Pov's Steve

Sempre que brigamos como ontem a noite eu me lembro de tudo que todos me disseram. Ninguém nunca chegou em mim e disse algum comentário positivo sobre Tony, nem mesmo Pepper. Desde o momento em que nós nos conhecemos e começamos a implicar um com o outro, sempre disseram que era para me afastar.

Tony mesmo me dizia que era uma bomba-relógio com o pino agarrado ou prestes a cair, e que a qualquer hora poderia explodir e que quando isso acontecesse eu iria me machucar e feio, e que eu deveria me afastar o quanto antes possível, mas sempre que eu fazia menção de ir embora ele se agarrava em mim como se eu fosse tudo que ele tinha e muitas vezes era o que eu realmente achava e sentia.

"O Steve é bom demais para você, então não se envolve com ele para não machucá-lo". Era o que eu geralmente escutava as pessoas dizendo para ele a medida com que fomos nos aproximando e quanto mais diziam que era para ele se afastar, eu me aproximava mais para mostrar que eu não ligava de ter meu coração quebrado pelo cara mais filho da puta do mundo, não se ele estivesse disposto a colocar o dele em jogo também.

Vieram primeiro os toques desnecessários em combate, principalmente quando era a sua mão invés da armadura, olhares que nós dois fazíamos questão de desviar para tentar convencer a si mesmo de que o outro não havia visto, depois os que não importávamos de manter enquanto as pessoas ao redor não percebiam que conversávamos em silêncio, depois os sorrisos que ele dava em minha direção e me faziam ficar vermelho e que só depois da terceira vez eu fui capaz de entender que tudo que ele queria era que eu lhe sorrisse de volta e quando eu o fiz, vi Tony sorrir pelo resto do dia e não de um jeito irônico ou que dissesse, eu sou o Homem de Ferro, mas que dizia que ele, Anthony estava feliz.

Levou mais tempo do que eu acho que seria necessário, mas na volta de uma missão em dupla e em que ele havia se machucado porque o braço esquerdo da armadura havia de desmanchado e tendo deixado seu braço exposto, eu me vi na obrigação de cuidar dele, mesmo que ele reclamasse de tudo e a proximidade, os corpos ainda agitados e o sangue ainda quente quando demos por nós mesmos minha boca estava sobre a dele e invés de se afastar ele passou o braço bom em meu pescoço e aprofundou o beijo, fazendo sua língua adentrar a minha boca e apesar de eu não ter experiência com aquilo, soube de início que poderia ser beijado por mil pessoas e nunca seria a mesma coisa.

Veio a vergonha desenfreada da minha parte e a provocação vinda dele até que não teve volta, acabamos nos beijando de novo e de novo e de novo até terminarmos na cama do meu apartamento, eu sendo o ativo e ele certo tempo depois dormindo sobre meu peito, e aquilo se repetiu inúmeras vezes até finalmente tomarmos vergonha na cara e ele me assumir como seu namorado e não só isso, me chamar para morar com ele.

Já faz algum tempo que estamos juntos e como eu esperava, ele está tocando a campainha do apartamento que a S.H.I.E.L.D me providenciou assim que acordei. Não me desfiz dele porque é pra ele que eu volto quando Tony e eu brigamos.

Penso em não atender, mas a quem estou tentando enganar ? Eu não consigo me conter ao saber que o homem que amo está do outro lado da porta. É um esforço sobre-humano o que estou fazendo para não abrir a porta e me jogar nos braços dele.

— Steve, por favor ! - Disse ele em um tom alto o suficiente para que eu ouvisse mesmo distante da porta - Abre a porta e vamos conversar !

Não respondi me lembrando do que o médico havia dito. Tony não podia mais beber ou teria complicações no fígado, mas eu fiz a burrice de dizer que me preocupava com ele e o que ele fez ? Me disse que não precisava gastar minha beleza com ele. Que eu poderia resolver melhor as coisas de ser o Capitão-Bom-Moço quando ele tivesse sido enterrado.

