O resgate de Hermione escrita por Angel Black


Capítulo 9
A arte da guerra




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Malfoy retornou algum tempo depois trazendo uma bandeja com pães, sucos, frutas. A essa altura, Hermione tinha um pequeno ogro morando em seu estomago e nem pensou em resistir. Ele a observava enquanto ela comia, o que a aborrecia, mas isso não a continha. Estava tudo muito bem preparado. Hermione se perguntava se fora ele quem preparara tudo. Imaginou que não, mas quem diria que seria ele a lhe dar banho e a vestir aquela camisola nela? Draco era maníaco por controle, um control freak. Devia ser coisa de psicopata, pensou Hermione, olhando para ele de soslaio. Ele sorria cada vez que ela olhava, como se conseguisse ler seus pensamentos. Maldito Malfoy!

– Ainda bem que está com apetite, isso quer dizer que já está se recuperando. Não quero que Harry me acuse de entregar você desnutrida!

– Por que está tão seguro de que Snape irá limpar a sua ficha? – perguntou Hermione, antes de dar uma mordida numa maça bem vermelha e suculenta.

– Porque eu tenho você! Harry é louco por você. Ele vai pressionar Snape até me dar o que eu quero.

– Isso não é simples, Malfoy! Você fez... há muitas coisas que... pessoas que...

– Termine, Granger... você me investigou... você sabe o que eu tenho feito... – disse ele num tom que lhe dizia que ele não estava para brincadeira.

Hermione não conseguiu terminar nenhuma das frases. Ela sabia o que ele havia feito: ele havia construído um império no submundo do crime mágico: traficando ervas proibidas, praticando magia imperdoável, matando pessoas...

E, no entanto, se Snape não lhe desse a carta branca que Malfoy queria, ela ficaria ali, para sempre, como sua prisioneira. Isso talvez fosse um castigo ainda maior do que Valashei tinha previsto para ela. Não era à toa que Valashei queria tanto matar Malfoy. O poderio de Malfoy era maior do que o do búlgaro. Isso ficou claro quando ele a resgatara.

Como ela fora tão tola para sair de uma armadilha e cair noutra?

Talvez Harry pudesse salvá-la. Ele poderia saber onde ela estava, não é? Hermione olhou ao redor do quarto. Talvez ela estivesse no castelo que Malfoy tinha na Bulgária. Não seria tão difícil criar uma equipe tática com a ajuda de Krum para salvá-la.

“Não, a quem estou enganando”, pensou Hermione. Krum havia sido atacado. Com certeza ele tinha seus próprio problemas a resolver. Ela tinha que dar um jeito em sua própria situação. Talvez, pudesse atacar Malfoy ela mesma...

Ele nunca parecia trazer a varinha nas mãos, mas ela sabia que ele poderia ter qualquer varinha num dos bolsos. Além do mais, ele era muito maior e mais forte fisicamente do que ela. De qualquer forma, ela precisava tentar. Ela olhou para a porta. Ela estava entreaberta. Malfoy estava entre ela e a porta, mas talvez ela pudesse surpreende-lo.

“Não”, pensou ela, refletindo melhor. Ela estava fraca e seria uma presa fácil, além do mais, não conhecia as dependência de onde estava. Poderia custar para achar a saída e a essa altura, Malfoy já a teria capturado e ela teria despertado a fúria nele. Ele fora gentil com ela até o momento, o que era uma surpresa. Ela o perseguira durante muitos anos, enquanto era uma auror do Ministério. Achou que Malfoy usaria aquele momento para revidar por todas as vezes que ela estivera muito perto de captura-lo.

De qualquer forma, era melhor não provoca-lo, pelo menos, por enquanto. Era preciso agir com prudência. Era preciso se fortalecer e então atacar quando a oportunidade se apresentasse, antes, é claro, que Malfoy recebesse a notícia de que não teria a carta branca, pois Hermione tinha a certeza de que Snape não faria isso, mesmo com as pressões de Harry.

Hermione também não tinha dúvidas de que, assim que Draco descobrisse isso, sua relação com ele iria mudar. Ele não seria tão gentil. Ele a faria pagar, sem dúvidas. E ela não estava com ânimo para ser torturada novamente.

