Depois disso, entrei em uma espécie de estupor. Nada prendia minha atenção - embora eu conseguisse, por um milagre, esconder isso facilmente dos professores. O tempo passou rapidamente, e, antes que eu percebesse, já era a hora do intervalo.
Eu me dirigi ao refeitório sozinha, como sempre. Mas, desta vez, fui mais devagar - olhando para o chão, como se estivesse tonta por ter sido atingida por alguma coisa na cabeça recentemente.
Quando finalmente cheguei lá, entrei na fila para comprar comida. Peguei apenas uma maçã e fui para a mesa em que como todos os dias. Só quando já estava ao lado dela, percebi o garoto com cabelos cor de bronze sentado em uma das cadeiras.
– Oi, Bella - disse Edward, com o sorriso torto que eu sabia ser típico dele.
Eu deveria ter respondido, mas meu "oi" ficou entalado em minha garganta. Podíamos até estar "em paz", por assim dizer, mas, ainda assim, não éramos amigos. Fora o fato de que eu continuava a não gostar dele.
Apesar disso, sentei-me à mesa - não havia outras vazias no refeitório, e eu não podia simplesmente chutá-lo para sentar-se com sua família, como eu tinha vontade.
Fiquei girando a maçã em minhas mãos, sem olhá-lo, até que ele disse:
– No que está pensando?
Nesse momento, meu olhar foi atraído para seu rosto, e um pensamento cortou minha mente. Endireitei meus ombros, e tornei minha expressão ainda mais séria.
– Você tem um mês - disse.
Eu sabia que ele estava confuso com a mudança de assunto, mas ergueu uma sobrancelha, somente.
– Um mês. Para fazer o quê? - perguntou.
– Faça-me acreditar - disse. Percebi que ele perguntaria, então completei - Em você. Faça-me acreditar em você dentro de um mês, e então...
Sua cabeça pendeu levemente para o lado.
– E então?
Respirei fundo antes de dizer:
– E então... podemos ser amigos, ou o que quer que seja. Um mês, entendeu, Cullen? Se não me fizer acreditar em você dentro de um mês, então ficará longe de mim. Caso contrário... Bem, então veremos - falei - Fechado?
Eu poderia ter-lhe estendido a mão, como as pessoas fazem quando fecham negócios, mas não queria tocar em sua pele fria, e tinha a impressão de que ele também preferia não ter contato físico.
Edward observou-me com atenção por uns poucos segundos, antes de dizer:
– Fechado - deu-me um sorriso. - Pode ao menos me dizer como fazê-la acreditar em mim? Ou ao menos o que isso significa?
– Não - respondi, dando uma mordida em minha maçã.
Passamos o resto do intervalo nos encarando. Ele mal desviava o olhar, assim como eu. A diferença é que eu me mexia para morder minha maçã. Quando finalmente terminei de come-la, vi que faltavam cinco minutos para a aula de biologia começar. Arrastei a cadeira, levantando-me.
– Precisamos ir agora, ou chegaremos atrasados para a aula de biologia - disse, a voz sem emoção alguma.
– Eu não vou à aula hoje - disse Edward, olhando para o lado.
Suspirei. Bendito seja, por que ele tem que dizer tudo igual?!
– Ok. Tchau.
Virei-me e saí, só ouvindo sua voz aveludada atrás de mim:
–Tchau, Bella.
Assim que me sentei na mesa, o professor entrou na sala, trazendo algumas caixas. Virei meu rosto para a janela, olhando através das árvores do lado de fora, tentando ver alguma coisa que não fosse verde, ou que não estivesse molhada - obviamente, não vi nada assim; afinal, quase tudo era molhado e verde em Forks. Meu olhar continuou naquela direção mesmo assim.
O professor falava sobre o que faríamos hoje em sua aula, e suas palavras prenderam minha atenção. Quando percebi o que seria, uma gota de suor escorreu em minha testa.
Tipagem sanguínea. Oh, não...
Como, de novo, não imaginei que isso fosse acontecer, eu não sabia. Claro, tudo tinha sempre que acontecer exatamente... daquele jeito.
Em pouco tempo já podia sentir um cheiro de sal e ferrugem. Cheiro de sangue. Provavelmente, o professor havia furado alguém para demonstrar. Minha cabeça começou a girar, e as árvores do lado de fora estavam se tornando turvas. Precisei fechar os olhos com força para me manter parada. Apoiei a testa em meus braços, a centímetros do tampo frio da mesa.
– Srta. Swan? - ouvi a voz do professor perto de mim - A senhorita está bem?
Ah, estou simplesmente maravilhosa, pensei com ironia.
– Estou um pouco enjoada, Sr. Banner. Posso, por favor, ir até a enfermaria? - perguntei.
– Claro.
Ele pediu que alguém me levasse até lá, e Mike Newton me ajudou a levantar da cadeira pouco depois - provavelmente se aproveitando da situação para fugir da aula.
Fomos andando, bem lentamente, até secretaria. Eu cambaleava, ainda tonta, mas já um pouco melhor por não ter mais o cheiro de sangue me cercando. Infelizmente, a melhora durou pouco - em um ponto do caminho, a vertigem aumentou tanto que eu mal conseguia andar.
– Mike, se importa se eu parar um pouquinho? - perguntei, já me soltando dele e me deitando no chão mesmo, sem me importar com o quanto devia estar parecendo estúpida.
– Bella, você está um pouquinho verde...