Aquilo não era motivo para eu me afastar daquele modo, nem mesmo para ter saído de casa como havia feito, mas o fato de ele nunca se importar com meu amor por ele sim.

Tony não entendia que aquilo que eu sentia por ele era muito mais do que simplesmente desejo como ele dizia. Eu me colocaria na frente de qualquer coisa que fosse ou quisesse machucar Tony, porque é isso que você faz quando ama, se dá por inteiro àquela pessoa.

Mas já tinha um tempo que ele estava estranho, em média uma semana. Não estava bebendo tanto quanto antes, estava na verdade enchendo o copo e só bebericando um gole e parava balançando a cabeça como se finalmente sentisse o gosto daquela coisa ruim que sempre mandava para dentro.

— Steve, eu joguei todas as garrafas de bebida lá de casa fora ! - Disse ele, mas só aquilo não era suficiente - Abre a porta, vai !

— Tony, vai embora ! - Falei recostando minha testa na porta.

— Steve eu nunca gostei de alguém como eu gosto de você e tenho medo disso ! - Disse ele e aquilo fez meu coração falhar uma batida - Não gosto de brigar com você, mas quando está tudo certo demais, quando a gente está se dando bem, eu sinto que posso te perder por ser como sou e a minha reação invés de te puxar pra mim é te afastar !

— Tony, eu não quero mais conversar ! - Falei acertando minha testa contra a madeira da porta. Tony falava do lado de fora, mas todos os pensamentos e lembranças que o envolviam junto a mim falavam dentro de minha cabeça e isso me enlouquecia.

— Steve, eu ... eu ... preciso ... de você !

Eu me odiava por ceder tão fácil, mas de todas as vezes que tínhamos brigado, aquela era a primeira que ele se expunha daquela forma. Ele nunca havia dito que tinha medo de me perder, nem mesmo que me amava, ou sequer que precisava de mim.

— Entra ! - Falei abrindo a porta e dando espaço para que ele passasse, mas tomando cuidado para não olhar naqueles olhos escuros que despertavam tudo em mim que ele podia usar contra mim mesmo. Nem lembrava de ter levado a mão de encontro a maçaneta.

— Não sei como vou dizer isso, mas ...

— Mas ? - Questionei tentando não olhar para ele, mas suas roupas eram as mesmas da tarde passada. Ele não cheirava a álcool como nas outras vezes, mas os cabelos estavam a mesma bagunça e os olhos estavam vermelhos e inchados mostrando que havia chorado, ou que além disso não havia dormido - Fala logo, Stark !

— Você é a melhor coisa que já me aconteceu e as pessoas tem mesmo razão ...

— Para de colocar a culpa nas pessoas ! - Gritei passando as mãos por meus cabelos. Eu não era de gritar, não era de escândalos e nem mesmo crises emocionais, mas eu já nem sabia mais quem eu era - Você não quer ficar comigo, e se apega no que elas falaram porque é fraco demais para saber se explicar e fica agindo feito uma criança mimada que ainda é e não me quer, mas não me deixar ir e isso é estranho porque pelo que eu sei você tratava as pessoas como coisas descartáveis. É só fazer isso de novo !

— Steve me escuta ! - Disse ele me segurando por ambos os braços, os olhos nos meus e mesmo que eu pudesse me soltar facilmente eu iria escutar como havia feito tantas e tantas outras vezes - Eu não posso mais fazer isso. Tentar te afastar porque doe muito !

— Então para de tentar me afastar ! - Falei em um tom mais baixo, mas ainda estava falando alto. - Se você quer ficar comigo, faz de tudo pra me manter aqui e não o contrário !