– Ficou calada, Hermione... você sempre tem algo a dizer, porque se calou? – perguntou ele, depois de algum tempo. Parecia avaliar cada centímetro do seu rosto.

– Não quero que se aborreça comigo! – respondeu ela, com sinceridade, pois era exatamente isso que estava tentando evitar.

– Uhm... – disse ele, pensativo, olhando para a janela. Lá fora, os pássaros pousavam sobre uma estranha árvore. Era um baobá. Hermione sabia disso porque seu livro favorito era “O Pequeno Príncipe” que mencionava e até tinha um desenho de uma baobá feito pelo próprio Exupéry, o autor do livro. – Eu não quero que aja dessa forma comigo. Eu posso conviver com as suas críticas e sua personalidade expansiva, Granger. Você não precisa se anular na minha presença. Gosto de você como é, amor.

– Isso é fácil pra você falar, você não é o prisioneiro aqui! – retrucou Hermione, tomando o último gole do delicioso suco de abacaxi.

Malfoy sorriu agradavelmente.

– Então venha, minha prisioneira... vou lhe mostrar meu maravilhoso castelo. Quem sabe se sinta mais a vontade... – disse ele estendendo-lhe a mão.

Hermione titubeou por alguns segundos. Ela estava vestida com aquela camisola transparente. Não queria que ele radiografasse seu corpo como o fizera a poucos minutos.

Malfoy percebeu a hesitação de Hermione como se lesse sua mente e, tirando de uma das gavetas do toucador, colocou um penhoar bonito de cetim sobre a cama.

Hermione sorriu. Sair andando pelo castelo de Malfoy era exatamente o que ela queria. Ela faria um pequeno mapa mental do lugar. Mapa que usaria quando fosse a hora de fugir. Por isso, cobriu-se com o penhoar e segurou a mão de Malfoy enquanto ele a conduzia para fora.

Hermione descobriu que estava num quarto no primeiro andar, cuja porta abria para o saguão de entrada e para as escadarias que eles desceram. O castelo era mais do que fabuloso, era magnífico. Nas paredes da escadaria havia quadros de Goya, mas Hermione imaginou que eram falsificados. Quando chegou perto, percebeu que eram muito semelhantes.

– Não podem ser de Goya... – falou ela, baixinho. Alguns quadros, ela não conhecia, embora a marca do pintor estivesse ali presente em todos eles, mas o último que viu, simplesmente fez Hermione perder o fôlego: era a imagem de Saturno devorando seu filho, uma das pinturas mais obscuras do artista. – Eu... eu... essa pintura...

– É sua favorita... eu sei... – disse ele, simplesmente, descendo as escadas. – Achei mesmo que iria gostar... venha... vamos... há outras coisas para você ver...

Hermione apressou-se para acompanhá-lo. Ele parecia animado para lhe mostrar algo. Eles entraram por um corredor, decorado com outros quadros que Hermione conhecia e cultuava e depois entraram num grande salão que deixou Hermione sem fôlego. A sala era encantada. No corredor, não pareceria maior do que um quarto, mas ali dentro era infinita. Para onde Hermione olhava, ela podia ver estantes seguindo por corredores infinitos, apinhados de livros. Havia um fantasma flutuando no meio do ambiente. Ele estava com os pés encolhidos, como se estivesse sentado no ar e estava concentrado lendo um livro.

– Eu contratei Sir Lockwood para organizar minha Biblioteca. Ele assombrou a Biblioteca Nacional da Inglaterra por anos. Quando contei-lhe meu projeto, ele aceitou minha proposta. Ele vem assombrando minha Biblioteca já há quatro anos. Sem ele, não conseguiria organizar o montante de livros que possuo. Há livros de todas as espécies: bruxos e não bruxos. Enquanto estiver comigo, você poderá vir aqui todos os dias se quiser...

Hermione ainda estava boquiaberta. Com certeza, era a maior Biblioteca que já vira e olha que ela ganhou uma vez uma entrada para entrar na proibida Biblioteca de Alexandria.

