— Obrigada Ammy. – Retribui o sorriso lhe agradecendo de coração. Não por aquilo, mas por ser minha amiga, por me fazer sentir melhor, mesmo sem nada resolvido. – Vamos? – Eu apontei para a porta de trás da loja

— Bem, eu vim com algumas pessoas... – Seu tom era receoso. – E queria saber se eles podem nos assistir... ficar com a gente lá...

— Pessoas? Que pessoas? – Eu só conseguia pensar em Emma e Zelena.

— Você não os conhece, na verdade nem eu conhecia, são novos na cidade. – Ele sorriu feliz. Aquilo me fez tremer por dentro, fazendo-me mirar Ammy de relance, que tinha um olhar curioso e até um pouco preocupado. - Eles queriam conhecer as coisas por aqui, então disse que podiam vir comigo... Fiz mal?

— Não, querido! – Eu tentei acalmar aquele turbilhão dentro de mim. – De jeito nenhum. Eles podem nos acompanhar sim, vou adorar conhece-los. – Sorri para não mostrar meu nervosismo.

— Ótimo! – Henry sorriu ainda mais feliz.

Com pressa saiu pela porta e em segundos voltou com uma mulher e três crianças, que praticamente se escondiam atrás dela.

Eu deveria, mas não fiquei surpresa por já conhecê-la – dos meus sonhos. Era a mesma que havia levado “minhas filhas” pelo portal mágico junto com o homem – o mesmo que pediu informação no fusca amarelo.

Eu realmente teria ficado muito nervosa ao vê-la entrar em minha loja, mas acho que o papo com Ammy me fez relaxar mais sobre toda aquela loucura. Em vez de querer sair correndo e me trancar em casa, me aproximei querendo conhece-la melhor.

— Essa é Mary Margaret Blanchard. – Henry a apresentou. Lhe estendi a mão, que rapidamente a apertou.

— É um prazer conhece-la Sra. Blanchard, eu sou Regina Mills, a florista. – Eu achei engraçado me chamar daquele jeito, mesmo sendo algo bem comum.

— O prazer é todo meu, Srta. Mills. – Ela soltou minha mão com um sorriso feliz nos lábios. – Esses aqui são meus... filhos. – Ela deu um passo ao lado fazendo as duas meninas aparecerem completamente, diferente do menino que já sorria para mim.

— Eu sou o Levi. – O menino falou simpático já estendendo a mão.

— Que nome lindo, Levi. – Eu apertei sua pequena mão, feliz com aquele primeiro contato. Ele era alguém que eu nunca tinha visto nem mesmo em sonhos, mas estranhamente sentia que já gostava.

— Obrigado! – Ele deu um passo à trás, ainda sorrindo. – Não só seu nome, como a Senhora é muito bonita. – Suas palavras foram sinceras e eu tive vontade de abraça-lo. Estranho, mas ele me lembrava Henry.

— A Senhora é muito bonita... – Uma voz infantil completamente debochada, repetiu baixinho o que o menino tinha dito. Veio de uma das meninas, que não parecia nada feliz em estar ali.

— Elise! – Mary Margaret chamou sua a atenção.

Elise... Elise... Elise... O nome da menina que havia debochado do irmão ecoou em minha mente de uma maneira, que me senti dando um giro de 360º, em milésimos de segundos. Aquilo tinha que ser coincidência. Não era possível, não tinha como ficar ainda mais confuso. Ela não podia, não deveria ter aquele nome. Torci mentalmente para que a outra não se chamasse Sarah, porque se fosse o caso. Acho que desmaiaria como da primeira vez em que vi Henry.

— Desculpe por isso. – Pediu a mulher nitidamente envergonhada.

— Tudo bem. – Eu falei encarando a menina, ainda me sentindo tonta.

— Essa menina, mal educada aqui, é a Elise. – Mary Margaret a apresentou com um tom de voz um pouco bravo, mas não senti firmeza.

Elise me olhava com raiva, como se eu fosse culpada de alguma coisa. Mas, por trás daquele olhar agressivo, tinha uma grande curiosidade e até um pouco de medo. Ela era uma menina linda, e apesar dos cabelos claros e bagunçados, eram perfeitos e sedosos. Seus olhos verdes lembravam-me muito alguém, que ali, eu não consegui decifrar quem era. Aquela garotinha que não possuía nem 10 anos, mas tinha em uma pose de que nada a abalava. Porém, algo dentro de mim gritava tentando mostrar o quanto ela era frágil. O quanto ela precisava de mim, mesmo aquele sentimento não fazendo nenhum sentido.

