8 anos atrás...

O clima atrativo da primavera inebriava a todos que passeavam pela cidade de Tóquio naquela manhã. Muitos optaram por caminhar pelos parques com o intuito de ver as flores de cerejeira. Dentre as inúmeras pessoas que se aglomeravam pela rua, um homem já idoso caminhava lentamente demonstrando a calma que vinha em seu interior. Uma calma que conseguia ser externalizada pelo olhar. O homem caminhou por algumas quadras ate parar em frente a um edifício elegante. Olhou para ele sorrindo durante alguns segundos, absorvendo a atmosfera de poder que vinha dele. Ele não se importou com as pessoas que passavam por ele, olhando-o estranhamente. Para Masashi o tempo era deveras importante para ser desperdiçado naquela altura de sua vida. Já faziam dez anos em que não entrava no edifício a sua frente, perguntou-se o quanto tudo não teria mudado em sua ausência. Pegou-se pensando em tudo que já tinha criado naquela empresa, de todo o tempo que gastou e ficou longe de sua família. Um tempo que não retornaria. Um tempo que ele jamais poderia pegar para si. Suspirando, foi em direção a entrada. O edifício movimentado e repleto de homens bem vestidos fez o homem sorrir levemente ao caminhar pelo corredor que o levaria ate o seu amigo. Um grande amigo que agora desejava lhe pedir um favor. Um favor que Masashi não iria negar. Andou ate parar em frente a uma secretaria que o olhou animada ao reconhece-lo. A mulher sentada a sua frente tinha trabalhado com ele anos atrás.

-Senhor Haruno, é bom vê-lo por aqui – ela falou animada demonstrando a felicidade em vê-lo – Veio ver o senhor Uchiha?

-Sim, pode avisá-lo que cheguei? – Haruno perguntou exibindo um sorriso amigável. Ela assentiu e logo o acompanhou pelo, curto, corredor que o levaria ate Fugaku Uchiha. A porta já estava aberta quando eles pararam em frente a uma grande porta com detalhes vitorianos. Masashi caminhou com segurança demonstrando a beleza de sua juventude, e encarou o jovem Uchiha em pé, o esperando – Fugaku, a quanto tempo – Masashi o cumprimentou sorridente – Está um belo jovem, espero que seus filhos estejam bem.

-Estão sim, meu amigo – Fugaku falou feliz ao tocar no braço de Masashi e o guiar ate um sofá no canto da sala, sentando-se ao seu lado em seguida – Gostou do que fiz no escritório? – perguntou sorrindo, pois aquele escritório já havia sido do homem sentado ao seu lado. Masashi olhou com atenção para a sala, ficando envolto em recordações. A sua antiga mesa ainda era a mesma, mas a diferença estava no computador e nos objetos que ali se encontravam. Atrás da mesa, uma grande estante cobria a parede, percebeu que muitos livros que ali se encontravam, um dia haviam sido seus.

-Está moderno – sorriu ao fechar os olhos rapidamente – Queria falar comigo, aconteceu alguma coisa? – perguntou sério pressentindo algo.

-Ainda não – Fugaku falou ao assumir uma postura rígida – Sabe que esta empresa é tanto sua quanto minha, não é? – o viu concordar em silencio – Mas infelizmente, as coisas não podem continuar assim. Precisamos unir essa família.

-Qual o objetivo disso?

-Sinto que no futuro precisaremos estar preparados para muita coisa, e para isso, precisarei de sua ajuda.

-O que deseja então?

-Soube que sua filha deu a luz a uma menina a poucos dias – comentou, e viu a expressão de Masashi tornar-se fria – Sei que não concordou com o casamento dela, entretanto a sua neta pode ser a chave de tudo isso.

-Veio pedir a mão da minha neta que mal nasceu? Entendo seu desejo de tornar esta empresa um império, mas não está sendo precipitado? – questionou calmo ao observar as reações do homem ao seu lado.

-Pensei muito nisso antes de falar contigo. Não há outra forma de transformar esta empresa, estes negócios, em um legado. O nosso legado.

Masashi parou para pensar durante alguns minutos. Ponderou tudo o que Fugaku lhe falava e apesar de sua relutância se viu consentindo. Ele há havia percebido o potencial daquela empresa, mas faltava incentivo para que tudo se tornasse grandioso. Apesar de ter renegado a sua filha quando descobriu que havia se casado com um homem qualquer, ainda a amava ao ponto de desejar felicidade para ela e sua neta. Uma neta que ele ainda não viu e temia nunca ver dado a personalidade arrisca de sua filha. Uma filha que ele se arrependia de não ter criado como deveria.

-Eu aceito, vamos iniciar o nosso legado – Masashi disse sério ao pensar no quanto estava disposto a sacrificar pelo futuro de sua neta – Como iremos fazer?

-Já tenho tudo preparado – levantou-se pegando um envelope que estava em cima de sua mesa – Neste envelope está o futuro, meu amigo – ergueu animado o envelope branco – Pronto para assinar?

-Estou pronto para ler e debater os pontos que não concordar – argumentou ao pegar o óculos que levava em seu bolso e colocar.

-Sempre astuto – riu ao entregar a Masashi. Sentou-se calmo ao lado dele enquanto o observava ler todo o conteúdo. – E então, o que acha? – perguntou assim que ele pousou o documento em sua perna – Acha que teremos problemas?

-Sim, não acho que minha filha concordará com isso que está escrito.

-Posso falar com ela e lhe explicar tudo.

-Ela não concordará por minha causa – simplificou sorrindo – ela é tão teimosa quanto eu era em minha juventude. Ela não irá ceder e entregar a sua filha para dois velhos que desejam ver o futuro ser transformado. Ela será contra tudo.

-Então não há nada que possamos fazer?

-Não. Só podemos deixar nas mãos do destino – murmurou ao pegar a caneta em seu bolso e assinar o documento – O destino decidirá o que acontecerá a seguir. – Fugaku concordou em silencio ao olhar para o papel. Um papel que possuía o futuro da empresa. – Só espero que o mais correto e gentil vença.

-Não deixarei sua neta ficar com meu filho se ele não for de minha confiança. Sua neta é como uma filha para mim, mesmo não a conhecendo – garantiu.

-Eu confio em você, meu amigo. Confio. – murmurou ao pensar em sua neta e em sua filha.