Faça-me Acreditar escrita por Mary N Braga


Capítulo 22
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Desculpem, desculpem, desculpem!
Eu sei que demorei, mas o NaNo quase me deixou louca! Para quem sabe o que é isso ou participou — ahhhhh, consegui 40896 palavras! Alguém aí conseguiu bater a meta?

Então, boa leitura!



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Eu trinquei os dentes e olhei para a janela do avião assim que decolamos, encarando a noite profunda. Estava tentando desesperadamente não pensar nas últimas horas, mais ou menos — não queria desmoronar bem agora, com Alice sentada ao meu lado, Jasper no assento do corredor.

A viagem duraria duas horas e meia — tempo que eu teria apenas para tentar me preparar para o que viria a seguir.

Queria evitar recordar-me também de Edward, mas não pude evitá-lo — não pude bloquear seus olhos dourados fitando-me com intensidade antes que ele se fosse. Antes que nos separássemos, para voos distintos. Ele e Emmett se dirigiam agora a Pittsburgh, a mais de 3000 quilômetros de distância de mim. Senti um aperto em meu peito. O zumbido das turbinas do avião me parecia abafado, e tentei concentrar-me nele quando me reclinei novamente na poltrona.

Pareceu que um segundo tinha se passado quando me dei conta de que o voo chegara ao fim. Mas eu me mantinha em uma espécie de torpor, tendo vaga consciência do que acontecia a meu redor. Mal notei que havíamos saído do avião e pego as malas até que Alice me questionou sobre o hotel próximo ao aeroporto em que nos hospedaríamos. Era um lugar simples, mas ficamos com o melhor quarto, obviamente.

Assim que chegamos, eu tomei um banho e me arrumei para dormir. Deitei-me, e até que pegasse no sono, lágrimas assustadas rolaram por meu rosto.

Quando abri os olhos sonolentos novamente, o despertador digital no criado-mudo de madeira ao lado da cama marcava 10h 32min. Eu dormira por um longo tempo. Enquanto passava uma mão pelo rosto e pelos cabelos, usei a outra para ligar o abajur. Este projetou uma luz amarelada e fraca pelo cômodo, me dando uma visão um pouco turva do que estava a minha volta.

A cama em que eu dormira era de casal, apesar de o tamanho ser desnecessário. Do outro lado dela havia outro móvel exatamente igual ao criado-mudo mais próximo a mim. As minhas costas ficava um grande armário de mogno encostado na parede. Já à minha frente, na esquerda, achava-se uma mesa — provavelmente para servir como apoio —, posicionada abaixo das janelas ocultas pelo black out.

Sentei-me. Acima da escrivaninha repousava uma bandeja com um prato. Inclinei-me para mais perto dela e percebi que se tratava uma espécie de torta. O pedaço era maior do que eu geralmente comeria, mas meu estômago se contorcia de modo desagradável, e era provável que a fome fosse a culpada. Peguei o prato e os talheres que o acompanhavam e voltei para a cama.

Depois de terminar de comer — devia ser algo bom, mas para mim pareceu insípido —, fui ao banheiro e tomei uma rápida chuveirada. Fiquei lá por um bom tempo, os pensamentos desconexos.

Quando acabei, vesti-me de modo mecânico e sai do quarto.

Do lado de fora havia algo parecido com uma sala de estar pequena. Uma televisão simples e velha, um sofá de aparência desgastada. Nele sentavam-se Jasper e Alice. Enquanto ele mantinha o olhar fixo na tela à sua frente, Alice fazia o mesmo com seu celular, pousado sobre uma mesa de centro feita de madeira. A garota parecia concentrada, como se tentando ver algum vislumbre do futuro. Não olhou para mim quando me aproximei e sentei-me no braço do sofá.

Jasper assistia a um jogo de baseball. Estremeci ao lembrar-me que ele e sua família deveriam ter feito no dia anterior o mesmo que ele observava naquele momento. Ele pareceu perceber isso, porque desgrudou os olhos da televisão por um instante para me examinar. Tudo o que deve ter visto foi torpor.

Às vezes, entramos em um estado em que não conseguimos nos concentrar em nada. Nossa mente é como um campo de batalha; milhões de detalhes clamando por atenção.