— Pela sua carinha, você não queria vir aqui não é? – Me aproximei e abaixei ligeiramente a olhando nos olhos. Que me olhou de canto ainda emburrada, negando com a cabeça. – E pelo visto ninguém perguntou o que queria fazer certo? – Seu olhar começou a mudar, de raiva, para surpresa. Ela afirmou com a cabeça. – Eu, diferente de todos eles, quero saber. O que você quer fazer? – A garotinha me analisou por alguns segundos, o que fez sua postura regida se desfazer aos poucos. Mas quando estava quase falando, deu um passo à trás, com os olhos transparecendo todo seu medo. – Tudo bem, não precisa falar agora ok? – Eu sorri e voltei a minha posição normal. – Quando souber o que quer fazer, fale! Fale com eles e se por um acaso eles não te ouviram, fale comigo, que eu faria o que for preciso para ver um sorriso nesse seu rostinho, tudo bem? – Eu sorri contente e mesmo sua expressão não mudando em nada, seus olhos brilharam e quase pude ver um sorriso querer fugir.

Me encantei. Elise era uma criança apaixonante. Cheia de medos por trás daquela aparência de menina durona. Acredito que tudo que ela precisava era ser ouvida, talvez um pouco mais de atenção. Crianças eram mesmo criaturinhas muito complicadas.

O mais incrível de tudo, era simplesmente sentir que a conhecia, mesmo nunca a tendo visto nem em sonhos. Era uma desconhecida em todos os campos da minha vida, mas meu coração a conhecia tão bem quanto, aqueles que eu sonhava e conhecia de verdade.

— E você? – Eu falei com a terceira criança que me olhava curiosa e também assustada, mas não parecia nada agressiva como a irmã. – Qual seu nome?

Ela sorriu aliviada, como se finalmente tivesse voltado a respirar. Seus olhos eram castanhos, seus cabelos iguais o da irmã, tirando o fato que estava muito bem arrumado e penteado. Seu sorriso mesmo que receoso, era doce e gentil. Uma menina tão linda quanto os irmãos. O mais incrível nela era a aparência angelical, com o olhar penetrante e superior.

Nenhum dos três eram idêntico, mas se pareciam de alguma forma. Até Henry ao lado daquela família, estava parecendo com eles.

— Sarah. – Sorriu dando um meio passo à frente.

Olhei rapidamente para Ammy que assistia tudo atrás do balcão. Minha amiga pela primeira vez pareceu se assustar.

Tudo rodou novamente. Meu coração batia acelerado. Minha boca secou. As coisas começaram a ficar embaçadas. Me contive, respirei fundo obrigando-me a ficar bem. Eu não podia apagar ali na frente deles.

Olhei para cada uma delas tentando entender o que Deus queria de mim. Por qual motivo estava me castigando daquela maneira. Deveria ter feito muitas coisas ruins em minha vida passada, para merecer um destino tão cruel.

Elas tinham os nomes das minhas filhas do sonho. Sarah e Elise. Nada fazia sentido, nada daquilo deveria ser real. Eu queria chorar. Queria que tudo aquilo acabasse.

O sonho das últimas noites começou a passar como filme, mais uma vez em minha cabeça. Fazendo-me ter todas aquelas emoções horríveis outra vez. Aquilo tinha que parar.

— Sarah? – Eu perguntei querendo ter certeza. Ela afirmou com a cabeça ainda sorrindo. – Sarah e Elise... – Eu repeti segurando as lágrimas. – São lindos, lindos nomes.

— Srta. Mills... – Mary Margaret pareceu notar o quanto fiquei abalada. – Henry nos contou que tem uma estufa atrás da loja, que estão cultivando uma begônia para a escola dele. – Comentou simpática, parecendo querer me distrair.

— É, estamos. – Eu sorri para Henry, que sorriu de volta, fazendo meu coração se acalmar um pouco.

— Então... Vamos lá? – Henry perguntou animado.

Eu ainda estava em choque, minha cabeça girava. Meus sonhos se misturando com a realidade. As vontades daquela Regina do mundo dos sonhos querendo transbordar.

Mal consegui mostrar o caminho para eles. Se Henry não estivesse lá, teria os levado a sei lá onde.

Na estufa, Henry foi direto a seu vaso de planta. Levi foi logo atrás, curioso e com um sorriso estampado nos lábios. Sarah também se aproximou, mas era impossível estar mais empolgado que o irmão. Elise ficou olhando um pouco distante, ela queria ver, mas não queria dar o braço a torcer, então preferiu fingir que estava totalmente desinteressada.

Sra. Blanchard e eu ficamos afastadas, ambas apenas observando Henry, que explicava tudo que eu havia ensinado. E como um ótimo aluno, ele estava sendo um perfeito professor. Aquela cena, Henry, Levi, Sarah e Elise – mesmo que meio afastada – juntos, me fez sentir tanta felicidade que nem percebi que uma lagrima havia escorrido.

— Não chora não... – Elise falou ao se aproximar. Rapidamente passei a mão em meu rosto.

— Não estou chorando, garota. – Eu falei rígida, sem querer demonstrar minhas emoções. Já a pequena Elise subiu com agilidade em cima da mesa alta, onde tinha algumas plantas, sentando-se a nossa frente.