— Steve eu passei a minha vida toda tendo de me virar, sendo o Tony que eu criei para não ser mais pisado aí vem você, todo certinho e bondoso cuidando de mim e se preocupando comigo, tanto por algo que eu ainda posso ter no fígado por beber tanto ou quanto por um espirro que pode indicar um resfriado, me mandando calçar os chinelos como uma mãe faria ! - Disse ele e a voz estava garrando no fundo da garganta - Eu nunca soube o que era ser amado e mesmo você não dizendo eu sei que você gosta de mim do mesmo jeito que eu gosto de você. E não, eu não gosto de você, Steve. Eu te amo !

— Você o que ? - Questionei sentindo meu coração acelerar dentro do peito.

— Eu amo você com tudo o que você é , o que você sabe e o que não sabe, como fica vermelho e tudo mais ! - Disse ele - Eu nunca soube lidar com meus sentimentos e tive medo do que estou sentindo e por isso fui o idiota de sempre com você !

— E o que te fez mudar de ideia ? - Questionei em um fio de voz. Ainda não tinha condições para aceitar que havia escutado mesmo o que ele havia acabado de dizer.

— O médico não me proibiu de beber apenas pelo meu fígado ! - Disse ele - Quando você voltou pro quarto ele havia me dito uma outra coisa, algo que eu proibi ele de dizer pra você !

— Você está morrendo ? - Questionei sendo direto e ter dito aquelas palavras fez todo o meu corpo se arrepiar e imaginar minha vida sem Tony já era impossível, mesmo que brigássemos tanto e que só depois de meses juntos ele estava dizendo que me amava, era o meu Tony. Meu par perfeito, o homem que eu amava e por isso eu o abracei com força - Eu estou aqui com você, Tony !

— Steve, eu... você ... Ai, que se foda ! - Disse ele respirando fundo antes de dizer - Vamos ser pais !

No primeiro momento eu não entendi o que ele quis dizer, depois imaginei que ele estivesse se referindo a alguma mulher com quem ele tivesse ido para a cama ao mesmo tempo em que estava comigo e isso fez com que eu o empurrasse para longe de mim. Eu poderia aceitar suas infantilidades, mas uma traição não.

— Quem é a vadia ? - Questionei trincando meus dentes. Já estava falando como ele sempre que eu me sentia bravo - Fala logo, Stark !

— Eu tô grávido de um mês, ok ? - Questionou em um grito enquanto se sentava no sofá pequeno que havia ali - A única vadia dessa história toda sou eu porque desde que a gente está junto eu não levei nenhuma mulher pra cama e o passivo de nós dois sou eu ! - Disse ele começando a chorar.

Eu não soube o que falar, por isso me aproximei. Me sentei a seu lado e passei meus braços em torno de seu corpo em um abraço forte e carinhoso ao mesmo tempo.

— Eu juro que não sabia que podia engravidar ! - Disse ele - E se você não quiser esse filho, não ache que estou usando ele para nos manter juntos. Eu só estou com medo !

— Vamos ser pais ? - Questionei ainda meio assustado com a ideia.

— Você não tem que aceitar a criança, Steve. Eu só ...

— Tony, eu não sou um bastardo pra deixar você ter um filho sozinho e nem sei de onde você tirou isso ! - Falei beijando sua cabeça. Me sentia o vovô que ele dizia diante de uma criança assustada, e era isso que Tony era naquele momento e antes também. Ele apenas estava perdido - Por que complicar tanto ? Por que não me disse ?

— Eu não queria que você me achasse uma aberração ! - Disse ele - Já basta essa coisa no meu peito que me mantem vivo !

— O idoso que ficou trinta e cinco anos no gelo de nós dois sou eu, e nem por isso você me chama de aberração ! - Falei - Mas saiba que eu te amo muito, Tony e nunca te deixaria sozinho, nem você, nem o nosso filho ! - A ultima parte da sentença ainda deixava seu sabor na minha boca e eu me sentia estranho ao dizer nosso filho, mas não era de tudo ruim.