Mas, em outros momentos, não nos centramos em algo porque não há nada para ser focado. Coisas acontecem ao seu redor, mas sua mente as ignora, não como se estivesse em paz, mas como se tudo fosse anuviado e impossível de capturar a dedicação de que precisa.

Aquele era um desses momentos.

Jasper franziu as sobrancelhas, mas, estranhamente, não fui atingida por nenhuma emoção súbita que ele pudesse impor a mim. Desviou o olhar, como se nunca tivesse deixado de assistir à televisão. Baixei a cabeça, grata por ele não fazer nada contra meu torpor.

Naquele instante, Alice saiu de seu transe, piscando freneticamente e soltando a respiração, que eu não percebera estar presa. Seus olhos estavam alerta.

— A-alguma novidade, Alice? — gaguejei, a voz trêmula.

— Não — Ela parecia irritada por isso.

Alice suspirou e, olhando para suas mãos, pousadas em seu colo, sacudiu a cabeça. Pelo que entendi através do gesto, não saber de nada a deixava abalada. Ou talvez fosse apenas a situação — o que era muito mais provável.

Para evitar minhas próprias preocupações, e ajudá-la a afastar as dela, eu disse:

— Obrigada pela comida que havia no meu quarto.

Meu murmúrio tímido e agradecido atraiu o olhar de ambos — Alice e Jasper. Este só me observava, enquanto ela direcionou-me um pequeno sorriso triste.

— Você gostou? Era batata doce frita. Um prato incomum, não é? É de outra região dos Estados Unidos...

— Estado de Mississipi? — indaguei.

Sua expressão era levemente mais alegre agora, talvez pela mudança de assunto — um mais fácil em lugar de outro, carregado de complicações.

— Exato. Não sei porquê, mas acho que eu gostaria de visitar aquele lugar. Algo lá me parece importante, só não consigo me lembrar o quê.

Tentei engolir em seco, mas não pude fazê-lo. Eu precisava falar logo com ela. Não podia deixá-la sem nenhuma memória de sua vida humana, sabendo eu tudo o que sabia. Eu só não sei se queria falar perto de Jasper. Ele poderia ouvir se conversássemos no quarto, mas, pelo menos, isso me daria a sensação de que Alice tinha uma escolha entre contar-lhe ou não as descobertas de seu passado. Mas eu tinha certeza de estar errada desta vez.

Com muito custo, coloquei um sorriso no rosto.

— Claro, Alice. Estava ótimo — fingi. Ou talvez não fosse mentira — eu só não sabia o gosto, já que não senti nada, mas o mais provável era que fosse bom.

— Jura? É que eu não sabia do que você gostava, então tive de escolher eu mesma. E, pelo que vi, essa seria sua reação, então...

— Oh, não se preocupe! Eu gostei.

Ela sorriu mais uma vez, e passou a assistir à televisão. Sem muitas opções, fiz o mesmo.

~*~

Uma semana passou-se.

Edward e Emmett, três dias antes, haviam pedido que o piloto do jato particular que Alice havia conseguido fosse até Biloxi sem eles. Apesar o pedido estranho, não foram questionados, e seguiram correndo para a cidade. Lá, passaram mais quatro dias, e então embarcaram em um voo para Phoenix. Quando chegassem, era improvável que James demorasse muito mais para estar perto de nós novamente. As coisas complicariam ainda mais.

Então, quando estava quase na hora do voo deles chegar — no começo da noite —, fomos até o aeroporto. Pelo fato de o avião deles ser pequeno e particular, não foi anunciado no painel. Contudo, nós os achamos com facilidade — provavelmente porque Alice teria visto onde eles desembarcariam.

O portão pelo qual Edward e Emmett sairiam para nos encontrar estava lotado, com muitas outras pessoas esperando passageiros. Eu estava inquieta, constantemente esticando-me nas pontas dos pés para vê-los o quanto antes.

De repente, a multidão abriu-se para a passagem de dois rapazes. Meu coração parou ao vê-los.

O que vinha na frente era incrivelmente alto e musculoso — podendo ser comparado com um armário, talvez —, e seu cabelo, escuro. Com apenas uma mochila nas costas, andava na nossa direção.

De Emmett, meu olhar saltou rapidamente para quem vinha atrás dele.

O cabelo de Edward estava bagunçado — mais do que o normal —, e sua expressão parecia séria demais.

Então, nosso olhar se encontrou. O aeroporto desapareceu.