— Ah, claro, devo estar vendo coisas então. – Seu tom saiu debochado.

— Elise... - Sra. Blanchard chamou sua atenção pela segunda vez em menos de meia hora.

— Deixa a menina ser quem ela é! Recrimina-la não vai fazer com que mude, só com que se rebele. – Falei diretamente com Mary Margaret em tom sério que provavelmente soou bravo, eu não tinha direito de opinar, mas foi mais forte que eu. Voltei meu olhar para Elise e pisquei lhe mostrando que estava do lado dela. Que por sua vez, comprimiu os lábios tentando esconder o sorriso.

Voltei meus olhos a Blanchard, que revezava o olhar entre Elise e eu. Um olhar carregado de uma surpresa boa. Como se eu tivesse feito algo extraordinário, achei estranho, mas preferi não pensar naquilo

— E ai... Já sabe o que quer fazer? – Perguntei a garotinha lhe dando toda a liberdade que precisava.

— Quero andar a cavalo. – Falou firme, sem hesitar. Mas eu ainda podia ver o medo em seus olhos.

— Cavalo? – Perguntei curiosa. Gostei daquela ideia, mas não me lembrava de já ter feito algo parecido.

— É, por quê? – Por um segundo seu medo transpareceu em sua voz. – Vai dizer que não gosta? – Ela perguntou com ironia.

— Não sei, você me ensina? – Seu olhar se voltou para Mary Margaret com duvidas, que sorriu para ela, fazendo-a relaxar e voltar a me encarar com um leve sorriso, que me fez tremer por dentro, ela era ainda mais lindinha daquele jeitinho.

— Você nunca mais vai querer saber de plantas, depois que eu te mostrar o que é bom de verdade. – Ela sorriu, sorriu de verdade, e eu tive que me segurar para não aperta-la.

— Olha só... – Eu já a desafiava com o olhar. - Antes mesmo de aprender a montar, já vou dizendo que sou competitiva e vou querer apostar uma corrida. – Eu sorri ao me ver na expressão de desafio que ela fez. Eu estava ficando louca em me ver naquela menina que era a cara... a cara da... Emma...

Eram os olhos da Emma, eram iguais, não só os olhos, como seu rostinho lembrava muito o da Xerife. Perceber aquilo me fez parar de respirar outra vez. De imediato olhei para Sarah que me olhou no mesmo instante, ainda sorrindo. Seus olhos eram da cor dos meus e tinha algo que eu não havia notado, a pintinha ao lado da boca, no mesmo lugar que a minha.

Eu senti que ia desmaiar. Emoções muito fortes me invadiram. Sentimentos que eu nem sabia explicar quais eram. Eu não podia apagar, tinha que permanecer acordada, não queria sonhar, não queria me entregar ao mundo imaginário. Queria viver o presente e poder ter certeza que minha loucura nem era tão louca assim.

— Você está bem, Regina? – Mary Margaret perguntou preocupada ao pegar em meu braço.

— Fiquem aqui, eu só preciso de um pouco de ar. – Respirei fundo e fui as pressas para fora da estufa, quase correndo em direção a loja.

Eu só tinha que me acalmar, relaxar e tomar um pouco de água, talvez.

Para minha sorte Ammy ainda estava na loja. Que me analisou assustada e ao perceber meu estado abriu os braços para que eu a abraçasse e pudesse descarregar toda a minha emoção.

Mais uma vez tudo embolado em minha mente, os sonhos a realidade. Aquilo era tão confuso e doloroso, tão irritante e sem fundamento, que a única coisa que eu consegui fazer naquele instante era chorar e chorar.

Depois de longos minutos chorando sem saber o real motivo, me senti mais calma e consegui aos poucos tomar o controle novamente.

— Eu não sei mais o que fazer, Ammy. Eu te contei tudo e você viu... As duas meninas com os nomes das minhas filhas do sonho... Elas... elas... – Eu mal sabia o que estava falando. - Aquela mulher que chegou com elas aqui, foi a mesma com que sonhei, a que levou as meninas ao nascerem, junto com o homem da informação. – As lagrimas ainda escorriam de meu rosto.

— Eu sei... eu vi... – Ammy falou com um sorriso confiante no rosto e secou algumas de minhas lágrimas. – O tempo que você ficou lá com eles me fez refletir sobre o sonho em que você teve suas filhas... E também reparei em uma coisa em particular...

— O que?

— As meninas, só elas duas, tem uma correntinha no pescoço, não da para ver se tem algo pendurado, mas me fez pensar no relicário que foi entregue as recém-nascidas no sonho.

— Ain Ammy... – Senti o desespero voltar. – Será que tem como as coisas ficarem ainda mais confusas?

No mesmo instante a porta da floricultura se abriu, dando passagem a Xerife Swan.

~~ * ~~


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

ME DIGAM TUDOOO!!!! NÃO ME ESCONDAM NADA!!