– Como... como conseguiu todos esses livros?

– Sempre compro livros em qualquer lugar para onde eu vá. Minha secretária também compra uma edição de cada livro publicado. Com o tempo, a quantidade foi aumentando. Há muitas obras raras, também. Há obras que ninguém mais possui. Eu tenho uma equipe de arqueólogos que fazem esse serviço para mim: descobrem livros escondidos, perdidos pelo tempo... você ficaria surpresa com a quantidade de informação que já se perdeu na história da humanidade e que consegui recuperar.

Hermione arqueou as sobrancelhas. Nunca pintou Malfoy como alguém interessado em resgatar o conhecimento perdido.

– Venha... você precisa ver o jardim...

Hermione acompanhou Malfoy que retornou ao corredor, seguindo-o até chegar a um pátio externo, onde a árvore Baobá era o centro. Entretanto, da janela do quarto, Hermione não podia imaginar o encanto do lugar. Era tudo muito verde, de um verde intenso e brilhante. As flores eram multicoloridas e havia pequenas fadas correndo de um lado para outro, espalhando um pó brilhante e perfumado que parecia pólen encantado.

– Deus... é lindo... – disse Hermione, rodando para contemplar todo o lugar, enquanto Malfoy se afastou um pouco para observá-la.

Ela não conseguiu evitar agir como uma criança, correndo de um lugar para outro, assim que via algo encantado. Havia ervas, plantas e flores mágicas, como nunca viu. Por último parou diante da baobá. A árvore tinha um tronco enorme. Hermione gastou muitos passos para circundá-la e sorriu encantada ao ver que uma balanço de madeira pendia de um dos enormes e gordos. A corda do balanço estava entrelaçada com flores do campo como numa tela de Fragonard.

Sem conseguir resistir, Hermione sentou-se no balanço e se balançou para frente e para trás, como se fosse uma criança de 5 anos. Quando retornou a realidade, percebeu que Malfoy a contemplava com um olhar suave.

– Esse lugar é encantador! – disse Hermione, mordiscando o lábio inferior.

– Imaginei que gostaria... o jardim é encantado... é sempre primavera nesse espaço, mesmo que toda a Bulgária esteja congelada. Sempre será primavera aqui... – falou Malfoy se aproximando como um tigre prestes a emboscar uma presa. E Hermione era a presa, por isso, ela saltou do balanço e alisou a camisola e o penhoar e deu alguns passos para longe dele.

– É estranho como você vem compondo esse lugar: as obras de Goya na parede, a Biblioteca infinita, o jardim encantado com uma árvore Baobá... pelo jeito, temos nos investigado reciprocamente... – falou Hermione, um pouco nervosa. Ela não queria aborrecer Draco, mas não podia deixar de averiguar aquilo. Não poderia ser coincidência. Ele parecia calmo, contemplando-a com aqueles olhos azuis.

– Somos inimigos, Hermione... sempre fomos... não é? – perguntou ele, com uma voz suave. – Você tem me perseguido durante muito tempo. Você já deve ter lido “A Arte da Guerra” de Sun Tzu?

– O que isso tem a ver? Por acaso estamos numa batalha? – perguntou Hermione, irritada por não saber o que ele queria dizer.

– Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas...

Hermione arqueou as sombrancelhas. Era óbvio que ela conhecia aquele trecho de “A Arte da Guerra”. Maldito Malfoy! Ela se sentia uma ignorante na presença dele, pois não conseguia decifrar seus pensamentos. Seria isso que ele queria dizer com aquilo?

– É por isso que você nunca conseguiu me capturar, Granger. – explicou ele, com um tom suave. – Você se conhece muito bem. É prudente e sábia e sabe seus limites. Está nesse momento jogando como sabe para tentar me manipular. O seu problema é que você não me conhece. Sua investigação só lhe mostrou o que eu fiz, mas não lhe disse porque eu fiz o que fiz. Você não sabe quais são as minhas motivações. Não sabe o que há em minha mente ou em meu coração. Eu, pelo contrário, Hermione, sei tudo o que há para saber de você.