Ele começou a andar mais rápido — se fosse humano, estaria quase correndo. Rapidamente ultrapassou Emmett, deixando-o para trás. Notei que ele tirou uma forma embaçada das costas e jogou-a no chão — um mochila, como a do irmão.

Ele estava a centímetros de mim. Joguei os braços para a frente, como uma criança pedindo colo, e andei em direção a ele, também.

Abraçamo-nos, lágrimas em meus olhos. Seus braços à minha volta era fortes, mas não o suficiente para me machucar. Percebi, de forma vaga, que ele usava um moletom, apesar de o clima ser quente demais para isso em Phoenix. Talvez ele não se importasse com isso, já que não sentia calor.

— Senti sua falta — murmurei.

Lembrar-me do fato de que, em breve, James estaria perto de nós outra vez, e que teríamos de nos separar, me fez chorar mais ainda.

E, apesar de ter-lhe dito que não haveria perigo, eu sabia que isso não era bem verdade. E eu queria muito continuar viva depois daquilo. Eu esperava ser possível.

~*~

Três dias.

Isso foi tudo o que tivemos, trancafiados no hotel, antes que Alice, sobressaltada, dissesse que James havia chegado a Phoenix.

Não tínhamos tempo a perder.

Estávamos todos reunidos na sala do nosso quarto de hotel, para definir o que seria feito. Concentrávamo-nos em Alice, à espera de mais alguma notícia. Ela sentava-se no meio do sofá de três lugares, Jasper segurando sua mão de um lado, Edward observando-a do outro. Eu estava no braço móvel ao lado de meu namorado, levemente encostada nele. Emmett puxara uma cadeira de uma mesa que ficava no canto.

Depois de não muito tempo, Alice empertigou-se e anunciou:

— É. Ele está aqui. Não próximo de nós no momento, mas pode nos achar com facilidade.

Engoli em seco. Sabia o que teria de ser feito. O problema era convencê-los de que esse era o melhor.

— Onde ele está, precisamente? — perguntei.

Após uma curta pausa, ela respondeu:

— Como eu já disse, longe de nós. Numa casa abandonada, para a qual só se tem acesso por uma estradinha de terra batida, perto do deserto.

Edward assentiu devagar, pensativo.

Respirei fundo antes de falar:

— Eu... vou pegar um táxi que possa me levar até lá. Alice, acha que consegue o endereço ou a localização mais exata dele?

Ela assentiu, pegou um papel e um lápis do hotel que estavam em cima da mesa de centro e rabiscou algumas palavras.

— Você não está planejando ir lá sozinha, está? — perguntou Edward, desconfiado.

— Não estou querendo chegar lá sem ajuda nenhuma. Eu vou sair daqui agora. Quando o sol se por, saiam daqui e vão como quiserem para a casa. E, de preferência, rápido. Não sei por quanto tempo posso enrolar James, e ele pode acabar machucando Jacey...

Edward grunhiu.

— Você vai se machucar. Não vou permitir isso.

Bufei.

— Se eu tivesse outra escolha, ou quem sabe mais tempo, até poderíamos discutir nossas opções. Mas tudo o que podemos fazer agora é seguir este plano.

Então, expliquei-lhes o que tinha em mente.

Depois de ter chegado na casa, distrairia James pelo tempo que pudesse. Assim que a noite chegasse, os quatro viriam ao meu encalço — e ao de Jacey, também. Por protestos de Edward — "Você não vai desarmada e sozinha nem sobre meu cadáver!" —, estava levando um isqueiro. Não era nem de longe suficiente para machucar o caçador, mas pareceu deixar meu namorado superprotetor mais tranquilo — e, admito, a mim também.

Não muito tempo depois, após curtas despedidas — eu não queria me demorar naquilo —, enfiei-me em um taxi. Dei o papel com o endereço ao motorista e uma quantia significativa em dinheiro para pagar-lhe pela longa viagem.

O hotel foi ficando cada vez mais distante, até que desapareceu atrás de mim. Encostei a cabeça na janela e fechei os olhos, esperando que, se não conseguisse retardar o caçador por tempo suficiente, pelo menos ele não machucasse Jacey ou os Cullen. E que minha morte fosse rápida, é claro.


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Notas finais do capítulo

Soooooo? Ficou legal?

E aí, pessoas, como estão as férias? As minhas estão tão lindas