Foi então que ouvi uma voz muito familiar... Droga!
– Bella?! - gritou Edward - O que aconteceu com ela?
– Ela passou mal na aula de biologia, Cullen. Ficou enjoada por causa do sangue - a voz de Mike mostrava que ele estava um pouco nervoso, talvez por estar falando com Edward - ele, assim como toda a sua família, era uma pessoa intimidante.
– Bella? - ele falou baixinho, sua voz mais perto de mim agora - Está acordada?
Bufei, irritada.
– Vai embora, Edward.
Ele riu.
Argh, custava muito ele não me ver enquanto eu estava passando mal?
– Pode deixar que eu assumo daqui, Newton.
Antes que Mike pudesse protestar, Edward me pegou no colo, me levando até a secretaria.
Estávamos lá antes que eu percebesse. Assim que ele abriu a porta, ouvi a senhora Cope dizer:
– Oh, meu Deus! Bella! O que...
– Ela passou mal na aula de biologia. Estão fazendo tipagem sanguínea.
– Ah, é, isso é bem a Bella... - pude ouvir a voz dela se distanciando de nós, e Edward começou a andar novamente.
Logo, ele me fez deitar na maca da enfermaria, uma salinha do lado da secretaria.
– Vou buscar uma bolsa de água para você, Bella.
Assenti, e pude ouvi-la deixando o cômodo. Deitada, a tontura pareceu menor, e depois de respirar fundo, eu me arrisquei a abrir os olhos. A luz que vinha da lâmpada no teto os fez doer, mas logo me acostumei com a claridade.
Eu estava plenamente consciente de Edward, encostado na parede, mas não olhei-o, e ambos estávamos em silêncio. A Sra. Cope não demorou a voltar, trazendo a bolsa de água, e saiu em seguida. Continuamos no mesmo silêncio estranho, até que cansei daquilo, tirei a bolsa de minha testa e me levantei, quase caindo em cima de Edward. Fui para a secretaria no momento em que Mike trazia mais um garoto, Lee, que parecia bem pior que eu. Dei espaço para que ele passasse.
Ele deixou o garoto na enfermaria, e disse:
– Então, Bella, você vai para La Push amanhã?
– Ahn? - perguntei, ainda um pouco atordoada - Ah, vou sim.
– Então... Até lá - disse Mike, se virando para sair da secretaria - Alias, até a aula de Educação Física - e foi embora.
Gemi ao me lembrar que ainda teria que jogar algo hoje. Como se eu fosse ser útil nesse estado...
– Finja que ainda está enjoada - sussurrou Edward ao meu ouvido.
Entendi imediatamente o que ele faria, e me sentei em uma cadeira, fechando os olhos e apoiando a cabeça na parede. Ele foi até a mesa da Sra. Cope, que acabara de atender Lee, e disse:
– Sra. Cope, Bella continua com um pouco de vertigem. Acha que pode dar dispensa para ela? Assim eu poderia levá-la para casa...
Sua voz estava mais aveludada que o normal, percebi.
– Claro, Edward. Vai precisar de dispensa, também? - perguntou.
– Não, tenho certeza de que a Sra. Goff não vai se importar.
– Tudo bem, então. Melhoras, Bella, querida! - ela disse.
Eu me levantei devagar, cumprimentei-a com a cabeça, e saí pela porta, que Edward mantinha aberta para mim.
Chuviscava um pouco lá fora, mas não me importei. Fui andando o mais depressa possível em direção ao meu carro, até que ele segurou-me pelo braço.
– Aonde pensa que está indo, Bella? - seu tom era levemente irritado.
– Para casa. Tchau, Edward. E obrigada - não queria agradecer, mas não seria mal-educada com ele.
– Bella, você ainda não está bem. Venha, eu a levo para casa. Alice pode levar seu carro depois.
Ele tinha me arrastado uns poucos passos, mas, ao ouvir o nome "Alice", eu parei subitamente.
– Alice? - perguntei, minha voz transparecendo fragilidade.
– Sim, minha irmã - ele franzia o cenho, talvez tentando entender minha reação - Aquela com o cabelo curto e escuro...
Nem o deixei terminar. Distanciando-me um pouco dele, fui a contragosto em direção a seu carro - só para não ter que falar mais sobre Alice. Isso seria um problema para mais tarde. Ele me ultrapassou facilmente. Quando chegamos onde seu carro estava, ele abriu a porta do carona para mim, com um sorriso torto.
Ainda vou arrancar esse sorriso da cara dele e colar em sua testa, pensei.
Logo, ele havia entrado, e já ligava o carro, em seguida dando a partida. Nos distanciamos da escola rapidamente.
Ficamos em silêncio até que chegamos a minha casa - e eu realmente não faço idéia de como ele sabia o endereço, porque eu não disse nada para ele.
– Bom... Obrigada, Edward, por tudo.
– Alice não vai demorar para trazer seu carro - ele disse. Assenti, tentando parecer indiferente.
– Então... Ahn... Até segunda-feira, Edward. Tchau.
Eu saí do carro, olhando discretamente por cima do ombro, meu cabelo escondendo meu rosto. Ele continuava lá, imóvel.
A caminhada entre o carro e a porta pareceu durar uma eternidade. Quando finalmente entrei em casa, olhando para Edward uma última vez antes de fechar a porta, me dei a liberdade de desmoronar no chão, encolhida, tentando controlar o choro e a sensação de ácido corroendo meu peito.