– Só porque descobriu qual o meu pintor e meu escritor favorito e que compôs uma biblioteca gigantesca... você acha que me conhece por conta disso? Eu sei o que você está tentando me dizer aqui, Malfoy. Você está me dizendo que esperava por mim. Que esperava por esse momento. Que planejou calculadamente esse momento para jogar na minha cara o quanto sou ingênua pensando que posso me meter com você. Qualquer idiota pode descobrir essas coisas sobre mim, mas isso não diz nada sobre o que eu realmente sou...

– Ah, não...? – perguntou Malfoy, um pouco irônico, mas depois se aproximou deixando Hermione um pouco nervosa. Ao invés de partir pra cima dela, como ela imaginou que ele faria, Malfoy se sentou no balanço. – Você ainda sente a falta dele, Hermione?

– Do que está falando? – perguntou Hermione, sem entender o que ele queria dizer.

– Seu pai morreu no dia em que você iria se casar com Rony Weasley. Ele estava atrasado para a sua cerimônia e acelerou demais numa via que estava congelada. Eu estava no seu casamento, disfarçado é claro, quando você recebeu a noticia. Eu vi seu rosto. Você rompeu com Rony e nunca mais quis saber de ter qualquer relacionamento com alguém. Você gosta de Goya por que seu pai tinha uma cópia de Saturno no consultório dele. Você gosta de Exupery, pois seu pai lia “O Pequeno Príncipe todos os dias pra você. – Hermione respirou fundo, desejando que Draco parasse de faze-la relembrar daquelas memórias tão doloridas para ela. – Você entrou numa depressão profunda durante semanas até o dia em que finalmente decidiu ver o túmulo de seu pai. Era um dia de primavera. Havia flores do campo ao redor do túmulo do seu pai, desde então, você detesta o inverno e aguarda incessantemente pela primavera, pois sente que há esperança em ...

– Por favor, pare! – disse Hermione, sentindo-se mal de repente e se sentou em uma das raízes da Baobá, enfiando o rosto entre as mãos. Como Malfoy poderia saber daquilo tudo? Ela parecia estar dentro de sua cabeça, cavando cada lugar, remexendo em suas lembranças mais assustadoras.

Ele sabia como derrotar suas defesas e o fazia com maestria.

Segundos depois, sentiu quando ele se sentou ao seu lado. Sentiu o braço dele envolvendo seu ombro, seus dedos deslizando por suas costas, causando um estranho tremor por todo o seu corpo.

– Não quero entristece-la... me perdoe por isso! – falou ele, fazendo uma carícia em suas costas.

– Só me responda uma coisa, Malfoy! – disse ela, levantando os olhos vermelhos e marejados para ele – Valashei foi coisa sua? Se você planejou minha vinda até aqui... Valashei fazia parte do plano? Você contratou ele para me torturar?

Hermione percebeu que a cor dos olhos de Malfoy se intensificaram como se ele estivesse decepcionado.

– De fato, Granger, você não me conhece: eu jamais faria uma coisa dessas! E quando eu colocar minhas mãos em Valashei, vou mostrar a ele o que eu faço com quem tocar um só dedo em você! – disse ele, com um tom estranho em sua voz, fazendo Hermione estremecer ainda mais. Como percebeu o efeito que sua voz produziu em Hermione, Draco adicionou num tom suave – Não pense que sou um maníaco perseguidor, Granger. Eu só levo minhas batalhas a sério. Você provou ser uma inimiga de valor, enquanto Valashei provou ser um verme covarde, por quem tenho pouco respeito. Mas não se preocupe. Assim que Harry me der a carta branca, você poderá voltar para a sua casa em Londres, e esquecer que um dia esteve sob meu domínio. – completou ele, colocando uma mecha dos cabelos de Hermione atrás de sua orelha.

– Tenho medo do que fará comigo quando perceber que seu plano não dará certo. – colocou Hermione, encolhendo-se em seus braços.

Malfoy sorriu novamente.

– Já lhe disse, amor. Mas não se preocupe. Jamais faltarei com o respeito que você merece. E saiba que sei muito bem como agradar uma mulher...


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